Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 72
Família Paralela


Notas iniciais do capítulo

Hey pessoal!

No último capítulo, vimos o desfecho da aventura em Terra Nova (ou melhor "Theia Nova"), mas as aventuras do nosso trio maravilha, viajando na TARDIS pelo universo afora, ainda não acabaram. Não não queridos... Muitas confusões ainda estão por vir, e a "Família Paralela" marca o princípio de uma grande sequência de revelações. Daqui pra frente, mistérios começarão a ser solucionados, e certos segredos poderão ser revelados.
Eu ficaria coladinha aqui no Nyah se fosse vocês! kkkk



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E... Outro dia começou na casa da família Smith. O Sol raiara, os pássaros cantavam melodias agradáveis e a maldita sinfonia perturbadora de um aspirador de pó incomodava profundamente uma adolescente de 15 anos, ainda debaixo dos lençóis, que desejava com muito afinco conseguir prolongar um pouco mais o sono aquela manhã. Afinal, era sábado, e ela não tinha aula.

O som azucrinante parou e ela sorriu, finalmente sentindo que agora conseguiria alcançar seu objetivo: Estava enganada.

—ACOOOOORDA MELISSA! VAMOS DORMINHOCA! “AQUI É A COMITIVA DO CAFÉ BEM FRESQUINHO, RECRUTANDO VOCÊ PARA SE JUNTAR Á NÓS NESSA MISSÃO DELICIOSA”. ACORDA MENINA, ACORDA! –seu pai acabara de invadir o aposento, com uma corneta e um mega-fone, assoprando o primeiro sem cerimônia, e gritando a plenos pulmões com o segundo objeto. A menina submergiu em baixo da colcha da cama, disposta a tentar ignorá-lo. John Smith não gostou disso. –LEVANTA LOGO! SÃO QUASE MEIO DIA! –ele puxou as cobertas de cima dela. -PREGUIÇA, SAI DESTE CORPO QUE NÃO TE PERTENCE!—brincou, fingindo estar exorcizando a filha, depois, tentou puxá-la pelas pernas, para fora da cama, num ato brincalhão.

Pai!—Melissa desvencilhou-se, mau-humorada, puxando as cobertas novamente para cima. –Você fica tão sem graça quando tenta ser engraçado... –ela cutucou, então checou o relógio. –Ora! Você me acordou ás 08:25 da manhã!? Mas você disse que era quase meio dia!

—Sei disso. Essa é uma das graças de se ser pai –ele assentiu. –Meio que faz parte do pacote: você pode perturbar os filhos com um mega-fone, e mentir sobre as horas...—ele sorriu, triunfante, indicando os objetos barulhentos nas mãos. –Além do mais, seus irmãos já estão tomando café e eu pensei que poderíamos todos sentar á mesa juntos, como uma família normal e feliz.

Só porque todo mundo tem tendência a cair na mesma pegadinha, não quer dizer que eu também deva cair.—ela ironizou. John pareceu confuso e intrigado ao mesmo tempo.

—Venha... Está tudo em ordem lá embaixo. Eu preparei um ótimo café pra vocês...

—Exato. –ela repetiu, sorrindo provocativamente. –Você fez o café, pai. De novo. -John finalmente entendeu a indireta e fez uma careta de indignação.

Ei!—repreendeu, ofendido. –Pra começo de conversa, eu sou perito nessa coisa de preparar o café! É só você que não... Ai!parou de chofre, quando recebeu uma almofada de coração na cara, com as palavras: “Você é dez!” bordadas na pelúcia. Catou o objeto no ar, antes que viesse a cair no chão. Melissa o observou com ar de riso.  –Olhe o respeito, menina... Não me obrigue a virar o HULK!—disse, com uma careta e uma pose cômica de academia (tentando mostrar os músculos), ainda com o mesmo bom humor de sempre.

—Pai, você não tem potencial suficiente para ser o HULK... Nem massa muscular!—constatou Melissa. O senhor Smith fez cara de pouco caso. Avaliou a situação por um instante: poderia tirá-la da cama á força, como muitos pais fariam. Mas esse não era o jeito de John resolver os imprevistos. Desde a primeira vez que se viu no lugar de pai, decidiu apelar para uma abordagem mais criativa e inesperada. “Se as crianças querem jogar, então deixe-me criar o baralho de cartas”. Essa, com o passar dos anos, se tornara sua marca registrada.

