Ensinando a Beijar escrita por Pakkuna


Capítulo 16
Back to Black




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/749044/chapter/16

PARTE 0 – RELATOS DE UMA ESPECTADORA

.

Olá

.

Eu sou alguém

Não faço parte da historia, nem nunca fiz

Apesar de já ser confundida com Deus...*

Só estou aqui para avisar a vocês

Alertar vocês

Se vocês vieram aqui com a esperança de um final feliz

Vão embora agora, saiam daqui!

Essa não é uma historia de um casalzinho perfeito que passa por muitas e sérias dificuldades mais no final acabam juntos e felizes para sempre...

Não...

Jamais se prometeu um final doce e açucarado

Aqui não é como nos livros e filmes que estamos acostumados a ver, ouvir e ler

Isso é a vida real

E ela é dura

Ela não é perfeita

Nem todos acabam juntos e felizes para sempre...

O “Eu Te Amo” pode ser palavras vazias

Os beijos calorosos e apaixonantes podem ser só beijos

As noites de amor e paixão podem ser apenas sexo selvagem

O “Apaixonados” nem todas as vezes dá certo

O “Felizes Para Sempre” não cabe a todo mundo

.

.

Mas sempre existe um final

O Final

E eu já disse e repito: Se vieram aqui em busca de um final lindo, gracioso, maravilhoso e perfeito

Saia daqui enquanto você tem tempo

Pois se você começar a ler... Não terá mais volta...

Seu coração não se consertará mais

Sua mente não fará te esquecer disso

Seus olhos, talvez, não farão você chorar menos

Vou perguntar de novo...

É isso que você quer?

Você está mesmo pronto para isso?

.

.

.

.

.

.

Bem, acho que sim...

Então, tudo bem...

 Mas não diga depois que eu não avisei

Francamente, eu não ligo

.

.

O enterro é do seu coração

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

Near’s POV

.

Só quero dizer algumas coisas...

Vocês vieram até aqui só para assitir ao meu fim...

Obrigado... assim não passo por isso sozinho

Eu aprendi muitas com tudo isso vivido...

Aprendi que o amor pode machucar...

Mas é a única coisa que eu sei

Você sabe que pode ficar difícil algumas vezes

Mas é a única coisa que nos prova de que estamos vivos

.

.

.

Vou manter essa história aqui dentro

E fingir que foi um sonho

Vou continuar com meu “coração que nunca se partiu”

Com meus “olhos que nunca se fecharam para chorar”

E congelar essa história para sempre

.

.

.

.

.

PARTE 1 – Brilhante Inocência, Momento Perfeito

.

Flashback ON

.

 

Mello’s POV

.

Eu estava lá de novo

De uma forma ou de outra eu sempre acabava lá de novo

Bati na porta

Ia acabar logo com isso de uma vez

Ouvia passos do outro lado da porta

Eu não queria vê-lo

Não agora

Mas era preciso

Não... eu queria vê-lo agora

Por mais que eu odiasse admitir:

Era muito bom

.

.

.

Ele abriu a porta

Com sua expressão fria de sempre

Aquele que consegue me tirar do sério

Que me faz sentir nojo

Que me faz enlouquecer

Ele

Vocês sabem de quem estou falando

— Oi Mello – ele disse, frio

Francamente, acho que ele conseguiria fazer melhor que isso

— Nossa, que frieza . Eu também não estou feliz em olhar para a sua cara de novo – disse, entrando agora completamente no quarto dele olhando o que ele tinha em seu quarto

Detalhe por detalhe:

Cada quebra-cabeça espalhado pelo chão

Cada pilha de cartas montada

Cada coisa da sua mesinha devidamente guardada e arrumada

Sua cama totalmente feita e sem qualquer imperfeição

.

.

.

Ele era bem diferente de mim

Na verdade, ele é totalmente o oposto do que eu sou

Parece que é verdade o que dizem:

Cada anjinho tem seus demônios

.

— Então por que está aqui? – ele dizia enquanto fechava a porta

Afinal, por que estava aqui mesmo?

Ah, sim...

