Sophia escrita por znestria


Capítulo 17
Dezessete




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A energia positiva da visita a Hogsmeade não durou muito, pois, para a surpresa de ninguém, uma imensa carga de deveres recaiu sobre os sextanistas. Sophia revezava seu tempo, o melhor que conseguia, entre os estudos, a loja com os Weasleys, os amigos e Viktor. Estava tão emocionalmente sobrecarregada que acordou no dia 20 de fevereiro pensando sobre a tradução que precisava terminar para a aula de Runas Antigas, e nem teria lembrado que era seu aniversário se não fosse pela pequena pilha de presentes em sua cama.

Esticou-se para alcançar o primeiro, ao mesmo tempo que Elena e Nancy passaram e lhe desejaram um feliz aniversário. O barulho do papel sendo rasgado acordou Georgie, que levantou-se para abraçar a amiga e lhe entregar seu próprio presente.

“É meu e do Sean”, ela explicou. “Compramos em Hogsmeade no sábado. Ele disse que a tradição é dar um relógio, mas como eu já te dei um de Natal…”

Sophia abriu o pacote e encontrou dois pequenos espelhos idênticos.

“O que eles fazem?”

“Olhe”, Georgie disse, pegando um dos espelhos de sua mão e segurando-o na altura de seus olhos. Sophia então imitou a amiga, mas, em vez de ver o próprio reflexo no espelho, viu o rosto de Georgie.

“O QUÊ?” gritou Sophia, fazendo Georgie rir.

“É um espelho de dois sentidos! Funciona como se fosse uma janelinha para conectar duas pessoas ou dois lugares. Assim você pode conversar com alguém do outro lado do mundo a qualquer momento!”

“Caramba, Georgie!” Sophia abraçou a amiga novamente. “Isso é demais! Muito, muito obrigada!”

Desceram assim que Sophia terminou de abrir todos os seus presentes e encontraram os meninos já as esperando na Sala Comunal. Rogério lhe entregou um volumoso pacote contendo uma bela capa de viagem azul escura que prometia ser impermeável e repelente de sujeira.

“Que linda, Rogério, obrigada!” ela agradeceu. “E obrigada, Sean, pelos espelhos, eu adorei!”

Ele deu um sorriso torto. “Achei que poderia vir bem a calhar, com todas esses novos laços internacionais que você está formando. A lojista me garantiu que os espelhos funcionam mesmo em lugares muito longes, como a região dos Balcãs…”

Sophia girou os olhos. É claro que Sean não poderia só dar um presente sem fazer alguma piadinha. “Você sabe muito bem que eu vou dar o par para os meus pais, Sean.”

O amigo pareceu genuinamente desapontado. “Ah, Soph, pare de acabar com o meu clima. Por que você não pode ser um pouco mais romântica?”

“Eu posso ser romântica e ao mesmo tempo me importar com a minha família”, ela se defendeu, e saiu para guardar a capa de Rogério no dormitório. Pegou um dos espelhos e o colocou na bolsa, pois queria já enviá-lo para seus pais, para que eles o recebessem o mais cedo possível.

O resto do dia passou sem tantos destaques, pois sua rotina estava muito corrida. Conseguiu encontrar Viktor em um corredor durante uma troca de aula, e ficou surpresa que ele lhe parabenizou - só havia mencionado o aniversário aquela única vez no Três Vassouras, e não fora tão explícita. No entanto, tiveram que se separar logo em seguida, pois Sophia não queria chegar atrasada na aula de Snape.

Deixou para comemorar efetivamente à noite. Seu plano bem simples: passar na cozinha para comerem sobremesa e quaisquer outros lanchinhos que tivessem lá. Assim, depois da janta, Sophia encontrou Viktor e o chamou para juntar-se a eles, mas, tão logo o convidou, percebeu que os amigos estavam indo em outra direção.

“Ei! Aonde vocês vão?”

“Combinamos com Fred e Jorge na Casa de Barcos”, respondeu Sean casualmente.

“O quê?”

Georgie deu uma risadinha e ignorou Sophia, que não teve opção senão segui-los. Desceram até o ancoradouro, mas este estava vazio; o único som que ali fazia era o da água calma do Lago batendo suavemente nas pedras. Os amigos sentaram na beirada do chão.

“Vocês vão me explicar o que está acontecendo?” perguntou Sophia.

“Não.”

“Ah, certo, obrigada.” Sophia virou-se para Viktor. “Você sabe o que estamos fazendo aqui?” Mas ele sacudiu a cabeça negativamente; parecia tão confuso quanto Sophia.

Decidiu, afinal, sentar na beirada ao lado dos amigos, embora não conseguisse entender por que ficariam na Casa de Barcos ao invés da cozinha, que era aconchegante e nem um pouco suspeita. Rezou para que a surpresa não fosse uma detenção de presente de aniversário, mas não encontrou muito conforto ao lembrar que os gêmeos Weasley estavam envolvidos.

