Ensinando a Beijar escrita por Pakkuna
PARTE 0 – RELATOS DE UMA ESPECTADORA
.
Olá
.
Eu sou alguém
Não faço parte da historia, nem nunca fiz
Apesar de já ser confundida com Deus...*
Só estou aqui para avisar a vocês
Alertar vocês
Se vocês vieram aqui com a esperança de um final feliz
Vão embora agora, saiam daqui!
Essa não é uma historia de um casalzinho perfeito que passa por muitas e sérias dificuldades mais no final acabam juntos e felizes para sempre...
Não...
Jamais se prometeu um final doce e açucarado
Aqui não é como nos livros e filmes que estamos acostumados a ver, ouvir e ler
Isso é a vida real
E ela é dura
Ela não é perfeita
Nem todos acabam juntos e felizes para sempre...
O “Eu Te Amo” pode ser palavras vazias
Os beijos calorosos e apaixonantes podem ser só beijos
As noites de amor e paixão podem ser apenas sexo selvagem
O “Apaixonados” nem todas as vezes dá certo
O “Felizes Para Sempre” não cabe a todo mundo
.
.
Mas sempre existe um final
O Final
E eu já disse e repito: Se vieram aqui em busca de um final lindo, gracioso, maravilhoso e perfeito
Saia daqui enquanto você tem tempo
Pois se você começar a ler... Não terá mais volta...
Seu coração não se consertará mais
Sua mente não fará te esquecer disso
Seus olhos, talvez, não farão você chorar menos
Vou perguntar de novo...
É isso que você quer?
Você está mesmo pronto para isso?
.
.
.
.
.
.
Bem, acho que sim...
Então, tudo bem...
Mas não diga depois que eu não avisei
Francamente, eu não ligo
.
.
O enterro é do seu coração
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Near’s POV
.
Só quero dizer algumas coisas...
Vocês vieram até aqui só para assitir ao meu fim...
Obrigado... assim não passo por isso sozinho
Eu aprendi muitas com tudo isso vivido...
Aprendi que o amor pode machucar...
Mas é a única coisa que eu sei
Você sabe que pode ficar difícil algumas vezes
Mas é a única coisa que nos prova de que estamos vivos
.
.
.
Vou manter essa história aqui dentro
E fingir que foi um sonho
Vou continuar com meu “coração que nunca se partiu”
Com meus “olhos que nunca se fecharam para chorar”
E congelar essa história para sempre
.
.
.
.
.
PARTE 1 – Brilhante Inocência, Momento Perfeito
.
Flashback ON
.
Mello’s POV
.
Eu estava lá de novo
De uma forma ou de outra eu sempre acabava lá de novo
Bati na porta
Ia acabar logo com isso de uma vez
Ouvia passos do outro lado da porta
Eu não queria vê-lo
Não agora
Mas era preciso
Não... eu queria vê-lo agora
Por mais que eu odiasse admitir:
Era muito bom
.
.
.
Ele abriu a porta
Com sua expressão fria de sempre
Aquele que consegue me tirar do sério
Que me faz sentir nojo
Que me faz enlouquecer
Ele
Vocês sabem de quem estou falando
— Oi Mello – ele disse, frio
Francamente, acho que ele conseguiria fazer melhor que isso
— Nossa, que frieza . Eu também não estou feliz em olhar para a sua cara de novo – disse, entrando agora completamente no quarto dele olhando o que ele tinha em seu quarto
Detalhe por detalhe:
Cada quebra-cabeça espalhado pelo chão
Cada pilha de cartas montada
Cada coisa da sua mesinha devidamente guardada e arrumada
Sua cama totalmente feita e sem qualquer imperfeição
.
.
.
Ele era bem diferente de mim
Na verdade, ele é totalmente o oposto do que eu sou
Parece que é verdade o que dizem:
Cada anjinho tem seus demônios
.
— Então por que está aqui? – ele dizia enquanto fechava a porta
Afinal, por que estava aqui mesmo?
Ah, sim...
