Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 76
A Frota Estelar


Notas iniciais do capítulo

Oláá!

"Seja neste mundo ou no outro, não existe família mais determinada que os Smiths, e quando a Luisa Paralela diz que vai encontrar seus filhos, é muito mais do que uma promessa".



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Não muito longe dali, na ala leste da fabrica, três crianças e uma pré-adolescente estavam presas em uma sala. Entre elas, um menino de cinco anos de orelhas levemente avantajadas corria em disparada ao redor de uma cadeira. Alegre e saltitante, ele parecia estar se sentindo em um verdadeiro playground. Na cadeira estava sentada a garota mais velha, loira e entediada, usando óculos e lixando as unhas. Apoiado na parede, estava o menino de onze anos, também loiro, perturbando o irmão de sete que era ruivo.

—Pára Matthew! –choramingou o ruivinho.

—Matthew, seu tonto, deixa ele em paz! –resmungou a garota, sem nem ao menos tirar os olhos das unhas.

—Eu quero a mamãe! –disse o garotinho, em tom choroso. –Cadê ela?

—Está aqui. Presa em algum lugar, pra variar. –explicou a Melissa paralela. –Mas não se preocupe com isso... Papai vai salvá-la.

—Como você sabe? –atiçou Matthew. –Como pode ter tanta certeza que ele vai conseguir?

—Porque ele nunca desiste. Ele sempre está lá quando ela precisa. –afirmou a garota. –Foi por isso que eles se casaram.

—Sério? Pensei que fosse porque a mamãe é bonita. –interveio Chris, inocentemente.

—Está certo Chris... Foi mesmo por isso. –sorriu a garota, gentilmente. O menino de cinco anos ficou contente por estar por dentro das coisas.

—Ah! Corta essa, Melissa! Daqui a pouco também vai dizer que o Dave não é adotado... –Matthew bufou.

Eu não sou adotado!—choramingou Dave, manhoso.

—Pare com isso, Matthew! –replicou Melissa severamente. Ela fez um gesto e apanhou o menino no colo. –Ouça, Dave... Acredite em mim quando digo que nós vamos sair daqui. Não importa quanto tempo demore... Mamãe e papai vão sim nos salvar.

—Não prometa isso à ele! –protestou Matthew, revoltado. –E o que você vai dizer depois, se eles não aparecerem?

—Ah, aí eu direi: “Dave, seu irmão é um tremendo de um pé frio”. –retrucou a garota. Dave abriu um sorrisinho para ela.

—Por que está sendo tão doce com ele? –interveio Matthew, desconfiado. –Você não é assim... Qual é o propósito de tudo isso?

—É meu dever de irmã mais velha fazer de tudo para nos unir em situações difíceis. –explicou ela. –Quando papai e mamãe não estão, a Lei diz que eu estou no comando. E seria muito injusto e irresponsável da minha parte, não acalmar nossos irmãos nas circunstancias atuais, não concorda?

—Não! Eu não concordo! –Matthew teimou. Fechou a cara e deu as costas para a irmã. Ela suspirou, paciente.

—Meninos, me dêem licença. Parece que tem um mocinho precisando de um abraço... –assim, ela se distanciou de Dave e Chris, que ficaram brincando um pouquinho juntos, enquanto ela se dirigia a Matthew.

—Qual o problema, Matt?

—Você é muito falsa, sabia? Briga com eles o tempo todo, e agora, só agora, quer acertar as coisas...

—Bem, e não está certo? –ela pôs as mãos nos ombros dele. -No final, alguém tem que ceder...

Pois eu não acho!—ele rebateu, desvencilhando-se dela com raiva. –Acho que você se acha uma sabichona, mas na verdade é muito metida!

—Matt... Está querendo me deixar com raiva? –ela olhou firme para ele.

—Não sei... Está funcionando?—ele instigou, engolindo em seco disfarçadamente.

—Não. –ela anunciou, relaxando a expressão facial e presenteando-o com um sorriso genérico. Tentou segurar seu braço, amigavelmente, mas ele novamente se esquivou, de cara feia. –Por que todo esse ódio de mim?

—Não é você. É a situação. –admitiu o menino, angustiado. –Eu só... Eu... Estou com medo.

Você?—Melissa deu risada.

—Agora vai ficar me zoando também!? –resmungou ele, sentando-se no chão e desviando os olhos, chateado.

Melissa imitou seu movimento e sentou-se ao seu lado.

—Não. Não estou rindo de você. Estou rindo da situação. Veja bem: você diz que está com medo... Mas como acha que eu me sinto sobre tudo isso? Eu não tenho um coração de pedra, nem sou feita de ferro!

—Então... Quer dizer que também está com medo?

—Apavorada, na verdade. –ela afirmou, olhando-o olho no olho. –Mas não transpareço o que sinto, justamente para parecer que está tudo sobre controle e que eu sei exatamente o que estou fazendo. Isso chama-se dissimulação.

Os olhos de Matthew se arregalaram.

—Então você admite que há uma possibilidade de a mamãe e o papai não voltarem! –ele rebateu.

—Bom, sempre há uma hipótese, mas eu...

Sua mentirosa... Eu sabia!—berrou ele, erguendo-se diante dela. –Papai e mamãe não vão voltar e, mesmo que papai encontre mamãe e a resgate, eles nunca voltarão para nos buscar! 

Os outros dois meninos ergueram as cabeças e olharam para eles, assustados. Melissa lançou um olhar reprovador ao menino mais velho. Matt recuou alguns passos. Ele sabia que tinha ido longe demais.

