A ascensão de uma assassina escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante...



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Mesmo após meses de treinamento, Asajj Ventress tinha o mesmo sonho. Noite após noite.

Tudo começava em Dathomir, seu planeta natal, onde via Mãe Talzin e as demais Irmãs da Noite reunidas ao redor de um velho altar de pedra escura. Ao que tudo indicava, estavam conjurando um encantamento — um que Ventress não conseguia distinguir no sonho. As Irmãs estavam sentadas em círculo ao redor do altar, de mãos dadas umas as outras, enquanto recitavam os versos do feitiço. Mãe Talzin estava diante do altar, inclinando o corpo, ora para frente, ora para trás, enquanto canalizava energia das mãos para a rocha e acompanhava a recitação das demais.

Então, do nada, o corpo dela ficava rígido. Já não havia nenhum som. Mãe Talzin, depois do que no sonho seriam longos minutos, girava a cabeça na direção de Ventress — mesmo ela não estando entre as Irmãs — e dizia em uma voz que, definitivamente, não era a dela: “Você precisa ir embora! Salve-se!”. Ventress conhecia o dono da voz. Era de Ky Narec, seu antigo mestre.

Depois que ouvia aquelas palavras, seu inconsciente a levava de volta para o velho mundo de Rattatak, um planeta consumido pelos inúmeros conflitos entre piratas e Senhores da Guerra locais. Tinha sido naquele planeta desolado que Ventress, ainda criança, conheceu o Cavaleiro Jedi Ky Narec. Ele a acolheu e a treinou como sua Aprendiz Padawan.

No sonho, Ventress olhava para trás e via a si mesma, bem mais jovem e com um traje Jedi. Estava defletindo tiros de rifles e de blasters ao lado de Ky. A desvantagem dos dois era evidente. Os disparos vinham de todas as direções. Enquanto o cerco se apertava, Ky Narec gritou algo ininteligível para a jovem Ventress, que se virou segundos depois e...

NÃO! MESTRE!

Ventress sentiu o grito desesperado de seu Eu mais jovem lhe percorrer a espinha. Ky tombou com um buraco nas costas, caindo sobre os ombros da jovem aprendiz. Com a morte de seu mestre, uma mistura de solidão e ódio queimava em todo o seu ser. Podia sentir o gosto nos lábios. Era amargo. Ventress estava sozinha outra vez. E no ápice daquela implosão de emoções, ela sempre abria os olhos.

O sonho acabava ali. Em todas as vezes.

Sentou-se sobre a cama e pôs as mãos à cabeça. Odiava aquele sonho. Sua mente parecia colecionar o que havia de pior em suas memórias, misturá-lo e reproduzi-lo na forma de um pesadelo maldito que ela daria qualquer coisa para deixar de sonhá-lo. Infelizmente, ódio não era o bastante.

“Seu ódio te fortalece, aprendiz. Ele te dá foco, mas você não consegue usá-lo a seu favor”, o ensinamento de Dookan, seu novo mestre, veio-lhe à memória.

Olhou ao redor do quarto. As paredes de hiperaço já não apareciam amassadas. Nos primeiros dias, desde que fora encontrada por Dookan e se tornado sua aprendiz, depois de sonhar, Ventress encontrava o hiperaço de seus aposentos deformado, pois acabava usando a Força enquanto dormia. Com o tempo, os incidentes diminuíram.

— Pelo menos isso. — Suspirou, cansada.

Por mais que quisesse voltar a dormir, não queria arriscar sonhar tudo outra vez. Levantou-se e lavou o rosto. A ideia de meditar lhe ocorreu, mas ela a dispensou de imediato. Acabara de acordar de um pesadelo e praticar meditação não era exatamente sua estratégia favorita de lidar com o estresse.

Seu sabre de luz estava no mesmo lugar de sempre — sobre a mesa de cabeceira —, junto com o de seu antigo mestre, Ky Narec. Ligou-os. As lâminas verdes surgiram e sibilavam enquanto Ventress golpeava contra o ar.

“Seu ódio te fortalece, aprendiz. Ele te dá foco, mas você não consegue usá-lo a seu favor”.

Trincou os dentes, irritada. Estava se tornando mais poderosa a cada dia. Ela enxergava perfeitamente sua própria evolução e buscava mais e mais poder. Era a aluna perfeita.

— Não consigo usá-lo a meu favor? — Ventress cortou o ar de cima a baixo com o par de sabres. — Meu ódio me trouxe até aqui. Ele me fez ser quem sou.

Ventress continuou ensaiando golpes contra oponentes imaginários. Ataques brutais, rápidos, de uma ferocidade que gritava dentro dela, nunca satisfeita.

Só parou quando escutou um bipe de seu holotransmissor. O Cruzador Estelar Dinastia transportava uma tripulação de aproximadamente trinta e sete mil dróides de batalha, além de alguns neimoidianos simpatizantes da Confederação Separatista. Ventress não falava com nenhum deles, o que significava apenas uma coisa: seu mestre a estava chamando.

Desligou os sabres de luz e aceitou a chamada. Uma imagem holográfica gigante do rosto do conde foi projetada instantaneamente. A expressão era a mesma, mas Ventress podia jurar que percebia algo diferente nos olhos do mestre.

— Sim, meu senhor? — Inclinou ligeiramente a cabeça.

— Ventress... — Dookan não deixou de perceber os sabres de luz nas mãos de sua aprendiz. — Parece que ainda está tendo aquelas visões.

Ela apertou os sabres em suas mãos. O sonho era uma fraqueza, e Dookan sabia disso.