— Ah, eu to aqui para acabar logo com a minha promessa de uma vez. – Sim, isso mesmo - Para nós dois ficarmos livres um do outro de uma vez por todas – eu falava enquanto ficava olhando e reparando novamente em seu quarto. Não, olhá-lo agora não dava. – Ah, eu nem sei como eu me envolvi em tudo isso mais
— Eu sei. – ele disse, captando minha atenção. Quem sabe ele não tivesse a resposta? - Foi quando você me beijou na frente de todos – ele disse, com direito a sorrisinho irônico e tudo
Ah,não precisava lembrar, Near!
— Hum, senta aqui logo – eu mandei, já me sentando em sua cama
E ele sentou ao meu lado, como um bom menino
Não sabia como começar tudo isso
.
.
— E agora? Vamos conversar – ele ironizou, em razão a nossa última aula
Não brinca comigo não Near!
Hoje eu não estou bem!
— Não me estressa – eu falei, não precisávamos disso agora – Só... – eu tinha que fazer - Me beija e eu vou tentar corrigir algum erro – falei, apoiando um braço na cama e olhando em direção a ele
Sinceramente, fiquei com medo
Eu pensei que ele fosse me agarrar loucamente e me beijar até eu desmaiar
Mas ele não fez isso
Simplesmente ficou parado enrolando uma mecha daquele cabelo tão branco que me deixava cego
Não fez nada
Não disse nada
.
.
.
.
.
.
Já disse para não brincar comigo, Near
Hoje eu não estou nos meus melhores dias
— Que foi? Anda logo! Devia estar me agarrando e me tirando todo o ar – falei mesmo, ele não ia me fazer de idiota depois de tudo. Era minha vez de brincar! – Não era isso que queria, amorzinho?
Só para torturá-lo um pouco mais
— Não era não – ele falou olhando fixamente para mim. Juro, não pensei que ele fosse responder isso.
.
.
.
.
.
Nesse momento meu cérebro resolveu funcionar
Estava tudo tão claro agora!
Near...
E ele ainda continuou:
– Você pode me dar um milhão de beijos, eu preferiria que você me desse ao menos um verdadeiro – falou, desviando agora o seu olhar
Ele achava que me enganava...
Agora que eu sei
.
.
Vou fazer minha brincadeira durar ainda mais
Parece que ele já chegou ao ponto de mendigar amor
Pumft, ridículo
Okay Near, eu vou jogar seu jogo:
— O que falta nos meus beijos? – perguntei a ele, olhando-o bem
— O que falta nos seus beijos Mello é o mesmo que falta nos de muita gente: Amor
Juro para vocês, eu nunca tive tanta dificuldade de segurar o riso quanto nessa vez
Que raios de resposta era aquela? Hahaha...
Mas como eu já tinha dito, eu ia jogar o joguinho dele
— Amor? Tá brincando? – soltei uma pequena risada, mas nada comparado ao que eu queria rir naquele momento, enquanto endireitava minha postura – Pra que amor?Ah é, tinha me esquecido: Você está em amor – dizia enquanto soltava um pouco do meu riso preso em sua cara.
Mas agora
Era hora de voltar ao meu jogo:
- Caso você também não lembre eu sou o professor aqui! – disse, enfatizando o ”professor”
— Então me ensine alguma coisa! – falou, sua voz aparentando impaciência
Quem ele achava que era para falar assim comigo?
Tinha sido um dia estressante para nós dois, mas ele não tinha esse direito
Eu queria acabar logo com isso
Precisava acabar logo
.
.
.
Mas não, agora que eu entendi tudo ainda não podia acabar
Admito: Essa inocência era brilhante
E eu espero que ela dure
.
.
.
Então eu o beijei
Calmamente e ternamente
Bem diferente dos outros
Ai eu percebi o quanto esse momento era perfeito
Para ele
E precisava continuar assim
Eu entrelaçava meus dedos em seus cachos desbotados
E ele apertava minha blusa, com necessidade
Como quisesse me prender
E ficamos nisso até que fossemos interrompidos pela falta de ar
Nós dois bufávamos em busca de oxigênio
Eu não queria falar nada
Só queria sentir o momento
Mas ele falou:
— Então, como eu estou? – ele estava ainda de olhos fechados e ainda na mesma posição
.
.
.
