Lovestoned escrita por Ducta


Capítulo 13
A visita de Afrodite




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POV Alethia

 

E assim dois meses se arrastaram. Tia Angie e o tio Nico não saiam do hospital, passavam horas a fio dentro do quarto; minha tia falava mais com o Justin do que com o marido, ela sempre estava com uma mão nos cabelos bagunçados e sem brilho que o Justin cultivara, ou mantinha uma das mãos dele entre as dela. Do lado de fora eu e a Bonnie passávamos as horas sentadas, caladas, sem nem nos olharmos. Toda vez que minha tia saía do quarto, a Bonnie entrava. Nunca me achei no direito de reclamar alguns momentos com ele, olhá-lo pelo vidro do quarto já me doía o suficiente. Nesse meio tempo eu reabri minha matrícula na escola. Todos os dias as nove em ponto, meu pai e o pai da Bonnie iam nos buscar no hospital, de manhã, eu arrastava meu corpo pelos corredores enquanto minha cabeça estava no hospital, principalmente no dia das cirurgias do Justin. Hoje eu encontrei a Bonnie no banheiro, estávamos somente nós duas. Eu nos vi pelo espelho, lado a lado. Nós estávamos destruídas. Cabelos sem vida, sem maquiagem alguma, roupas qualquer... Estávamos longe de ser aquelas garotas arrogantes brigando por popularidade.

-Você está bem? Ouvi você vomitando quando eu entrei. – Eu perguntei.

-Não, nada bem. – ela respondeu com a cabeça baixa.

-A cirurgia do Justin?

-o fator maior.

-É só mais uma, ele vai ficar bem.

Eu estava consolando a Bonnie? A que ponto eu cheguei? Pelos deuses.

-Não sei não. A partir de agora elas vão ficar mais complicadas.

-Ele vai sair dessa.  Eu disse tentando esconder minha própria preocupação.

Nós fizemos uma longa pausa.

-Posso te fazer uma pergunta? – ela pediu virando-se pra me olhar.

-Tá.

Mais uma pausa, essa foi incômoda.

-Porque você voltou? Nós estávamos bem sem você. Ele estava feliz.

-Posso te dizer a verdade? – eu pedi sem me incomodar com o comentário dela.

-Doa a quem doer. – ela disse.

-Você estava feliz sem mim, não ele. – eu disse encarando os olhos azuis dela.

-Como você sabe?

-Não vem ao caso. Segundo as próprias palavras dele, ele se sente como a Bella dividida entre o Edward e o Jacob.

-Eu sou o Edward nessa história então. – Bonnie disse como se fosse uma criança escolhendo que princesa seria em uma brincadeira de faz de conta.

-Eu sinto te informar, mas não é não. O Jacob é o que a Bella precisa, não o que ela quer.

-E o que te faz pensar que ele te ama tanto assim? Que ele te quer desse jeito?

-Eu sei tudo o que se passa na cabeça dele.

-Não foi o que você disse no baile.

-Não queria dar o braço a torcer.

-Mas porque ele está comigo esse tempo todo então? – Ela perguntou dividida entre arrogância e dúvida.

-A verdade?

-Doa a quem doer.

-Ele está com você só pra preencher o vazio que eu deixei.

-Você é muito convencida sabia?

-Cresci ao lado do Justin. – eu disse sorrindo.

Nessa hora tocou o sinal, havia acabado o intervalo.

-Bom, eu to indo. – eu disse. – você não vem?

-Não. Vou ficar aqui até por os rins pra fora ou até bater o sinal da última aula. – ela disse.

-Hm, te vejo no hospital então. – eu disse e dei as costas pra ela.

-Sabe, se você não estivesse tentando roubar o amor da minha vida, eu até podia gostar de você. – ela disse e eu olhei pra ela sorrindo.

-Se você não tivesse roubado meu lugar em tudo, eu até... Não, nem assim eu poderia gostar de você. – eu disse.

-Porque não?

-Não gosto da cor do seu cabelo. – eu disse.

-Você e sua mãe têm traumas de ruivas então?

-Seu pai te contou da Rachel Elizabeth Dare?

-Todo mundo sabe que a Rachel Dare gostava do seu pai. – ela disse sorrindo.

-Sorte nossa que o Justin é moreno. – eu disse e saí do banheiro sem esperar resposta.

