Prefácio de Uma Vampira escrita por Gabriela Cavalcante


Capítulo 10
Covardia


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo, Rosalie tem duas opções: ir ao encontro com James e se transformar em vampira ou simplesmente fugir.

Desculpa pela demora, mas é que meus leitores me abandonaram. É isso mesmo. Todo mundo saiu de férias e eu fiquei em casa. Fazendo o que? Escrevendo pra vcs, claro! E o que eu recebo em troca? No capítulo passado, eu demorei tanto para receber o primeiro review que eu pensei em desistir, juro. Da próxima vez que forem me abandonar assim, favor avisem!

Bom, vamos parar com meus suplícios melodramáticos e ler de uma vez, pois Rose tá esperando e eu tô esperando meus reviews, que não tiram o dedo de ninguém! Boa leitura!



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Meus olhos lacrimejavam. Eu me senti sozinha. Não tanto, mas o bastante pra me fazer sofrer.

                Será que Emmett ficaria magoado comigo mais uma vez? Eu poderia ser uma pessoa tão ruim? Eu poderia ser tão má a ponto de magoar aqueles que mais amo?

                Não. Eu definitivamente não podia fazer isso com ele.

                Desde que eu me entendo por gente, Emmett tem algum motivo para zombar da minha cara. Nem que fosse por uma coisa mínima, como uma mochila rasgada ou um cadarço desamarrado. Mas isso não muda o fato de que ele é meu melhor amigo. E ninguém gosta de magoar os melhores amigos, eu sei bem disso. Os amigos são especiais. Mas antes de ser amiga do Emm, eu era a namorada do James. E nada mudaria isso, não mesmo.

                Magoar o Emmett era a pior coisa que eu podia fazer. Eu era uma completa idiota. E talvez ainda seja.

Assim como ele ri da cara da Bella hoje em dia, ele ria da minha. Hoje ele sabe que se fizer algo parecido comigo eu não vou deixar barato. Ele que me aguarde.

Voltando ao passado...

Eu não tinha como ignorar o sofrimento do meu amigo. Era algo que me incomodava e que me fazia sofrer também. Mas o que eu podia fazer? Era uma coisa que eu não podia me meter. Não fazia sentido abandonar James justo naquela hora. Eu iria me transformar a qualquer custo e ficaria com James pelo resto da minha existência. Era fato.

A chuva lá fora parava devagar. Droga! Era a minha desculpa para não ir. Poderia ser a minha desculpa para faltar a minha própria transformação. Seria um bom plano. Pelo menos para adiar mais um pouco o acontecimento que eu mais temia: minha transformação em vampira.

Eu queria adiar aquilo mais um pouco. Eu estava com medo. Com muito medo. Mas não podia deixar que James soubesse disso. Eu seria uma covarde. Uma eterna covarde por ter medo de fazer uma prova de amor para o meu amor. Eu me xingava por dentro.

A água que atravessava a janela aberta pingava no meu rosto, caído um pouco para o lado enquanto meus braços se debruçavam no parapeito da janela. Meus olhos acompanhavam o gotejar da água que caía na varanda da frente da casa. Minha cabeça estava longe, ora na casa de Emmett, ora naquela campina e acompanhada por James. Eu não sabia direito o que queria. Eu só precisava fugir dali. E a chuva, que de repente parou, não contribuía muito com isso. Era a minha desculpa para não ir. Agora eu não a tinha mais.

Levantei minha cabeça devagar e procurei forças para me desencostar da janela. Devagar eu consegui. Peguei a bolsa no sofá e me dirigi à porta. Mas um pequeno ser me impediu.

- Rose, aonde você vai? – perguntou minha pequena princesinha.

- Sara, eu vou me encontrar com o James.

- Aquele cara esquisito?

- Não fale assim dele. Ele é seu cunhado – lembrei-a.

- Meu cunhado?

Assenti com a cabeça e sorri.

Ela pareceu se convencer.  Abriu meu sorriso torto e sem os dentes da frente preferido e se inclinou para me abraçar. Talvez fosse nosso último abraço. Eu vivia por aquela garotinha. Ela era minha irmã. E talvez me amasse tanto quanto eu a amo. Pode parecer nojento, mas eu troquei as fraldas daquela pequena criaturinha sem os dentes da frente. Eu organizei sua primeira festa de aniversário. Eu a ensinei a fazer tranças. Eu a ensinei a andar de bicicleta, como eu aprendera com a vovó. Meus pais não tinham tempo para cuidar dela, então quem fez a maior parte fui eu. Por isso digo que Sara é a minha princesinha. É como se eu fosse mãe dela. Bom, mais ou menos. Acho que, além do Emm, é dela de quem vou sentir mais falta.