Só um pouco mais
A roleta não podia parar de girar
— Como eu tinha dito: beijar é prática. Para você ser bom... Deve beijar bastante – disse enquanto contornava seus lábios com meus dedos
Sua inocência era brilhante
Era muito bonita e fazia você querer chorar
.
.
.
Eu sabia como o tirar do sério, se me permitem dizer
Depois, dei-lhe mais um beijo
Dessa vez mais louco e fora do normal
Sem pudores
Para ele era algo maior que isso
Comigo falando talvez seja difícil de se imaginar
Mas como estávamos nos beijando daquela vez foi de certa forma até insano
Mesmo depois de toda essa loucura acabar
Eu continuava com a mão em seus cabelos
E com outra em sua cintura
E ele, com as duas mãos agarrando meu pescoço
Ficamos assim
Eu ia percebendo mais e mais o que eu era
Um lugar seguro, sem lágrimas para ele
Pela primeira vez na vida ficou claro de se ver isso
.
.
— Sabe, seus beijos estão ficando ótimos, muito bons – eu disse não movendo um músculo se quer. Não podia quebrar isso, ainda não era a hora
— Então eu logo logo irei passar? – ele me perguntou soltando um risinho
Não respondi
Esse momento era perfeito
Tinha que ficar assim mais um pouco
Tinha que durar mais um pouco só
Me desculpe, Matt
Mas ainda não acabou
Fechei os olhos e pensei: o que viria a seguir?
Bom, eu tinha que falar alguma coisa
— Olha... Eu não estou aqui simplesmente para cumprir minha promessa – falava enquanto me endireitava. Era hora de ir, mas isso ainda não tinha acabado
— O que? – ele me perguntou, num misto de incredulidade com confusão
— Acho que já acabamos com as nossas aulas – dizia me colocando de pé e ajeitando-me – Melhor eu ir embora agora – falava indo em direção a porta
— Como? – ele perguntava, provavelmente não entendendo o que estava acontecendo
Eu estava pronto para sair dali e deixá-lo
Mas ele tinha que dizer::
— Espera aí!
Ele pediu
Near...
.
.
.
.
Esse foi o pior erro da sua vida
— Não estou aqui pelo seu amor, por causa dessa promessa, ou qualquer coisa assim
Pode ficar com sua inocência
Eu não a quero
— Seus beijos são bons. Bom, considere-se aprovado. Meus parabéns, Near – disse simplesmente antes de fechar a porta
.
.
.
.
.
.
Flashback OFF
.
.
Near’s POV
.
.
Se eu não me engano, agora são sete e meia da manhã
Não dormi
Ainda com aquelas palavras na cabeça
“Seus beijos são bons”
E eu ainda pensando nele
E em tudo isso
Eu queria de verdade
Dizer tudo naquela hora
Dizer: “Por favor, não vá embora
Eu preciso de você agora, aqui...”
Mas eu vou me prender a isso
E não vou deixar passar em branco
.
.
Me levanto e vejo que está tudo bem
Pela primeira vez na vida, e é ótimo
Lentamente, olho em volta
E fico impressionado
Penso nas pequenas coisas que tornam a vida boa...
Eu não mudaria nada, mais nada
Essa é a melhor sensação
.
.
.
.
.
.
PARTE 2 – Se a Felicidade é Ela, Então Estou Feliz Por Você
.
Mello’s POV
.
Acordei normalmente e no horário que eu sempre acordava
Tarde
Eram umas 10h
Eu olhei pro lado e vi o Matt ainda dormindo
Foi aí que me lembrei de tudo
Tudo o que tinha acontecido e o que iria acontecer
Eu tinha uma ideia do que iria fazer
Mas ainda estou com dúvidas ...
Me lembrei de ontem com o Near
Me lembrei também do meu desespero de querer abrir a porta do quarto trancada com um Matt dormindo do lado de dentro
Me lembrei de ter ficado até altas horas pensando em tudo...
Acho que sei o que tenho que fazer
Mas tenho medo também do que pode acontecer...
.
.
.
.