— Eu irei superá-las, meu senhor. Em breve, isso não será u...

— Não vim aqui discutir sonhos, Ventress — interrompeu-a Dookan. — Tenho um trabalho para você.

“Finalmente”, ela pensou, tão surpresa quando ansiosa.

— Venha até minha câmara — continuou o conde. — Explicarei melhor pessoalmente.

A transmissão foi encerrada.

Ventress se permitiu um sorriso de satisfação, ainda que tímido. Desde que se tornara aprendiz do Lorde Sith, aquela poderia significar sua primeira vez em campo como a “Assassina de Dookan”. Ela havia passado por um árduo treinamento, além de torturas com os Relâmpagos da Força. Tudo para forjar a guerreira mais mortal do enorme exército Separatista.

Sentia-se mais pronta do que nunca.

 

 

 

O turboelevador a deixou no último andar da torre de observação da Dinastia. O caminho, basicamente, era um corredor de hiperaço que terminava em uma plataforma de observação abobadada com grandes painéis de vidro reforçado. Antes de chegar à plataforma, porém, o corredor dividia-se para a direita, que daria em um par de portas de hiperaço protegidas por dois superdróides de batalha modelo B2.

Ali era a Câmara do Conde Dookan.

Ventress se aproximou e, antes que pudesse entrar, foi impedida por um dos superdróides:

— Alto — disse o dróide da esquerda. — Identifique-se.

“Dróides... sempre seguindo suas programações”.

— Asajj Ventress — disse ela. — O conde me chamou. Agora saia da frente.

— Aguardando confirmação — respondeu o dróide. Ventress suspirou, claramente impaciente. — Acesso concedido. Bem-vinda, senhora Ventress.

— Obrigada — falou, irônica.

A câmara era octogonal e espaçosa, com hiperaço bem mais escuro que o do resto do Cruzador. Havia alguns pares de esculturas de Serenno — o planeta natal de Dookan e de onde ele agora era Conde desde que havia deixado a Ordem Jedi —, estantes lotadas e painéis de luzes vermelhas, que se intercalavam com as paredes metálicas, iluminando toda a câmara.

Dookan estava sentado com as pernas cruzadas sobre o piso, degraus acima de Ventress. O Lorde Sith estava de costas, então ela não tinha certeza se ele ainda estava meditando ou se já havia terminado.

Foi quando um display holográfico acendeu bem ao lado de Ventress. Era similar a uma vitrine, com um formato que lembrava a Ventress uma lápide. Dentro da vitrine holográfica, havia diversas projeções de sabres de luz em tamanho real, com nomes classificados lado a lado de cada uma das armas.

— Sabe o que é isto? — A voz tonitruante do conde retirou a atenção de Ventress do holograma.

— É um memorial — respondeu. — Uma projeção de um.

Dookan se levantou e virou-se para Ventress, assentindo.

— O original está no meu palácio na sexta lua do Sistema Bogden. Estes sabres de luz pertenceram aos meus colegas que morreram na Batalha de Galidraan, contra os Mandalorianos. Quando eu ainda era um Jedi.

Ventress permaneceu em silêncio.

— Aquela foi minha última missão como membro da Ordem — prosseguiu. — O Conselho cometeu um erro ao nos enviar para enfrentar os Mandalorianos. Mais da metade dos Jedi foram mortos. Foi uma vitória de um custo muito alto, mas, pelo visto, os velhos mestres ainda não aprenderam a lição e continuam enviando um ou outro Jedi para a morte.

O memorial holográfico tremeluziu e deu lugar a uma imagem de um sistema estelar. Ventress estudou-o com os olhos e depois se virou para Dookan, surpresa. O Lorde Sith confirmou os pensamentos da aprendiz.

— O Sistema de Rattatak, Orla Exterior — disse Dookan. — Eu presumo que você o conheça muito bem, aprendiz.

Era verdade. Desde que fora entregue pelas Irmãs da Noite aos piratas, Ventress vivera a infância e grande parte da adolescência em Rattatak. Deixou o planeta quando Ky Narec morreu, quando ela já não tinha mais razão alguma para continuar lá.

— Sim, eu o conheço.

— Bom. — Dookan usou a Força para atrair a capa do cabideiro, prendendo-a sobre sua roupa. — Agora diga-me, Ventress: como é criado um sabre de luz?

Ela não entendeu o porquê daquela pergunta, mas respondeu teoricamente:

— Ky Narec me disse que todo Jedi, quando vai construir um sabre de luz, deve ir à caverna sagrada do Sistema Ilum e encontrar o próprio Cristal Kyber.

— Correto. Agora, diga-me: quem tem acesso à caverna de Ilum?

Ventress estava começando a compreender onde seu mestre queria chegar.

— Os Jedi. — disse ela. — Somente os Jedi.

Dookan assentiu. Depois pegou o próprio sabre de luz, que estava preso ao cinto, e ligou-o. A lâmina vermelha iluminava o rosto do Sith de uma forma sinistra.

— E como um Lorde Sith pode ter um sabre de luz?

Então era isso. Esta seria a missão de Asajj Ventress.

— Matando um Jedi e domando seu sabre de luz — ela respondeu.

Dookan esgrimiu o sabre suavemente por alguns segundos.

— O Sith deve domar o Cristal — corrigiu Dookan. — É ele o coração da lâmina.

O Conde encarou Ventress.

