Espelho escrita por Honora


Capítulo 1
E seus Reflexos


Notas iniciais do capítulo

Narrado por Remus.



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Tendo a evitá-los, mas, algumas vezes, parecem me perseguir. Me pegam de surpresa, pois me deparo com uma moldura estranha e pequena na primeira gaveta da cômoda desgasta. Eu a toco e, em seguida, a ignoro, para no fim fazer o que mais me aterroriza; visualizar-me.

Não é temor com minha aparência; aprendi a conviver com o envelhecimento precoce de meu corpo, e também não costumo me importar com beleza, uma vez que não a tenho. É algo diferente, familiar, porém angustiante. Não tem a ver com as cicatrizes ou os cabelos grisalhos – quem dera fosse.

Quando me enxergo no espelho, vejo algo do qual não gosto. É feio, torturante e parece não haver conserto.

E então eu sinto e visualizo; como uma enxurrada de coisas ruins.

Anos de sofrimento. Lutas constates para me manter vivo, mesmo que, às vezes, eu não quisesse. Os traumas do passado também estão lá, naquele objeto refletor, como se ainda estivessem extremamente vivos.

De repete a mente nubla, a respiração pesa e os sentimentos consomem. Uma experiência vivida da qual expressa uma facada no peito, ainda que rápido, é desagradável e esmagador.

Quando consigo finalmente respirar, lembro-me que ainda tenho qualidades dignas e insubstituíveis. Mas tal sentimento não perdura por muito tempo, e o sentimento de insuficiência me sufoca, enquanto meus defeitos gritam mais alto e se sobressaem, dizendo exatamente o que sou.

Sinto a impotência, dor e insuficiência, ainda que haja outras dezenas de más qualidades.

Sinto como se alguém jamais houvesse me amado, mas, acima de tudo, sinto como se fosse indigno de amor.

Tudo isso me consome quando me enxergo naquele objeto emoldurado, de repente o espelho se torna uma arma repleta de magia das trevas, quando, na verdade, sei que sou eu o amargurado.

Quando me enxergo no espelho, não gosto do que vejo. Pois lá está a minha imagem. E isso me apavora. 

E então eu o quebro, como faço com todos os espelhos que costumo lutar inconscientemente. Mas minha imagem ainda está lá, distorcida, mas vívida. E essa é a única parte em mim da qual insiste em manter-se viva.


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