Eduarda

Uma semana se passou e deram alta pra Sol, e também faz uma semana que ela não dirige uma palavra pro papai, saí do carro e fui em direção a porta da frente, peguei a chave de baixo do tapete e destranquei a porta, respirei sentindo o aroma daquele local que eu tanto conheço. Nada ali parecia ter mudado, os sofás estavam no mesmo lugar a TV estava ligada, tinha um copo com água na mesinha do centro e a pequena bagunça que sempre existia ali.

–Lar doce lar!-Falei feliz, mal dei o primeiro passo e fui atropelada pela capeta.-Wou, cuidado ai!

Ela me olhou e apenas foi com suas muletas na direção da escada.

–Quer ajuda?-Perguntei, ela virou e apenas negou com a cabeça, voltou a se virar na direção da escada, segurou as duas muletas com a mão direita e segurou no corrimão da escada com a mão esquerda e começou a subir, se apoiava na perna boa e foi subindo com cuidado, apoiando algumas vezes a outra perna. Quando subiu o ultimo degrau colocou suas muletas debaixo do braço e sumiu pelo corredor.

–Licença Duda!-Papai carregava as coisas dela.

–Opa, desculpa papito!-Falei indo na direção do sofá, ele veio logo atrás e se sentou do seu lado.

–Onde ela está?-Perguntou.

–Subiu, na dela, calada, como vem fazendo desde aquele dia. Nem mesmo pra xingar ela serve agora.-Respondi enrolando uma mecha do meu cabelo.

–Até quando ela vai ficar assim?-Ele enrugou a testa.

–Ai pai, acredite, por muito tempo! Ela passou sem falar comigo quatro meses só por que eu joguei o celular dela na privada aquela vez e era apenas um celular, é só ela estalar o dedo que ela conseguiria um no outro dia.

Ele suspirou, por mais que Sol seja aquela garota rebelde que da dor de cabeça pra todos nessa casa, era bem melhor ter uma peste do que um zumbi. Ouvi umas gargalhadas vindo do fundo da casa, me levantei e fui ver o que tava acontecendo ali, quando cheguei vi mamãe e Isa, elas estavam na piscina, mamãe estava sentada na escada enquanto a loura dava uma de nadadora, ela nem percebeu que já estava no final da piscina e bateu com a cabeça, a mami caiu na gargalhada.

–Oi gente!-Falei sorrindo, as duas olharam na direção do som da minha voz, Isa ainda esfregando a cabeça, mamãe se levantou e veio sorrindo na minha direção, ela estava com um maiô vermelho muito bonito, e não é por que é minha mãe, mas a “velha” tava bem conservada, papai que tomasse de conta daquela mulher.

–Filha nem ouvi vocês chegando!-Ela abriu os braços, fui correndo e a abracei.

–Mami, tava com tanta saudade!

–Oh minha baixinha linda, a mamãe também, onde seu pai e a Sol estão?

–A Sol subiu e o papai tava na sala.

–E ela ainda continua com a greve?

–Sim, sim, só a senhora vendo mesmo!-Ela voltou a me abraçar.

–Oi maninhaaaa!-Isa gritou acenando da piscina.Acenei pra ela e sorri.

–Ei, como está seu braço mamãezinha?-Perguntei erguendo seu braço direito.

–Está bem, dói um pouquinho mas não é nada, muito dinheiro gasto pra ele já está assim.

–Sorte a nossa!-Falei rindo.

–Vai trocar de roupa e ficar conosco!

–Sim senhora!-Dei as costa pra ela, a mesma deu um tapinha na minha bunda, aproveitei e passei na cozinha pra servi um copo de sulco, sentei na cadeira do balcão e peguei um bolinho e fiquei mordiscando as bordas, senti meu celular vibrando no bolso, peguei e olhei na tela, uma mensagem dele, meu melhor amigo.

“Sinto sua falta minha bonequinha! S2”

Sorri pra tela do celular e comecei a digitar.

“Também sinto sua falta André lindinho!

Apertei em enviar, depois escrevi.

“Eu te amo!”

Fiquei olhando pro celular e suspirei, apaguei a mensagem e fui atrás de uma rouba de banho.

