Desde a saída da delegacia, o dia havia passado consideravelmente rápido para Rosalie. Diferentemente das outras vezes em que havia se sentindo ou sido realmente confinada com questões sobre o acidente, agora ela se sentia finalmente liberta, com os ombros livres de um grande peso. 

Apesar de tal sentimento, a cabeça confusa da loira ainda insistia que fazer visitas à Royce deveria tornar-se um hábito, ao menos até que houvesse qualquer mudança no quadro - ou na segurança pessoal da mesma, que apesar de mais confiante, não sentia-se completamente inserida nessa característica ainda. 

Conforme os planos da manhã, portanto, Rosalie havia visitado o marido logo após a saída do departamento de polícia. No hospital, por sorte, não havia encontrado com qualquer membro da família de Royce. Conforme a mesma dizia para si toda vez que pegava-se pensando no assunto, a verdade era que nenhum deles era muito presente, a não ser quando tratavam-se de assuntos sérios, como os negócios da família, por exemplo - e também por sua mãe, que era uma grande exceção à regra quando tratava-se de seu filho e/ou de qualquer coisa que o envolvesse.

Agora, às treze horas e trinta minutos, pontualmente, admirando o Sol que brilhava com mais vigor e a forma como o mesmo destacava-se no céu azul limpo, Hale tinha sua cabeça completamente vazia. Concentrar-se em uma tarefa parecia fácil quando era tão agradável quanto aquela: fitar a esfera brilhante por entre os olhos semicerrados. A sensação do calor penetrando em sua pele gradativamente e da luz potente tocando sua retina faziam-na sentir grata e satisfeita com sua vida, como se pela primeira vez em muito tempo tirasse essa conclusão com certeza sobre o que dizia a si mesma.

Saindo de seus devaneios, ainda mantendo os olhos no Sol que atraía tanto sua atenção, a loira lembrou-se de alguns minutos atrás, quando a mãe a havia chamado para almoçar. Imaginando a impaciência da mesma diante da sua demora, apressou-se em alcançar a porta para o lado de dentro da casa. Os passos tornaram-se lentos à medida que a visão tornava-se escura por conta do longo período encarando a luz do Sol. Ainda confusa, com os olhos abertos piscando descompassadamente na tentativa de acelerar o processo de volta da visão ao normal, o corpo leve e distraído colidiu com outro, grande e firme.

Pega de surpresa, com a visão voltando ao normal ainda de forma gradativa, Rosalie por pouco não havia caído. Na verdade, havia sido graças à Emmett e seu reflexo: as mãos ágeis alcançaram a tempo os braços da loira, que só então recuperou-se totalmente do "apagão" temporário da vista. Com o susto, as respirações trancaram-se novamente nos pulmões, involuntariamente. 

—Você está bem? - a voz grave e calma soou preocupada, falando quase como num sussurro. 

—Claro, estou... - ela se perdeu na própria afirmação, procurando dar alguma continuidade coerente à frase - Eu quem estava distraída, me desculpe, eu realmente não vi você vindo. - falou com sinceridade, passando de tensa à divertida em alguns segundos - Acho que passei muito tempo encarando o Sol, então minha visão escureceu quando entrei pela porta. - sorriu torto, com o canto dos lábios graciosamente curvado.

—Eu imaginei. - o moreno retribuiu, sorrindo também - Esme me pediu para te chamar para o almoço outra vez, por isso estava indo lá fora. E bem, eu vi você vindo, mas quando fiz menção de dar o último passo você continuou andando, então só tive tempo de assegurar que você não caísse. - os olhos azuis expressivos acompanharam o sorriso quase involuntário que se formava outra vez nos lábios rosados.

—Obrigada por isso. - ela sorriu, gentil e sinceramente, enquanto tentava não parecer perdida demais no olhar expressivo que encarava o seu.

—Crianças, o almoço está na mesa! - Esme chamou da sala de jantar, convidando aqueles que ainda não haviam tomado seus devidos lugares à mesa, sem, no entanto, citar nomes, para evitar a possibilidade de constrangimentos vindos daqueles que conversavam próximos à porta de trás. Esses, por suas vezes, sorriram singelamente um ao outro, permitindo-se seguir logo para a sala de jantar. 

—Então, como foi na delegacia? - Alice quis saber, servindo-se enquanto fitava brevemente os olhos cor de mel da cunhada. 

—Bem, eu diria. - a outra sorriu em resposta, ajeitando-se em seu assento. Emmett, na cadeira ao seu lado, assim como o pai e os irmãos, sentiu-se um tanto avoado em meio à conversa, uma vez que ainda não tinha conhecimento do documento que havia chegado naquela manhã e muito menos do cumprimento das ordens do mesmo por Rosalie. 

—Você foi até a delegacia? - Jasper ergueu uma sobrancelha, encarando a irmã do outro lado da mesa por alguns segundos. 