Enquanto estivera pensando, Melissa voltou a dormir. Sendo assim o senhor Smith apenas sorriu e disse:

—Então é assim? –perguntou, forçando a voz como a de um pirata. Melissa não respondeu. –Arrr! Você não me deixa escolha... –e olhou para baixo: o mega-fone estava na cadeira, mas a corneta barulhenta ainda estava pendurada em seu pescoço. John adorava pequenos instrumentos com grandes repercussões. –Bem, então acho que vou juntar todo o ar dos meus pulmões mortais “de um simples homem sem grande massa musculare soprar a minha corneta de novo...

Melissa se revirou na cama, alarmada.

Não se atreva!—rugiu ela, esperneando entre os lençóis, na tentativa de arrancar aquele instrumento absurdo, das mãos do pai. Mas ele fazia jogo sujo: esticava a mão tão alto que, sentada, a garota jamais seria capaz de alcançar.

—Então você vai se levantar? –instigou ele.

—NÃO! –berrou ela.

—Está bem. Então vejo que terei de usar ARTILHARIA PESADA. –John caminhou até a porta, impassível. –Christoff!—o senhor Smith chamou. No momento seguinte, um menino bem pequeno de 5 anos, usando pijamas de pesinho, chegou correndo, com a energia de 1000 homens, ao quarto da irmã  mais velha. Christoff era magro, de pele bem clara, olhos azuis, de orelhas e nariz um pouco avantajados.

—Chamou, papai?

—Chamei sim. -então lançou um olhar determinado à Melissa. -Bem, se eu não posso mais com você, mocinha, ao menos eu sei quem pode: MEU MELHOR HOMEM! –brincou, erguendo o filho caçulas nos braços e colocando-o em pé, na cama da garota. –Vá filho! Ataque o inimigo enquanto ele dorme!!!—brandiu. O menino começou a fazer cócegas na irmã, á mando do pai. Mas John não ficaria por fora da brincadeira por muito tempo. Assim que Chris “atacou” a irmã, John se prontificou a ajudá-lo na divertida tarefa.  

No meio da farra, ouviu-se um ruído rouco e arrastado, seguido de um tilintar de campainha de bicicleta, que se propagou por toda a casa, vindo do jardim, no andar de baixo. John imediatamente se endireitou, arrumando as vestes amarrotadas.

Ah. Sua mãe chegou!—ele disse surpreso, consultando o relógio. –Tão cedo? Eu ainda nem liguei os Sprinklers!—então voltou-se para os filhos. –Chris, volte para a mesa e termine seu café; Melissa, ponha os óculos e levante da cama de uma vez por todas... JÁ VOU, QUERIDA!—e sumiu pela porta, agitado. As crianças se entreolharam, abismadas: a demonstração de preocupação e receio do pai, não eram normalmente esperadas nessa circunstância.

John fez o percurso rapidamente até os jardins, angustiado. Receber a esposa de volta do trabalho tão cedo, não podia significar boa coisa.

—JOOOOHN! Onde você está? –gritou a voz feminina e irritada de Luisa, desmontando de sua bicicleta. A mulher tinha os cabelos loiros e volumosos, espaventados. A camisa social branca e a saia preta comprida estavam sujas de óleo. Ela estava descalça no gramado. Os olhos cor de mel estreitaram-se impacientemente, ao deparar-se com a figura esbaforida do marido. –John! Que demora! Onde estava? Eu tive que gritar...

—Eu estava no andar de cima –ele arfou, apoiando-se nos joelhos, para recuperar o fôlego. Seus olhos pousaram sob o gramado seco, reparando silenciosamente na falta da irrigação matinal. Ele rapidamente encontrou o fôlego e gaguejou: -Desculpe querida, foi falha minha. Há essa hora eu já deveria estar aqui no jardim... –e fitou-a com curiosidade juvenil. -Espere. Está zangada?

Bem, parece que sim!—retorquiu ela asperamente.

Apesar do mau-humor da esposa, ele não se deixou abater.

—Como foi no trabalho? –perguntou gentilmente, entrelaçando as mãos na frente do corpo.

—Quer MESMO saber como EU fui no trabalho? –ralhou ela.

John coçou a cabeça, considerando a pergunta. Ela parecia um tanto hostil.

—Não sei se quero mais... –disse, emudecendo. Tinha que ter cuidado com as próximas palavras: o clima estava tenso. 

—Se quer mesmo saber... FOI UMA DROGA! –extravasou ela, gesticulando com os braços. John encolheu-se um pouquinho. –Pra começar, eu discuti com a Anna. Eu não suporto AQUELA METIDA! E aquele jeito organizado e prestativo dela me dá nos nervos! Não entendo porque ela persiste com essa mania irritante de querer me auxiliar em tudo o que faço...