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Quando cheguei ao hospital aquela tarde, encontrei meus tios sentados na sala de espera ambos com expressões preocupadas, minha tia estava á beira das lágrima de novo.

-Que aconteceu tio? – eu perguntei em ajoelhando à frente deles.

-Meu pai me deixou uma mensagem hoje.

-E...

Meu tio puxou um pedaço de papel do bolso e me entregou.

Façam o impossível para mantê-lo vivo, se ele aparecer aqui de novo, eu não vou poder mandá-lo de volta. Mesmo sendo meu neto, ele também tem sua hora.”

-ah meus deuses. – eu murmurei sentando ao lado do meu tio, de repente tudo começara a girar.

Porque tudo isso? O que eu fiz pra merecer isso? Ah, pelo amor de Zeus! Enquanto eu murmurava reclamações uma enfermeira passou com um prontuário na mão.

-Quinze minutos pro começo da cirurgia senhor di Ângelo – ela anunciou e se foi pelo corredor.

De um impulso eu levantei e fui atrás dela.

-hey! – eu chamei e ela parou. – hã... Desculpa, mas... Assim, quantas são as chances do Justin ter qualquer uma dessas coisas que fazem o coração parar de bater? – eu continuei sem entender minhas próprias palavras.

-São altas já que vamos começar a parte difícil. – ela disse séria.

Meu estômago afundou.

-OK, obrigada. – eu disse e voltei pra sala de espera.

Mais uma vez, meus tios estavam dentro do quarto do Justin.

A Bonnie chegou cinco minutos antes da entrada do Justin na sala de cirurgia. A de hoje tinha vidros, a enfermeira disse que poderíamos olhar se quiséssemos. Minha tia não quis, meu tio e meus pais a levaram pra dar uma volta não sei por onde. Eu e a Bonnie ficamos lá, olhando enquanto os enfermeiros enchiam o Justin de anestésicos, tubos e aparelhos.

-Isso é pior do que se pode imaginar né? – eu disse sentindo meus olhos marejarem. –Quero dizer, minha mãe levou uma facada e parece que a recuperação dela foi mais fácil.

-Parece que facilita quando você pode tomar ambrósia e néctar. – a Bonnie disse sem me olhar.

-É. – eu disse com um suspiro completando.

Pausa.

-Preparada? – a Bonnie perguntou quando o cirurgião entrou.

-Acho que sim. – eu respondi engolindo a bile que subiu pela minha garganta - E você?

-Eu acho que vou desmaiar. – ela disse, então eu a olhei.

Ela estava pálida e suando. Eu segurei sua mão e apertei.

-Ele vai ficar bem. – eu disse.

Eu estava consolando a Bonnie pela segunda vez aquele dia. Watahell?* Eu devo estar muito abalada emocionalmente.

-hm... que tal nós darmos uma trégua? – Bonnie sugeriu me olhando.

“Trégua?” – eu pensei surpresa.

-Trégua? – eu coloquei pra fora.

-Só por agora. Quando ele sair do hospital é cada uma por si de novo.

À nossa frente o cirurgião tirou os curativos e, com o bisturi, abriu mais o corte.

Eu respirei fundo várias vezes tentando impedir meu coração de sair pela boca. Tudo rodou de novo.

-ai pelo amor de Hera, eu vou ter uma parada cardíaca! – a Bonnie disse colocando uma mão no peito.

-Deixa de ser frouxa! A cirurgia começou agora! – eu retruquei ficando instantaneamente nervosa.

Aquilo não era hora pra ela ter uma parada cardíaca, era hora de torcer pro Justin não ter uma se não, adeus amor das nossas vidas. Nossas? Puta que pariu. Amor da minha vida!

-Apropósito, o que você dizia sobre a trégua? – eu perguntei pra desviar minha atenção da cena a minha frente.

-Olha, eu andei pensando e... – “ela pensa desde quando?” Eu constatei mentalmente – eu nós estamos passando pela mesma situação, a mesma dor... – “minha dor não pode se comparar a sua, a minha é infinitamente maior.” Eu respondi mentalmente de novo – e acho que seria mais fácil se nós tentássemos passar por isso juntas... – “WTF?”* – sabe, você ter o meu apoio e eu o seu. Que você acha?