— Ah, eu to aqui para acabar logo com a minha promessa de uma vez. – Sim, isso mesmo - Para nós dois ficarmos livres um do outro de uma vez por todas – eu falava enquanto ficava olhando e reparando novamente em seu quarto. Não, olhá-lo agora não dava.  – Ah, eu nem sei como eu me envolvi em tudo isso mais

— Eu sei. – ele disse, captando minha atenção. Quem sabe ele não tivesse a resposta? - Foi quando você me beijou na frente de todos – ele disse, com direito a sorrisinho irônico e tudo

Ah,não precisava lembrar, Near!

— Hum, senta aqui logo – eu mandei, já me sentando em sua cama

E ele sentou ao meu lado, como um bom menino

Não sabia como começar tudo isso

.

.

— E agora? Vamos conversar – ele ironizou, em razão a nossa última aula

Não brinca comigo não Near!

Hoje eu não estou bem!

— Não me estressa – eu falei, não precisávamos disso agora – Só... – eu tinha que fazer - Me beija e eu vou tentar corrigir algum erro – falei, apoiando um braço na cama e olhando em direção a ele

Sinceramente, fiquei com medo

Eu pensei que ele fosse me agarrar loucamente e me beijar até eu desmaiar

Mas ele não fez isso

Simplesmente ficou parado enrolando uma mecha daquele cabelo tão branco que me deixava cego

Não fez nada

Não disse nada

.

.

.

.

.

.

Já disse para não brincar comigo, Near

Hoje eu não estou nos meus melhores dias

— Que foi? Anda logo! Devia estar me agarrando e me tirando todo o ar – falei mesmo, ele não ia me fazer de idiota depois de tudo. Era minha vez de brincar! – Não era isso que queria, amorzinho?  

Só para torturá-lo um pouco mais

— Não era não – ele falou olhando fixamente para mim. Juro, não pensei que ele fosse responder isso.

.

.

.

.

.

Nesse momento meu cérebro resolveu funcionar

Estava tudo tão claro agora!

Near...

E ele ainda continuou:

 – Você pode me dar um milhão de beijos, eu preferiria que você me desse ao menos um verdadeiro – falou, desviando agora o seu olhar

Ele achava que me enganava...

Agora que eu sei

.

.

Vou fazer minha brincadeira durar ainda mais

Parece que ele já chegou ao ponto de mendigar amor

Pumft, ridículo

Okay Near, eu vou jogar seu jogo:

— O que falta nos meus beijos? – perguntei a ele, olhando-o bem

— O que falta nos seus beijos Mello é o mesmo que falta nos de muita gente: Amor

Juro para vocês, eu nunca tive tanta dificuldade de segurar o riso quanto nessa vez

Que raios de resposta era aquela? Hahaha...

Mas como eu já tinha dito, eu ia jogar o joguinho dele

— Amor? Tá brincando? – soltei uma pequena risada, mas nada comparado ao que eu queria rir naquele momento, enquanto endireitava minha postura – Pra que amor?Ah é, tinha me esquecido: Você está em amor – dizia enquanto soltava um pouco do meu riso preso em sua cara.

Mas agora

Era hora de voltar ao meu jogo:

 - Caso você também não lembre eu sou o professor aqui! – disse, enfatizando o ”professor”

— Então me ensine alguma coisa! – falou, sua voz aparentando impaciência

Quem ele achava que era para falar assim comigo?

Tinha sido um dia estressante para nós dois, mas ele não tinha esse direito

Eu queria acabar logo com isso

Precisava acabar logo

.

.

.

Mas não, agora que eu entendi tudo ainda não podia acabar

Admito: Essa inocência era brilhante

E eu espero que ela dure

.

.

.

Então eu o beijei

Calmamente e ternamente

Bem diferente dos outros

Ai eu percebi o quanto esse momento era perfeito

Para ele

E precisava continuar assim

Eu entrelaçava meus dedos em seus cachos desbotados

E ele apertava minha blusa, com necessidade

Como quisesse me prender

E ficamos nisso até que fossemos interrompidos pela falta de ar

Nós dois bufávamos em busca de oxigênio

Eu não queria falar nada

Só queria sentir o momento

Mas ele falou:

— Então, como eu estou? – ele estava ainda de olhos fechados e ainda na mesma posição

.

.

.