Tudo em mim estava derretendo, como um pedaço de plástico no fogo. Eu não sabia se ia derreter completamente. Eu estava abraçada à minha garotinha, à minha irmã mais nova. Parecia que eu me esquecera de tudo. Mas a minha amnésia se foi quando a pequena Sara se soltou de meus braços e saiu correndo pelo corredor.

Eu tinha de ir. Não haveria despedida. Não haveria enterro nem velório falso. Não haveria ao menos um abraço de adeus. Não haveria nada disso, e assim talvez fosse mais fácil lidar com a minha nova vida. Seria assim. Eu iria sair por aquela porta e nunca mais voltaria. Nunca mais poderia me apegar a nada nem a ninguém. Aquele mundo não me pertencia mais. Aquela casa não me pertencia mais. Eu só tinha o James, e ele só teria a mim depois que fôssemos embora dali para sempre. Logo todas as pessoas que eu amava estariam mortas, eu teria de esperar mais algumas décadas. E então eu não teria mais motivos para sofrer.

Ou era o que eu pensava. Motivos para sofrer, eu sempre tive e sempre terei, não importa se eu seja vampira ou humana. É somente o sofrimento. Só isso, simples assim.

Eu estava quase chegando à trilha que daria na campina, onde James estaria me esperando. Mas enquanto eu caminhava para a minha imortalidade, eu passei em frente a um ponto de ônibus. Uma senhora de cabelos brancos estendeu a mão, fazendo sinal para que o ônibus parasse. Era a minha chance.

Olhei para o ônibus; ele ia para Seattle. Hesitei por um momento, mas eu não consegui me segurar ali parada e chequei os bolsos do jeans; havia dinheiro suficiente para a passagem. Corri antes que o motorista acelerasse e entrei, usando como refúgio o banco de trás, que estava vazio.

Covarde, covarde, covarde! O que você tem na cabeça, Rosalie? O que você vai dizer a ele agora? Qual o seu problema?, eu me perguntava enquanto a chuva voltava devagar e já atingia minha bochecha virada para a janela. Num ato meio que inconsciente, fechei-a e encostei a cabeça nela. Agora o que me restava era pensar um pouco e assumir minha covardia, enfim.

A chuva aumentava e diminuía vagarosamente. Isso me irritou um pouco.  Eu abria e fechava a janela tolamente, feito uma maluca. Aos poucos isso chamou a atenção de outros passageiros. Aliás, todos eles carregavam consigo um guarda-chuva. Parecia que eu era a única que insistia em me passar por uma doida na chuva além do ônibus. Até o motorista olhava para trás de vez em quando pra me observar. Sei lá, né? No estado que eu estava e com o que se passava na minha cabeça, o que eu podia fazer com o ônibus do pobre trabalhador?

Nada. Só me sentar e esperar. Isso não era tão fácil quando se tinha um namorado vampiro e a sugestão da imortalidade nas mãos, e ainda tinha aceitado tudo isso e fugido depois, como uma covarde.

Covarde, covarde, covarde, repeti em minha mente. Era a única coisa de útil que eu podia fazer. A única mesmo.

Caramba, eu era mesmo uma idiota. O que eu tinha na cabeça? O que eu tinha na cabeça? Até hoje eu definitivamente não sei. É difícil saber dessas coisas quando se têm outras mais importantes. Por exemplo, a chuva que me molhava pela janela que eu decidira deixar aberta. Estava agradável sentir as gotas de chuva batendo no meu rosto. As pessoas em volta talvez não achassem o mesmo. Faziam caretas e ainda pensavam que eu era uma fugitiva da polícia ou do manicômio, eu não sei bem. Mas talvez elas tivessem razão. Eu estava mesmo com jeito de uma doente mental.

Resolvi me acomodar do modo mais confortável possível e da minha preferência, naturalmente não me importando com os olhares alheios. Fechei os olhos e fingi que dormia. Depois de algum tempo, abri um pouco um dos olhos para espiar por entre as pálpebras. Ninguém mais me olhava. Bom, pelo menos isso.

Continuei por toda a viagem em silêncio, fingindo uma soneca. Por mais incrível que pareça, eu continuei não pensando em nada e foi o mesmo que se eu tivesse me afundado na inconsciência. E foi assim até o ônibus parar numa freada brusca e eu escutar o som dos passos dos outros passageiros que desciam do veículo e abriam seus guarda-chuvas.