Eu permaneci calada, não por falta de resposta, é que eu só não conseguia acreditar nela. Tudo nela soa a falsidade pra mim, tudo nela me revolta, me enoja. Momentaneamente senti nojo do Justin. Ele transou com ela no fim das contas, sabem-se lá quantas vezes.

 -Alethia?

-hm?

-e aí?

-hã... a verdade?

-doa a quem doer.

Aquilo já estava ficando clichê.

-Eu não confio em você. –eu disse por final – não consigo. Desculpa, não rola.

-Eu sou uma vil traição pra você não é? – ela disse mordendo o lábio.

-Sim você é.

-a verdade?

-doa a quem doer. – eu disse.

-Você não suporta o fato de que ele me escolheu. Se ele quisesse você, ele tinha ido atrás. Eu ouvi ele dizendo pro Dean e pro Peter que sabia perfeitamente onde você estava, mesmo você dizendo que iria pro México ou pra Russa.

-No fundo, eu queria mesmo que ele fosse atrás de mim. Mas já vi que você afetou o cérebro dele. – eu disse voltando minha atenção pra cirurgia, não que eu tivesse entendo alguma coisa.

-Assume o fato que é mais fácil de lidar com a dor. – Bonnie disse quase sorrindo, contendo o riso.

-Já está tão acostumada a perder que já tem até métodos pra lidar com isso é Bonnie? – eu rebati sem olhar pra ela.

-Não cutuca onça com vara curta. – Ela disse.

Isso me fez sorrir.

-Eu uso adagas, não varas. Ou você esqueceu da sua própria teoria sobre o crime que eu cometi? – eu perguntei com sarcasmo.

-Você não me contradisse até agora, aí tem. – ela rebateu. – dois meses já Alethia, milagre você ainda estar solta.

-Se eu estou solta é porque eu sou inocente, não acha?

-Então me conta o que realmente aconteceu aquela noite.

Eu ri com gosto.

-Eu não confessei meu crime nem pra polícia, o que te faz pensar que eu confessaria a você? – eu perguntei ainda com sarcasmo.

As três horas seguintes nós passamos caladas, sem trocar nenhum olhar. Há algumas semanas eu decidi que só contaria minha versão dos fatos quando Justin acordasse, ele poderia confirmar. Graças aos deuses Miguel estava impossibilitado de sair da cidade. Bonnie saiu do meu lado sem dizer nada e não voltou. Quando a cirurgia acabou todos os médicos saíram, mas o Justin foi deixado lá. Eu estranhei, sempre o levavam pro quarto depois das cirurgias. Eu tentei dialogar com alguém, mas não recebi atenção após a frase: “a cirurgia correu bem, só precisamos esperar o organismo aceita ou rejeitar as novas ligações”. Então eu voltei pro vidro e continuei olhando pra ele, pedindo pros deuses ajudarem o Justin e pedi pra Afrodite ter piedade de mim, não agüentava mais sofrer por amor. Tudo parecia bem depois de vinte minutos até que eu notei o peito do Justin subir e descer com maior velocidade, ruídos sendo provocados no fundo de sua garganta.

-ah droga! – eu disse quando as mãos deles começaram a tremer.

Corro pra chamar um médico ou entro pra impedir que ele caia da mesa?

-SOCORRO! ALGUÉM PELO AMOR DOS DEUSES! –eu comecei a gritar enquanto entrava na sala.

Eu me debrucei sobre o Justin segurando seus braços, ele tremia mais que nunca agora, a respiração acelerada, mas pesada e ruidosa. Ele estava tendo uma convulsão. Pouco tempo depois os médicos chegaram e eu fui afastada do corpo do Justin por um cara que nem vi o rosto, enquanto o cirurgião abria o peito do Justin com o bisturi, sem cerimônia alguma. Eu estava tremendo agora, já estava chorando. Aquilo era difícil de olhar, não parece muita coisa, mas é horrível de se ver e ele pode morrer se ninguém fizer nada.

-Você vai ficar aí parada esperando que Hades o leve? – disse alguém ao meu lado.

Eu olhei assustada. Uma mulher de cabelos castanhos lisos e sedosos presos em um rabo-de-cavalo, olhos azuis brilhantes, maquiagem impecável. Linda apesar de vestir uma das roupas de enfermeira.

-Quem é você? – eu perguntei com a respiração rasa.

