Prefácio de Uma Vampira escrita por Gabriela Cavalcante


Capítulo 4
A Trilha


Notas iniciais do capítulo

James bate na porta de Rose. Mal imagina ela para que. Acredite, Rose terá mais surpresas pela frente.



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Era sábado e as folhas do outono voavam para dentro de casa pela janela. Eu estava completamente concentrada na minha atividade. Direita, esquerda, direita, esquerda.

- Ai, Rose! Não puxe tanto. Está doendo.

- Desculpe, Sara. Mas você vai ter de se acostumar. Fazer uma trança não é tão fácil quanto parece. – resmunguei.

- Mas minha cabeça já está doendo de tanto você puxar meu cabelo. – reclamou o projeto de princesa.

- Sara, se você quer ficar bonita, tem de sofrer um pouco.

- Se for pra sofrer, prefiro continuar feia. – fez biquinho.

- Deixe de bobagem! – ordenei, achando graça da minha irmã – Você não é feia. Estamos nisso porque você pediu. – lembrei a ela.

- Só me prometa que não vai mais puxar tanto. – fez beicinho.

Diante daquela carinha de anjo sapeca, eu não poderia negar um pedido desses.

- Tudo bem, agora vire para frente. Temos que continuar.

Ela obedeceu em silêncio. Direita, esquerda, direita, esquerda.

Papai entrou no quarto de um jeito sério. Um jeito que eu jamais vira antes. Estranhei, mas resolvi ignorar e continuei meu trabalho. Direita, esquerda, direita, esquerda. Até que ele criou coragem para perguntar:

- Filha, quem era aquele rapaz que veio aqui ontem a tarde?

Escondi o riso temendo sua expressão completamente séria. Demorei um pouco para raciocinar e conseguir responder:

- Ele é James Newton, papai.

- James Newton? – ele uniu as sobrancelhas, desconfiado.

- Sim, papai. Ele é meu amigo. – confirmei, e ele pareceu acreditar, enquanto eu continuava minha atividade. Direita, esquerda, direita, esquerda – sim, o cabelo de Sara era enorme.

- Então tudo bem, não é? Eu acho... – murmurou, antes de se despedir com um sorriso torto e ir porta afora.

- Já acabou? – a pequena perguntava, aflita.

- Calma que só falta prender. Me dá aquele elástico ali, que está do seu lado. – pedi, finalizando meu trabalho.

Ela obedeceu, me entregando o elástico cor-de-rosa que eu pedi. Cor-de-rosa era sua cor favorita e ela não se conformava por eu preferir amarelo. Vai entender essas crianças!

Eu ia dar a última volta no elástico quando a campainha tocou e Sara soltou um grito do tipo “DEIXA QUE EU ATENDOO” e saiu em disparada pela porta, deixando o elástico cair e acabando com todo aquele meu trabalho. Que droga!

Desci atrás dela, na esperança de que o penteado ainda estivesse intacto, mas me surpreendi quando vi minha irmã, que ansiava atender a porta, parada no alto da escada. Até esqueci-me do elástico, da trança e do cabelo assim que levantei os olhos e vi papai parado na porta, conversando com certo alguém. Logo ele pediu para a pessoa entrar, então eu pude enxergar ele, entrando pela minha porta, com um buquê de rosas amarelas na mão, acenando e rindo para mim.

- Oi, Rose! – ele disse, ainda sorrindo.

- Oi, James. – murmurei, sorrindo também. Desci as escadas mais que depressa e quase atropelando Sara, que a essa altura não entendia mais nada e resmungava pelo cabelo já despenteado. Ele me deu as flores e eu agradeci, colocando-as no mesmo vaso que eu havia colocado as outras. Papai veio até a cozinha atrás de mim.

- Lie, tem certeza que esse rapaz é seu amigo? – ele perguntou tão baixo que por pouco não fui capaz de compreender.

- Tenho, pai. Pelo menos por enquanto.

- Por enquanto? – preocupação a flor da pele.

- É, pai. – confirmei, enquanto pegava a garrafa de água na geladeira. – Eu gosto muito dele e não sei o que vai acontecer.

- Juízo, filha, por favor. – ele pediu, pegando um copo no armário e me dando para colocar a água.

- Prometo que vou ter, pai. Eu prometo.  – olhei para ele, entregando o copo de água, já cheio. – Não se preocupe.

Fechei a geladeira, mas quando olhei para trás vi papai dirigindo o copo de água até sua boca e corrigi, tirando o copo de sua mão:

- Papai, a água é para o James. – ri, saindo da cozinha com o copo na mão e o entregando a James assim que cheguei à sala, deixando meu pai com a cara no chão. Arrependi-me amargamente segundos depois.

- Rose, preciso te levar a um lugar. – declarou James, sob o olhar preocupado do meu pai.

- Sério? – perguntei curiosíssima. – Aonde?

- Vai saber. Só quero que você vá.

Olhei para mamãe, que sorriu me libertando, olhei para James novamente e acenei que sim com a cabeça.

- Tudo bem.

A estrada estava tranqüila e foi fácil chegar ao nosso local de destino.

Uma floresta cheia de árvores com uma trilha que seguia até onde meus olhos não puderam enxergar. A terra molhada passava por entre os dedos dos pés quase descalços – sim, minha sandália era um trapo – e me dava uma gostosa sensação de liberdade. Os galhos caídos no chão, os troncos secos, que antes eram árvores, que haviam despencado no solo úmido, o cheiro de maresia e o pequeno pontinho do sol que passava por entre as folhas das árvores me traziam a impressão de que estávamos no meio de uma imensa floresta, como a Floresta Amazônica.

- James, onde estamos? – perguntei, já cansada de tanto andar naquela bendita trilha.

- Calma Rose! – ele pedia, rindo da minha cara, pois não parecia estar nem um pouco cansado daquela caminhada. Mas eu resolvi me acalmar mesmo e valeu à pena.

Um pequeno bosque com vegetação rasteira, poucas árvores e muitas flores, onde o sol podia chegar sem ser atrapalhado pelas folhas das imensas árvores, me deixou nas nuvens. Eu me sentia no céu.

James permaneceu na sombra, enquanto eu pulava desesperadamente como uma criança por entre as flores. O aroma entrava pelas minhas narinas e eu tinha certeza de que aquele era o melhor perfume que eu já sentira na vida. Meus pés, agora completamente descalços, eram acariciados pelo gramado macio e pelas pétalas das flores que estavam caídas no solo, que não era mais tão úmido. Só depois que percebi que estava me passando por idiota, voltei para onde James estava.

Ele se sentara numa imensa pedra coberta de musgo, ainda na sombra, e pediu para que eu me sentasse ao seu lado. Obedeci em silêncio. Ele pegou uma pequena mecha do meu cabelo e começou a brincar com ela enquanto falava. Seu olhar sempre assustador agora me parecia acolhedor. Seu sorriso torto continuava ali, do jeito que eu preferia.

- Rose, eu te trouxe nesse lugar porque gosto muito de você, e você sabe disso.

Acenei com a cabeça.

- Mas eu gosto de você, Rose – ele continuou – de uma maneira... Diferente! Rosalie, eu não vou enrolar mais, a verdade é que... É que eu te amo.

 


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Notas finais do capítulo

No próximo capítulo, Rosalie não sabe o que fazer. Ela se depara em uma situação que queria que acontecesse, mas mesmo assim fica surpresa por ver acontecer. Seu coração está inseguro.
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