Melissa havia chagado ao seu limite. Aquilo fora a gota d’água para ela. Durante todo o tempo ela vinha tentando ser legal, exclusivamente para confortá-los, mas agora Matthew havia colocado tudo a perder. Palavras mal escolhidas e falta de cautela para expressar pensamentos espontâneos eram o bastante para fazê-la perder a cabeça.

Já chega, Matthew! —irritada, ela ergueu a mão, fazendo menção de dar-lhe uma palmada. Matt encolheu-se, fechando os olhos, já esperando pela dor. Mas, o que recebeu deixou-o muito mais transtornado do que uma palmada: Ao invés de Melissa esfolá-lo vivo, ela se inclinou para ele e o surpreendeu com um abraço. O menino ficou paralisado por um tempo.

—Um abraço? –ele mostrou a língua fazendo uma careta do outro lado, após se recuperar do choque. –Sabe, ainda acho que preferia o tapa...

—Fica quieto, Matthew! –ela sorriu do outro lado do abraço, ainda agarrada ao menino. –Olha que eu posso mudar de idéia!—ela brincou, dando três tapinhas bobos no traseiro do irmão. O menino riu do jeito bem humorado dela.

—Você é tão boba, às vezes... –ele comentou, rindo, ao finalmente retribuir o abraço dela. –Inventa cada coisa! Como essa história de abraço familiar... Isso sim é surpreendente vindo de você. 

—Matthew, eu juro que só estou tentando ajudar... –ela desabafou, separando-se dele. –Só quero ajeitar as coisas. Ser uma boa irmã. Quero que vocês saibam que podem sempre contar comigo.

—Bem, em todo caso, talvez você devesse ter orgulho de si mesma –ele falou, simplesmente. –Você está se saindo bem, apesar de tudo.

—Apesar do quê? –ela ergueu uma sobrancelha.

De ser menina. –ele provocou, com ar de riso.

Ah é, mané?—ela riu em retorno. –Então tome isso! –e prendeu-o junto a si com um dos braços, e começou a fazer-lhe cócegas com a mão livre. Chris, que viu toda aquela agitação se transformar em folia (e como ele adorava uma bagunça), saiu correndo para participar da brincadeira, deixando Dave sozinho, para trás. Este fungou, magoado, e caminhou até eles, comunicando:

—Eu quero ir pra casa! –soluçou.

—Ah, Dave... Todos queremos. –Melissa parou a brincadeira e agachou-se para ficar da altura dele, e confortá-lo. –Mas ainda pode levar um tempinho...

—Estou cansado de esperar! –protestou o garotinho.

—Você está exausto, não está? –ela murmurou. O menino apenas balançou a cabeça, sonolento, tornando a coçar o olho. Melissa já havia reparado que ele andara coçando os olhos diversas outras vezes: Dave sempre fazia isso quando queria tirar um cochilo. Mas era obvio que o lugar não tinha nada de aconchegante, e ele ficava zanzando de lá pra cá, irritado por não conseguir tirar uma sesta. –Vem cá, irmãozinho... –ela o pegou no colo e o deitou, na esperança de conseguir fazê-lo dormir. Contudo, nem precisou ter este trabalho, pois ele mesmo se ajeitou junto dela e pegou no sono, quase instantaneamente. –Uau! E mais uma vez eu consigo me surpreender com um novo talento... –disse ela com ar cômico.

—Você é doida. –Matt riu.

—Falando em doideiras... Chris, não está com sono, está? –o menino negou, imediatamente. Na real fez mais do que isso: mostrou o quanto ainda possuía de energia, pulando feito um grilo entupido de cafeína. –Bom! Estou vendo que a sua bateria ainda não descarregou... Então, que tal ir brincar mais um pouquinho?

—Legal! –ele saltitou. –Mas, brincar do quê?

—Que tal se você corresse sem parar ao redor daquela cadeira, de novo? Pareceu uma ótima brincadeira...

—Oba! –e ele voltou correndo para o mesmo posto inicial e retomou “a dança das cadeiras de um participante só”.

Matt franziu o cenho.

—Não entendi. Por que você se livrou dele?

—Eu queria ficar sozinha de novo com você –explicou ela. –Preciso... Conversar com você.

—O que precisa tanto me dizer que não pode ser presenciado por mais ninguém? -Matt arquejou, enquanto Melissa esticava sua blusa de frio no chão e deitava, cuidadosamente, Dave por cima. Voltando a se sentar sozinha com ele, ela prosseguiu:

—Você está certo. –disse Melissa, sombria. –Papai e mamãe podem nunca voltar. –ao dizer isso, Matt pareceu mais chocado do que ela esperava e, para confortá-lo, ela segurou sua mão, antes de continuar. -Por isso preciso bolar um plano e nos tirar daqui, sabe, por precaução...

Matt puxou a mão de volta, inquieto.

—Eu disse que você não faz nada certo! Ficar iludindo nossos irmãos não vai ajudar em nada!

—Eu sei disso. Mas... Eles são muito pequenos, Matt. –ela argumentou. –Você acha que eles entenderiam a gravidade da situação se eu colocasse todas as cartas na mesa?

Matthew desarmou-se.

—Eu sei. Eu sei. Olha, Melissa... Você não é uma irmã ruim. É só que, às vezes eu não consigo te entender. –disse, sinceramente. –Francamente, não entendo como mentir pra eles pode ajudar em alguma coisa. Quero dizer, mesmo sendo pequenos... –ele se perdeu no raciocínio. –Ah, você sabe. –e desviou os olhos.