— Você irá até o Sistema Rattatak, Asajj Ventress. Minha fonte em Coruscant informou que o Conselho Jedi enviará, em dois dias, alguém para proteger um importante Senhor da Guerra que financia armas para a República: a Mestra Jedi Shry’yrah Jarun e seu Padawan. Mate-os e traga-me seus sabres de luz.

A assassina inclinou a cabeça.

— Será feito, meu senhor. Mas e quanto ao Senhor da Guerra? Devo matá-lo também?

— Não — respondeu Dookan. — Se matá-lo também, a República saberá que foi um ataque Separatista e intensificará sua influência no Sistema antes que possamos lançar um ataque definitivo. Sua ação deverá ser isolada.

O que significava que Ventress não poderia levar dróides de batalha para dar apoio.

— Eu entendo, meu senhor.

— Paciência, Ventress. A República e os Jedi saberão que eu tenho uma agente no tempo certo. Até lá, você deve completar a última etapa de seu treinamento.

Que era, exatamente, obter um sabre de luz das mãos de um Jedi.

Ventress assentiu e já se preparava para sair quando Dookan a chamou outra vez. Mal ela se virou e seus sabres de luz foram atraídos pela Força para perto do Sith, que os partiu com um único golpe. Ventress estremeceu quando viu os fragmentos de seu velho sabre de luz e o de Ky Narec aos pés de Dookan, ainda quentes pelo contato com a lâmina do Sith. Voltou os olhos para o conde, que a observava de um jeito desafiador.

— Seu passado é uma fraqueza, Ventress. Destrua-o.

Em seu interior, Ventress sentia um conflito. Duas vozes inflamadas gritavam dentro de sua mente, apoiando e condenando o conde. Ela temia que seu mestre percebesse seus pensamentos conflituosos.

— Algum problema, Ventress?

— Como posso derrotar uma Mestra Jedi sem meus sabres de luz? É suicídio. — falou, tentando manter a calma, sem sucesso.

Ela tinha cometido um erro e Dookan a fuzilou com os olhos. Aquele era um comportamento intolerável. Estendeu a mão livre para a aprendiz e não demonstrou qualquer misericórdia.

Ventress foi arremessada contra a parede de hiperaço mais próxima pelos relâmpagos. Assim que ela caiu, o conde disparou raios pelos dedos outra vez, agora uma rajada continuada. Ventress gritava e esperneava de dor.

Por segundos que pareciam intermináveis, Asajj Ventress foi submetida à tortura dos Relâmpagos da Força. Quando Dookan terminou, usou a Força para erguer a cabeça de Ventress, fazendo-a encará-lo.

— Talvez eu deva considerá-la incapaz — Dookan desceu vagarosamente os degraus, caminhou até Ventress e pousou a lâmina avermelhada a centímetros do pescoço dela, ainda imobilizado pela Força. — Talvez seja melhor eu contar com os serviços do General Grievous. O que me diz, Ventress?

O ódio fervilhava dentro dela, bem mais do que a dor. Toda a musculatura ardia, a respiração faltava e o coração ainda estava acelerado. Fora isso, ela tinha medo do agora e do que Dookan poderia fazer, medo do futuro e de que poderia ser morta em missão. Porém, acima de tudo, Asajj Ventress sentia ódio.

Sentindo algo explodir dentro dela, uma espécie de energia fluindo pelo corpo, Ventress fechou os olhos e gritou.

Quando os abriu, testemunhou a destruição que, acidentalmente, havia causado. Esculturas, móveis e todos os painéis da câmara jaziam despedaçados com a onda da Força que fora liberada. O poder a livrou do domínio de Dookan, que agora estava a alguns passos distante dela. Ventress deduziu que o Sith, por ser bem mais habilidoso com a Força, não foi surpreendido pelo ataque. E pelo sorriso de satisfação, ela concluiu que ele esperava algo assim.

— O ódio alimenta o seu poder. Ele a torna mais forte. — Dookan desligou o sabre de luz e o prendeu no cinto. — O ódio, minha aprendiz, é a sua arma. Use-o.

Ventress ainda queria ferir Dookan, mas sabia que estava limitada se comparada aos poderes dele. Além disso, ele era seu mestre no Lado Negro da Força. Ela sabia que estava sendo disciplinada para se tornar mais forte. Lutando contra seus sentimentos, ela curvou a cabeça em reverência.

— Sim, meu senhor. Não falharei em minha missão.

— É bom ouvir isso. Tenho certeza de que não irei me decepcionar.

Assim, fez um curto gesto para que ela saísse.

Bastou Ventress deixar a câmara de Dookan, para que uma transmissão fosse recebida automaticamente no holotransmissor que ficava no piso superior da câmara. A imagem em tamanho real mostrava uma figura aparentemente humana, envolta por vestes escuras e capuz.

— Lorde Tyranus? — chamou a figura.

Dookan se virou para a imagem, curvando-se sobre o joelho.

— Mestre Sidious.

— E a garota dathomiriana?

— Asajj Ventress está pronta para o seu teste final — disse Dookan. — Eu a treinei nos Caminhos do Lado Negro da Força, lapidei seu poder e forjei sua mente através da mais rígida disciplina. Ela está pronta.

— Excelente — falou Darth Sidious. — Ordenarei que Grievous inicie a ocupação do Sistema Ryloth. Com isso, a República e os Jedi serão obrigados a direcionar suas forças para longe de sua aprendiz em Rattatak. Não queremos interferência indesejada.

Dookan concordou.

— Mestra Shry’yrah e seu Padawan serão guarda-costas do Senhor da Guerra Orkun, de Sastemah — continuou Sidious. — Portanto não haverá qualquer soldado clone com eles.

