Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 87
Um flashback muito louco -parte 2


Notas iniciais do capítulo

Hi! :D

"E a perseguição continua sem cessar. Será que eles vão conseguir escapar?"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/748924/chapter/87

—Vamos até a TARDIS... Precisamos saber o que aconteceu.

E desataram a correr, desviando dos passantes, até adentrar novamente na galeria de jogos.

Encontraram a TARDIS na mesma posição de antes: sentada e com os olhos cobertos pelas mãos. Agora que estavam bem perto dela, ainda podiam ouvi-la murmurar alguma coisa... Números na verdade, o que de fato, não fazia sentido algum.

—1496... 1497... 1498... 1499...

—TARDIS? –Luisa pôs a mão em seu ombro e a ex-nave deu um súbito e inesperado grito de pavor, que assustou todo mundo.

—Ai! Mais o quê foi agora? –praguejou Melissa, irritada com o susto.

—Calma, TARDIS. Somos nós! Só nós... –Luisa conversou com ela, falando baixinho.

—Ah. Que bom. –disse a mulher, apertando as mãos contra o peito. –Eu pensei que fosse o Doutor. Acreditam que eu passei mais de cinqüenta minutos explicando as regras pra ele? Eu avisei que poderia ser perigoso, mas ele quis mesmo assim.

—Perigoso? –Melissa gemeu, temendo pelo pior. –Mas... Onde está o Senhor do Tempo? O que aconteceu com ele?

—Com ele? Nada que eu saiba. –ela disse, dando de ombros. –Deve estar por aí, se escondendo. Era isso, ou pagar com a vida.

—Estou chocada... Realmente chagamos tarde –Luisa lamentou, sentando-se em um banquinho. –Mesmo depois de tudo que passou, ele ainda resiste em se entregar. Eu imagino que ainda deva estar fugindo daquelas pragas peludas... Sozinho e confuso, por essa imensidão de Shopping. Coitado. –suspirou.

Pragas peludas?—a TARDIS fez uma careta, e inclinou-se para Melissa. –Luisa está recitando algum tipo de poema ou coisa parecida?

—Poema? –Melissa retorquiu com uma careta. –Não sei o que quer dizer com isso.

—Bom, vocês duas, deixem-me terminar de contar, ou então quem terá que pagar com a vida serei eu. –disse a TARDIS, tranqüilamente, deixando as outras duas preocupadas.

—O quê? Eles te ameaçaram? –perguntaram, mas a TARDIS já voltara a contar números em voz alta, e por isso a voz das meninas ficou em segundo plano.

—1498... 1499... 1500! Aí vou eu!—disse com entusiasmo, então ergueu-se da cadeira com um sobressalto, levou a mão próxima aos olhos, como se procurasse algo no horizonte e girou o corpo para todas as direções da loja, até que fixou o olhar em alguma coisa e saiu correndo na direção dela. Luisa e Melissa observaram-na se afastar, intrigadas. –Encontrei! Encontrei! Vinte vezes seguidas, yes! Vai ter que me pagar com sua última vida!

Ah... Não!—gemeu a 6ª encarnação do Senhor do Tempo, imergindo com uma máscara de mergulhador, de dentro de uma grande piscina de bolinhas. –Que injustiça, TARDIS! Desta vez eu me escondi direitinho... Como foi que me encontrou?

—Eu sou telepata. Nossos pensamentos estão interligados. Sei sempre onde você está, esqueceu? –ela sorriu gentilmente, ajudando-o a sair da piscina seca. Então estendeu a mão, como se esperasse por algo. –Certo. Agora me pague com sua última vida.

O Doutor fechou a cara.

Arrrr... Tá bom! Tome logo isso. Você ganhou o jogo. —resmungando, entregou-lhe uma carta de papelão, parecida com um exemplar de baralho, que aparentemente devia pertencer a algum jogo de tabuleiro.

—Isso! –a TARDIS comemorou. –Eu sou a campeã de “Esconda-se ou Pague com sua Vida!

—Sim. Você é, sem dúvida, muito espertinha. –ele reconheceu, rindo com os saltos de alegria da mulher máquina do tempo. –Para o seu primeiro jogo oficial, você até que foi bem demais. Estou orgulhoso.

Nho... Obrigada Doutor! –ela abraçou-o, comovida com o discurso dele. –Significa tanto pra mim! Até pouco tempo, eu não sabia o verdadeiro significado da palavra “diversão”...

—Pois agora você ficou sabendo. –ele riu.

Feliz por ele ter reagido bem ao ter perdido a brincadeira, a TARDIS sentiu-se inspirada o bastante para vasculhar a mente em busca de uma recompensa.

—Feche os olhos –ela instruiu, fechando as mãos ao redor da dele. Ficaram alguns segundos conectados, e então ela disse “Pode abrir”, ao que ele o fez e sorriu ainda mais largo.

—Oh! MEU BROCHE DE GATINHO! O meu FAVORITO! –ele disse, encantado, observando o objeto pequeno e branco na palma de sua mão, com tamanha empolgação. –Como você o encontrou? –ele perguntou, já prendendo o acessório nas roupas maltrapilhas.

Apesar da sala de controles ter se tornado francamente inacessível, combinemos que um guarda-roupas gigante é bem mais difícil de desaparecer de vista—ela sorriu. –E eu ainda me lembro onde você guarda cada coisa... –e apontou para a própria cachola, onde habitava sua mente criativa, de pensamentos infinitos.

—TARDIS, você é dez! –ele agradeceu, muito satisfeito. Ajeitou a gola da camisa surrada e fez cara de gente importante. –Como eu estou? Fiquei mais atraente?

—Ficou mais bobo. –a TARDIS implicou, e ele segurou o riso. Sentindo-se leve, saiu caminhando sem direção, e foi dar logo de cara com Luisa e Melissa.