Melissa sorriu, amistosa. Ficou contemplando o irmão por um tempo, até que Matt percebeu que estava sendo observado.

—O que foi?

—Nada. Só estou lembrando de umas coisas...

—Que coisas?

Ela sorriu torto.

—Sabia que eu já tomei conta de você uma vez –contou. -Quando você ainda era um bebê de colo.

—Do que você está falando?

—Ora! Você não achou mesmo que essa fosse a primeira vez que papai e mamãe me deixam definitivamente “no comando da situação”, acha? –ela ponderou. Ele ergueu as duas sobrancelhas e se aproximou mais para ouvir a história. –Bem, eu ainda era uma criança, você nem se fala. Praticamente, uma criança cuidando de outra. E você... Eu costumava dizer que era o meu melhor amigo.

—É sério? –Matt arregalou os olhos. Procurava algum indicio, no olhar dela, que comprovasse qualquer sinal de mentira naquelas palavras. Fez uma varredura completa, mas nada fora detectado. –Eu era seu melhor amigo? Mas como poderia se eu não passava de um bebê?

Ela deu de ombros.

—Era tudo questão de “consideração”. Eu considerava você meu melhor amigo, e pronto! Ninguém tinha nada a ver com isso.

Ele pareceu ainda mais surpreso.

—E o que aconteceu?

—Certa vez, nossos pais foram assaltados e eu estava sozinha no andar de cima, portanto os ladrões não me renderam, porque não sabiam da minha existência na casa.

Matt hesitou, perdendo o fôlego.

—Nós fomos assaltados?

—É. Bom, eu estava apavorada. Lembro-me como se fosse ontem... –ela contou. –Com a força da telepatia, mamãe conseguiu me dar instruções do que fazer, como: “não dar alarde de estar no andar de cima” e, principalmente “arranjar um lugar para me esconder”. Naquele dia, nós enfrentamos uma situação de quase mesmo nível alarmante desta que enfrentamos hoje e, é obvio que não seria tão fácil de segurar os cinco maus-elementos no andar de baixo por muito tempo. Mamãe sabia que, se eles nos encontrassem, também encontrariam seu ponto fraco, então me instruiu para me esconder no seu quarto e trancar a porta com a chave. Ela não imaginou que tudo aquilo duraria tanto, nem que você pudesse acordar durante a confusão. Tudo que ela queria, era nos proteger. –Melissa fez uma pequena pausa, para dar a ênfase certa. –Mamãe foi bem inteligente nesse critério, porque eu ainda era muito pequena e não sabia segurar um bebê de colo, então ao invés de dizer “tire-o do berço e esconda-o com você”, ela simplesmente me instruiu a me trancar no quarto onde você estava, de modo que nós dois ficássemos em segurança, juntos e protegendo um ao outro.

—Caramba... –o menino arfou.

—Pois é! –ela disse, empolgada com a história. –Sendo assim, eu corri nas pontas dos pés para me esconder o mais rápido possível. Mesmo depois de ter entrado no seu quarto, tomei todo cuidado para não fazer barulho ao fechar a porta, porém, percebi um movimento no seu berço e, como toda criança curiosa, me espichei para ver o que era: você estava acordado.

Matt prendeu a respiração, atento á história.

—E aí? O que aconteceu depois?

—Imagine só: Dava para ouvir o som da luta corporal ocorrendo no andar de baixo. É óbvio que mamãe e papai não deixariam a casa ser invadida e ficar tudo por isso mesmo. Eles não deixaram barato para os vagabundos que, de acordo com os poderes psíquicos de mamãe, não possuíam arma alguma em riste. Mas é claro que eu só vim saber disso mais tarde, muito depois de tudo aquilo acontecer. Enquanto tudo ainda ocorria em tempo real, eu prendia a respiração ao seu lado, completamente assustada. Mas então, uma coisa me fez ficar firme de novo: inesperadamente você começou a chorar, e eu não sabia nada sobre acalmar bebês. Só sabia brincar com você e te fazer rir uma vez ou outra, mas em geral, o meu currículo neste quesito estava um verdadeiro zero á esquerda. –ela admitiu, com uma careta.

—E o que você fez? Eu me acalmei depois?

—Mas então, perante á tudo aquilo, foi que eu tive uma súbita inspiração: Eu era sua irmã mais velha e tinha que te defender á todo custo. Eu era sua principal inspiração; sua “GRANDE DEFENSORA DE SEIS ANOS” e não podia fracassar em minha missão de protegê-lo. Basicamente, não podia ficar parada vendo você chorar.

Matt arregalou os olhos, maravilhado com a história.

—E aí?

—“Aí” que eu tinha que fazer você parar de chorar, né? Mas não sabia como. Foi então que eu fiz a única coisa que me lembrei de ver mamãe fazendo com você em situações como esta: comecei a cantarolar uma melodia. Uma canção de Natal, no caso, porque foi a única que me veio em mente e, também, porque era a minha favorita –ela fez um pequeno esforço para se lembrar. –“Noite Feliz”, se não me engano... 

—Sim! Eu me lembro disso... Lembro desta música! –disse Matthew, inicialmente animado, mas logo sua expressão de desapontamento voltou a tomar o controle. –Mas agora isso de nada importa.

—É aí que você se engana, irmão. –ela ergueu seu rosto com a mão. –Agora você já é um mocinho, e deve ensinar essa canção aos nossos irmãos, sabe? Continuar a tradição e etc...

—Fala sério?