— Isso facilita as coisas. Mas eu confesso, mestre, que enviar Ventress sem sabres de luz para enfrentar Shry’yrah... e se ela fracassar? Nossos planos poderiam ficar comprometidos.

Sidious sorriu tranquilo por debaixo do capuz.

— Se ela morrer, não fará diferença, Lorde Tyranus — disse Sidious. — Não fará a menor diferença.

 

 

 

 

 

Pelos cálculos do computador, a viagem até Rattatak, saindo da posição atual da Dinastia, levaria um pouco mais de nove horas. Ventress teria tempo suficiente para se misturar ao local e montar a estratégia de assassinato.

Assim que deixou o hangar principal da Dinastia, a nave de Ventress — um Transportador Theta, classe T-2C — entrou no hiperespaço.

— Diga-me o que sabe sobre ela. — Ventress deitou-se sobre o assento, pondo os pés no assento vazio do copiloto, e relaxou. Com a nave em piloto automático, a viagem interplanetária era uma preocupação a menos.

— Shry’yrah Jarun é uma Mestra Jedi da espécie Miraluka — informou o dróide tático TC-28. — Nascida em Alpheredies, em 63 BBY. Obteve o título de Mestra Jedi no ano de 21 BBY...

— Então ela não tem olhos?! — perguntou Ventress, meio ansiosa, meio aliviada.

— Os Miraluka são uma espécie humanoide, diferenciando-se apenas por não possuírem globos oculares em suas estruturas orgânicas — TC-28 respondeu.

Ventress se permitiu dar um leve sorriso. Talvez a missão fosse mais fácil do que ela havia imaginado. Com um gesto impaciente, ordenou que o dróide continuasse.

— No mesmo ano, foi convidada a ocupar uma cadeira no Alto Conselho Jedi, mas recusou, pois, segundo ela, queria dedicar-se apenas a ensinar, adotando Es Wos-Giet como aprendiz Padawan.

— Padawans não costumam ser um desafio — comentou Ventress. — O que mais sabe sobre nossa Jedi cega?

TC-28 hesitou, talvez, concluiu Ventress, por duvidar da cegueira de Shry’yrah. Por mais inteligente que os dróides táticos pudessem ser, era simplesmente impossível calcular as dimensões da Força e os poderes advindos dela.

— A senhora deveria ser cautelosa, madame Ventress. Shry’yrah Jarun ainda é uma Mestra Je...

— Apenas conte-me o que sabe sobre ela, dróide.

Ventress sabia que máquinas não possuíam sentimentos, mas poderia jurar que TC-28 havia ficado irritado. Decidiu ignorar isso.

— Pois bem — continuou o dróide. — Shry’yrah Jarun é uma Jedi Guardiã, o que significa que...

— ... ela concentrou o treinamento nas habilidades com o sabre de luz. — Ventress completou, interessada. — Continue.

O dróide esperou uns três segundos e então prosseguiu.

— É especialista na Forma III de combate com sabres de luz, além de...

— A Forma Soresu — pensativa, Ventress não percebeu que havia interrompido TC-28 pela terceira vez. — Então, além de ser cega e ser voltada para usar um sabre de luz, ela é perita na forma de combate mais defensiva de todas... tiros de Blaster não funcionarão com ela, mas talvez possam servir para alguma distração.

Só então ela percebeu TC-28, em silêncio, esperando-a.

— O que está fazendo aí parado, dróide? Continue.

— Como eu dizia — ele considerou a possibilidade de repreender Asajj Ventress e, depois de concluir que todas as probabilidades de não haver consequências não estavam a seu favor, TC-28 se limitou a continuar o relatório —, Shry’yrah Jarun é especialista na Forma III de combate com sabres de luz, além de ser usuária do estilo de luta Jar’kai.

Ventress balançou a cabeça, impressionada.

— Estilo Jar’kai... ela também luta com dois sabres de luz. Interessante, não acha?

— Desculpe-me, madame Ventress. Minha programação me impede de julgar valorosamente; fui programado para calcular precisamente e não fazer especulações.

A resposta de TC-28 foi irritante o suficiente para convencer Ventress a usar a Força. Cerrou o punho, transformando o dróide tático em uma bola de metal amassado.

— Dróides... — murmurou. — Sempre seguindo suas programações.

 

                                                    * * *

 

“Estação final: Sistema Rattatak. Todos os passageiros devem desembarcar”, dizia a voz eletrônica nos alto-falantes.

Es Wos-Giet levantou-se com um sobressalto ansioso. Havia ficado entusiasmado quando soube que sua Mestra tinha sido designada para uma missão no auge das Guerras Clônicas e que ele iria junto. Es era um Vurk de apenas quatorze anos que nunca havia deixado o Templo Jedi para uma viagem interplanetária desde que se tornara um Padawan. Com todas as histórias que ouvia dos grandes e corajosos generais Jedi nas frentes de batalha — como o Mestre Obi-wan Kenobi e Anakin Skywalker, seus maiores heróis —, sentia-se sempre empolgado quando o assunto era a luta contra os separatistas de Dookan.

Mas naquele momento, tudo o que ele mais queria era pisar em terra firme.

— Finalmente vamos sair dessa privada voadora gigante! — exclamou, não se importando com que outros passageiros escutassem. — Isso aqui fede a cocô de Wookie!

— Esvazie-se da ansiedade, Es... — Shry’yrah sorriu maternalmente para o Padawan — e pare de reclamar do transporte público.