—Ah... Tudo bem com vocês? –o Doutor perguntou para as outras duas. Só agora ele percebera a cara de espanto das amigas, ao fitá-lo.

É você! —Luisa deixou a sacola de roupas usadas cair ao lado de seus pés, e caminhou até ele, como se estivesse vendo uma miragem. –Não acredito! Você está bem! Oh meu Deus! Eu fiquei tão preocupada...—ela tagarelou, após tê-lo tocado, tateado, abraçado... Tendo completa certeza de que ele estava realmente ali, bem na sua frente. 

—Ei... Eu estou perfeitamente bem –ele sorriu, segurando-a pelos ombros, mas Luisa ainda parecia um tanto perplexa. –Ora, o que pensou que me tivesse acontecido?

—Pensei que tivessem encontrado você... Aqueles ratos horríveis!—ela enxugou uma lágrima, aliviada. –Mas você está bem. Isso é o que importa.

Ai!—inesperadamente, o Doutor gemeu, massageando o traseiro e olhando em seguida para Melissa, inconformado. –Você me espetou com um dardo de brinquedo!—protestou, encarando a peça. –Porque raios me espetou com um dardo de brinquedo!?

—NUNCA MAIS ME DEIXE PREOCUPADA! –ela ralhou em seu ouvido, em resposta. –Se não quiser levar umas palmadas também, é melhor tomar mais cuidado da próxima vez, seu cabeça fresca!

—Mas eu não entendo... Eu não fiz nada para deixá-la zangada. –o Doutor disse, confuso. –Eu fiz alguma coisa? –perguntou ingênuo, para Luisa.

—Não. Você definitivamente não fez nada. –Luisa ficou abraçada com ele durante um tempo. -Não fique chateado com Melissa. Ela ficou realmente muito preocupada com você... E eu também. –Luisa tocou a ponta do nariz dele, com o dedo, só para descontrair.

—Ora, venham cá vocês duas -o Doutor tinha um dos braços envolto às costas de Luisa, e se utilizou do outro braço livre, para passá-lo em volta de Melissa também. –Não precisam ficar aflitas. Está tudo bem conosco, não é TARDIS?  

—Sim. Ficamos aqui o tempo todo e nada aconteceu. Nenhum rato apareceu, nem nada. Apenas ficamos nos entretendo com os jogos, e o tempo passou voando enquanto vocês estiveram fora.

—Ah, falando nisso –Luisa abriu sua sacola. –Arranjamos várias roupas pra você!

O Doutor começou a revirar a pilha e fez uma careta depois.

—Um Kilt? –exclamou, mostrando a saia quadriculada para elas. –Eu vou ter que usar um Kilt? Mas eu nem sou escocês!

—Não é pra você, bobo! –Melissa arrancou a peça das mãos dele. –Tinha muita coisa nos achados e perdidos e eu acabei pegando algumas roupas por conta própria, pro caso de a gente também precisar se disfarçar.

—Grande idéia Melissa. –aprovou a TARDIS. –Hã... Mas para quê um par de óculos escuros?

—Para o caso de tentarem usar desneuralizador cerebral em nós. –disse Melissa.

—Você anda assistindo muita ficção –brincou o Doutor. –Mas, de qualquer forma, até que os óculos são legais.

Óculos, saias, calças... –suspirou Luisa, sentando-se sob uma mesa de sinuca galáctica. -Precisamos mesmo é de um plano. Não podemos continuar a ficar fugindo descompassadamente, desse jeito...

—Então não vamos mais fugir! –decidiu o Doutor, pegando todo mundo de surpresa. –Daqui pra frente vamos enfrentá-los, como deve ser feito! –e subiu na mesa, para discursar. Mas suas palavras foram interrompidas por uma bolinha de críquete que atravessou a vitrine da loja, espatifando o vidro azulado e atingindo em cheio a cabeça do Doutor. Ele perdeu a consciência momentaneamente e tombou para trás, caindo sob a piscina de bolinhas, que amorteceu sua queda. Esse foi o único lado bom, pois as garotas todas se alarmaram ao depararem-se com os responsáveis pelo disparo.

—Olhe! São os Ratongos! –gritou a TARDIS. –Eles nos acharam!

—Vão vir nos pegar... Salve-se quem puder! —Melissa já ia correr, quando Luisa segurou-a no mesmo lugar.

—Não... Olha! –e insistiu para que ela observasse mais uma vez o lugar onde os ratos estavam. Melissa o fez e ficou confusa, pois agora não havia mais sinal deles. Desapareceram de um segundo para o outro. –Sumiram. –enfatizou Luisa, avisando a TARDIS também, que fora ao socorro imediato do Doutor.

—Não entendi... –Melissa coçou a cabeça. –Pensei que eles viriam nos render.

—Mas não vieram. –Luisa repetiu, refletindo. –Ao menos que isso não seja exatamente uma perseguição... E se não estivermos brincando de “cão e gato”, como pensamos? –ela ergueu as sobrancelhas. -Talvez, eles só queiram nos atrapalhar. Tirar a gente do sério... 

—Mas para quê fazer isso? –Melissa insistiu. –Com que intuito?

Motivar as regenerações do Doutor!—disse a TARDIS, aflita, quando ele começou a acender de novo.

Se afaste daí!—Luisa puxou-a e as três se enfiaram embaixo da mesa, protegendo-se da energia regenerativa. Quando olharam de novo, lá estava um outro homem: alto, bem magro, cabelos lisos cor de palha, sobrancelhas claras e olhos bem aproximados.

—Não acredito... Esse também é ele? –questionou Melissa.

—É o 5º rosto dele. –anunciou a TARDIS, desmotivada. –O plano dos Ratongos funcionou... O Doutor acaba de se regenerar pela oitava vez. Só restam quatro a partir de agora.