—Fui, voltei antes de vocês chegarem. - a loira respondeu, encarando com um olhar mais sereno os irmãos e o moreno ao seu lado, que ainda pareciam ainda confusos - A intimação para que eu fosse depor no departamento de polícia chegou hoje, pela manhã, quando vocês estavam no trabalho. - fez uma breve pausa, antes de lembrar-se do último detalhe que deveria fornecer a um dos presentes em particular - Emmett, o delegado solicitou o seu depoimento também, já que você testemunhou parte do acontecido. O documento está na minha bolsa, posso entregá-lo a você antes que volte para o trabalho. 

—Tudo bem, eu irei até lá ainda hoje, só precisarei do endereço. - o moreno fitou-a brevemente, lembrando-se do momento em que acolheu seu corpo frágil firmemente, tentando protegê-la das memórias deixadas pelo homem, naquele momento, desfalecido ao chão. Antes que pudesse aprofundar-se na lembrança, obrigou-se a atentar-se ao alimento posto à sua frente, no prato ainda pela metade.

—Isso deve significar que a equipe de investigação está perto de alguma conclusão. - Carlisle deduziu, alternando o olhar entre a taça que segurava e o rosto da filha. 

—Foram mais rápidos do que imaginei que seriam. - Edward comentou, ainda encarando o prato de comida à sua frente. Emmett concordou silenciosamente, com um maneio de cabeça positivo. Por alguns minutos, o ambiente em si tornou-se silencioso, com tal silêncio sendo quebrado apenas pelo toque das taças colocadas de volta à mesa após serem levadas à boca, e o mesmo com os talheres tocando os pratos de porcelana quase vazios. Enquanto bebericava os goles finais de seu saboroso vinho branco francês, Rosalie interrompeu o silêncio com sua fala, que era acompanhada de um olhar ainda um tanto pensativo. 

—Desde o acidente, eu estive pensando em tirar um tempo para mim, quem sabe viajar para algum lugar sozinha. - os olhares familiares pousaram-se sobre os dela, que agora encarava os próprios dedos finos tocando a haste da taça delicada - Além de pretender, com isso, me livrar um pouco de todas as terríveis memórias criadas desde aquele dia, essa viagem seria ótima também para que eu ficasse o mais longe possível de Royce e sua família, que certamente não me deixarão em paz estando por perto quando ele acordar do coma. - a dona da voz doce que agora silenciava-se, observava atenta os olhares da família sobre o seu, esperando por qualquer comentário. 

—Apesar de inesperada, acho que essa é uma ótima ideia. - o pai da mulher loira sorriu, levando à boca sua taça após terminar a fala. 

—Concordo, acho que tem toda a razão em tirar algum tempo para você, prezar pela sua "sanidade" e seu bem-estar. - Alice pronunciou-se, posicionando meticulosamente os talheres no prato vazio. 

—Então você finalmente decidiu divorciar-se do King? - o de olhos esverdeados questionou a irmã, fitando-a enquanto levantava-se de seu assento, passando o guardanapo de forma suave pelos lábios naturalmente corados.

—Bem, eu não tinha a intenção de gerar essa conversa hoje, mas já que perguntou... - a loira fez uma breve pausa, sendo novamente encarada pelos olhares atentos da família - Sim, eu tomei essa decisão. - os rostos suavizaram suas expressões, um a um, demonstrando o alívio que aquela notícia trazia. Ao seu lado, o ex-soldado procurava ser discreto em suas reações, sentindo seu coração acelerar-se de forma desesperada, lutando fortemente contra a postura prudente que, com certo esforço, mantinha-se firme em um sorriso modesto. 

—Eu ficaria por aqui para comemorar essa extraordinária novidade com outra taça desse vinho delicioso, se não tivesse que voltar ao trabalho. - Jasper ofereceu um sorriso resplandecente para a irmã, que devolveu o gesto, estreitando os olhos ao fazê-lo. 

—Não seja indelicado, Jazz! - Alice cutucou-o com o cotovelo, fazendo-o sorrir - As circunstâncias que levaram ao divórcio não são motivo para comemoração alguma.  - a morena preocupou-se com a cunhada, que apesar de entender a preocupação da mesma, continuava divertindo-se com as expressões felizes da família,  traduzidas pela fala do irmão mais velho. 

—Ainda que Alice tenha razão, já que King nunca fora um sujeito decente ou que ao menos fez Rose feliz, compartilho do mesmo sentimento de Jasper. - Edward sorriu abertamente, ainda parado atrás da cadeira em que antes sentava-se, agora fazendo menção de retirar-se do ambiente, um tanto mais apressado do que nos segundos anteriores. 

—Então, todos concordamos que deve haver uma comemoração essa noite? - Esme sugeriu, recebendo olhares e sorrisos entusiasmados de todos.

—Concordamos! - as vozes dos quatro filhos do casal Cullen ecoaram pelo ambiente, provocando sorrisos radiantes nos pais e em Alice, que caminhava na direção da sala de estar.