—É como eu disse: A situação é parecida... Estamos sem nossos pais por perto... Sabe lá o que pode nos acontecer! Então, não torne pior para eles... –apontou discretamente para os irmãos menores que riam abertamente. Dave já estava acordado de novo, correndo bestamente atrás de Chris. Melissa voltou-se para Matt: –Faça parecer algo... divertido.

—É. –ele suspirou, apertando as mãos. –Captei a idéia.

—Bom garoto –ela bagunçou os cabelos dele. –Agora levante-se... Vamos entrar em cena!

—Certo. –Matthew chamou os irmãos. Ele e Melissa inventaram uma brincadeira nova, e no fim passaram a cantar a canção de Natal com tanta fé e boa vontade que era quase impossível negar-lhes ajuda. Até que, em algum lugar do Vórtice, suas preces foram ouvidas, ou melhor, sua música.

Inesperadamente, a porta da pequena sala se abriu e uma bicicleta azul surgiu levitando, trazendo á bordo quatro pessoas sentadas espalhafatosamente: a Luisa adulta, John Smith e as duas meninas adolescentes.

—CRIANÇAS! –a Luisa paralela desmontou da bike.

—MAMÃE! –seus quatro filhos correram ao encontro deles. Os meninos menores dispararam na frente, e os dois mais velhos vieram pouco depois. Melissa mais doce que nunca; Matthew, agora muito mais prestativo e compreensivo.

—Eu sabia que papai e mamãe voltariam! –disse Chris alegremente no colo dos dois.

—Eu também! –sorriu Dave. –A Melissa e o Matthew disseram isso o tempo todo!

Os pais olharam para os dois filhos mais velhos, orgulhosos. Esses dois coraram de tanta satisfação.

—Certo, agora me dêem um abraço, todos vocês! –a mãe pediu. Imediatamente, Melissa e Matt se juntaram aos pais e aos irmãos menores e deram o maior abraço de família de todos. –De novo uma família feliz e completa!

 Foi durante esse momento de entrosamento e confraternização que as Melissas se contemplaram pela primeira vez e a situação ficou mesmo esquisita:

—Como é possível? –a Melissa de óculos aproximou-se da outra garota igual a ela, perplexa.

—A precisão é invejável... –a Melissa de dezessete arfou, deixando o queixo cair ao se deparar com a mesma aparência da versão paralela.

No final, uma apontou para a outra, cobrindo os lábios: pareciam estar na frente de um espelho, contemplando o próprio reflexo.

Sinistro!—as duas disseram, em uníssono.

Neste momento, os olhos curiosos da filha mais velha de John Smith encontraram os da Luisa de dezessete anos e pareceram congelar sob ela. Como sua mãe poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo? E como ela própria poderia estar? Percebendo a evidente confusão no rosto dos filhos, a Luisa paralela explicou-lhes tudo.

—Então eles são nossas versões paralelas? –perguntou a Melissa de óculos, após a explicação.

—Clama aí, xará! São vocês é que são os “paralelos” por aqui. –insistiu a Melissa da rua Bannerman.

—Se elas duas estão aqui, então quantos mais de nós haveriam, realidade afora? –perguntou Matthew, confuso.

—Depende das probabilidades, eu receio... –ponderou John Smith. -Quantos mundos paralelos e alternativos devem existir em todo o universo?

—Vocês dois querem mesmo discutir isso? –a Luisa paralela cortou. –Podem montar acampamento por aqui, então! Porque isso é conversa pra mais de metro...

—É. E falando em metro... –John começou a olhar por cima dos ombros das adolescentes. –Cadê o seu amigo magricela? Aquele tal de Doutor... Onde ele ficou de nos encontrar?

As duas se entreolharam, tristonhas. Não sabiam como os demais reagiriam a seguir. Nem mesmo sabiam como estariam dispostas a reagir quando contassem a verdade à todos. Melissa nem ousou abrir a boca. Sabia que acabaria chorando se começasse a dar explicações, e isso não combinava muito com seu estilo. Desta forma, o encargo todo ficou em cima de Luisa.

—Ele... Não vai vir.

—Como assim não vai vir? –John franziu o cenho, observando-as sempre se entreolharem em silêncio, trocando informações ocultas. –O que vocês duas estão escondendo de nós?

Luisa respirou fundo antes de continuar. Sabia que seria obrigada a falar se continuasse a manter o suspense, então resolveu dizer toda a verdade.

—O Doutor ficou para trás. Ele impediu os Cybermens de converterem a humanidade em criaturas sem sentimento e atrapalhou seus planos, mas... Isso lhe custou mais caro do que tudo.  –os olhos começaram a lacrimejar e ela fingiu distrair-se com uma rachadura na parede oposta. Queria tanto poder abraçá-lo mais uma última vez. Queria poder lhe dizer tantas coisas mais... Infelizmente era tarde para isso. –O Doutor perdeu a vida, para nos salvar. –ela fungou. Uma mescla de expressão triste e séria tomaram seu rosto. -Ele morreu.

—Ah... Não... –A Luisa adulta tocou o próprio peito, na altura do coração. Parecia tão sem chão quanto a Luisa adolescente. –Eu não fazia idéia...

—Não se culpe. Não havia nada que alguém pudesse fazer. –sustentou Melissa.

—Mas não pode! Não pode ser verdade! –manifestou-se John. –Ele era esperto. Cheio de vida... Como pode ter se sacrificado de uma forma... de um jeito... tão bestamente? Não havia outra maneira de impedir os Cyborgs, senão desta forma? Quem o aconselhou a fazer isso? Quem foi o último a estar com ele? 