Só um pouco mais

A roleta não podia parar de girar

— Como eu tinha dito: beijar é prática. Para você ser bom... Deve beijar bastante – disse enquanto contornava seus lábios com meus dedos

Sua inocência era brilhante

Era muito bonita e fazia você querer chorar

.

.

.

Eu sabia como o tirar do sério, se me permitem dizer

Depois, dei-lhe mais um beijo

Dessa vez mais louco e fora do normal

Sem pudores

Para ele era algo maior que isso

Comigo falando talvez seja difícil de se imaginar

Mas como estávamos nos beijando daquela vez foi de certa forma até insano

Mesmo depois de toda essa loucura acabar

Eu continuava com a mão em seus cabelos

E com outra em sua cintura

E ele, com as duas mãos agarrando meu pescoço

Ficamos assim

Eu ia percebendo mais e mais o que eu era

Um lugar seguro, sem lágrimas para ele

Pela primeira vez na vida ficou claro de se ver isso

.

.

— Sabe, seus beijos estão ficando ótimos, muito bons – eu disse não movendo um músculo se quer. Não podia quebrar isso, ainda não era a hora

— Então eu logo logo irei passar? – ele me perguntou soltando um risinho

Não respondi

Esse momento era perfeito

Tinha que ficar assim mais um pouco

Tinha que durar mais um pouco só

Me desculpe, Matt

Mas ainda não acabou

Fechei os olhos e pensei: o que viria a seguir?

Bom, eu tinha que falar alguma coisa

— Olha... Eu não estou aqui simplesmente para cumprir minha promessa – falava enquanto me endireitava. Era hora de ir, mas isso ainda não tinha acabado

— O que? – ele me perguntou, num misto de incredulidade com confusão

— Acho que já acabamos com as nossas aulas – dizia me colocando de pé e ajeitando-me – Melhor eu ir embora agora – falava indo em direção a porta

— Como? – ele perguntava, provavelmente não entendendo o que estava acontecendo

Eu estava pronto para sair dali e deixá-lo

Mas ele tinha que dizer::

— Espera aí!

Ele pediu

Near...

.

.

.

.

Esse foi o pior erro da sua vida

— Não estou aqui pelo seu amor, por causa dessa promessa, ou qualquer coisa assim

Pode ficar com sua inocência

Eu não a quero

— Seus beijos são bons. Bom, considere-se aprovado. Meus parabéns, Near – disse simplesmente antes de fechar a porta

.

.

.

.

.

.

Flashback OFF

.

.

Near’s POV

.

.

Se eu não me engano, agora são sete e meia da manhã

Não dormi

Ainda com aquelas palavras na cabeça

“Seus beijos são bons”

E eu ainda pensando nele

E em tudo isso

Eu queria de verdade

Dizer tudo naquela hora

Dizer: “Por favor, não vá embora

Eu preciso de você agora, aqui...”

Mas eu vou me prender a isso

E não vou deixar passar em branco

.

.

Me levanto e vejo que está tudo bem

Pela primeira vez na vida, e é ótimo

Lentamente, olho em volta

E fico impressionado

Penso nas pequenas coisas que tornam a vida boa...

Eu não mudaria nada, mais nada

Essa é a melhor sensação

.

.

.

.

.

.

PARTE 2 – Se a Felicidade é Ela, Então Estou Feliz Por Você

.

Mello’s POV

.

Acordei normalmente e no horário que eu sempre acordava

Tarde

Eram umas 10h

Eu olhei pro lado e vi o Matt ainda dormindo

Foi aí que me lembrei de tudo

Tudo o que tinha acontecido e o que iria acontecer

Eu tinha uma ideia do que iria fazer

Mas ainda estou com dúvidas ...

Me lembrei de ontem com o Near

Me lembrei também do meu desespero de querer abrir a porta do quarto trancada com um Matt dormindo do lado de dentro

Me lembrei de ter ficado até altas horas pensando em tudo...

Acho que sei o que tenho que fazer

Mas tenho medo também do que pode acontecer...

.

.

.

.