Me levantei da cama decidido do que eu iria fazer hoje
Peguei uma muda de roupa e iria para o banheiro
Claro, sem não antes acordar o Matt né:
— Ahn... que é? – Matt resmungava enquanto eu tentava desperta-lo
— Matt, Acorda! – disse enquanto jogava minha roupa em cima dele
— Ah, só mais uns 5 minutinhos... – Matt dizia enquanto se aconchegava mais e mais entre as cobertas
— Matt, anda logo! Já passou das 10 horas! – disse, chacoalhando-o na cama
— O QUE? – Matt parece finalmente ter despertado – Vamos nos atrasar! De novo! Por que não me acordou antes? – ele terminou, olhando para mim com cara de bravo
Mereço, né?
— Olha aqui... eu estava tentando te acordar e você ainda fala assim comigo? – disse, na verdade, berrei para ele. Não tinha acordado muito bem hoje
— Nossa... parece que você não resolveu tudo ontem com ele, né? – Matt dizia, enquanto tirava a blusa
— Não resolvi... e por que acha que meus assuntos era com o... Near? – perguntei com certo receio, com medo dele saber sobre...
Você sabe
— E Matt, por que está tirando sua roupa? – perguntei observando-o tirar agora suas calças ficando só de cueca
— Porque eu vou tomar banho – falava, entrando no banheiro – E porque, se seus assuntos não fossem com o Near você não seria o Mello haha – ele disse fechando a porta na minha cara, me deixando do lado de fora com essa resposta
— Matt! Sai daí agora que quem vai tomar banho primeiro sou eu! – eu berrava com aquele idiota enquanto chutava a porta...
Meu dia já tinha começado bem, né
E ainda tinha muita coisa por vir...
.
.
.
.
.
Near’s POV
.
Eu tinha acordado
Feito minha rotina matinal
Fui ao refeitório
Tomei café da manhã com uma pequena parcela de alunos que se dispunham a acordar às 9 horas da manhã
E nesse período não tinha o visto
Não vou dizer que fiquei esperando-o todo esse tempo
Esperando para ver se ele aparecia...
Pois não fiquei
.
Não muito...
.
.
.
Tudo bem, porque eu sei que daqui a pouco o sinal iria tocar
E todos iriam para as suas aulas
E eu o veria
Eu tiraria satisfação com ele, claro
Ele não tinha o direito de me deixar com aquela dúvida na cabeça
Ele não tinha o direito de me deixar com aquelas simples palavras
Eu ia falar com ele, sim eu ia
.
.
.
.
Fiquei divagando tanto que me esqueci da hora
O sinal tinha acabado de tocar
Eu junto com todos os 1% dos alunos que acordaram cedo fomos para as nossas classes
Eu estava quase lá...
Queria muito falar com ele
Não tinha dormido bem com aquela dúvida na cabeça
Mas eu estava feliz, sim
Seja mentira, seja apenas para me iludir
Mesmo se fosse só isso eu estava feliz
Feliz...
Era no que eu queria acreditar
Desde que eu deixei essas coisas chamadas sentimentos
Entrarem em mim eu estava tentando entendê-las
Mas era difícil
Muito
Já que agora eu os tinha e era muito difícil de controlá-los
Resolvi escolher qual sentir...
Eu não estava feliz
Mas eu falava para mim mesmo sempre:
Talvez se eu não chorar, não vou sentir mais nada
.
.
.
.
Estava na porta da sala
Não vou dizer que estava ansioso para vê-lo
Mas estava
Abri a porta e vi um pequeno grupo na sala
Que já tinha chegado, os adiantados
Fui entrando e observando os rostos até me deparei com o dele
Mas não só com o dele...
.
.
Queria nunca ter entrado nessa sala
.
.
.
.
.
Mello’s POV
.
Estava no corredor com Matt
Indo pra sala
Estávamos andando tão lento quanto podíamos
Afinal, estávamos indo mais cedo que o normal para a sala
Talvez quando chegássemos lá a aula ainda nem teria começado
.
.
E isso era uma coisa boa
— Mello? – ouvi Matt me chamar, me despertando dos meus pensamentos
— Fala
— Você vai mesmo fazer isso? – ele me olhava com um misto de preocupação e incerteza – Sabe, vocês dois não combinam muito...