Es bufou e coçou a crista na cabeça. Cargueiros AA-9 eram naves que só impressionavam pelo tamanho. Bem maiores que cargueiros convencionais, porém nada espaçosos por dentro. Além de superlotados, não eram muito velozes. E a comida, para Es, era repulsiva não só pelo gosto.

— Isso tudo é um absurdo, mestra — disse calmo, em uma demonstração forçada de seguir conselhos Jedi que, para ele, não levavam a lugar nenhum. — Nós somos Jedi. Deveríamos ter vindo em um Cruzador da República, ou até mesmo nos nossos Caças ETA-2. Qualquer coisa seria melhor do que viajar como refugiado.

— Com você falando Jedi de cinco em cinco minutos, pode apostar que até o Conde Dookan sabe que estamos aqui.

Shry’yrah entendia seu Padawan. Desde o começo, se opusera à ideia de ir até a Orla Exterior trabalhar como guarda-costas de um criminoso que financiava a máquina de guerra da República. Para ela, isso rompia com os princípios Jedi. No entanto, o pedido veio diretamente da figura do Chanceler Palpatine ao Conselho. E como o número de Jedi em Coruscant tinha diminuído, à medida que a guerra se arrastava, as opções do Conselho não eram muitas. Então lá estava ela.

Seu maior receio, porém, era com seu aprendiz Padawan. Es era muito jovem para deixar o Templo e sair em uma missão oficial. Teria ido sozinha, não fosse a decisão do Conselho de que o Padawan deve acompanhar o Mestre.

— Você é orgulhoso, Es — disse, por fim —, e jovem. Ainda precisa aprender muito.

O jovem Vurk bufou outra vez e se sentou, inconformado. Shry’yrah Jarun era uma excelente mentora e ele a respeitava. Mas, ao mesmo tempo, o jeito tranquilo dela o incomodava. Es esperava não ser como sua mestra quando se tornasse Cavaleiro Jedi.

Virou-se para ela. A mesma expressão de serenidade que quase todo Mestre Jedi possuía. Exceto pela máscara. Como era da espécie Miraluka, Shry’yrah não possuía olhos. Por isso, usava uma máscara de pano preto que a cobria naquela região do rosto.

— Está preocupada comigo, mestra? — ele perguntou, ainda a observando.

Shry’yrah negou.

— Estou vendo você. — E Es deu uma curta risada.

— E como isso é possível, mestra? Você é cega.

Shry’yrah se levantou.

— Não ter olhos não me torna cega, meu pequeno Padawan, assim como tê-los não faz de mim alguém capaz de enxergar. — Pôs o capuz sobre a cabeça. — A propósito, chegamos.

Dois segundos depois, o Cargueiro pousou e a voz nos alto-falantes anunciou o desembarque.

 

 

 

Rattatak não havia mudado quase nada, se comparado ao mundo esquecido que ela havia conhecido. Os conflitos internos eram só mais uma rotina da população que ainda lidava com a fome, a pobreza e o abandono. O rei há muito não passava de um símbolo; o poder estava nas mãos dos Senhores da Guerra — homens que ignoravam as necessidades sociais e governavam em interesse próprio. Um desses homens era Orkun, governador da província de Sastemah. Que em breve, receberia proteção dos Jedi.

Asajj Ventress estava ali para garantir que isso nunca acontecesse.

Era tarde e o calor incômodo só piorava o desgosto que ela sentia por aquele lugar. Queria terminar a missão e retornar para seu mestre. Com um binóculo, ela observava o espaçoporto de uma das torres de comando.

— Parece que nossos amigos chegaram — falou Ventress, observando um Cargueiro AA-9 de Coruscant pousar na plataforma. — Diga-me, capitão, seus homens estão prontos?

Maeh Zer-Ornick era o capitão da guarda do Senhor da Guerra Orkun e tinha recebido a tarefa de recepcionar os Jedi no espaçoporto. Ventress descobriu isso quando se infiltrou no palácio e aproveitou esse detalhe a mais para aprimorar seu ataque.

— Sim, minha senhora — disse Maeh. — Meus homens estão prontos.

— Ótimo. Eu vou guiar você até os Jedi. Com a minha ajuda, você os identificará rápido. Então, assim que os encontrar, você irá recebê-los.

O capitão da guarda assentiu, robótica e obedientemente.

— Eu vou identificá-los rápido e, assim que os encontrar, irei recebê-los.

O Cargueiro abriu sua rampa de acesso. Os passageiros começavam a desembarcar.

— Sua hora chegou, capitão. Pode ir.

— Minha hora chegou — falou. — Eu posso ir.

 

 

                                                     * * *

 

A multidão de passageiros ainda desembarcava, e no meio dela Shry’yrah Jarun e Es Wos-Giet. A Mestra Jedi trazia consigo uma pequena maleta, enquanto coubera ao aprendiz Padawan carregar todo o resto da bagagem. Es, desde o começo, havia achado aquela divisão nada justa.

— Mestra, você bem que poderia levar só mais uma das suas malas, não? — O garoto Vurk se embolava para equilibrar o peso entre os dois braços e assim conseguir continuar.

— Não posso — respondeu ela, brincalhona. — Sou deficiente.

— Você é deficiente visual, Mestra. Não poder enxergar não é desculpa.

Shry’yrah se virou para o Padawan, com uma expressão nos lábios de quem estava falsamente ofendida.

— É muita indiferença não ajudar uma pessoa que não enxerga. Não se preocupe, Es. Quando voltarmos, eu te ajudo com a bagagem.

Es bufou, chateado. Mas por pouco tempo, pois identificou o que parecia ser um oficial no meio da multidão. Estava procurando alguém.