Fred e Jorge finalmente chegaram, esbaforidos e carregando duas trouxas e uma mochila.

“Alô, aniversariante”, cumprimentou Jorge e abriu uma das trouxas, revelando uma grande e diversa quantidade de comida. Sophia animou-se com a visão, e logo estavam fazendo um pique-nique, estendendo as trouxas em cima do chão como toalhas.

“Dezessete, hein?” disse Fred, enfiando um grande pedaço de torta na boca. “Quando fizer, não vou mais andar para nenhum lugar.”

“Se eu conseguisse aparatar como vocês, também não andaria”, comentou Georgie, que ainda não conseguira aparatar sem se estrunchar.

“Precisamos fazer o teste antes, de qualquer jeito”, disse Sean, animando a namorada, que deu um meio sorriso e esticou-se para apanhar um doce de abóbora.

“Hã, que tal falarmos sobre qualquer outra coisa que não seja exames?” sugeriu Rogério.

“Sim!” concordou Sean imediatamente. “Que tal passarmos ao nosso presente a Sophia?”

Ele falou olhando para os gêmeos, que sorriram maliciosamente de volta. Ah não, pensou Sophia, ficando preocupada. Qualquer coisa que Sean e os Weasleys estivessem tramando juntos era com certeza perigosa.

“Do que vocês estão falando?” ela perguntou, cautelosamente.

“Você não se perguntou por que a trouxemos aqui ao ancoradouro, numa noite tranquila de quinta-feira?” começou Fred.

“Eu perguntei e vocês me ignoraram.”

“Muito bem”, ele continuou. “Vocês todos aqui presentes irão presenciar, de primeira mão, o maior espetáculo de fogos de artifício de toda a história do mundo mágico!”

A frase com certeza fez efeito - Sophia segurou a respiração e seu coração começou a bater rapidamente -, embora aparentemente não o tanto quanto Fred queria. Ele murchou um pouco e suspirou exageradamente alto:

“Qual é, gente? Um espetáculo de fogos de artifício mágicos? É sério?”

Os amigos trocaram olhares entre si. Georgie disse, com um sorriso apologético: “Bom, Rogério, Sean e eu já sabíamos, então…”

A atenção de todos recaiu sobre Sophia e Viktor.

“Ah, sim”, Sophia pigarreou. “Fogos de artifício. Quão grandes são?”

“Do tamanho de um carro!” exclamou Fred.

Sophia levantou as sobrancelhas, mas, antes que pudesse responder, Viktor disse:

“Temos uns maiorres no campeonato de quadrribol.”

Fred semicerrou os olhos. “Ok. Então o maior espetáculo de fogos de artifício de toda a história do mundo trouxa.”

“Hã, os trouxas têm uns shows de fogos bem impressionantes”, disse Sophia.

“Você já foi para a Disney?” perguntou Georgie.

“Não, uma prima minha.”

Os meninos pareciam muito confusos pela rápida troca entre Sophia e Georgie, mas Jorge retomou a compostura e interveio:

“Ok, que seja o show desse tal de Ney. Porque Fred se esqueceu de contar a melhor parte. O espetáculo de fogos irá acontecer em nenhum lugar menos que o Lago!”

Os amigos sorriram e comemoraram entre si, enquanto a boca de Sophia se abria. “O Lago?” repetiu. “Mas como… Ah!”

Ela então entendeu por que haviam vindo comemorar na Casa de Barcos. Antes que pudesse parar para pensar, entretanto, todos já estavam levantando e lançando feitiços nos barcos para que levitassem até a água.

“A gente vai se meter em muita confusão”, comentou Sophia, observando os gêmeos entrarem em um dos barcos carregando a mochila explosiva.

Na única vez em que havia usado os barcos, em sua primeira vez em Hogwarts, Sophia tinha 11 anos e dois terços de seu peso atual. Tinha compartilhado o barco, coincidentemente, com os três que viriam a ser seus melhores amigos nos anos seguintes: Georgie, Sean e Rogério. No entanto, agora não poderiam ir todos no mesmo. Dividiram-se, então, em três: Fred e Jorge foram em um e Rogério, Sean e Georgie em outro, deixando o último para Sophia e Viktor.

Antes de entrar, Sophia parou.

“Você tem certeza?” perguntou a Viktor.

Ele se virou para ela e deu um sorriso divertido. “Sim.”

Sophia franziu a testa por um milésimo de segundo e então soltou uma risada abafada, estupefata pela audácia de Viktor e dela mesma. “Vamos, então.”

Quando estavam todos em seus respectivos barcos, perceberam que eles não os levariam a lugar algum. Provavelmente eram só enfeitiçados para levar os alunos da estação de Hogsmeade até o castelo, ou vice-versa, então tiveram que pegar os remos que estavam pendurados nas paredes. Viktor se ofereceu para remar, o que deixou Sophia agradecida, já que mal tinha preparo físico para andar pelas escadarias da escola.