Luisa teve um súbito arrepio na espinha ao pensar na possibilidade, mas era certo que cedo ou tarde, alguém tinha que fazer aquela pergunta:  

—E o que acontece quando ele chegar à última regeneração?

A TARDIS deu de ombros.

—Quem pode saber? –suspirou. -Aparentemente, estamos arriscando a vida dele para descobrir.

Ai—disse o Doutor, massageando o local onde levou a bolada com força. –Eu sempre gostei desse jogo, mas agora, começo a pegar uma certa ojeriza... –resmungou. –O que posso fazer? A coisa chegou num nível pessoal...

—Doutor, você está bem? –Luisa foi logo ajudou-o a se levantar. Nem estranhou a nova aparência do amigo. Era esquisito admitir, mas estava começando a não se importar com as mudanças. Talvez isso fosse uma mera palhinha do que acontecia quando se passava tempo demais com o Doutor: “Depois de um certo tempo, você acaba se acostumando com as coisas mais absurdas, e estranhando as mais comuns”. –Essa batida foi bem feia... Deixou até uma vermelhidão. –constatou, examinando-o.

—Impossível. A regeneração cura todo tipo de fratura ou machucado –ele interveio, mas devido o tom incômodo em sua voz, Luisa não engoliu aquela explicação.

Melissa também não se convenceu.

—Se a regeneração cura tudo, então por que você ainda está sentindo dor?

—Porque ele está enfraquecendo –explicou a TARDIS, caminhando até eles. -Devemos nos lembrar de que não se trata de uma regeneração comum, mas sim de uma desregeneração. –articulou. -O lado certo do processo pode proporcionar-lhe melhorias; O contrário, pode levá-lo à ruína. –ela declarou, passando a mão delicadamente pelo rosto dele, e seguindo adiante, parando apenas sob o local atingido, atrás da cabeça. Então fechou os olhos por um momento, curando-o. No segundo seguinte, não havia mais vermelhidão nem ardor.

Você não devia ter feito isso—ele bronqueou. –Está me ajudando, e isso enfraquece seus poderes-telepáticos. Não podemos nos dar ao luxo de ficarmos os dois, fracos, podemos? –disse, equivocado. Mas a TARDIS apenas sorriu e ele se sentiu ainda mais contrariado. –Qual é a graça?

—Você está sendo mandão, igualzinho eu fui quando você regenerou o ombro da Luisa –a TARDIS lembrou, realmente achando graça. –Toma-lá dá-cá, colega.

—Puxa, eu não sabia que estava aberta a “temporada de auto-convencimento” nas redondezas do espaço-tempo –alfinetou Melissa, aos outros dois. –Vamos testar a ressonância: “O homem louco e a caixa maluca”. É... Vocês dois se merecem mesmo!

Enquanto eles entravam em conflito, Luisa ocupava-se atinando.

—Temos que fazer alguma coisa... –a garota da bolsinha rosa andava de lá para cá, pensando alto. –Não podemos ficar aqui, esperando pelo próximo ataque. Pelo que percebemos, o que eles mais querem é prejudicar o Doutor. Fazê-lo regenerar dilaceradamente. Mas não podemos permitir que isso continue. Será loucura deixar o Doutor ir mudando até retornar ao 1º rosto, além de uma grande burrice, já que não sabemos o que pode acontecer depois. Precisamos de uma estratégia. Uma ótima e infalível estratégia... Ai! –ela gemeu, ao sentir uma bolinha de ping-pong atingir o topo de sua cabeça. –Quem foi que jogou?

Nenhum dos três se manifestou, mas ficaram olhado-a com sorrisos no rosto.

Relaxa—Melissa disse, por fim, ao apanhar a bolinha de volta. Depois segurou o ombro da amiga. –A gente vai dar um jeito em tudo isso. Você vai ver. Não precisa ficar exigindo tanto de si mesma. Afinal, você tem a nós! Garanto que cada um dará o seu melhor para desenvolver o melhor plano de todos... No momento certo, é claro.   

—Tudo bem –Luisa tentou se acalmar, respirando fundo. –Eu confio na equipe. Sei que na hora certa, vamos dar conta do recado.

—É assim que se fala, amiga! –e se caminharam abraçadas para junto da TARDIS.

—Ué? Cadê o Doutor? –Luisa indagou de repente, de modo a pegar até a TARDIS de surpresa.

—Caramba! Ele estava aqui ainda há pouco... –ela pareceu alarmada.

—Calma –Melissa chacoalhou-a pelos ombros. –Tem certeza que vocês não começaram a brincar de esconde-esconde de novo? Ele não foi se esconder, ou...

—Não! Ele não me disse onde ia. Na verdade, eu nem sabia que tinha sumido! –ela levou as mãos à cabeça, preocupada. –Poxa, eu sou mesmo péssima nessa coisa de “vigiar”.

—Não se culpe. Ninguém sabe o que passou pela cabeça dele. Agora não há muito que fazer, a não ser procurá-lo. –Luisa afirmou. –Separem-se, e procurem por ele. Nos encontramos aqui em no máximo meia hora.

—Combinado.

Separaram-se e começaram uma busca incessante pelo amigo recém-desaparecido. Luisa foi parar no meio do grande corredor hexagonal; Subiu em cima de uma fonte, para ter uma visão melhor e tentar reconhecer o Senhor do Tempo por entre os alienígenas que visitavam o shopping a passeio. Enquanto estavam lá, fazendo compras, ninguém nem podia imaginar todas as coisas terríveis que estavam acontecendo por debaixo do nome do Estrela Guia, ou ao menos, sobre o homem que estava sofrendo nas mãos de um chefe maníaco e seus capangas; Ou do desespero que aquelas três garotas sentiam dentro de si, ao consolidar idéias perturbadoras sob o que poderia ter acontecido ao seu querido e estimado Doutor.