Marisol

Fiquei parada em frente a porta do quarto dele, repensando se o que eu tava preste a fazer era certo, ver aquele quarto sem nada dele.Respirei três vezes antes de entrar, rodei a maçaneta e empurrei a porta.
E estava da maneira que ficou um bom tempo antes dele ter ficado ali por alguns dias, deixei aquelas muletas caírem no chão e fui mancando em direção a cama dele, não tinha nada, me joguei naquela cama e comecei a chorar, puxei um travesseiro e abracei, ainda tinha o cheiro dele, fiquei com raiva de tudo, porque ele tinha que ter ido embora?Eu nunca tinha sentido isso por ninguém, ele me mostrou um mundo que eu não fazia idéia que era real.

Joguei o travesseiro longe e me sentei enxugando o rosto na manga da blusa, bati o olho em um papel dobrado onde antes o travesseiro provavelmente tava encima, peguei o papel e abri:

“Espero que alguém ache isso e principalmente que esse alguém seja a Solzinha!

Sol, me desculpe, eu não queria que fosse desse jeito, mas não deu certo, antes que você pense que foi fácil pra mim deixar você, acredite... não foi, foi umas das decisões mais difíceis que eu já tive que tomar, eu sabia que isso poderia terminar assim, mas saiba que eu nunca vou esquecer dos momentos que nós passamos juntos, das nossas brigas, eu não vou esquecer de você.

Mas eu não sou bom o suficiente, você merece algo melhor do que um primo sem noção sendo seu namorado, precisa de alguém que lute por você. Me perdoe se eu estou te fazendo sofrer e só de imaginar isso eu tenho vontade de me bater.

Eu te amo...não vou mentir, mas isso é o melhor para nós dois,espero que você encontre alguém que te ame tanto quanto eu, mas que faça o que é certo pra ficar ao seu lado.

Adeus Marisol!

Por:Matheus”
 

Li aquele papel mais de três vezes, ele tinha mesmo ido, me deixado.

–MÃÃÃÃÃÃE!-Gritei.-MÃÃÃÃÃÃÃÃE!-Ouvi passos apressados subindo a escada.

–Filha, cadê você?

–Aquiiii!-Ela apareceu na porta vestida em um roupão.

–O que aconteceu meu amor, está tudo bem?-Ela veio e se sentou do meu lado na cama, ela olhou meus olhos e arregalou um pouco os seus.-Você estava chorando?

–Não!-Menti, mas me joguei no colo dela e afundei meu rosto em sua perna e comecei a chorar.

–Não chore meu amor, shi shi!

Ela não falou mais nada apenas ficou me consolando por alguns minutos, me levantei e limpei o rosto.

–Você está mais calma?-Ela passou a mão no meu rosto.Afirmei com a cabeça.

–Mãe...lembra quando a senhora disse que ia mandar eu e Duda pra terminar o ensino médio em Paris?
–Sim, e lembro que você fez a maior birra por que não queria deixar seus amigos.

–Aham, mas a propósta ainda tá valendo?

–É, a proposta está aberta.
–Valeu mãe!-Dei um abraço nela, ela se levantou.
–Bom, acredito que eu tenha que arrumar um monte de coisa, entrar em contato com a Kátia pra avisar que você vai passar um tempo lá com a família dela.
–Que?

–Você não achou que eu ia deixar você morar só lá.

–Ah, eu achei!

–Achou errado queridinha!-Ela deu um beijo na minha testa e foi embora

Eduarda

Mamãe contou a novidade, Sol ia mesmo passar um tempo em Paris, todos ficaram bem animados, mamãe já tinha entrado em contato com a titia Kátia, depois nós ficamos escolhendo um dia pra sair pra comprar algumas roupas pra Sol, ela iria pegar uns meses de frio, pena que ela não podia ir com a gente por causa da perna, então a gente comprou tudo que era preciso, os dias iam passando e todos estavam bem animados com a viagem dela e o incrível era que ela já estava falando com o papai. Já tinha passado quase um mês depois do acidente e Sol finalmente se livrou do gesso na perna, fez umas sessões particulares de fisioterapia na perna e tudo ficou bem, um dia antes da viagem tudo já estava pronto,  a Sol estava feliz e ansiosa.

“♪ Alejandro, Alejandro...Ale-Alejandro, Ale-Alejandro...♫”

Nós estávamos rindo da queda que a Isa tinha acabado de levar quando meu celular tocou, ele estava encima da mesinha de centro, a Sol pegou o celular e olhou na tela, o seu sorriso sumiu na mesma hora,  deu lugar a um olhar triste e ao mesmo tempo de raiva.

–Quem é?-Perguntei, ela pigarreou antes de falar.

–Matheus!-Ela jogou o celular pra mim e se levantou.

–Onde você vai Marisol?-Papai perguntou.

–Na cozinha beber um pouco d’água!

