Sophia escrita por znestria


Capítulo 15
Clímax




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/749172/chapter/15

Durante a próxima semana, o comportamento dos amigos não melhorou. Georgie e Sean continuavam como se tudo estivesse normal, mas, mais frequentemente do que antes, eles resmungavam sarcasticamente ou cortavam a fala do outro. Rogério, por sua vez, também não ajudava. Fleur parecia estar perdendo o interesse nele, pois cada vez menos se importava em falar com o menino, tampouco se dava ao trabalho de parecer apreciar sua companhia. Assim, o ânimo de Rogério ia caindo gradualmente, de modo que ele não parecia se empolgar com nada.

Para piorar, o fato de não haver campeonato de quadribol naquele ano pesava cada vez mais. Rogério e Georgie tinham mais tempo livre, mas, já que não o ocupavam com nada relevante, acabavam aborrecendo-se na companhia um do outro. Não podiam nem mesmo entusiasmar-se com o Torneio Tribruxo, pois ainda faltavam semanas para a Segunda Tarefa.

Sophia, portanto, procurava passar mais tempo com Viktor. Em um dia que fez sol o suficiente para aproveitarem os jardins, os dois se encaminharam para fora e sentaram às margens do lago.

“Olha o que eu trouxe”, Sophia anunciou, animada, enquanto vasculhava os pertences. Retirou, então, um Walkman da bolsa, junto com dois pares de fones de ouvido.

Viktor franzia a testa. “O que é isto?”

Sophia riu da careta dele. “Isto”, ela disse, desenrolando os fios dos fones, “é um Walkman.”

“Valkman?” ele repetiu, com o forte sotaque búlgaro.

“Sim. Segure aqui, por favor.”

Sophia deu o aparelho a Viktor, que ainda estranhava o objeto, e encaixou os fones em seus devidos buracos. Então pegou um dos pares e colocou os auriculares nas orelhas do garoto.

“Focê vai me explicarr o que isto faz?”

Sophia continuou rindo ao ver sua expressão confusa. “Ok”, ela se acalmou. “Um Walkman é um aparelho portátil trouxa para ouvir música. Aqui em Hogwarts, na verdade, a maior parte da tecnologia trouxa não funciona, mas eu consegui enfeitiçar este aparelho para que tocasse. Infelizmente, no processo, eu acabei prendendo a fita que estava dentro com mágica, então você só vai conseguir ouvir as mesmas dez músicas.”

Viktor não falou nada, então ela continuou:

“A fita, no caso, é uma coleção das músicas que eu mais estava ouvindo no verão passado. Não sei se você conhece os gêneros musicais trouxas, mas, no geral, tem bastante pop e rock.”

Ele balançou a cabeça negativamente.

Sophia suspirou. “Bom, espero que goste, então. Está pronto?”

Ele assentiu e Sophia apertou o botão de play. A primeira música era “What’s Up”, do 4 Non Blondes. Quando o violão começou a tocar, Viktor levou um susto e virou-se para Sophia, que ria, e então continuou ouvindo, com uma expressão intrigada. Logo que a música acabou, ela perguntou:

“O que achou?” Procurou não soar animada ou ansiosa, para obter uma resposta honesta.

Viktor, atordoado, demorou para responder. Por fim, abriu um sorriso e disse: “Eu gostei.”

Sophia deu uma risadinha e o beijou rapidamente na bochecha, antes de continuarem a ouvir o resto da fita.

Viktor, afinal, também apreciou a maioria das músicas. Gostou especialmente de Heart Shaped Box e Creep, mas não tanto de I Will Always Love You e Living On My Own.

“Não acredito que você não gostou do Freddie Mercury!” exclamava Sophia.

“Quem?”

“Ah, se minha mãe o visse agora”, ela riu. “Ela é viciada em Queen.”

Viktor não pareceu entender nada, mas deu um sorriso. Ficaram o resto da tarde ouvindo as músicas e as comentando, Sophia tentando explicar as bandas e o significado de algumas palavras trouxas. Quando voltou à Sala Comunal, mais tarde, procurou Georgie, pois ela era a única que entenderia as referências, mas a amiga encontrava-se em um sofá, fazendo cara feia e observando Sean, que conversava animadamente em uma roda ali perto. Sophia suspirou e decidiu subir direto para o dormitório.