— Mestre, acho que vieram nos receber.

Maeh Zer-Ornick caminhava devagar, olhando de um lado para o outro. No instante curto que percebeu duas figuras encapuzadas, travou. Uma voz que ele deveria conhecer, mas não sabia de onde, falou-lhe à mente: são eles. Vá. Como um bom soldado, obedeceu sem questionamentos.

— Mestra Jedi Shry’yrah Jarun e Padawan Es Wos-Giet — falou, quando ficou frente a frente com os Jedi. — Sou o capitão Maeh Zer-Ornick. Vim aqui recepcioná-los.

Es saudou-o com um sorriso caloroso. Shry’yrah franziu a testa. Havia algo estranho, ela podia sentir.

— Bem-vindos a Rattatak... — enquanto Maeh falava, Shry’yrah sondou a Força. Ela sentia uma perturbação distante e oleosa, que lhe escapava. Ao mesmo tempo, sentia no capitão Maeh uma presença que não era a dele.

Quando ela descobriu que Maeh estava sendo controlado por meio da Força, já era tarde demais.

— ... tenho certeza de que acharão a recepção bem...

Percebendo o perigo em Maeh, Shry’yrah ainda conseguiu empurrá-lo para longe antes que a bomba acoplada às costas dele explodisse. O que a Jedi não previu foram as minas térmicas que rodeavam toda a plataforma. Ventress observou a confusão de longe e acionou o detonador múltiplo.

Era só mais um dia comum de um lugar cuja violência era uma constante. Porém ver o caos e o desespero sempre era doloroso, por mais presente que ele fosse. Pessoas gritavam enquanto corriam sem direção — algumas queimando vivas —, perdidas em seus próprios pesadelos, outras jaziam caídas no chão. Pessoas e pedaços delas. O cheiro de carne carbonizada e fumaça se misturavam no ar.

Shry’yrah se levantou com dificuldade, quase caindo outra vez. Seu fêmur esquerdo estava ferido, o lado direito queimado e os sentidos embaralhados com o todo aquele pandemônio. Caminhava a passos mancos.

Sentiu uma pontada no coração. A presença de Es havia desaparecido. Shry’yrah tentou reorganizar os pensamentos, buscou a paz interior se concentrando na Força e apenas nela. Talvez assim pudesse ser capaz de encontrar seu Padawan no meio do caos.

“Es! Es! Escute-me!”

Não houve mudança alguma. E quando usou a Força para perceber o ambiente ao redor, sentiu um objeto peculiar entre os destroços. Era um sabre de luz.

— Não... Es, não.

Seu treinamento Jedi havia lhe ensinado uma dura lição, uma que as Guerras Clônicas haviam reforçado: a dor da perda era um caminho para o Lado Negro da Força. Shry’yrah sentira o Lado Negro diversas vezes. Vinha como uma nuvem tempestuosa, que obscurecia todo o céu. Espalhava-se, imparável. Ou, ao menos, sempre fora assim.

Desta vez, o Lado Negro da Força vinha sólido, personificado na pessoa que estava ali em pé diante dela.

— Eu disse ao dróide — falou Ventress, armada com o sabre de luz de Es e uma pistola blaster DL-44. — Padawans não costumam ser um desafio. Eu estava certa.

— Quem é você? — perguntou Shry’yrah.

— Eu — Ventress acenou enquanto dava passos furtivos para trás. Um grupo de soldados armados com Blasters, os homens de Maeh, se aproximava devagar ao redor de Shry’yrah, cercando-a. Aguardavam a ordem de Ventress para disparar. — sou o seu fim, Jedi.

Dez homens com armas apontando diretamente para ela, Shry’yrah sentia. Sua outra atacante, não importava quem fosse, estava mais afastada agora. Era uma situação bastante complicada a que se encontrava.

Ventress falou sem qualquer devaneio:

— Matem.

Uma chuva de raios azuis se concentrou no mesmo ponto da plataforma. Disparos continuados que davam cor à fumaça no ar.

Asajj Ventress sorriu satisfeita. Já não sentia mais a presença de Shry’yrah Jarun, o que só podia significar o fim da Mestra Jedi e o sucesso de sua missão. No fim das contas, havia sido mais fácil do que ela esperava.

Ordenou que os disparos cessassem. Os soldados obedeceram e Ventress deu as costas. Se a Jedi tivesse em posse de seus sabres de luz, os teria usado. Como não aconteceu, supôs que ela estivesse desarmada e que os sabres de Shry’yrah foram destruídos com as explosões.

— Talvez o Conde Dookan se contente com o sabre do Padawan. Pelo menos o garoto serviu para isso.

Estava para deixar a plataforma quando um som bem peculiar a paralisou: sabres de luz sendo ligados. Um calafrio lhe percorreu a espinha e, de repente, a sensação de medo tomou Ventress.

“Impossível”, foi o que Ventress conseguiu pensar. “Isso é impossível!”

Quando se virou, testemunhou uma Mestra Jedi que parecia dançar no ar enquanto golpeava com seus sabres de luz. Os homens de Maeh disparavam, mas era como tentar acertar um fantasma. Shry’yrah desviava dos raios e atacava ao mesmo tempo. As lâminas azuis desenhavam arcos no ar, defletiam tiros e cortavam. Um após o outro, todos os soldados estavam mortos.

Restava apenas Ventress.

— Maldito dróide. — Ventress ligou o sabre de luz, apontando a lâmina azulada na direção de sua adversária. — A Soresu é a Forma especializada em defender tiros de Blasters, não de combinar ataques acrobáticos. Ele me deu a informação errada sobre você.