Atendi o celular e subi correndo as escadas.

–Oi Matt, quanto tempo né?Esqueceu dessa sua priminha chata aqui?-Ele soltou uma risada meio fraca.

”Não esqueci não tampinha, ei como todos estão?”

Sabia que quando ele falava "todos" isso se aplicava na verdade a uma única pessoa.

– Ela tá bem Matheus, não se preocupe!-Ouvi ele soltando um suspiro.

”Quando que as aulas de vocês vão começar?”

–Bom, a minha vai começar dia vinte e dois de agosto! -Ele ficou um tempo calado.

”E quando as aulas dela vão começar?”

–Não sei, ela vai ver quando chegar em Paris!-Fiquei andando de um lado pro outro do meu quarto.

“Paris?Como assim?”-Percebi que ele não sabia dessa história, gelei na mesma hora.

–Ahh, é, ela vai pra lá!

”Não, não, ela não pode ir!”-Tinha um tom de pânico na voz dele.

–Por que não Matheus?Ela tá tentando seguir em frente depois de tudo!

”Mas não, ela não pode ir!”

–Então você sabe o que fazer!O avião sai 15:45, a só pra avisar, a viagem é amanhã!

“O que?”

–É, seja rápido...tchau!-Desliguei o celular e desci.
 

Todos dormiram cedo, Sol tinha que descansar, ela ia enfrentar longas horas dentro do avião, precisava tá bem descansada.

No outro dia todo mundo ficou pronto, não tinha como ninguém se atrasar com um pai tão pontual como o nosso, saímos de casa uma hora da tarde em direção ao aeroporto, quanto mais a gente ficava perto de chegar, mais nervosa eu ficava, afinal, é bem provável que o Matt esteja lá, quando chegamos a Sol foi fazer o Check In, subimos e ficamos esperando,  nada do Matheus aparecer, quando começaram a chamar, nós nos despedimos dela, mamãe chorava que nem um boba, ela sorriu e se preparou pra entrar na sala de espera pra embarque.

–MARISOL ESPERA, MARISOL!-Todos olharam pra trás e vimos um garoto todo descabelado correndo pelo aeroporto.

–O que esse moleque tá fazendo aqui?-Papai cerrou o punho

–Putis grila!-Falei

Marisol

Virei na direção de onde meu nome foi chamado e não acreditei quando vi aquele garoto vindo na minha direção gritando, todo mundo olhava pra ele, o que ele pensava que tava fazendo?

O velho se meteu na nossa frente preparado pra meter a porrada nele.

–Marisol, não faz isso!-Ele falou ofegante. Papai se preparou.

–Não pai!-Gritei, ele me olhou meio que magoado por eu proteger aquele garoto, olhei pro Matheus, tinha me esquecido como a beleza dele mexia comigo, fui andando na sua direção e puxei ele pra um canto.

–O que você pensa que tá fazendo?-Perguntei sem olhar em seus olhos, eu não queria que ele percebesse a felicidade e ao mesmo tempo tristeza que eu sentia.

–Não faz isso, por favor!-Ele ia tocar em meu rosto mas me afastei.

–Não...por favor!-Pedi, ele deixou seus braços caírem bambos ao lado do corpo.-Por que você veio aqui?

–Eu não quero que você vá, que você deixe sua família...que me deixe!-Senti uma pontada de ódio.

–Te deixar? O que? Pelo que eu me lembre você que me deixou primeiro!-Ele soltou um grunhido fraco.

–Me perdoa, eu pensei que ia conseguir, mas eu estava errado!

–Acho meio tarde pra você vim falar isso pra mim!

–Tarde?Não Marisol, por favor...

–Para...cala essa boca!-Pareceu que ele tinha acabado de levar um tapa na cara.-Matheus, eu to seguindo em frente, eu quero viver, é meio tarde, eu preciso ir..-Criei coragem e olhei em seu olhos, ele estava com olheiras fundas.-...é minha vez de dizer adeus!-Doeu ver que seus olhos se encheram de lágrimas.

–Não Sol, por favor!-Coloquei o dedo eu seus lábios.

–Vai ser melhor assim!-Sorri.-Adeus Matheus!

Dei as costas, dei um tchau rápido pra minha família e fui em direção ao portão de embarque.

Aquele tinha sido o nosso fim, agora eu iria ser outra pessoa, e aquela lágrima que caiu pelo meu rosto era a ultima que eu tinha derramado por ele.

Fim...por enquanto, fiquem de olho na segunda temporada!

“Eu, ainda mais capetinha?Imagina!”