 

 

 

A confusão entre Sean e Georgie chegou ao seu clímax alguns dias mais tarde. Era o começo da tarde, e Sophia encontrava-se estudando na biblioteca com Viktor. Cada um estava lendo seu próprio livro em silêncio, o que não era a definição mais romântica de um encontro, mas era o que conseguiram arranjar, visto que Sophia afundava cada vez mais em deveres de casa.

Georgie apareceu de repente, irrompendo na sala com um olhar colérico e desabando em cima de uma das cadeiras vazias da mesa.

“Aquele energúmeno”, ela esbravejou por entre os dentes.

Sophia, incomodada, apenas levantou a cabeça para a amiga e não disse nada. Georgie bufou, com um ar muito desacreditado, e balançou a cabeça, mas Sophia percebeu uma sombra de tristeza no gesto da menina. Respirou fundo e descansou a pena.

Antes que pudesse falar, porém, Viktor se levantou e declarou: “Fou parra o navio.”

“Você não precisa…” Sophia começou, mas ele apenas assentiu e lhe deu um beijo na cabeça antes de se retirar. Assim que desapareceu, Georgie desmoronou em cima da mesa.

“Desculpa, Soph, desculpa, desculpa, desculpa”, ela pranteou, passando freneticamente as mãos pelas ondas do cabelo e pelo rosto. “Eu sou uma amiga péssima, eu sei. E namorada também.”

“Ei”, disse Sophia suavemente, colocando as mãos nos ombros da garota. “Vem cá, vamos.”

Conduziu-a para fora da biblioteca e escada abaixo, até o porão. Chegaram à pintura de frutas que escondia a entrada da cozinha e encaminhou a amiga para dentro. Sentaram-se em banquinhos próximos ao fogo e rapidamente foram abordadas por ninguém menos que Dobby, o elfo doméstico.

“Boa tarde, senhoritas!” ele guinchou, alegre, e então percebeu o estado de Georgie. “Senhorita, o que há de errado? Dobby pode preparar um ensopado de carne com legumes, sim, senhorita, se for animar…”

Georgie, que estivera à beira de lágrimas o caminho inteiro, finalmente caiu no choro. Sophia apressou-se para abraçar a amiga e pediu a Dobby: “Se você puder só trazer um chocolate quente, Dobby, se não for muito incômodo, por favor…” E o elfo saiu prontamente para pegar a bebida.

Assim que se recompôs e recuperou o fôlego, Georgie lamentou-se:

“Ah, eu estou uma bagunça…” Dobby apareceu e lhe entregou uma caneca fumegante, e mais lágrimas caíram dos olhos da menina. “Lembre-me de comprar uma loja de roupa inteira para esse elfo. Ou melhor, devia é costurar tudo sem magia, isso sim…”

Sophia solidariamente entregou o lenço que Sean lhe dera de Natal. “Aqui. Agora… Vamos lá. Bota tudo para fora.”

Georgie fungou e então suspirou. Acalmou-se o suficiente para começar a falar: “Ah, Soph, eu nem sei direito o que está acontecendo. Parecia que estava tudo bem, estávamos perfeitamente felizes, e, do nada, de uma hora para a outra, ele começou a ser tão frio comigo. E eu nem sei por quê. Quero dizer, só estamos namorando faz uns dois meses, ainda deveríamos estar na fase de lua-de-mel!”

Sophia riu levemente, mas Georgie continuou: “Você ri, mas é verdade! Lembra quando namorei o Daniel, dois anos atrás? Nós só começamos a ter problemas depois de cinco meses de relacionamento!”

“Qual é, Georgie”, disse Sophia. “Esse tipo de coisa não dá para calcular. Cada um é cada um. Quero dizer, o caso de você e Sean é muito específico, vocês são melhores amigos faz seis anos.”

“Eu sei. E é por isso que eu não entendo! Quero dizer, ele devia me conhecer depois de todo esse tempo, mas agora parece que não me tolera. Hoje, na aula de Trato das Criaturas Mágicas, ele mal olhava na minha cara, só falava comigo quando precisava. E o pior é que continuava andando comigo, mas como se fosse uma obrigação horrível. Por isso não aguentei e fui procurar você.”

