Aberfa escrita por Moonpierre


Capítulo 1
A garota de olhos diferentes


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Estava vendo uns "writing prompts" no reddit.
E uma pessoa sugeriu esse daqui, portanto, resolvi escrever.
A medida que estava escrevendo me lembrei muito daquele livro que havia lido: "O oceano no fim do caminho" do Neil Gaiman, minha história não tem nada a ver com a dele, só fiquei com vontade de recomendar para vocês.
Espero que gostem!



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A garota de olhos arco-íris me observava, ela ria, enquanto eu soltava a pipa e corria pelo campo esverdeado, observando o lindo céu azul da tarde ensolarada.

Na tão tenra infância, que passa-se tão rápido, dois sorrisos abertos, largos, davam vida a todo lugar: o meu e o de Aberfa. 

Ela parecia saber sempre o que eu pensava, o que eu queria, e o que eu planejava fazer, mesmo que nunca lhe tivesse dito. 

Passávamos grande parte do nosso tempo no rio, onde ela deixava seus pés na água, e me contava histórias de livros que ela leu. Sempre muito misteriosa, não me dizia nada sobre sua vida, ela preferia subir em árvores, pegando todo o tipo de frutas. 

Minha mãe não acreditava muito em sua existência, ela me dizia que não existia ninguém naquele lugar com aquele nome. 

Eu duvidava. Vivíamos em um local muito grande, cheio de fazendas. "Adultos não sabem de nada" - eu refletia - "eles fingem que sabem de algo". 

Chegou um dia em que tivemos de ir embora, minha mãe insistiu com meu pai para irmos viver na cidade, já que ela havia conseguido um bom emprego por lá.

Lembro que sai da velha casa de madeira e corri todo o campo, todos os lugares, tentando encontrar Aberfa. Tinha que me despedir da minha única amiga. 

Foi caindo a noite, o piche negro tingiu os céus, e as estrelas brancas apareceram. Meus pais me procuraram, e me obrigaram a entrar em casa, eu chorava e dizia que tinha que encontrar minha amiga. Eles falavam: 

—Ela não existe, Patrício! Deixe de imaginar coisas! — gritavam comigo, me empurrando para dentro de casa.

—Só porque vocês não a conhecem não quer dizer que ela não exista! — eu chorava ainda mais.

De manhã cedo, no outro dia, nos afastamos dali. Perdi a pipa, perdi o rio, perdi minha amiga. 

Agora, sou um adulto. Vivi nessa cidade podre por anos: poluição, transito infernal, rios que viraram córregos, lixo jogado, pessoas amontoadas e rabugentas que não tem esperança nenhuma em nada. 

Resolvi voltar ao interior, e qual não foi a minha surpresa ao descobrir que minha antiga casa estava a venda? 

Os donos se mudariam para a cidade com os filhos pequenos. A vida é cíclica, eu os ouvi dizer, enquanto tomava um café com eles para barganhar um pouco o preço. 

Assim, voltei para lá. Alojei meus móveis, plantei algumas plantas, trouxe meu computador (para trabalhar como freelancer, você só precisa de uma dessas máquinas), trouxe meu cachorro, o Bife, peguei os livros e arrumei-os nas duas estantes. 

Fiz isso pelo lugar, é certo. Voltar para minha casa de infância sempre foi um sonho para mim. Contudo, também tinha outro objetivo (esse mais inadmissível), encontrar Aberfa e provar sua existência. 

Eu não sou louco. Eu não era louco. Ela existia. E eu sabia disso. Repetia essa frase para mim. 

Na verdade, estou com saudades de alguém que me marcou. Mesmo o tempo tendo passado, eu nunca a esqueci. 

Naquela noite, eu fiz uma fogueira perto do rio, e fiquei observando tudo, deitado em um cobertos xadrez. 

Pode ser bobagem. 

Eu não sei o que aconteceu com ela, sequer sei se Aberfa está aqui ainda. 

Comecei a fechar os olhos. "Só uma descansadinha" — eu implorava pela minha própria misericórdia — "Por favor, ela ainda não chegou, não sei quando ela vai chegar". 

Deixei o pacote de marshmallow, pela metade, do meu lado. 

Todos sabem que comer marshmallow, nas noites escuras do campo, perto de uma fogueira, é a benção que o Universo deu a nós, humanidade. 

Com esse pensamento, louco e feliz, adormeço em um sono profundo com vários sonhos que sempre costumo esquecer de manhã. 

Acordo com os primeiros raios batendo no meu rosto, junto com as picadas de mosquitos que coçam. 

Observo os arredores: nada de diferente, nada de Aberfa. 

Quando me levanto, pronto para me afastar, vejo o pacote de marshmallow todo vazio, sem nenhum sequer. 

Alguém andou comendo eles. 

Minha esperança me manda achar que não foi bichos, nem meu cachorro, e sim, Aberfa, a garota de olhos arco-íris, sorriso aberto, e sardas nas bochechas. 

Me afasto e vou andando até minha casa de madeira: preciso trabalhar. 

Hoje tenho que criar alguns textos, e editar algumas imagens, criar algumas capas, e mais um zilhão de coisas. 

Sou alguém que está sempre tentando, não só aprender coisas, como também aplicar de um modo prático tudo que aprendi. Imagino que isso seja uma qualidade, pelo menos, penso nela desse modo.

Sento-me naquela cadeira dura, e começo a digitar e editar no photoshop freneticamente. 

Ligo para os sócios, ligo para os meus clientes, ligo para minha mãe, faço doses e doses de café, e continuo digitando e editando, e fazendo capas de livros. 

A vida é corrida. 

Ainda mais quando se tem três carreiras diferentes, e em cada uma delas, você lida com clientes diferentes.

Uma bagunça que me deixa feliz. 

Quando a noite se aproxima, me dirijo novamente ao rio.

É tolice eu esperar encontrá-la, mas eu vou me esforçar para isso.

Nem que eu tenha que rodar essa vizinhança perguntando por ela. 

Nem que todos me achem louco.

Vou encontrar Aberfa, e estou decidido. 


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