Me levantei da cama decidido do que eu iria fazer hoje

Peguei uma muda de roupa e iria para o banheiro

Claro, sem não antes acordar o Matt né:

— Ahn... que é? – Matt resmungava enquanto eu tentava desperta-lo

— Matt, Acorda! – disse enquanto jogava minha roupa em cima dele

— Ah, só mais uns 5 minutinhos... – Matt dizia enquanto se aconchegava mais e mais entre as cobertas

— Matt, anda logo! Já passou das 10 horas! – disse, chacoalhando-o na cama

— O QUE? – Matt parece finalmente ter despertado – Vamos nos atrasar! De novo! Por que não me acordou antes? – ele terminou, olhando para mim com cara de bravo

Mereço, né?

— Olha aqui... eu estava tentando te acordar e você ainda fala assim comigo? – disse, na verdade, berrei para ele. Não tinha acordado muito bem hoje

— Nossa... parece que você não resolveu tudo ontem com ele, né? – Matt dizia, enquanto tirava a blusa

— Não resolvi... e por que acha que meus assuntos era com o... Near? – perguntei com certo receio, com medo dele saber sobre...

Você sabe

— E Matt, por que está tirando sua roupa? – perguntei observando-o tirar agora suas calças ficando só de cueca

— Porque eu vou tomar banho – falava, entrando no banheiro – E porque, se seus assuntos não fossem com o Near você não seria o Mello haha – ele disse fechando a porta na minha cara, me deixando do lado de fora com essa resposta

— Matt! Sai daí agora que quem vai tomar banho primeiro sou eu! – eu berrava com aquele idiota enquanto chutava a porta...

Meu dia já tinha começado bem, né

E ainda tinha muita coisa por vir...

.

.

.

.

.

Near’s POV

.

Eu tinha acordado

Feito minha rotina matinal

Fui ao refeitório

Tomei café da manhã com uma pequena parcela de alunos que se dispunham a acordar às 9 horas da manhã

E nesse período não tinha o visto

Não vou dizer que fiquei esperando-o todo esse tempo

Esperando para ver se ele aparecia...

Pois não fiquei

.

Não muito...

.

.

.

Tudo bem, porque eu sei que daqui a pouco o sinal iria tocar

E todos iriam para as suas aulas

E eu o veria

Eu tiraria satisfação com ele, claro

Ele não tinha o direito de me deixar com aquela dúvida na cabeça

Ele não tinha o direito de me deixar com aquelas simples palavras

Eu ia falar com ele, sim eu ia

.

.

.

.

Fiquei divagando tanto que me esqueci da hora

O sinal tinha acabado de tocar

Eu junto com todos os 1% dos alunos que acordaram cedo fomos para as nossas classes

Eu estava quase lá...

Queria muito falar com ele

Não tinha dormido bem com aquela dúvida na cabeça

Mas eu estava feliz, sim

Seja mentira, seja apenas para me iludir

Mesmo se fosse só isso eu estava feliz

Feliz...

Era no que eu queria acreditar

Desde que eu deixei essas coisas chamadas sentimentos

Entrarem em mim eu estava tentando entendê-las

Mas era difícil

Muito

Já que agora eu os tinha e era muito difícil de controlá-los

Resolvi escolher qual sentir...

Eu não estava feliz

Mas eu falava para mim mesmo sempre:

 Talvez se eu não chorar, não vou sentir mais nada

.

.

.

.

Estava na porta da sala

Não vou dizer que estava ansioso para vê-lo

Mas estava

Abri a porta e vi um pequeno grupo na sala

Que já tinha chegado, os adiantados

Fui entrando e observando os rostos até me deparei com o dele

Mas não só com o dele...

.

.

Queria nunca ter entrado nessa sala

.

.

.

.

.

Mello’s POV

.

Estava no corredor com Matt

Indo pra sala

Estávamos andando tão lento quanto podíamos

Afinal, estávamos indo mais cedo que o normal para a sala

Talvez quando chegássemos lá a aula ainda nem teria começado

.

.

E isso era uma coisa boa

— Mello? – ouvi Matt me chamar, me despertando dos meus pensamentos

— Fala

— Você vai mesmo fazer isso? – ele me olhava com um misto de preocupação e incerteza – Sabe, vocês dois não combinam muito...