—Hã! –Luisa levou um susto quando encontrou o rapaz na lateral da fonte, desacordado. A passarela ficava do outro lado, por isso ninguém percebeu que havia um homem caído lá atrás. Por um lado foi bom, pois seria difícil despistar a multidão de curiosos; por outro lado foi ruim, já que não havia álibi e ninguém seria capaz de descrever o que de fato aconteceu com ele. –O que fizeram com você...!? –devagar, ela se aproximou e encostou a cabeça em seu peito. Detectou que ele respirava lentamente, mas pelo menos, era um válido sinal de vida. –Nossa! Graças a Deus que não foi nada. Também, quem mandou sair correndo desembestado por aí? Será que já não está cansado de saber que precisa repousar após se regenerar? Caramba! Até eu sei disso... –ao tentar acalmar os batimentos disparados de seu coração, Luisa sentou-se ao lado do rapaz e ficou lhe fazendo companhia, já que arrastá-lo sozinha de volta ao espaço de jogos, estava realmente fora de questão. Ela ainda tinha esperança de que ele acordasse e conseguisse caminhar, mesmo que fosse com auxílio dela, o que já seria de grande ajuda na locomoção. Mas, por hora, realmente teria que ser paciente e esperar até que ele recuperasse a consciência.

Decidida a matar o tempo, começou a refletir algumas coisas, e a falar outras em voz alta.

—Puxa. Engraçado as coisas que a gente pensa quando estamos sentados junto de uma pessoa desacordada—Luisa comentou com as paredes. –Por exemplo, só agora eu fui lembrar que esqueci de arrumar a cama hoje cedo. Mas isso não fará muita diferença agora que a TARDIS não tem mais quartos. Argh! Não quero nem saber que parte do corpo dela é correspondente ao meu aposento. –disse, afastando aquela idéia. –Sabe... Também lembrei que não almocei hoje, e que já faz dias que não limpo a caixa de mensagens do meu celular. Na verdade, eu nunca mais conferi os registros. Será que alguém me ligou durante essa última temporada...?—e ocupou-se em vasculhar o celular. –Vamos ver... Telefone, registros: Cinqüenta ligações perdidas!?—gemeu. –Não é possível! Nunca houveram tantas chamadas perdidas de uma só vez... Mais quem seria responsável por...? –e sentiu um friozinho na barriga quando viu o nome “Ned”, ao final do mesmo e incansavelmente repetitivo, número de telefone.

—O Ned andou me ligando? –ela sentiu-se descrente, mas também contente, ao mesmo tempo. –O Ned andou preocupado comigo.

Aquilo lhe despertou uma sensação calorosa, mas esquisita também. Afinal, estava se sentindo bem por um garoto ter ligado incontáveis vezes para ela, enquanto outro rapaz de quem tanto gostava, estava desacordado ao seu lado. Hum... Uma conflito difícil de vencer. Tentou não pensar muito nisso, enquanto ouvia as mensagens de voz pelo fone de ouvido. De certa forma, já era um consolo saber que alguém sentia falta dela no planeta Terra. Isso começava a proporcionar um leve tom de saudades de casa; Uma sensação que, já fazia bastante tempo, ela não via nem pintada de ouro. Seria essa a próxima decisão a se tomar? Quando aquela aventura maluca no shopping finalmente chegasse ao fim, será que ela deveria escolher dar uma passada em casa para ver como estavam as coisas? Melissa estaria sentindo falta de casa também, ou de repente a saudade só manifestou-se nela mesmo? Puxa... Foi aí que uma coisa chegou em seu nível de compreensão: Será que ainda haveria uma próxima aventura? Será que tudo isso acabaria bem, ou eles estavam contemplando de camarote o fim da “era de ouro” do Doutor? Será que ela voltaria a ver sua casa? Seu planeta? Seus amigos? O próprio Ned... Será que ela nunca conseguiria lhe dar uma explicação satisfatória, face a face?

Tantas coisas passaram por sua cabeça, que de repente ela se viu vagando por um terreno desconhecido e instável, cheio de névoa e incertezas: seu próprio futuro.

—Não posso responder as ligações dele –concluiu, chateada. –Se o fizer agora, ele vai ficar alarmado e me fará um milhão de perguntas das quais eu não saberei responder do outro lado da linha. Tínhamos que ter uma conversa cara a cara, para que ele não ficasse assustado quando eu contasse a verdade... Porque eu irei contar a ele. Mais é claro! O Ned é de confiança... É um ótimo amigo. Um rapaz incrível também... –e pegou-se fitando o Doutor, ao mesmo tempo que falava do outro. –Deus! O que estou fazendo? Não vamos começar com esse estágio idiota de comparação, não é? Eu não quero ter que pesar meus dois amigos numa balança... –negou, irritada com a idéia. –Não. O Ned sabe ser incrível do jeito dele e o Doutor é... Bem, é o Doutor. –pegou-se novamente fitando o rapaz desacordado, mas desta vez com muito mais ansiedade. –Ah, Doutor... Como eu queria que você estivesse acordado. Queria que estivéssemos na cozinha da TARDIS, tomando chocolate quente, e jogando conversa fora. Queria até falar sobre o Ned com você. Qualquer coisa para não ficar aqui sozinha, tagarelando com as paredes, e talvez a fonte de água roxa fluente...

Ela esperou uma reação da parte dele, mas não houve nada. Desconsolada, a garota pendeu o braço perto da perna do amigo e sentiu alguma coisa arranhar sua pele. Intrigada, foi examinar o que era e deparou-se com um dardo espetado no rapaz. Por um momento, pensou que fosse mais uns dos brinquedinhos que Melissa usou para espetá-lo na loja de jogos, mas depois percebeu que era muito menor, e também, muito mais pontiagudo. Tinha duas pontas afiadas em ambas as laterais, e em ambas as duas, havia um líquido com a textura de álcool gel, que também era transparente. Luisa logo deduziu que devia se tratar de algum tipo de sonífero, pois afinal de contas, o Doutor estava mesmo dormindo e, poucos segundos depois de sentir o dardo duplo arranhar a superfície de sua própria mão, ela também começou a perceber a visão ficando turva e as pálpebras, cada vez mais pesadas.