Levantei-me também, meio tonta, por algum motivo que eu não sei. Fui descendo as escadas vagarosamente, sob o olhar apressado do motorista. Eu estava numa praça, coberta de árvores e decorada com bancos de madeira e uma fonte num lugar estratégico. Mas estava chovendo. E eu era a única louca varrida sem um guarda-chuva e completamente molhada, o que chamava bastante atenção.

Eu andava com o capuz do casaco na cabeça, para não atrapalhar minha visão. Até que funcionou.

Depois de andar aquela praça inteira quase três vezes, eu parei. Parei e me sentei em um daqueles bancos de madeira, o que ficava mais próximo da fonte bonita que enchia com a água da chuva. E fiquei pensando em como andava minha vida.

Eu tinha um namorado vampiro que tinha uma prima esquisita. Eu tinha uma irmã que eu amava muito e que precisava de mim, mas que eu tinha de abandonar da forma mais cruel que possa existir. Eu tinha uma mãe que me amava como sua própria vida, mas que mesmo assim eu ignoraria esse amor num ato desumano. Eu tinha um pai que só queria me proteger, mesmo com aquele jeito estranho de quase nunca sorrir (e que era menos careta que a minha mãe, nunca me esquecerei disso), que eu amava muito, e que mesmo assim eu abandonaria. Eu tinha uma amiga, a Vera, uma amiga de infância, que me ajudou a passar pelas minhas crises adolescentes como uma mãe, só que com a minha idade. E eu tinha um amigo que eu não queria magoar, mas eu sempre magoaria.

Eu, que sempre magoei todos que eu amava... Que sempre esfreguei isso na minha cara e me arrependi amargamente, mas que cometia os mesmos erros semanas depois.

Eu vivia de magoar as pessoas. Vivia de machucar seus corações das infinitas formas cruéis e amargas. Talvez eu não merecesse o amor daquelas pessoas; talvez não merecesse nem ao menos o ódio delas. Eu não era nada. Eu era só mais uma sofredora, que sofria por merecer e que desejava que os outros sofressem também. Alguém que não merecia nada de bom que ganhara ao longo da existência. Uma qualquer.

Nada conseguia me convencer que eu fazia a coisa certa. Um lado de meu coração me ordenava que tomasse o primeiro ônibus e voltasse para a campina, acabando com tudo aquilo. O outro lado, porém, me aconselhava a voltar para casa e arrumar uma boa desculpa para o meu estado físico. Mas eu não segui meu coração dessa vez. Eu fui racional e continuei ali, parada no banco de madeira, sob a chuva. Eu seria apenas uma racional naquele momento.

Se eu escolhesse voltar para a campina, toda a minha vida acabaria ali. Eu teria uma vida nova, seria uma bebedora de sangue, ou uma sanguessuga mesmo, como os lobisomens quileutes dizem. Talvez Jacob e os amigos vira-latas tenham mesmo razão. Vampiros são sanguessugas, só isso. Mesmo que bebam sangue de animais, são assassinos por natureza. Como um predador. Eu escolhera isso pra minha vida.

Se eu escolhesse mesmo ir pra casa, eu deixaria de lado o amor de James. Eu o amava de verdade, talvez mais que a mim mesma. Isso não era tão saudável. Era um amor incondicional, pior que o sentimento de Bella por Edward. Eu estava disposta a deixar tudo para trás, meus amigos, minha família, minha vida. E, naquele momento na Praça de Seattle, eu me questionei sobre isso. Eu perderia coisas simples, como o baile de formatura ou a festa de fim de ano. Eu não teria mais festas de aniversário como desculpa para ver aqueles parentes que moram do outro lado do país. Para eles, eu estaria morta.

Mas o que eu mais queria era James para mim. E não haveria criatura no mundo que pudesse mudar isso. Ou haveria...?

Eu não sabia, eu estava devidamente confusa. Minha cabeça estava a ponto de estourar. As lágrimas se confundiam com as gotas da chuva que caíam pelo meu rosto. Meu corpo de sangue quente tremia de frio. Minhas pernas descobertas não agüentariam o peso do meu corpo se eu resolvesse sair dali. Meus braços tentavam, sem sucesso, esquentar meu corpo molhado. Eu não conseguia mais pensar com o barulho constante dos meus dentes batendo. E então, me entregando à minha forma humana, me deitei no banco de madeira, não me importando com os olhares em volta, com as crianças que puxavam a borda do guarda-chuva para poder enxergar a maluca que tremia no banco da praça.