—Eu estava com ele. –Luisa deu um passo á frente. Ele fitou a menina, confuso.

Você?

Luisa não reagiu. Ela se retraiu toda ao ouvir a acusação de John e baixou a cabeça, assumindo a culpa. Melissa imediatamente defendeu-a.

—Não, não, não! Luisa não teve nada á ver com isso! –manifestou-se a loira. -Sim, sim. Ela realmente foi a última pessoa a vê-lo... Mas não se enganem: Eu sei que ela fez de tudo para ele mudar de idéia! Tenho certeza de que ela tentou arrastá-lo á força para fora daquele galpão velho e fedorento. Mas o Doutor é assim, ora bolas! Não passa de um velho turrão e cabeça dura... Ele nunca aprende com seus erros! –declarou, séria. -Você não o conhece como nós conhecemos, por isso não julgue Luisa, sem saber primeiro dos fatos. 

John se desarmou.

—Desculpe. Eu não quis ofender você.

—Tudo bem –Luisa experimentou voltar a falar. –Águas passadas. Nada que dissermos terá o poder de alterar os fatos... O Doutor se foi, e nada ou ninguém poderá mudar isso.

Todos fizeram um minuto de silêncio, até a Luisa paralela puxar sua xará para um canto, para poder conversar em particular com ela.

—Não fique brava com John, querida... Ele realmente não quis dizer aquilo.

—Não estou brava.

—Mas seu coração está magoado. Está partido.

—É claro. Eu perdi o meu melhor amigo.

Sem deixar “pegar mal para si”, a Luisa paralela lançou-lhe um sorrisinho torto, mas moderado, respeitando o momento.

—Ele parecia ser um mocinho adorável...

—Ele era. –Luisa suspirou. –Não sabe quanto anseio por seu retorno impossível. Eu sei que é absurdo, mas não consigo pensar em outra coisa. Queria tanto poder ter feito alguma coisa para ajudá-lo... Queria poder dar, ao menos, um enterro digno à ele... Mas nem mesmo posso entrar naquela sala ordinária! Está cheia de ácido e o corpo dele não vai sobreviver tanto tempo naquela corrosão toda... –ela não conseguiu mais segurar o choro e acabou deixando as lágrimas rolarem soltas, em uma tacada só. Rápidas e precisas. –Desculpe... É que eu realmente não queria que acabasse assim.

—Eu sei como é. –ela afirmou. –Antes do John, eu também tive um outro alguém que eu amava muito... Exceto que... Não consigo me lembrar direito do rosto dele. –ela disse, pensativa. O olhar vagou por um momento na direção do teto, em busca de respostas, mas como não obteve nenhuma, desistiu e voltou-se novamente para a adolescente. –Bem, isso não importa agora –e estendeu-lhe um lencinho. –O fato é que você precisa se acalmar, minha querida.

—Eu o amava. Eu o amava de verdade e nunca tive chance de demonstrar isso com todas as fibras do meu corpo. –ela lamentou. –Sabe? Não é um amor tipo “namorado e namorada”; tão pouco uma atração sexual. Na verdade, o que sinto por ele é muito mais além de tudo isso. Um sentimento muito mais puro e sincero... –ela cobriu o lábio com a mão; este tremia descontroladamente. -Eu só queria tê-lo de volta!

Pronto, querida... Pronto... Está tudo bem. Tudo vai ficar bem... Você vai ver.—acalmou-a sua versão adulta, envolvendo-a em seus braços. Luisa jamais poderia imaginar que o melhor consolo para ela, seria ter a si mesma como apoio. –Acho que sei o que você quis dizer.

—O que? –Luisa se afastou, enxugando as lágrimas.

—Sobre amar seu amigo de uma forma muito mais ampla do que qualquer outro sentimento á toa e superficial. –disse a Luisa paralela. Então sorriu para sua versão mais jovem: -Vocês eram amigos. Melhores amigos. E pelo que sei, a amizade é mesmo poderosa. Muitos dizem que ela é o sentimento mais puro e intenso de todos. Provavelmente, é o que você sente por ele.

Luisa assentiu, emocionada com aquelas palavras.

—Obrigada pelo apoio.

—Obrigada vocês, por terem ajudado John a me salvar e por terem reunido minha família mais uma vez...

Perante á aquele momento amistoso, eis que algo pegou todos de surpresa: de repente, um tremendo baque foi ouvido. Uma das paredes da saleta foi todinha demolida e uma gritaria se seguiu, desviando toda a atenção do verdadeiro ponto principal:

—DELETAR! DELETAR! –um Cybermen meio corroído irrompeu inesperadamente na sala, atravessando o buraco da parede (feito por ele mesmo) e erguendo do chão os dois meninos pequenos, com a mão boa, que não fora derretida por ácido. As crianças maiores se encolheram atrás do pai. As adolescentes colocaram-se em posição de defesa pessoal. A Luisa paralela tomou a frente do grupo, fitando o Cyborg com repudia, enquanto ele estendia o braço ameaçadoramente, tentando rendê-los também com sua arma á Laiser.

 -Solte meus filhos, seu ferro velho enferrujado! –rosnou a mulher. Ela parecia uma leoa defendendo a cria.

O Cybermen começou a ameaçá-los com a promessa de “deletar” as duas crianças se ela não cooperasse com eles.

—Mais nem sonhando! –John se pôs na frente da esposa, a velha arma novamente em punho. 