Droga... –gemeu, antes de apagar de vez, ao lado do Senhor do Tempo. Seu triunfo foi ter conseguido remover o dardo do contato com a perna dele, antes de pegar no sono. Quem sabe assim, ela pensou, o Doutor conseguisse voltar a si mais depressa.

E dito e feito. Pouco depois, ele começou a se espreguiçar devagar. Encontrou a amiga desacordada, com a cabeça próxima de seu joelho e, caído no chão perto de sua mão, um dardo duplo, com duas pontas afiadas. Com cuidado, o Doutor apanhou o objeto pelo meio (o que era o certo a se fazer), sem encostar nas pontas, e levou-o perto da vista, para estudá-lo melhor.

—“Uma faca de dois gumes” –disse, pensativo. –Só existe alguém que ousaria fabricar um desses para me irritar... E eu sei quem é. –levantou-se com certa dificuldade e jogou o dardo duplo no esgoto da fonte. Depois suspendeu Luisa, ainda dormindo, nos braços, e caminhou pelo salão hexagonal. Parecia distante. Parecia estar procurando alguma coisa. Sim! Era por causa daquilo que ele se afastara do grupo... Ele vira um cartaz. Tinha certeza que sim. Talvez fosse uma placa. Mas a coisa em si não importava. Apenas o conteúdo escrito era do seu interesse. Mas onde fora? Lembrava de tê-lo visto de relance mais cedo, quando havia se perdido de Luisa e ainda contava com a ajuda da Abeliana Kyra para encontrar a Magazine. Já fazia bastante tempo desde aquela investida. Aconteceu tanta coisa desde então, que nem parecia que se tratava ainda do mesmo dia. Mas por fim, ele conseguiu localizar a mensagem.

Na verdade, ela era tão rústica quanto podia ser. Não passava de um bilhete escrito à mão com uma caneta de tinteiro em um pedaço de pergaminho, da qual dizia:

Doze horas é o máximo que o relógio pode marcar. Vamos ver se o homem do tempo é capaz de se salvar. Talvez ele resista, e até consiga a situação contornar... Mas não é pra sempre que conseguirá as horas atrasar”.

   Se quiser me encontrar, vai ter que ser astuto, pois os rostos estão acabando e o seu tempo é curto. Não seja idiota, nem fique na mesma, pois andares, sessões e galerias são marcadas pelo doze com clareza. Se for esperto, saberá o que fazer. Se hesitar, por apenas um momento, só lhe restará morrer.

Ass: M.

—Eu sabia que tinha visto –assentiu o Doutor, observando sério o painel onde o papel estava pendurado. –Olá de novo, velho amigo. –arquejou cansado, mas ainda sim, imponente de um jeito que só ele conseguia ser. Sem pestanejar, apanhou o bilhete e guardou-o em seu bolso.  

—Hum... –Luisa mexeu a cabeça contra o peito dele, e foi abrindo os olhos devagar. Ela absorvera pouco sonífero e, por isso, seu tempo desacordada foi bastante reduzido. Apesar de estar levemente grogue, achou engraçado o fato de seu celular continuar seguro em uma de suas mãos fechadas. –Oi. –ela sorriu, ao reconhecer o rapaz, carregando-a.

—Oi de novo. –ele sorriu em retorno. –Deu pra descansar um pouquinho?

—Satisfatoriamente. Por quê?

—Porque, eu lamento, mas não poderemos nos dar ao luxo de descansar de agora em diante. Eu preciso resolver uma coisa e não posso protelar mais.

—Você precisa descansar –ela insistiu, ao vê-lo perder o fôlego quando abaixou para colocá-la de volta no chão. –Não vai conseguir nada desse jeito. Olhe só pra você: Está fraco e debilitado. Não pode continuar se esforçando assim...

—Não vai me dar bronca porque eu te carreguei também, ou vai? –ele tinha um tom de voz cansado. Cansado de ser repreendido por ter sido gentil ou por ter feito o que achava ser a coisa certa. Queria só uma vez ouvir que tinha dado o seu melhor e que isso era o mais importante. Luisa percebeu a necessidade dele em ouvir um incentivo, ou um agradecimento no final das contas, afinal ele merecia; Então, ela resolveu dar-lhe esse gostinho, para variar.

Não vou dar bronca. Você foi muito legal por ter me protegido. Eu poderia ter sido massacrada por algum alienígena desajeitado que desse a volta na fonte e não olhasse por onde anda. Mas você me carregou. Me trouxe junto com você, em segurança, e isso faz toda a diferença. –ela sorriu, agradecida. –Obrigada.

Ele sorriu, meramente constrangido, mas acabou por fitá-la cheio de nostalgia. 

—Não há de quê, Nyssa. –simplesmente disse o nome de outra companheira, e nem se deu conta disso. Luisa sorriu e fingiu não ter ouvido nada. Simplesmente decidiu que não queria se pegar com aquilo. Afinal das contas, essa Nyssa e outras tantas garotas com que ele devia ter viajado, deviam ser dignas de terem seus nomes citados várias vezes, pelo Senhor do Tempo, e quem seria Luisa para impedi-lo de se lembrar? Luisa não era capaz de fazê-lo sofrer, mas havia uma coisa em que ela era imbatível: Se ele precisasse de uma mão. Se ele precisasse de uma energia positiva. Se necessitasse de força e esperança, com certeza ela estaria do seu lado, abastecendo-o com uma injeção de ânimo infinita, que só ela mesma era capaz de proporcionar a alguém. E o Doutor sabia disso. Sabia que podia contar com ela, assim como ela tinha total confiança nele. E essas, eram as melhores partes das viagens.