— Diziam a mesma coisa de você e a Linda e olha vocês agora... – terminei soltando um pequeno risinho, me lembrando também de tudo o que aconteceu por causa daqueles dois

— Sim, mas... sei lá – ele ria – Nunca imaginei vocês dois juntos, cara

— Também não, mas eu to realmente gostando sabe – disse olhando-o nos olhos – Eu queria tentar alguma coisa para ver se dar certo

— Entendo... – ele falava, coçando a cabeça – Tabom, vamos para a aula

E continuamos a andar sem dizer mais nada

As palavras não eram suficientes...

.

.

.

Chegamos à sala, depois da nossa caminhada

 Reparei no pouquíssimo de gente que tinha lá

Reparei que ela estava lá

Mas ele não estava lá

Isso não iria funcionar se ele não estivesse aqui

Mas... eu ia fazer mesmo assim

— Oi Mello!! – ela chamou por mim, e eu claro fui até ela – Oi...

— Oi, e aí – dizia enquanto me sentava na cadeira a frente dela – Eu queria falar com você...

.

.

.

 Near’s POV

.

Eu vi aquilo

Eu não queria ter visto

Mello e uma garota, sei lá quem

Se beijando

Pelos gritos e comentários das pessoas em volta reparei que provavelmente ele a pediu em namoro...

.

.

.

.

Não esperava por isso

Fui burro, essa possibilidade nem tinha passado pela minha cabeça

Fiquei tão encantado pelas palavras dele para comigo que me esqueci de todas as outras possibilidades envolventes nesse caso

Entrei na sala

Tive que entrar

Não podia ficar parado na porta só olhando para a cena...

Entrei e fingi nem notar o caos lá trás

Assim que entrei o professor apareceu logo depois:

— Que confusão é essa aqui?! – perguntava o professor de História

— O Mello ta namorando! O Mello ta namorando!

— O Mello ta namorando!

— O Mello ta namorando! – e assim se seguiu esse corinho infernal para mim e meu coração

Não precisava ouvir isso

— Okay, meus parabéns Mello! Mas agora gente, temos aula! – falava o professor já anotando coisas no quadro

Tive uma enorme vontade de olhar para trás

Na verdade, queria era ir até lá e falar para ele parar com toda essa palhaçada...

Mas seria fraqueza demais

Seria muito rebaixamento  

.

.

.

Mas eu cedi à tentação e olhei para trás

Para ele

E pela minha surpresa ele estava olhando para mim

Sua face não tinha expressão alguma

Ele simplesmente olhava para mim...

.

.

.

Ele sabia como me tirar do sério

Fiquei com raiva, mas claro não ia deixar ele perceber...

Não ia deixar ele fazer isso comigo

Não de novo

— Então turma por hoje é só! – falava o professor terminando de recolher os deveres de casa – Vocês podem ir para os seus dormitórios agora. A próxima aula vai começar mais tarde. – ele dizia, já arrumando suas coisas

— Mas por que professor? – perguntava ela, sim ela. Aquela que estava...

Vocês sabem

— O professor de Química passou mal então a aula dele vai ser suspensa hoje. Vocês só voltam agora para a aula de Biologia. – explicava ele, antes de pegar suas coisas e sair pela porta

— Uhu!!!!! – ouvia-se esse e tantos outros alunos comemorando

Realmente, não precisava

Eu queria sair dali logo

Estava no corredor

E ia para o meu quarto, ficar sozinho

Sem ninguém

Mas...

.

.

— Near? Posso falar com você?

É, não ia conseguir

Continuei andando até o meu quarto, fingindo não ter ouvido nada

Pensando que talvez ele desista, mas não

— Near! Qual foi? Quero falar com você! – ele andava só um pouco atrás de mim. – Por favor, cacete!

Como todas as outras turmas estavam em aula e só a nossa tinha sido liberada

Não ia ter risco de ninguém nos ver agora

Era a oportunidade perfeita

— Near! – ele insistia – Tá, já que não quer falar eu falo – ele dizia ainda atrás de mim, me acompanhando aonde eu fosse – Olha, eu sei o que você sente, lembra? E eu já disse que não ia retribuir a esse amor! - ...