—ENTÃO OS PEQUENOS HUMANOS PAGARÃO PELO PESO DE SUA DECISÃO!

—John, não ouse atirar! Você pode acabar acertando uma das crianças! 

—Mamãe! Papai! –gritavam os dois meninos, assustados.

O Cybermen, muito cruel, apontou o laiser para a cabeça do filho caçula. Chris, por sua vez, esperneou como se fosse levar uma injeção.

—MAMÃE! –choramingou o menino.

PARE! Solte já os meus bebês!—ordenou a Luisa adulta. –Não ouse tocar em um só fio de cabelo deles, entendeu!? —ela soou firme, apesar de estar se sentindo incrivelmente fraca, trêmula e vulnerável, por dentro. Assim como seus filhos, ela também queria chorar. Queria gritar. Queria socar e chutar e partir aquela lataria corroída em cinco pedaços! Mas seus instintos de mãe não sossegariam enquanto os dois meninos não estivessem seguros, em seus braços. Como era de costume, a raiva travou uma luta direta com o desespero. Ela já não sabia mais qual a melhor forma de enfrentá-lo... Então, por falta de melhores idéias, achou bom apelar para a razão e sensibilidade: se é que o Cybermen tinha uma. –Por favor, deixe-os em paz. Eles são apenas crianças... Não os envolva nisso! Essa briga é só minha e sua... 

—ENTÃO VENHA CONOSCO. –ofertou o Cyborg. Primeiramente, a mulher hesitou, mas ao ver-se em uma verdadeira linha cruzada, respirou fundo e começou a dar seu primeiro passo na direção da criatura. John poderia protestar quanto quisesse: Para ela, a segurança de seus filhos vinha sempre em primeiro lugar e nada no mundo poderia fazê-la pensar duas vezes sobre isso. Sendo assim, prosseguiu com um segundo passo, mas foi impedida de continuar, pela Melissa de dezoito anos que não só entrou na frente dela, como também falou umas poucas e boas para o robô:

—Escuta aqui ô barril de sucata: Vocês ocasionaram a morte do Doutor. Ele morreu por culpa sua! E não pense que estamos felizes com isso! –ela queixou-se. –Foi para impedi-los de causar o caos, que ele fez tudo isso, e vocês ainda tem a coragem de aparecer, “como se nada houvesse acontecido” e também tem a audácia de vir falar para nós que devemos nos entregar à vocês? São vocês que devem se ajoelhar perante de nós! São vocês que tem que se submeter ás nossas regras, lata de sardinha! Nós estamos em número superior, imbecis!—ela ralhou, cheia de fúria. –Portanto, solte de uma vez esses meninos, sua lata de lixo ambulante!—disse desbocada e cheia de marra.

Surpreendentemente, o Cybermen começou a movimentar-se de modo esquisito. Ergueu o braço do laiser e o encolheu várias vezes. Parecia ter algo de errado com ele.

—Melissa, acho que ele achou seu discurso ofensivo... –comentou a outra Melissa de quinze anos, e de óculos. –Gostei!

—EU NÃO... CONSIGO... ACESSAR AS ARMAS... DO BRAÇO AINDA OPERANTE. PROGRAMAÇÃO ALFA COM DEFEITO... FALHA NO PROCESSO... FALHANDO... FALHANDO!

—Ele deveria fazer isso? –perguntou Matthew, espichando a cabeça atrás do pai.

—Acho que não. –respondeu a Luisa adolescente. –Alguma coisa está impedindo-o de disparar contra nós...

Bang! O Cybermen sofreu um curto circuito geral e explodiu, bem na frente deles. E, pelo que parecia, sem motivo algum. Dentro de instantes, caiu de joelhos e terminou o serviço, desativando-se agora pra valer. Quando o robô caiu de bruços no chão, eles descobriram uma grande marca quadrada em suas costas. Parecia que alguém o tinha atingido com o auxilio de uma arma. Espantados, todos ergueram as cabeças devagar e depararam-se com mais duas silhuetas aproximando-se devagar, nas sombras. O grupo se colocou mais uma vez em posição de defesa, mas novamente foram surpreendidos: não se tratava de mais Cyber-homens, como eles pensaram. Eram realmente dois seres humanos. Ou quase isso...

—Olá, vocês –um homem alto, loiro, de expressão vitoriosa, usando uniforme amarelo com um símbolo parecido com um triangulo prateado com pontas alongadas, tomou a cena, com uma arma em mãos. -Desculpe por isso. –e indicou o Cyborg morto, com a cabeça. –Alguém ficou ferido?

—Não. Nós estamos bem. –respondeu John Smith, em um suspiro de alívio.

O segundo homem á irromper na sala era um pouco diferente: era alto também (um pouco maior que o primeiro) com cabelos escuros em um corte diferente, sobrancelhas quase juntas, orelhas pontudas, feições sérias e uniforme azul, com o mesmo símbolo do lado esquerdo do peito, que o companheiro também tinha na camisa.

O homem estranho de azul guardou sua arma no cinto, ergueu a mão e fez um comprimento alienígena para todos na sala.

Vida Longa e Prospera.

Todos se entreolharam, abismados. Sem dizer mais nenhuma palavra, ele ajudou os dois meninos pequenos a se desvencilharem dos escombros do Cyborg morto, e colocou-os de pé. Chris ameaçava que ia chorar e Dave fazia beicinho.

—Aqui estão seus filhos. –o homem loiro entregou as duas crianças de volta à Luisa adulta, que abraçou-os fortemente e agradeceu muito por ter acabado tudo bem.