—DOUTOR, LUISA, CUIDADO!

De repente ouviu-se um grito e o casal voltou-se para a mesma direção, de onde vinha à voz. Eram a TARDIS e Melissa, perseguindo dois ratos ligeiros, armados com arremessadores de dardos. Mas as duas também não estavam desarmadas: Melissa tinha uma clava de madeira em uma das mãos, e fazia questão de correr gritando e com o objeto erguido, enquanto a TARDIS espantava-os com um mata mosquitos ligeiramente grande e desproporcional.

A dupla se esquivou e conseguiu não ser atingida pelos dardos. Mas em compensação, surgiram mais Ratongos da outra direção, que nem Melissa e a TARDIS conseguiram por pra correr.

Desta forma, o Doutor e Luisa ficaram por conta própria. Deram as mãos e desataram a correr em círculos, tentando despistá-los. 

Os ratos caíram na besteira de persegui-los e ficaram tontos no inicio, mas logo foram se recuperando e, não caíram no mesmo truque duas vezes, para a decepção do Doutor.

Assim, fácil como respirar, os ratos os cercaram, causando o terror no shopping e assustando os alienígenas de passagem. Seu foco era somente o Senhor do Tempo, e quanto mais rápido pudessem cercá-lo, sem testemunhas, melhor seria. Em meio à gritaria e correria, logo esse andar também ficou vazio, mas desta vez não ficou por isso mesmo. A polícia galáctica espacial chegou com a corda toda e deu um cansaço nos ratos desordeiros, que não tiveram muito que fazer, além de deixar as vítimas escaparem. O quarteto fugiu por dentro de uma galeria (da qual o Doutor afanou um chapéu Panamá, colocou na cabeça e fez questão de se olhar no espelho, antes de retomar a corrida); A galeria levava ao outro corredor paralelo, que ajudou-os a sumir de vista, momentaneamente. Mas mesmo assim, o problema não acabou por aí. Alguns Ratongos foram detidos, enquanto outros conseguiram escapar e retomar a perseguição. No meio do caminho, foram encontrando mais capangas, de modo que a perseguição ficou completamente desvantajosa para a equipe TARDIS. E, antes mesmo do que o grupo esperasse, já havia mais ratos em sua cola, do que há meio minuto atrás.

Não havia muitas possibilidades de fuga. Estavam em desvantagem, pois não conheciam os caminhos do shopping tão bem quanto os ratos, e as saídas estavam se tornando cada vez mais tortuosas. Já não sabiam para onde estavam indo, nem em que corredor estavam entrando. Se precisassem refazer o caminho inverso, não saberiam nem por onde começar. Só sabiam seguir em frente. Seu maior medo era entrarem em um corredor sem saída, e aí seria seu fim assinado. Mas, por hora, tentavam ignorar essa possibilidade, para o bem de seus corações descompassados.

—Essa era uma excelente hora para termos uma idéia –incentivou Melissa, esperançosa.

—E quem disse que não temos? –interveio o Doutor. Era a frase que todos queriam ouvir.

Luisa tocou-o no braço, enquanto corriam. 

—O que você pretende fazer? São tantos ratos para nos preocuparmos... Precisaríamos de algo grande! De efeito imediato e colossal...

Inesperadamente, o Doutor sorriu.

—Sei exatamente do que precisamos. –e desviou para um corredor sem saída. Luisa seguiu-o sem problemas, mas as outras duas frearam o passo.

Não! Por aí não! —protestaram Melissa e a TARDIS. –Eles vão nos cercar! Esse corredor não tem saída!

Essa é a idéia!—insistiu o Doutor. –Vamos logo, antes que nos alcancem! –gritou, fazendo-as voltarem a se mover.

Ai... Eu ainda vou me arrepender disso—Melissa gemeu, seguindo os demais para o beco sem saída.

Só pararam quando já estavam de cara com a parede, esbarrando os narizes na passagem fechada e um extintor de brinde, no canto, e deram meia volta, para esperar pelos ratos.

Os primeiros Ratongos adentraram no espaço e ficaram deleitados com a visão de seus prisioneiros acuados. Seus olhos até brilhavam, enquanto carregavam suas armas.

—Ótimo. Seja lá o que for... Ponha em prática agora! –apreçou Melissa, receosa.

—Eu vou fazer. Não se preocupe. –garantiu o Senhor ro Tempo, concentrado. –Espere só mais um pouquinho... –sussurrou. –Precisamos que mais deles estejam presentes para que o efeito seja promissor.

—Então será logo, logo –comentou a TARDIS, referindo-se a aparição de mais cinco das criaturas, rondando-os como uma pantera faria com sua presa.

—Preparem-se –estremeceu Luisa. –É agora...

—Sim –o Doutor assentiu. –Quando ouvirem o sinal, fujam por trás deles.

O sinal? Qual sinal? Doutor! Que sinal!?

O Doutor apanhou o extintor, preso na parede bem às suas costas, e disparou-o contra os ratos alienígenas, deixando-os se debatendo.

Este sinal!—gritou. Aproveitando a confusão, o quarteto escapou sem que ninguém pudesse detê-los, e foi retomada a correria. Cada segundo da fuga era tomado por inquietação. A tensão-nervosa os deixava à flor da pele. Não sabiam por qual dos corredores atravessar. Tudo parecia muito confuso e, como que para dificultar as coisas, de repente a atmosfera começou a ficar gélida e todos estranharam a mudança do clima. Inocentemente, Luisa voltou-se para uma direção qualquer e deparou-se com uma visão que a deixou sem ar. Dois ratos estavam fazendo um extintor de incêndio criar pressão por dentro, impedindo-o de liberar a espuma, e de utilizar a válvula de escape. Logo à frente, o restante do grupo também parou, ao perceberem-se rodiados de todas as direções, por pares de ratos fazendo a mesma atividade perigosa.