-Até alguns minutos atrás você estava pedindo piedade a mim, eu vim dá-la a você.

-Afrodite?! – eu disse.

Ela meramente sorriu.

-Então, vai esperar ele morrer? Os batimentos então lentos. O coração não consegue fazer o sangue circular, está se afogando em sangue. Morrer com o coração afogado no próprio sangue é algo que não se vê todos os dias. – ela disse casualmente olhando o esforço da equipe médica como se estivesse vendo a previsão do tempo.

-Ah meus deuses. Ah minha senhora que eu faço? – eu implorei entrando em desespero.

-Chame-o oras, ele está esperando um motivo pra ficar. – ela disse com um sorriso torto.

Eu entrei na sala de novo, ignorando os gritos que eu saísse, segurei umas das mãos de Justin e respirei fundo pra engolir o choro.

-Justin, eu to aqui. Sou eu, a Alethia. Você não vai me deixar não é? Eu já te disse um milhão de vezes o quanto eu preciso de você. Pelo amor de quem você quiser, fica. Fica por mim! Eu to aqui com você pra sempre lembra? Justin! – eu gritei tentando ignorar os esforços contínuos dos médicos pra fazer o sangue circular.

-Mais persuasão, Alethia. Oras, eu sei que você pode ser tão persistente quanto Perseu Jackson, então demonstre isso. Hades já está preocupado de ter que levar o neto! – Afrodite disse, ela se encontrava parada ao meu lado de novo.

Como eu não pensei antes? Ela é a deusa do amor, era óbvio o que eu tinha de fazer!

-Eu te amo, Justin!

No mesmo segundo todos os aparelhos passaram a exibir apenas linhas horizontais contínuas indicando a ausência de atividade no corpo do Justin. Eu posso afirmar que até o meu coração parou de bater. Quando eu olhei pro lado, Afrodite havia se dissolvido em fumaça rosa e perfumada.

-Hora da morte? – perguntou o cirurgião.

-Não! Ele não morreu! Ele não pode ter feito isso comigo! Justin Richard eu to falando com você! Como você ousa fazer isso comigo seu infeliz! ARGH! – eu gritei enquanto sacudia seu corpo.

Em quentão de segundos, toda a minha vida ao lado do Justin passou pela minha cabeça, cada sentimento que ele me causava, cada sensação... Eu podia sentir todo o amor, todas as formas de amor que eu tinha por ele, elas se misturaram ao meu sangue e dissolveram a raiva de instantes atrás.

-Acabou, vam... – começou o cirurgião, mas ele mesmo se interrompeu.

Os aparelhos voltaram a mostrar sinais vitais e o peito de Justin voltou a subir e descer.

-Justin, por favor, pare de acabar comigo. Um dia desses, eu que vou ter infartos consecutivos. – eu disse soltando um suspiro de alivio.

-O sangue voltou a bombear normalmente – disse o enfermeiro mais próximo ao peito do Justin.

-Isso é um milagre. – comentou uma médica pasma enquanto examinava alguma coisa dentro do Justin.

Eu saí da sala e me joguei no chão do corredor respirando aliviada, sorrindo de leve vez ou outra. Meus tios apareceram acompanhados dos meus pais.

-Que aconteceu? Disseram que ele teve complicações. – Meu pai perguntou se ajoelhando ao meu lado enquanto meus tios e minha mãe adentraram a sala em pânico.

-É ele teve. Enfartou de novo e quase me deu um de brinde. – eu disse.

Meu pai me ajudou a levantar e eu contei pra ele tudo o que tinha acontecido.

 

-O Justin não vai precisar fazer outra cirurgia. – Meu tio Nico disse mais tarde aquela noite enquanto nós estávamos na minha tão conhecida sala de espera. Ele só faltava beijar meu pai de tanta felicidade. – Eles vão tirar o Justin do coma amanhã e se der tudo certo, em alguma semana ele volta pra casa!

-Acabou então? – minha mãe perguntou sorrindo.

-A pior parte, sim. – minha tia completou sorrindo também.


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Notas finais do capítulo

*Watahell = "que diabos"
*WTF = que porra é essa?

Já perceberam que eu adoro infartos, sangue e tragédia não é? kk'
Obrigada a todos que estão acompanhando! Fico muito muito feliz a cada review que chega ;*



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