Os barcos deslizaram para fora, em direção à água aberta. A noite estava clara, e o céu noturno brilhava com a luz de milhares de estrelas; era muito mais bonito de se ver do que o teto encantado do Salão. Sophia suspirou, encantada. Percebeu que a última vez que havia estado ali fora em sua primeira noite em Hogwarts, cinco anos atrás, quando acabara de descobrir que era bruxa. Estivera tão nervosa com a perspectiva de adentrar um mundo mágico e desconhecido… E agora estava de volta, já chegando ao final de sua jornada, mas acompanhada de amigos que considerava uma segunda família.

“E agora… O que vocês todos estavam esperando!” anunciou Jorge animadamente, retirando Sophia de seus devaneios.

Os gêmeos abriram a mochila, revelando um estoque de fogos de artifício Dr. Filibusteiro.

“Como vocês conseguiram tantos?” Sophia perguntou, perplexa.

“Já tínhamos alguns”, respondeu Fred, dando os ombros.

“E nós complementamos”, disse Georgie. “Compramos em Hogsmeade no sábado.”

“Então foi isso que estavam fazendo? Não vimos vocês em nenhum lugar.”

Sean e Georgie se entreolharam e deram uma risadinha. “Bom, isso e outras coisas.”

Sophia torceu o nariz e desviou o olhar. Não queria saber o que os dois faziam sozinhos.

“Podemos começar, então?” perguntou Fred.

“Sim”, Rogério concordou prontamente. Provavelmente estava incomodado com o casal que dividia o barco com ele.

Fred abriu um largo sorriso. “Preparem-se.”

Os gêmeos molharam os fogos na água do Lago e os lançaram para cima. Cada foguete explodiu em um arco-íris de cores, espalhando estrelas e faíscas pelo ar. Alguns eram redemoinhos incessantes, enquanto outros voavam como estrelas cadentes. O ponto alto, no entanto, foi o foguete que se transformou em pequenas letras douradas, que dançaram e soletraram “FELIZ ANIVERSÁRIO SOPHIA”.

“O quê?” ela exclamou. Não sabia nem o que falar. Colocou uma mão sobre a boca, que estava escancarada em fascínio, e sentiu seus olhos começarem a lacrimejar. Viktor pegou sua outra mão.

“Nós estivemos testando algumas coisas”, explicou Jorge casualmente. “Desculpa deixar você de fora dessa, Sophia, mas queríamos fazer uma surpresa.”

“Você está brincando, não é?” ela respondeu, desacreditada. “São maravilhosos.”

Eles sorriram, satisfeitos. “Saca só essa”, disse Fred, apontando para dois foguetes.

Os fogos, que eram prateados e tinham longas caudas cheias de estrelas, colidiram no ar e explodiram novamente. Então se transformaram em uma coisa só. Começaram a dançar em volta um do outro, como se fossem elétrons em volta de um núcleo invisível.

Sophia bateu palmas e riu.

A rotina continuou por mais um tempo. A cada novo foguete, algo diferente acontecia, e era sempre estonteante de assistir. Sophia recostou-se em Viktor. Nunca tinha visto o show de fogos da Disney, nos Estados Unidos, mas Sophia tinha certeza de que não era de perto tão bonito quanto o dos Weasley.

“Sophia”, murmurou Viktor.

“Sim?”

“Feliz aniversárrio.”

Sophia sorriu. Pensou em lembrá-lo de que ele já havia lhe parabenizado, mas decidiu não cortar o clima. “Obrigada.”

Viktor se aproximou e a beijou. Sophia conseguia ouvir os fogos explodindo à sua volta e torceu para que os amigos estivessem prestando atenção no céu. Mas, ao mesmo tempo, estava tão feliz que também não se importava.

Quando se separaram, Viktor disse: “Desculpa não trrazer nenhum prresente.”

Sophia sacudiu a cabeça. “Não. Isso…” Levantou o olhar e admirou os seus arredores - o castelo com as janelas iluminadas, o céu estrelado, os fogos faiscando e tudo refletido na superfície lisa do Lago. “Isso é perfeito.”

 

 

 

Mais tarde naquela noite, Sophia se encontrava deitada em sua cama. Por uma série de milagres, ela e os amigos haviam conseguido voltar ilesos aos seus dormitórios. Aparentemente ninguém monitorava o Lago - ninguém que pudesse causar algum problema, pelo menos, porque Sophia suspeitava que o navio de Durmstrang tinha uma vista perfeita do espetáculo de fogos. E os corredores do castelo, ainda, estavam desertos e sem sinal de Filch ou até mesmo Pirraça. Não sabia se os Weasleys haviam conseguido chegar à Torre da Grifinória em segurança, mas acreditava que sim, pois os dois conheciam mais atalhos e passagens secretas que qualquer um da escola.

Fechou os olhos. Sophia sabia que não ia dormir muito cedo, sua cabeça ainda estava funcionando a mil, relembrando todos os acontecimentos do dia e refletindo o quão sortuda era. Este com certeza tinha sido o melhor aniversário da sua vida.


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