  Sophia comprimiu os lábios. “Mas alguma coisa mudou recentemente? Porque parecia tudo tão normal alguns dias atrás…”

“Acho que foi piorando gradualmente. Você e o Rogério provavelmente não perceberam porque só interagiam com a gente em grupo. Mas ele começou me dando umas cortadas, depois parecia sempre cansado de falar comigo, e agora age como se a minha companhia fosse um castigo. Que idiota.”

Ficaram um tempo em silêncio. Georgie não soluçava mais, mas ainda tinha o rosto inchado.

“Você já conversou com ele sobre isso?” perguntou Sophia.

“Não. Ah, Soph, não vou, me recuso! Não quero falar com ele. Ele que venha pedir desculpas.”

Sophia encarou a amiga. “Georgie…”

“Ah, não me venha com ‘Georgie’. Soph, ele que está errado aqui!”

“Tudo bem. Mas vale a pena ficar sofrendo por orgulho?”

Georgie bufou e cruzou os braços. “Eu não vou falar com ele.”

Sophia suspirou. Era incrível como Georgie podia ser tão racional e empática com algumas coisas, mas teimosa com outras. As duas continuaram na cozinha por mais um tempo, enquanto Georgie terminava sua bebida, e depois subiram para a Torre. Ao entrarem na Sala, porém, deram de cara com Rogério e Sean, que estavam saindo. Os meninos abriram a boca para as cumprimentarem, mas Georgie desviou rapidamente e se encaminhou para o dormitório das meninas. Sean a acompanhou com o olhar, sem dizer nada, e estava girando o corpo em direção à porta quando Sophia pegou seu braço:

“Sean. Vamos conversar.”

Deixaram Rogério parado atônito e se afastaram em direção a uma parede.

“O que foi?” Sean disse, tentando parecer casual, mas sem olhar diretamente a Sophia.

“Sean”, ela chamou novamente, e esperou até que ele finalmente a encarasse. “O que está acontecendo entre você e Georgie?”

“Nada. Estamos -”

“Ah, corta essa. Vocês obviamente não estão bem.” Esperou um pouco, mas ele não disse nada, então continuou: “Você vai falar ou eu vou ter que roubar Veritasserum do armário do Snape? Ele com certeza iria descobrir e me matar, então eu teria que voltar como fantasma e, eu juro, vou te assombrar para o resto da sua vida e não te deixar ter um momento em paz, e, quando seus avós falecerem, aposto que vão se juntar a mim, e acho que você não quer que o espírito da sua avó apareça quando você estiver -”

“Ok, Sophia, entendi!” ele a interrompeu. Respirou fundo antes de falar: “Olha, eu só estou cansado, ok? Cansado porque a Georgie deveria ser a minha namorada, mas ela fica me repreendendo toda hora, como se eu fosse um tapado.”

Sophia mordeu um lábio, um pouco espantada pela franqueza emocional do amigo. “Mas é o jeito dela, não é?”

“Sim, mas agora que estamos juntos parece que é assim toda hora. Não sei, mas é como se ela fosse mais possessiva comigo.”

Sophia compreendeu. “Porque você é o namorado dela e a ama e por isso vai perdoá-la”, completou, devagar.

O amigo concordou silenciosamente.

“Eu entendi, Sean. Mas por que você a está ignorando? Por que não fala de vez com ela, pra mudar a situação?”

Ele mudou o peso do corpo para uma das pernas e discretamente sacudiu os ombros, desconfortável. Sophia apontou com a cabeça em direção às escadas dos dormitórios e ficou esperando, até que ele finalmente suspirou e se dirigiu para lá.

Sophia, então, andou até Rogério e colocou a mão em seu ombro. “Vamos dar uma volta”, ela disse, conduzindo o amigo para fora da Sala Comunal. Mataram tempo passeando pelo castelo e só voltaram depois de dar uma volta completa pelos terrenos de Hogwarts (sem contar a Floresta Proibida, é claro). Quando enfim voltaram à Torre da Corvinal, encontraram Sean e Georgie abraçados em um sofá, e sorriram ao entender que tudo estava bem novamente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sophia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.