Tudo ocorreu numa fração de segundos. Eles só tiveram tempo de se jogar no chão para se protegerem das explosões de todos os seis extintores, que deixou tudo branco ao seu redor, e por sinal, acabou explodindo junto todos os ratos que manipulavam os objetos.

Em meio a um turbilhão de acontecimentos, até o simples ato de se jogar no chão se tornou esquisito. Talvez fosse por causa da espuma... De qualquer forma, a única certeza que tinham era que haviam se jogado para frente e, apesar de saberem que estavam caindo, não foram capazes de sentir seus corpos colidirem com o piso. Surpreendentemente, Luisa percebeu uma ventania inesperada, vinda de baixo de si, agitar seus cabelos. Arriscou abrir os olhos e deparou-se com a visão espetacular de estar flutuando, devagar, suspensa no ar. Olhou ao redor e não viu sinal do chão –o que na verdade não foi nenhuma surpresa, já que o ar estava todo salpicado de espuma branca e gelada, que mais parecia uma nuvem nebulosa, obstruindo sua visão. Por um momento, pensou que alguma coisa devia estar muito errada... Sem perder o foco, a garota espiou por trás do ombro, e deparou-se com o piso desaparecido (que agora estava sob sua cabeça, fazendo papel de teto), desconstruindo-se, bem acima dela, e formando um tipo de portal, por onde eles deviam ter atravessado. Mas como aquilo foi acontecer? Como foi que abriu-se uma fenda no chão? Antes mesmo de conseguir assimilar os pensamentos recém chegados, eis que a abertura começou a se fechar, concretizando novamente o teto sob sua cabeça. A névoa de gelo seco que deixara o ar turvo, desapareceu, e Luisa conseguiu ver com mais clareza, a queda que ainda os aguardava. Uma queda livre, e longa, até o próximo andar, bem abaixo. Uma descida, com certeza caótica, que poderia ser fatal para eles, mas que por algum acaso, não estava transmitindo todo esse impacto.

Pelo menos escapamos dos ratos”, pensou, mas será que valera mesmo a pena? Olhou para baixo novamente, e desta vez assustou-se ao deduzir que todos eles estavam prestes a despencar rumo à multidão de compradores, deslocando-se tranqüilamente pelo shopping.

Pasmificada, Luisa cutucou os amigos, na expectativa de confirmar que não estava delirando sobre o ocorrido. Logo recebeu seu feedback. Assim como ela, eles já haviam tomado consciência do estranho comportamento do teto, e igualmente se encontravam na fase de “perplexidade” diante da situação atual –todos menos a TARDIS, que tinha os dois dedos indicadores grudados às têmporas, com cara de quem está concentrada.

—TARDIS!!! –Luisa gritou. –O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

—Estamos caindo –a mulher disse, simplesmente. –Mas não por muito tempo. Tentem ficar calmos e, se puderem pensar em colchões macios, eu agradeceria.

 -Colchões? –o próprio Doutor indagou, apanhando o chapéu Panamá, que também flutuava no ar, e colocando-o de volta na cabeça. –Será que não devíamos pensar em nos salvar primeiro, antes de tirarmos uma soneca?

—Vá por mim: Colchões são melhores para uma aterrissagem de emergência. Ou então piscinas infláveis. Mas acredito que nenhum de nós iria querer se molhar –comentou. –Cofiem em mim. Vai dar certo.

A turma se entreolhou e, sem exatamente entender, começaram a mentalizar objetos macios e fofinhos. Melissa deu uma última olhada para baixo –só havia um destino viável para eles, e era uma colisão contra o piso. Mesmo com o tempo meramente desacelerado, ainda era assustador se ver pendurado, caindo lentamente em direção a um abismo. Tudo porque havia uma grande distancia entre os andares do Estrela Guia. O teto era sempre muito alto, o que fazia o próximo andar ficar quase inalcançável. Era por isso que haviam sido instaladas Plataformas Gravitacionais, ao invés de simples elevadores primitivos e escadas-rolantes.

—Melissa, por favor, concentre-se! –a TARDIS chamou-lhe a atenção. –Eu consegui manipular nossa queda, mas não por tempo ilimitado. Minha energia vital está oscilando, e para facilitar, conectei nossos pensamentos na intenção de reunir mais energia psíquica. Por isso, preciso de vocês todos querendo muito mesmo aterrissar em segurança, para conseguir materializar algo resistente o bastante para nos proteger da queda, entendeu? –Melissa assentiu freneticamente em resposta. –Certo. Então pense em algo que possa amortecer nossa queda, e seja rápida!

Melissa fechou os olhos com força, mentalizando algo que julgasse ser apropriado. Nesse ínterim, o Doutor murmurou algo como “Um por todos e... Bem, o resto vocês sabem!”. E, de um momento para o outro, a força que os mantinha flutuando oscilou, e eles começaram a perder altitude. Em pouco tempo, já estavam começando a pegar velocidade de novo. O chão já não estava muito longe... Eles sentiam a força da gravidade entrar em ação, puxando-os para baixo com tremenda voracidade. E... Depois de alguns segundos de tenção, aterrissaram sobre um colchão largo e bastante molenga.

—AH! CONSEGUIMOS! YES! –Luisa comemorou, abraçando o Doutor, que estava mais próximo dela.

—É! Nós somos mesmo duros na queda—brincou Melissa. –Vem se meter com a gente, seus ratos de uma figa, que vocês vão ver uma coisa...!—ela ameaçou, chacoalhando o punho na direção do teto.

—Engraçado –a TARDIS sorriu. –Eu sugeri um colchão ou uma piscina. Aparentemente empatamos no quesito “preferência”, e acabamos por materializar, literalmente, um “colchão d’água”. –comentou, divertindo-se. –Legal. Gostei da junção: Seco, e seguro.

