Prefácio de Uma Vampira escrita por Gabriela Cavalcante


Capítulo 7
Vulto


Notas iniciais do capítulo

No próximo capítulo, Rosalie está mais confusa que antes. Era muita coisa pra cima dela de uma só vez. Ela tem uma decisão nas mãos. Emmett ou James?

Ah, obrigada pelos reviews e Aninhas128, pela indicação.



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- Eu me transformar em vampira, James?

- É, Rose. O único jeito é esse.

- Tem certeza? – perguntei com lágrimas nos olhos.

- Já sei. Você acha que eu sou um monstro? Pois é isso mesmo, Rosalie. Sou um monstro.

- Não, James, você não é um monstro. – tentei.

- Claro que sou, Rose. Olhe pra mim, eu me alimento de sangue. Isso, se não me engano é ser um monstro. Eu não sou humano, Rose.

- Pronto, agora eu acredito em qualquer coisa que me disserem. – eu murmurei, colocando a mão na testa – Fantasmas, Fadas, Sereias, Minotauros, Papai Noel, Lobisomens... Todos eles existem!

Ele riu e me abraçou.

- Acho que Papai Noel continua não existindo. Sobre Fantasmas, Sereias, Fadas e Minotauros, eu já não tenho tanta certeza. Mas lobisomens...

- Ah, não! É coisa demais para a minha cabeça, James.

Fechei os olhos, abraçada a ele e tentei não pensar em nada. Mas não consegui.

- James, eu tenho algum tempo para pensar?

- Claro, Rose. O tempo que quiser. Não quero te forçar a nada, tenha certeza disso.

Fechei os olhos novamente, mais aliviada. De repente, veio uma coisa na minha cabeça e eu me afastei dele.

- James, abra a boca.

- O que?

- Abra a boca. – ordenei.

Ele obedeceu em silêncio, não entendendo o que eu queria fazer.

- Mas... Seus dentes não são pontudos.

Ele olhou nos meus olhos e começou a rir. Mas eu estava falando sério.

- E, James... Você se transforma em... morcego?

Dito isso, James não agüentou e disparou a rir, mas pra mim não tinha graça. Só depois que se recuperou do acesso de riso, conseguiu me responder:

- Claro que não.

 

*

 

Cheguei à escola bocejando: havia passado a noite em claro, pensando em tudo o que acontecera ontem. Meus pais aceitaram meu namoro sem contestar, mas com caras não muito agradáveis. Sara já me informara que no Dia dos Namorados ia dar conta da minha caixa de bombons. Vera até ficara feliz por mim, mas ela é linguaruda ao extremo e contou tudo a Emmett. E ele veio falar comigo depois que saí de casa de manhã.

- Rose.

- Oi Emm. – falei.

- Rosalie, você está com ele?

- Estou namorando com ele sim, Emm.

- Por quê?

- Porque eu o amo. – respondi, me virando em direção ao ponto de ônibus.

- Você sabe o que ele é? – perguntou, me fazendo estremecer.

Virei-me em direção a ele.

- Sei.

- Ele é um monstro.

Gelei.

- O que?

- Ele não é bom pra você, Rose.

- Claro que é.

- Rosalie, ele é como Victoria. Foi ele quem eu vi atacando-a naquele dia. Ele a transformou em um monstro, ele queria que ela fosse como ele. Rose, ele se alimenta de sangue.

Como assim Emmett sabia de tudo?

- O que?

- Estou falando sério.

Decidi me render.

- Eu sei de tudo isso.

- Então se afaste dele.

- Não posso.

- Por quê?

- Porque eu o amo. – respondi, empurrando seu ombro e correndo pela rua, fugindo dele. Como pude ser capaz de fugir dele? Do meu melhor amigo? Mas na minha cabeça, ele não tinha razão. James era o meu mundo e eu não me separaria dele nunca mais. Foi aí que eu tomei a decisão da minha vida.

- Eu quero.

- Tem certeza, Rose? – ele perguntou, unindo as sobrancelhas.

- Eu quero. – repeti.

- Quando?

- Me dê só mais uma semana.

- Uma semana?

- É. – confirmei.