Quando ele disse aquilo eu parei de andar e ele parou também

Já tinha chegado ao meu destino

Eu não agüentei, precisava da verdade:

— Mello, por favor... – eu nem sequer me virei, apenas falei capturando sua atenção - Mesmo que eu não consiga entender, eu aguento a dor. Me dê a verdade – eu supliquei. Eu juro, só queria entender

Ficando atrás de mim e continuando a ficar ao pé do meu ouvido, ele disse:

— Não é por que você gosta de mim que eu não tenha que gostar de ninguém! Eu gosto dela a um tempo, me sinto feliz com ela! Eu sei que para você deve ser difícil, só não quero que você planeje vingança e conte para todo mundo sobre... nós – ele dizia, encostando-se numa parede qualquer – Eu gosto muito dela, não queria que você soubesse assim...

Não disse nada

Não queria dizer nada

Não conseguiria dizer nada

Ele estava certo...

Fazer o que...

Mas eu queria meu adeus

.

.

.

Nesse momento eu me virei

Olhei-o nos olhos

Eu o beijei

Um beijo desesperado, urgente

E ao mesmo tempo cuidadoso, inocente

Eu o beijava com necessidade

Minha língua vasculhando tudo que podia

Eu pensei que ele fosse ficar nervoso e bravo

Mas não

Ele retribuiu também

Passou a por a mão por debaixo da minha camisa, arranhando levemente minhas costas

Eu invadi sua blusa com minha mão e espalmava seu abdômen

Ele ora acariciava minha cabeça, ora puxava com força os meus cabelos

Ficamos um tempo nisso

Tempo até demais

Tempo o suficiente para eu abrir a porta do meu quarto e jogá-lo lá dentro

Fechei a porta atrás de nós e sem perder tempo avancei em seus lábios de novo

Nos beijávamos com muito calor, tesão

 Tesão o suficiente para ele me jogar na cama e ficar por cima de mim...

.

.

.

.

.

Mas não aconteceu nada

Ficamos só nos beijando mais e mais

Acho que ficamos assim por horas, dias

Não sei

Perdi a noção do tempo

Até ele dizer:

— Near, N-near... Chega, eu não p-posso – ele falava entre os beijos

Eu não tava nem aí

— Near! Chega! – ele falou e se levantou da cama

— Se era para parar assim você nem devia ter começado. – falei para ele, ajeitando minhas roupas

— Voce me beijou primeiro! – ele dizia nervoso, passando a mão em seus cabelos – Near, isso nunca aconteceu! Não pode falar para ninguém! Okay? – ele me perguntava. Eu via em seus olhos o pânico – Eu gosto mesmo dela! Por favor...

.

.

.

Okay Mello, assim será

— Tá, tudo bem... – falei, já me levantando e abrindo a porta – Já pode ir Mello

Ele me olhava, simplesmente me olhava

Igual na sala de aula

Um olhar vazio

Ele ajeitou as roupas e ia saindo

— Mello... – eu o chamei, antes dele sair completamente. Ele se virou e me olhou. Era hora de dizer mais uma vez... – Eu te amo

Ele não disse nada na hora, apenas abaixou a cabeça e saiu do meu quarto

No corredor ele sussurrou:

— Desculpa... e tchau

E eu com sussurro audível aos seus ouvidos disse:

— Tchau também... Tudo bem, Mello... Se a felicidade é ela, estou feliz por você...

.

.

.

E eu fechei a porta...

Não se tinha mais o que falar ou fazer

Tinha acabado... tudo

E eu não passei na matéria...

Não fui um bom aluno

.

.

.

.

.

Como eu odeio esse negócio de sentimentos!

Queria nunca ter tido isso

Por quê?

Eu não sei...

.

.

.

.

Agora só me resta agir normalmente como antes

Como se nada tivesse acontecido

Como se fosse tudo um sonho

Preciso me tornar mais forte

Me esforçar mais para ser L...

Para que todos me vejam em pé de novo

Mas vou estar morrendo no chão...

.

.

.

.

.

Tudo bem, eu e meu coração

Nós vamos conseguir superar

Temos que conseguir superar...

Eu só queria nunca ter deixado de ser...

Nunca ter deixado de estar...

Frio como uma pedra...

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

.

“Nós apenas dizemos adeus com palavras

Eu morri centenas de vezes

Você vai voltar pra ela

E eu vou voltar pro preto”

— Amy Winehouse, 2006


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ensinando a Beijar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.