E chama realmente muita atenção—analisou o Doutor, observando os olhares curiosos, começando a se aglomerar perto deles. –Venham. Vamos dar o fora daqui...

Pularam para fora do colchão d’água e trataram de sumir de vista, antes que alguém os abordasse com perguntas. Felizmente, obtiveram sucesso... Mas não por muito tempo.

A alegria perdeu seu lugar, quando o Doutor caiu de joelhos num corredor por onde passavam em tempo real. Ele alegou não estar se sentindo bem, e todos tiveram que diminuir o ritmo, para não prejudicá-lo.

—O que você está sentindo? –perguntou Melissa.

—Não sei. Uma dor muito forte no estômago... Algo muito incômodo, mas perfeitamente comum, para alguém que vai regenerar o pacote completo.  –explicou, abraçando o próprio corpo.

—Será que isso ajuda? –Luisa agachou-se e deu-lhe um marshmalow.

O Doutor sorriu.

—O meu preferido. De onde você tira essas idéias...? –comentou, sem compromisso. Sabia que a “Bolsa Que Tudo Tem” tinha algo a ver com isso.

Luisa sorriu, satisfeita.

—Eu conheço os gostos do meu rapaz. E, combinemos: Se você ainda gostar de doces, então é porque não mudou tanto assim. –ambos sorriram um para o outro.

O homem do tempo está aí?—a voz de uma garotinha ecoou pelo corredor.

Todos se voltaram para a mesma direção: adiante. E depararam-se com a pequena Sofia. Ruiva, pequenininha e de semblante tristonho.

—É a garotinha de novo –disse a TARDIS, trocando olhares significantes com o Doutor. Sim. Só podia ser ela. Estava até usando o mesmo vestidinho cinza e a flor negra presa aos cabelos vermelhos. Definitivamente, era a menina que ambos haviam visto antes.

—Quem é a garotinha? –Luisa voltou-se para os dois, confusa. –Vocês a conhecem?

—Mais ou menos –o Doutor ergueu-se com dificuldade. Melissa prontificou-se em ajudá-lo.

—Como pode conhecê-la mais ou menos?—questionou ela.

—Nós já nos vimos uma vez, hoje cedo. Quase não tivemos tempo para conversar. Ela logo foi embora. Pra falar a verdade, ela não respondeu nenhuma das minhas perguntas... –lembrou o Doutor.

Garota esperta—Melissa sorriu. –Aprendeu a ignorar você desde cedo... Gostei dela.

O Doutor fitou-a com insatisfação.

—É impressão minha, ou toda a interação que tivemos hoje não rendeu em nada para melhorar a nossa convivência?

Melissa deu de ombros.

—Desculpe. É que brigar com você é tipo “força do hábito”. Não dá pra passar um dia inteiro sem praticar... Começa a dar abstinência—Melissa disse, teatralmente.

—Você é o doutor que estou procurando –disse a garotinha, aproximando-se. –Tenho uma coisa pra você...

E mostrou-lhe um cachecol todo colorido. O Doutor imediatamente estendeu a mão para tocar a peça, como se estivesse hipnotizado por ela; encantado ao revê-la. A menina caminhou até ele, para facilitar a entrega do pertence. No meio do gesto, a TARDIS deu para arregalar os olhos e manifestar-se:

Doutor não! Não toque nisso!—gritou, exasperada. –NÃO TOQUE! É UMA ARMADILHA!

Tentou impedi-lo, mas já era tarde demais. No segundo em que tocou no cachecol, o Senhor do Tempo começou a se desregenerar.

Sinto muito, mas ele me obrigou a fazer isso. –disse a garotinha, chateada, um pouco antes de desaparecer num feixe de luz. Tinha sido enviada apenas para impulsioná-lo a regenerar. Quando seu trabalho acabou, ela foi imediatamente recolhida por um tele-transporte de baixo alcance. O que significava, obviamente, que seu mandante, muito provavelmente o chefe dos Ratongos, estava mesmo no prédio, acompanhando as quedas do Doutor, uma por uma, bem de pertinho.

E o Senhor do Tempo tornou-se diferente de novo; Mesmo com a aparente padronização do tipo físico: alto e magro, e a mesma tonalidade de pele persistente de sempre, clara e rosada, ainda assim foi capaz de surpreender as amigas com seu semblante espantado, seus olhos arregalados, seu nariz adunco, seu sorriso de orelha a orelha (o mais largo de todo o universo) e seus cabelos castanhos encaracolados, bastante armados.

Aquele era o 4º rosto. Um dos mais carismáticos e divertidos. Uma ótima fase.

Quando a regeneração acabou, ele simplesmente olhou para as garotas, meio vago, sorriu e perguntou:

Alguém quer Jelly Baby?

Foi a última coisa que conseguiu dizer, antes de apagar de vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Tcharãããã!!

6º, 5º e agora o 4º Doutor com suas participações mais que confirmadas no especial de Natal da fic da Lulu!! kkk

Pra quem não sabe, "Jelly Baby" é uma goma de mascar que o 4º Doc ficava oferecendo adoidado pros amigos. Sim, esse aí também é viciado em doce, mas não acho que seja pior que o Matt.

Ah, e falando nele... FELIZ ANIVERSÁRIO CRIATURINHA FOFA QUE EU AMO DEMAIS!!

Sim! Hoje é aniversário do Matt Smith!! Parabéns e venha comer bolo na minha casa kkkk

Isso me lembra que logo a Turma Who toda tá fazendo aniversário em novembro... MAIS UM DIA PRA COMER BOLO E ASSISTIR THE DAY OF THE DOCTOOOOOR!! EEEEEEEEH!

Fala pra mim: tinha aventura mais Doctoresca do que essa do Shopping pra eu postar nessa época? kkkk

Beijos galera e até quintaaa!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.