                Ele me abraçou, me fazendo sorrir. Mas sorrir do que? Eu estava jogando minha vida no lixo por alguém que eu mal conhecia. Eu estava me tornando um monstro. Não literalmente, mas por dentro. Eu não tinha nada dentro de mim, estava oco. O coração que antes estava comigo me deixara de uma forma incompreensível. Meu mundo se transformara em um pesadelo sem tamanho, e eu não me dera conta disso.

                Dentro de uma semana eu me tornaria uma imortal. Deixaria toda a minha vida, a minha família, os meus amigos. Eu veria, de longe, todos eles se transformarem... Mas se transformarem em pessoas melhores, não em monstros bebedores de sangue. Eu observaria meus amigos, todos eles, mudarem de vida, fazerem faculdade, formarem uma família... E eu estaria de fora disso por causa do meu amor.

                James ofereceu-me uma carona, mas eu não aceitei. Usei minha cabeça como justificativa, alegando que eu precisava pensar, mas era mentira. Na verdade, eu já havia pensado e queria manter minha cabeça livre de preocupações. E o lindo caminho, cheio de árvores e flores, era perfeito para isso. Eu pensava em como as pétalas das flores caíam sobre a terra molhada, em como as folhas secas das árvores faziam aquele outono mais bonito, e eu nem percebi que estava indo no caminho errado. Eu estava perdida.

                Sentei na relva molhada; não havia nada pra fazer. Eu estava num tédio inafiançável e tudo estava ficando cada vez mais escuro. Eu tentava distrair meu medo com peças do cenário, como galhos secos. Comecei a fazer desenhos no chão, mas me desesperei assim que eu perdia a capacidade de vê-los. A escuridão era monótona e assustadora.

                Eu não tinha como voltar pra casa àquela hora, então decidi, apesar do medo, dormir ali e tentar achar o caminho certo no dia seguinte. Deitei-me, apoiada no próprio braço e comecei a rezar para que tudo desse certo. E, até ali, estava dando. Só até ali.

                Meu desespero começou assim que dormi. O sono parecia mais atroz que a escuridão da realidade. Eu estava num beco escuro, cercada de câmeras.  A luz penetrava meus olhos; eu estava com muito medo. Um jornalista estava com uma caixa nas mãos e anunciou a ganhadora da rifa: Eve. O prêmio? O direito de tirar uma foto com a primeira vampira descoberta no mundo. Comecei a correr, eu estava com medo. Eu vi um vulto. Mudei de direção. O vulto corria atrás de mim, na frente de Eve e de todo o resto. James não estava lá para me socorrer.

                Vi-me defronte um precipício sem fim: de um lado, todos aqueles que não queriam que eu preservasse minha identidade e que, provavelmente, iriam me transformar em uma análise de laboratório; do outro, o vulto, em pé e de costas para um verdadeiro precipício sem fundo.

                Eu não quis me submeter a todas aquelas pessoas e, então, me joguei e comecei a cair sem rumo. Eu gritava desesperadamente e não via ninguém para me salvar. O fundo daquele abismo nunca chegava, a não ser por um momento, em que senti que eu estava no chão. Abri os olhos lentamente e ele estava lá. Não, não o James. O vulto.

                Ele se aproximou devagar. Eu quis gritar, mas senti que havia perdido a voz. Ele colocou a mão em meu ombro e eu pude enxergar a ponta de um cabelo cor de bronze e da face cor de giz tão linda quando James. Parece que todos eles eram assim. E logo eu seria.

                - Garota, tenha calma.

                Abri os olhos e acordei, agora de verdade.

                Ele estava lá. Não, não James. O mesmo vulto que eu vira no sonho. Ele me pegou no colo e pediu que eu tivesse cuidado. Abracei seu pescoço e senti seu corpo frio, o que me fez tremer. Ele era como James, mas com certeza não era ele.

                Eu só pude ouvir uma coisa antes de adormecer em seus braços:

                - Rosalie, eu vou cuidar de você.

 

 


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Notas finais do capítulo

Quem será o vulto misterioso que salvou Rosalie? Ela terá ainda muitas surpresas nessa história de abalar corações "frios". Corações de giz e de alvura encantadora.

Ah, obrigada pelos reviews e Aninhas128, pela indicação.
E pela propaganda da Suhd, autora de Memórias de Alice Moore.

Beijos, reviews, favorzinho **



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