— Diziam a mesma coisa de você e a Linda e olha vocês agora... – terminei soltando um pequeno risinho, me lembrando também de tudo o que aconteceu por causa daqueles dois
— Sim, mas... sei lá – ele ria – Nunca imaginei vocês dois juntos, cara
— Também não, mas eu to realmente gostando sabe – disse olhando-o nos olhos – Eu queria tentar alguma coisa para ver se dar certo
— Entendo... – ele falava, coçando a cabeça – Tabom, vamos para a aula
E continuamos a andar sem dizer mais nada
As palavras não eram suficientes...
.
.
.
Chegamos à sala, depois da nossa caminhada
Reparei no pouquíssimo de gente que tinha lá
Reparei que ela estava lá
Mas ele não estava lá
Isso não iria funcionar se ele não estivesse aqui
Mas... eu ia fazer mesmo assim
— Oi Mello!! – ela chamou por mim, e eu claro fui até ela – Oi...
— Oi, e aí – dizia enquanto me sentava na cadeira a frente dela – Eu queria falar com você...
.
.
.
Near’s POV
.
Eu vi aquilo
Eu não queria ter visto
Mello e uma garota, sei lá quem
Se beijando
Pelos gritos e comentários das pessoas em volta reparei que provavelmente ele a pediu em namoro...
.
.
.
.
Não esperava por isso
Fui burro, essa possibilidade nem tinha passado pela minha cabeça
Fiquei tão encantado pelas palavras dele para comigo que me esqueci de todas as outras possibilidades envolventes nesse caso
Entrei na sala
Tive que entrar
Não podia ficar parado na porta só olhando para a cena...
Entrei e fingi nem notar o caos lá trás
Assim que entrei o professor apareceu logo depois:
— Que confusão é essa aqui?! – perguntava o professor de História
— O Mello ta namorando! O Mello ta namorando!
— O Mello ta namorando!
— O Mello ta namorando! – e assim se seguiu esse corinho infernal para mim e meu coração
Não precisava ouvir isso
— Okay, meus parabéns Mello! Mas agora gente, temos aula! – falava o professor já anotando coisas no quadro
Tive uma enorme vontade de olhar para trás
Na verdade, queria era ir até lá e falar para ele parar com toda essa palhaçada...
Mas seria fraqueza demais
Seria muito rebaixamento
.
.
.
Mas eu cedi à tentação e olhei para trás
Para ele
E pela minha surpresa ele estava olhando para mim
Sua face não tinha expressão alguma
Ele simplesmente olhava para mim...
.
.
.
Ele sabia como me tirar do sério
Fiquei com raiva, mas claro não ia deixar ele perceber...
Não ia deixar ele fazer isso comigo
Não de novo
— Então turma por hoje é só! – falava o professor terminando de recolher os deveres de casa – Vocês podem ir para os seus dormitórios agora. A próxima aula vai começar mais tarde. – ele dizia, já arrumando suas coisas
— Mas por que professor? – perguntava ela, sim ela. Aquela que estava...
Vocês sabem
— O professor de Química passou mal então a aula dele vai ser suspensa hoje. Vocês só voltam agora para a aula de Biologia. – explicava ele, antes de pegar suas coisas e sair pela porta
— Uhu!!!!! – ouvia-se esse e tantos outros alunos comemorando
Realmente, não precisava
Eu queria sair dali logo
Estava no corredor
E ia para o meu quarto, ficar sozinho
Sem ninguém
Mas...
.
.
— Near? Posso falar com você?
É, não ia conseguir
Continuei andando até o meu quarto, fingindo não ter ouvido nada
Pensando que talvez ele desista, mas não
— Near! Qual foi? Quero falar com você! – ele andava só um pouco atrás de mim. – Por favor, cacete!
Como todas as outras turmas estavam em aula e só a nossa tinha sido liberada
Não ia ter risco de ninguém nos ver agora
Era a oportunidade perfeita
— Near! – ele insistia – Tá, já que não quer falar eu falo – ele dizia ainda atrás de mim, me acompanhando aonde eu fosse – Olha, eu sei o que você sente, lembra? E eu já disse que não ia retribuir a esse amor! - ...