— Não deu — disse a Jedi. — Eu dominei a Forma Ataru sob a tutela do próprio Mestre Yoda, mas praticá-la no mundo real, contra oponentes reais, quase me levou para o Lado Negro da Força. Desde então, eu passei a exercer a Forma Soresu para me disciplinar. Seu dróide não te passou uma informação errada, assassina; ele te contou apenas o que sabia sobre mim.

Ventress, irritada, trincou os dentes.

— Eu não senti a sua presença... você deveria estar morta.

— Seus sentimentos agressivos confundiram sua percepção. Eu estive sempre lá, sob a mira dos homens que você estava controlando. Assim como você está sendo agora — disse Shry’yrah. — Manipulada, controlada. Eu sinto a mão do Conde Dookan por trás de você. É uma marionete dele, assassina.

Ventress deu um grito de ódio e disparou cinco vezes. Shry’yrah defendeu todos os disparos com um dos sabres de luz.

— Como escapou dos disparos antes? — perguntou Ventress. —  Você não usou seus sabres de luz.

— Não precisei — respondeu a outra. — Eu vi onde cada tiro iria acertar e só precisei desviar.

— Você é uma Miraluka. Não tem visão.

Por um curto instante, a Mestra Jedi sorriu. Es sempre dizia a mesma coisa. Também já ouvira outra vez que ela seria uma humana perfeita, não fosse a ausência de olhos. Assim como seu Padawan, Ventress não poderia estar mais errada.

Shry’yrah removeu os trapos de sua máscara.

— Minha visão não é pior ou melhor que a sua; é apenas diferente — falou Shry’yrah. — Todos os Miraluka são sensíveis à Força e usamos ela para enxergar. Portanto eu vejo você, jovem dathomiriana careca.

Aquela revelação foi perturbadora para Asajj Ventress, que se via encurralada naquele instante. Mesmo ferida, Shry’yrah transmitia-lhe uma sensação de medo que Dookan jamais havia conseguido passar. Talvez porque, no fim, ele precisasse dela e não a destruiria, talvez porque seu mestre lhe dava um propósito para existir, afinal tinha sido ele quem a encontrara depois da morte de Ky Narec. Fora Dookan quem a havia treinado e a enviado até aquele lugar; Dookan confiava nela. Ele havia lhe dado mais do que poder; deu-lhe significado.

Shry’yrah estava ali apenas para destruí-la. E como um animal que se sentia ameaçado, Ventress atacou.

À medida que cruzavam lâminas, Ventress se sentia cada vez mais impossibilitada de descrever como estava naquele momento. Uma mistura de temor, raiva e prazer de lutar a tomava. Deduziu que era isso o que o Conde queria dizer quando falara que o ódio a fortalecia. O medo que sentira da Mestra Jedi, pouco a pouco, dava lugar para seu instinto assassino. Sentia-se mais forte a cada rebatida nos sabres de luz de Shry’yrah.

Ventress era muito ágil. Corria, saltava e cambalhotava no tempo certo, combinando investidas ferozes com o sabre de luz e tiros de pistola. Dookan lhe havia ensinado bem.

O problema era que Shry’yrah era bem mais habilidosa. A Força estava com ela.

A Jedi equilibrava ataque e defesa com uma precisão assustadora. Shry’yrah defletia os disparos de volta para Ventress enquanto investia com o outro sabre de luz. Não importava o quanto ou como Ventress golpeasse, Shry’yrah Jarun era uma especialista na Forma Soresu e, como tal, tinha uma defesa praticamente absoluta.

Ventress saltou para trás, ofegando. Percebeu que Shry’yrah não estava se limitando a defender suas feridas, pelo contrário, era impecável em combate, como se estivesse lutando com seu espírito e não com o corpo. Se a luta continuasse naquele ritmo...

Foi quando Shry’yrah fez um movimento inesperado. A Jedi desligou os sabres de luz, sentou-se sobre o chão com as pernas cruzadas e curvou a cabeça.

E Asajj Ventress quase explodiu de ódio.

— Não ouse meditar agora, Jedi! — gritou furiosa. — Lute ou morra!

Com a ponta do sabre penetrando o piso metálico da plataforma, Ventress correu de encontro à oponente e saltou, erguendo o sabre de luz para decapitá-la com um único golpe.

Foi nesse instante que Shry’yrah, ainda com a cabeça encurvada, estendeu a mão direita para a direção de Ventress, que foi congelada no ar. Com a Força, os dedos da Mestra Jedi faziam do corpo de Ventress um simples boneco. Shry’yrah a suspendeu um pouco mais antes de arremessá-la violentamente contra o chão. E de novo. Depois, empurrou-a para longe.

Ventress tossia sangue no chão. Derrotada e enfraquecida, a assassina de Dookan sentia seu orgulho despedaçado e vergonha lhe quebrando de dentro para fora. Havia subestimado as habilidades de sua adversária e agora seria o fim.

Shry’yrah se aproximava. Ela resgatou o sabre de luz de seu Padawan, pondo-o no cinto, antes de ficar frente a frente com Asajj Ventress.

— Acabou — disse a Jedi. — Você irá comigo para Coruscant e será julgada por assassinato.

Isso não iria acontecer. Ventress preferia morrer ali a fracassar. E para ela ainda não estava acabado.

Notou a pistola DL-44 ainda no mesmo lugar. Pelo visto, Shry’yrah havia desconsiderado uma possível reação final de Asajj Ventress, ou achou que poderia, como das outras vezes, evitar o ataque.