—Ah! Meus meninos! Meus amores! Vocês vão ficar bem... Agora vai ficar tudo bem. Eu prometo. –ela acalmou-os pacientemente, mas isso não foi o bastante para tirar a expressão de choque do rostinho dos dois. 

Ás costas dos pais, Melissa abraçava Matthew, que chorava em silêncio. O desespero de perder sua família tomara conta dele. Por sua sorte, ele tinha a irmã mais velha com quem contar. Era obvio que todos naquela sala estavam muito ocupados acalmando a si mesmos, e aos dois meninos menores, e raramente se lembrariam de consolar os mais grandinhos. Mas aos olhos da irmã, Matthew ainda era aquele bebê da história que retratara mais cedo, sob o qual ela ficara responsável naquela ocasião... E jamais deixaria de defendê-lo ou ajudá-lo.

Como se também fossem atraídos pela mesma idéia, Dave e Chris caminharam, ainda chorosos para junto dos irmãos maiores. Melissa e Matt abriram espaço para eles se aglomerarem entre os dois e determinaram um novo abraço, só entre irmãos. A aproximação com os dois pequenos fez com que os corações dos irmãos maiores se acalmassem e eles relaxaram, finalmente. Talvez tenha sido mais por desencargo de consciência; talvez eles realmente precisassem extravasar... Só tinham certeza de uma coisa: queriam se redimir uns com os outros.

—Dave! Me perdoa por dizer que você era adotado! É tudo besteira! –jurou Matthew. -Esquece isso, tá?

—Tá bom. –sorriu Dave, agora mais tranqüilo.

—Melissa... Desculpe por pintar o azulejo do banheiro com a sua maquiagem... –pediu Chris.

Como é que é?—indignou-se ela. Então, percebeu que estava sendo observada e mudou de atitude. –Oh, Chris! Está tudo bem. Só não... Faça isso de novo. –ela riu forçado. -É que a maquiagem é cara...

John Smith e a esposa acabaram rindo de tudo aquilo.

—Olha, acho que devemos começar a fazer o uso desses abraços... Vamos arrancar um confessionário inteiro das crianças! –brincou John. –E olha que nem o padre conseguiu isso!

—Pai! –repreendeu Melissa, com um sorriso amigável.

—Muito obrigada por tudo –agradeceu a Luisa adulta, ao homem loiro e seu acompanhante. –Não teríamos conseguido sem a ajuda de vocês. A propósito, o senhor se chama...?

—Kirk. Capitão James T. Kirk. –anunciou o homem de amarelo. –E não me agradeça. Foi Spock quem fez o disparo com a arma quadra-sônica.

O homem das orelhas pontudas fez uma pequena reverencia.

—Spock é o Primeiro Oficial Comandante da minha nave. Meu parceiro e amigo. Foi graças á ele que localizamos vocês á tempo...

O homem das orelhas fez o símbolo com as mãos, novamente.

—Vida Longa e Próspera, madame.

—Isso é um comprimento? –perguntou a Melissa de dezessete anos, que por acaso estava ouvindo a conversa. Spock assentiu positivamente. –Parece legal. –ela sorriu, tentando imitar o gesto. –E pra você o mesmo, amigo!

—Qualquer pessoa que atinja um Cybermen com uma arma também é meu amigo –afirmou John Smith, aproximando-se dos quatro.

—Ficamos felizes em saber que deu tudo certo. –sorriu o Capitão Kirk. –Mas o tempo é curto e precisamos voltar á minha nave muito em breve. Por isso, pensei em perguntar se vocês gostariam de subir a bordo conosco? –sugeriu, esperançoso.

—Nós? Á bordo de uma nave espacial!? –Melissa fingiu entusiasmo, então cochichou para a Luisa adolescente, que ainda á pouco se juntara a eles: –Como se fosse novidade...

—Mas, trazer gente desconhecida á bordo... Gente que não pertence á equipe, não seria contra as regras? –certificou-se John Smith.

—Não neste caso. E julgando pelo fato de eu ser o Capitão da nave, e do convite ter surgido unicamente de minha pessoa, então acho que está tudo bem, não é? –ele brincou. -Minha Enterprise é uma nave de exploração espacial. Serve justamente para vagarmos pelo desconhecido, por onde nenhum outro homem jamais chegou. E vocês devem imaginar... O universo é imenso: Ás vezes acontece de recebermos convidados á bordo. –ele argumentou. Por um momento, a Luisa adolescente imaginou saber onde aquilo iria acabar... O Doutor vivia fazendo esse tipo de coisa: sempre que alguém estava em dúvida sobre entrar na TARDIS ou aceitar viajar com ele, o rapaz começava uma abordagem exageradamente lúdica, da qual falava coisas maravilhosas sobre o universo e tudo que poderiam fazer á bordo de sua magnífica nave, tornando a proposta irresistível e certamente irrecusável. –Eu sei o que estão pensando... E certifico-lhes que não se trata somente de uma viagem de confraternização. -ele propôs. Luisa desviou os olhos. -Mas aconteceram muitas coisas aqui hoje... Coisas que não sabemos ao certo á que proporções chegaram e precisamos de vocês para formularmos um arquivo mais detalhado sobre todo o incidente. E também, nós temos uma ótima equipe médica á bordo. Se precisarem de alguma coisa... Primeiros socorros, uma checagem de última hora, qualquer coisa...

O grupo se entreolhou.

—Certo. –a Luisa adulta deu de ombros. –Acho que uma consulta médica não fará mal algum a nós.