Fechei os olhos, agradecendo pelo barulho dos meus dentes, que me permitiram sentir inconsciente. Fiquei um pouco confusa com o bater isolado que vinha da minha boca. Tentei me concentrar somente nele. Tudo era mais fácil assim. Nada iria tirar minha concentração.

Abri os olhos; a praça estava vazia. Isso era bom. Eu precisava mesmo de um tempo, me preocupar só comigo mesmo e com o martelar constante dos meus dentes que avisavam um futuro resfriado. Ou talvez pneumonia. Algumas noites no hospital me fariam muito bem. Porque depois que eu cansasse do barulho dos dentes, eu poderia me concentrar em outra coisa, como a agulha que certamente se ligaria às minhas veias ou as lascas de tinta tiradas da parede... Coisas assim. Eu já estava delirando. Isso era bom.

Pelo menos assim eu esqueceria tudo para pensar em coisas esquisitas e sem sentido. Como o dia que eu fui com a Vera fazer compras numa cidade perto de Seattle. Aquele dia foi legal, apesar do assalto, da chuva, e do ônibus quebrado no meio do caminho. Também teve aquele dia que o Emmett resolveu me atirar ovo podre porque era meu aniversário. Ele se deu mal; eu faltei à escola. E, é claro, não teria graça nenhuma para o Emm me atirar um ovo podre na cara sem ninguém por perto pra ver. Era simplesmente insignificante. E ele não se deu mal só porque eu faltei à escola e ele não pôde zombar de mim. Ele também teve de ficar o dia inteiro com uma caixa de ovos podres dentro da mochila. No final, os ovos quebraram e ele ficou de castigo por um bom tempo. Isso foi quando eu tinha treze anos. Foi minha vez de rir da cara dele.

Eu não entendo essa mania do povo de atirar ovo nos aniversariantes. Aniversário deveria ser um dia feliz, com presentes, doces, festas e amigos. E, eu tenho a mais absoluta certeza de que ninguém gosta de ganhar um ovo na cabeça em pleno aniversário. Isso não é presente que se preze.

Está vendo? Eu já estou delirando o bastante. Que bom. Eu devo estar com febre também. Talvez. Quem sabe eu não morro aqui mesmo, abandonada num banco de praça? Pelo menos eu vou morrer com essa vista bonita, essa fonte jorrando do meu lado... Vai ser bom. Talvez eu seja mundialmente conhecida como a garota suicida de Seattle. “Aquela que adotou uma prática suicida muito da criativa: deitar no banco de uma praça deserta no meio de uma chuva forte e morrer de frio ou pneumonia”. Vai ser legal.

Ou nem tanto...

Ouvi alguns passos distantes e abafados no meio da chuva. Fechei os olhos novamente; eu não queria saber quem era. Os passos foram ficando mais próximos... E mais próximos... Mais próximos... Até que pararam. Bem do meu lado. Eu não me movi.

Senti algo formigando no meu ombro. Ouvi o barulho da água batendo num guarda-chuva. Talvez essa pessoa estivesse apenas com pena – ou medo – de mim. Se essa pessoa pensar que eu estou morta, possivelmente eu me livrarei dela.

- Rosalie?

Eu não consegui identificar a voz - tudo soava como a chuva nos meus ouvidos -, então eu abri os olhos e me surpreendi com a pessoa que eu vi.

 


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Notas finais do capítulo

Hum... Dessa vez o cap ficou maior. Me orgulho disso internamente. (eee o/)

Eei, minha amiga e beta particular (aliceBinchinni) postou sua primeira história no nyah [orgulhinhoo] e eu queria que vocês lessem. Ah, e a capa fui eu quem fiz!

http://fanfiction.nyah.com.br/historia/85013/Bella_Powerful

Olha, a fic dela ainda está no primeiro cap, mas se tiver leitores suficientes para continuar, ela continuará. Começa com a Bella, o Edward, a Alice e o resto do povo todos com 10 aninhos... Acho que vcs vão gostar!

E queria perguntar se vcs gostaram da nova capa da minha fic (bom, eu garanto que está melhor que antes).

E mais uma coisinha: por favor, se vcs gostam da autora aqui, divulguem minha fic, ela já está no décimo cap e nao tem nenhum leitor novo, eu tô ficando meio triste.

E COMENTEM, POR FAVOR!!

Beijos e obrigada por ler. EEI, vcs querem um cap especial do Emm? Respondam nos reviews.