Manipulando a Força com os dedos, Ventress se concentrou na arma distante. Aos poucos, fê-la apontar para as costas da Mestra Jedi. Feito isso, convergiu sua mente para o gatilho da pistola.

Usando a Força, puxou o gatilho seis vezes. Shry’yrah, no entanto, havia sentido perigo e, no instante exato, virou-se para se defender dos raios, já com seus sabres de luz acionados.

Aquela foi o curto instante em que a defesa absoluta da Jedi abaixara a guarda. E, para Ventress, já era suficiente.

Num movimento rápido com a Força, Ventress segurou a distância o outro sabre de luz no cinto da Jedi e o acionou. Shry’yrah olhou para baixo no momento que Ventress girou o punho com o qual controlava a arma do Padawan.

Ouve um silvo agudo. Depois, silêncio.

 

                                                      * * *

 

As portas de hiperaço se abriram, permitindo que ela entrasse.

Dookan estava de pé, no segundo piso de sua câmara, quando Asajj Ventress entrou e se curvou diante do mestre.

— Parabéns pelo seu sucesso, minha aprendiz — falou Dookan. — Estou impressionado.

— Obrigada, meu senhor.

Dookan virou-se por alguns segundos antes de voltar a encarar a aprendiz. A câmara estava mal iluminada, e Ventress sentia algo mais. Não sabia dizer, mas era como um frio esmagador. Nunca havia sentido aquilo antes.

— Onde estão os sabres de luz dos Jedi?

Em silêncio, Ventress puxou-os do cinto e os ofereceu ao Lorde Sith. Com a Força, Dookan os atraiu para suas mãos, examinando-os.

— Oh, sabres gêmeos — disse, enquanto segurava os sabres de Shry’yrah Jarun. — E o modelo de empunhadura é o Punho Curvado. Igual ao meu.

O conde levitou os sabres gêmeos da Mestra Jedi de volta para Ventress. Guardou o do Padawan.

— Fique com eles — falou Dookan. — Dome os cristais, Ventress. Mostre a eles que agora têm uma nova mestra.

— Deixe o que há de pior em você transbordar, minha criança. — O coração de Ventress palpitou com aquela voz. Ousou olhar para cima e viu sair da escuridão detrás de Dookan uma figura trajada de preto. Era aquele homem o responsável pela sensação pesada de frio. Nunca havia sentido uma presença igual àquela. Tanto poder concentrado em uma única pessoa. — Somente um recipiente já cheio pode derramar o que há dentro de si. Deixe sua essência fluir até transbordar para o cristal. Só então, você o dominará.

Ventress cerrou os dedos ao redor das empunhaduras, concentrando-se. Ela podia sentir os cristais emanando feixes de energia até as pontas das lâminas, indo e voltando em harmonia. Focou-se nos cristais, que resistiam ao controle dela.

“A mestra de vocês está morta”, ela falava mentalmente. “Eu a matei. Submetam-se a mim”.

Enquanto se concentrava nos cristais, a mente de Asajj Ventress trouxe à tona seus piores fantasmas. Ela se viu bebê, sendo entregue para piratas pelas Irmãs da Noite, viu todos os horrores que testemunhara em Rattatak sequenciados, viu o rosto de Ky Narec, a morte de seu antigo mestre. Depois veio Dookan, e, em seu íntimo, estava sendo sufocada, torturada. A dor causada dos Relâmpagos da Força imergia da memória, contaminando seu corpo. E depois de ver um vislumbre de Shry’yrah, todos os sentimentos acumulados vieram de uma vez, em um turbilhão incontrolável. Ventress odiava tudo. Odiava todos. Odiava ser fraca. Somente o poder a livraria daquelas correntes que a prendiam ao passado, às fraquezas que ela jurou destruir. Queria mais poder. Precisava de mais.

No ápice daquele acúmulo emocional, Asajj Ventress não via mais nada além do escuro. O Lado Negro da Força a cercava, penetrava-a e a envolvia.

E então, ela se esvaziou. Com a mente mais clara, abriu os olhos e enxergou Dookan assentindo em aprovação. Viu dois sabres de luz com lâminas vermelho-sangue sibilando pacientes.

— Ótimo, criança. Ótimo. — Darth Sidious, o Lorde Sombrio dos Sith, gargalhava satisfeito. — A Força é poderosa em você, Asajj Ventress. Pelas suas mãos, os Jedi sucumbirão. Pelas suas lâminas, a Ordem Jedi será rasgada em pedaços.

Ela se sentia diferente. Algo havia mudado dentro dela enquanto estava domando os Cristais Kyber. Não havia nada a perturbando em seu ser. Seus olhos não transmitiam mais conflito, hesitação ou fraqueza; havia apenas o ódio.

Estava completamente treinada. O Lado Negro da Força a havia consumido.

— Você irá para Geonosis — disse Sidious. — Amanhã, a República irá conhecer a nova ameaça Separatista.

— Eu obedeço, meu senhor — ela respondeu. — Quem eu devo matar?

Sidious sorriu. Asajj Ventress, de fato, era uma guerreira promissora.

— Os Generais da República Anakin Skywalker e Obi-wan Kenobi. Destrua-os.

A assassina se curvou e deixou a câmara.

Naquela noite, Ventress não sonhou.


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Notas finais do capítulo

Taran-taran-tan-tan-ran-tan-tan... tan-tan-tantantantan-tan-tan-tan-tan... tantantantan... *segue a música final*



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