Quando ele disse aquilo eu parei de andar e ele parou também
Já tinha chegado ao meu destino
Eu não agüentei, precisava da verdade:
— Mello, por favor... – eu nem sequer me virei, apenas falei capturando sua atenção - Mesmo que eu não consiga entender, eu aguento a dor. Me dê a verdade – eu supliquei. Eu juro, só queria entender
Ficando atrás de mim e continuando a ficar ao pé do meu ouvido, ele disse:
— Não é por que você gosta de mim que eu não tenha que gostar de ninguém! Eu gosto dela a um tempo, me sinto feliz com ela! Eu sei que para você deve ser difícil, só não quero que você planeje vingança e conte para todo mundo sobre... nós – ele dizia, encostando-se numa parede qualquer – Eu gosto muito dela, não queria que você soubesse assim...
Não disse nada
Não queria dizer nada
Não conseguiria dizer nada
Ele estava certo...
Fazer o que...
Mas eu queria meu adeus
.
.
.
Nesse momento eu me virei
Olhei-o nos olhos
Eu o beijei
Um beijo desesperado, urgente
E ao mesmo tempo cuidadoso, inocente
Eu o beijava com necessidade
Minha língua vasculhando tudo que podia
Eu pensei que ele fosse ficar nervoso e bravo
Mas não
Ele retribuiu também
Passou a por a mão por debaixo da minha camisa, arranhando levemente minhas costas
Eu invadi sua blusa com minha mão e espalmava seu abdômen
Ele ora acariciava minha cabeça, ora puxava com força os meus cabelos
Ficamos um tempo nisso
Tempo até demais
Tempo o suficiente para eu abrir a porta do meu quarto e jogá-lo lá dentro
Fechei a porta atrás de nós e sem perder tempo avancei em seus lábios de novo
Nos beijávamos com muito calor, tesão
Tesão o suficiente para ele me jogar na cama e ficar por cima de mim...
.
.
.
.
.
Mas não aconteceu nada
Ficamos só nos beijando mais e mais
Acho que ficamos assim por horas, dias
Não sei
Perdi a noção do tempo
Até ele dizer:
— Near, N-near... Chega, eu não p-posso – ele falava entre os beijos
Eu não tava nem aí
— Near! Chega! – ele falou e se levantou da cama
— Se era para parar assim você nem devia ter começado. – falei para ele, ajeitando minhas roupas
— Voce me beijou primeiro! – ele dizia nervoso, passando a mão em seus cabelos – Near, isso nunca aconteceu! Não pode falar para ninguém! Okay? – ele me perguntava. Eu via em seus olhos o pânico – Eu gosto mesmo dela! Por favor...
.
.
.
Okay Mello, assim será
— Tá, tudo bem... – falei, já me levantando e abrindo a porta – Já pode ir Mello
Ele me olhava, simplesmente me olhava
Igual na sala de aula
Um olhar vazio
Ele ajeitou as roupas e ia saindo
— Mello... – eu o chamei, antes dele sair completamente. Ele se virou e me olhou. Era hora de dizer mais uma vez... – Eu te amo
Ele não disse nada na hora, apenas abaixou a cabeça e saiu do meu quarto
No corredor ele sussurrou:
— Desculpa... e tchau
E eu com sussurro audível aos seus ouvidos disse:
— Tchau também... Tudo bem, Mello... Se a felicidade é ela, estou feliz por você...
.
.
.
E eu fechei a porta...
Não se tinha mais o que falar ou fazer
Tinha acabado... tudo
E eu não passei na matéria...
Não fui um bom aluno
.
.
.
.
.
Como eu odeio esse negócio de sentimentos!
Queria nunca ter tido isso
Por quê?
Eu não sei...
.
.
.
.
Agora só me resta agir normalmente como antes
Como se nada tivesse acontecido
Como se fosse tudo um sonho
Preciso me tornar mais forte
Me esforçar mais para ser L...
Para que todos me vejam em pé de novo
Mas vou estar morrendo no chão...
.
.
.
.
.
Tudo bem, eu e meu coração
Nós vamos conseguir superar
Temos que conseguir superar...
Eu só queria nunca ter deixado de ser...
Nunca ter deixado de estar...
Frio como uma pedra...
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
“Nós apenas dizemos adeus com palavras
Eu morri centenas de vezes
Você vai voltar pra ela
E eu vou voltar pro preto”
— Amy Winehouse, 2006
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!