Começou um burburinho nos fundos da sala e todos começaram a conversar entre si.

—Não irá se arrepender, madame. –acentuou Kirk, então encurvou-se unicamente para a Luisa adulta, sussurrando-lhe: -Não queremos colocar todos em alarde, mas vocês estão muito tempo expostos nessa fábrica fechada, com ácido por toda a parte. –ele alertou. –E, a senhora sabe como é... Queimadura com ácido não é brincadeira... Aspirar ácido, então, tão pouco fica para trás.

—Então está decidido. –ela disse, de modo que todos se calaram e voltaram-se para ela, ao lado da porta. –Vamos aceitar o convite.

—Perfeito! –Kirk bateu uma palma, então retirou-se com Spock. –Me sigam. É por aqui...

—Ótimo! –Melissa declarou. –Tudo menos essa lixeira Cybernética!

Seguiram Kirk e Spock até um certo ponto da fábrica (onde havia bastante espaço para todos) e o capitão os tele-transportou para sua nave num fleche de luz rápido e eficaz.

Quando deram por si novamente, estavam á bordo da nave Enterprise. Lá, num passa-passa desgovernado de pessoais indo e vindo, com pressa –e uniformes coloridos –o grupo foi escoltado rapidamente até a ala da enfermaria. No caminho, Luisa começou a memorizar as cores dos uniformes:

—Capitão? Por que há tantas pessoas de vermelho, amarelo e azul...?

—Cada cor é compatível á identificação de um tipo de divisão de tarefas. Ou, se preferir: elas identificam os postos ocupados pelos tripulantes da Frota Estelar. No caso da Enterprise, persistem as seguintes divisões de comando: engenharia, segurança, ciências e operações. O amarelo é a cor do comando. O vermelho representa operações. O azul, ciências. E, bem... Ah! Leonard McCoy!

Um homem alguns centímetros mais baixo que o capitão e Spock, aproximou-se com uma mala de primeiros socorros. Usava um uniforme azul.

—Kirk, pelo amor de Deus! Nós achamos que a missão tinha sido um desastre! –queixou-se o homem.

—Mas não foi. Como pode ver: Nós todos estamos aqui.

—Sim! Mas alguma coisa bloqueou o contato de vocês com a nave e os rádios transmissores ficaram o tempo todo inativos. Só recebemos retorno agora mesmo, quando o pessoal detectou o sinal do tele-transporte! –ele disse, nervoso.

—Tudo bem! Tudo bem, Dr. McCoy! Acalme-se... –Kirk pôs a mão em seu ombro. –Fique calmo, senão será você que irá parar em uma maca, daqui a pouquinho.

—Talvez fosse melhor dispensá-lo, capitão. Ele parece um tanto... –Spock ergueu uma sobrancelha cética. –Esbaforido.

—Esbaforido!? –o Dr. McCoy ficou um bicho com aquilo. –Ora... É melhor se cuidar, seu Vulcano de meia-tigela! Ou você será o próximo a ir parar na UTI! –ameaçou.

Spock tocou-se tanto com aquilo quanto uma lagarta teria feito. Continuou sério, ereto e impassível, como era de sua postura de costume.

—Se o doutor não aceita críticas. –e Spock saiu, indiferente. O Dr. McCoy demorou um pouco para se estabilizar novamente. Com o olhar fixo, Dr. McCoy acompanhou o homem de orelhas pontudas até ele desaparecer passagem afora. Parecia haver uma certa rivalidade antiga entre eles.

—Desculpe por isso. Eles não se dão muito bem... –Kirk explicou. –Pois bem. Então será aqui que os deixo. –anunciou o capitão, segurando no ombro de John Smith, á frente do grupo. –Vocês ficarão bem na companhia do meu amigo Dr. McCoy. Ele é o Oficial Médico Chefe, da nave. –explicou. –Agora, vocês irão seguir por aquela direção e o acompanharão até ala médica, e então ele poderá examiná-los sem demora.

—Obrigado de novo, pela ajuda. –John Smith agradeceu em nome de todos.

—Não tem de quê. –Kirk sorriu e se retirou, voltando muito provavelmente para a cabine do capitão.

Após todos passarem por uma consulta básica, o Dr. McCoy sugeriu que devessem tomar uma vacina reforço, afinal, se eles ainda tivessem algum tipo de resíduo, imperceptível á primeira vista, dos ácidos no corpo, este poderia ser eliminado drasticamente. E, para o bem e saúde da tripulação toda, era bom que nenhum vírus também houvesse subido á bordo, ou então, eles estariam evidentemente perdidos.

Então, após cinco aplicações, dois choros protestantes vindo dos meninos pequenos, e um desmaio –a Luisa adolescente avisou a todos, antecipadamente, de que não suportava bem picadas de agulha —eis que os procedimentos de emergência acabaram e todos puderam respirar fundo, finalmente.


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Notas finais do capítulo

Hey hey! ;)

Gente, eu adoro fazer crianças fofas♥ Essa família é minha inspiração!!

Kkk Podem ter certeza: os Cybermens nunca foram tanto zoados, nem ganharam tantos apelidos criativos quanto agora. Também, eles nunca haviam cruzado o caminho de Melissa Rivera.

Yep galera! Eis aqui a aparição de Star Trek na fic. Espero que estejam animados com a chegada da Enterprise! Vai ser beeeem cool!!

Espero que tenham curtido o capitulo :) Semana que vem tem continuação!

Vida longa e próspera para vocês, e até breve!





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