—Talvez porque ela seja a sua assistente. –John lembrou-a. A mulher não gostou de seu argumento.

—Está me dizendo que está defendendo aquela VÍBORA?!

—NÃO! Não. Eu só quis... –ele se enrolou. Odiava quando a esposa colocava os pés pelas mãos. Enquanto ele se explicava, Luisa o estudava, criticamente. Foi nesse momento que ele apelou para o único modo possível de se colocar panos quentes naquela história: –Sim, sim. Você está certa. Totalmente certa. Essa Anna não vale o que come. –concordou automaticamente.

É isso aí!—Luisa articulou, sentindo que o marido finalmente a tivesse compreendido. –Depois, passei o dia todo sem receber nenhuma ligação... Puxa, eu trabalho em uma Agencia de Detetives! Será possível que nenhuma alma viva tenha um caso para eu distrair minha mente? Nenhuma traição, assalto, ameaça de morte... NADA! —resmungou. -E depois, ainda por cima, a TARDISes furou o pneu na via expressa do Vórtice Temporal... De novo!—exclamou. –Odeio aquele maldito Piloto Automático!

—Se o detesta tanto, porque ainda usa?

—Porque eu precisava pintar minhas unhas, ora bolas! –ela gritou, arregalando os olhos e ilustrando a própria fala ao mostrar-lhe as mãos. –SABE COMO É DIFÍCIL DIRIGIR E PINTAR AS UNHAS AO MESMO TEMPO, HOJE EM DIA?—brandiu.

—Pois é –ele balbuciou, encarando as unhas da esposa. Queria mostrar-se prestativo. Não queria deixá-la mais estressada do que já estava. Dessa forma, assentiu, poupando-a de ter de lhe dar mais detalhes cansativos sobre o caso. -Acho que consigo imaginar...

—Isso é mesmo ótimo, porque foi SÓ O COMEÇO! –ela passou reto por ele. John suspirou, inquieto. –Depois de brigar com a minha assistente; não conseguir nenhum caso novo para me aprofundar; pegar a via Vortex errada e me perder com o piloto automático; furar o pneu dianteiro e danificar minhas unhas e cabelos na Estáticosfera; eu ainda consegui quebrar cinco alavancas, dois cabos auxiliares e meu salto-alto favorito! –ergueu-o para que o marido pudesse ver. Felizmente, apenas um dos calçados se quebrara. O sapato era vermelho, e estava com o salto fino e comprido partido ao meio. Ao menos agora ele sabia qual a explicação viável para a esposa estar descalça. Ele estivera se perguntando isso já há algum tempo, mas preferiu não importuná-la com perguntas. Ela estava nervosa, e precisava desabafar com alguém... Por que não com o amor de sua vida?—... esse negócio foi uma lástima! Deveria ter exigindo um cupom fiscal na lojinha de acessórios... Que picaretagem é essa? É um bônus? Alguma brincadeira do tipo: “Puxe uma alavanca e quebre três cabos”? AH! FAÇA-ME O FAVOR...

—É... Deve ser. -John estava perplexo. Não sabia nem o que dizer.

—O pior foi ter quebrado meu salto! MEU SALTO NOVO! –gemeu.

—Aquele que você sempre apresenta como novo, porque ele muda de cor, mas na verdade, é do arco da velha...? –John murmurou, distraidamente. Os olhos de Luisa fuzilaram-no, demonstrando que ela não só ouvira o comentário, como também se ofendera com ele. John engoliu em seco. –Brincadeira!—interveio ele, de bom humor. Mas, como ela não retribuiu seu sorriso, ele baixou os ombros. –Bem, acho que não agradou...

Como foi que adivinhou? —ela pôs as mãos nos quadris, impaciente, resgatando seu tom cínico e sarcástico. –E, só pra terminar o meu GLORIOSO dia... Eu ainda fui MULTADA!!!

John tentou parecer surpreso.

—Por dirigir e pintar as unhas ao mesmo tempo?

Por tentar quebrar o outro salto na cabeça daquele guardinha interplanetário infernal!—choramingou ela. –Eu não acredito nisso! ESSE É O PIOR DIA DA MINHA VIDA!

—Ah, querida... Eu entendo você. –ele assegurou. –Eu também estaria uma pinha de nervos se tivesse levado uma multa.

—Não estou chorando por isso! –ela rebateu. –Depois de ser multada, eu ainda descobri que aquela lojinha que vende uns vestidinhos bárbaros e sexys, com GPS embutido, só vende ATACADO! –ela despencou no banco da bicicleta, completamente arrasada. O marido mordeu o lábio. –Aaaah! O que eu farei agora?

John suspirou. E sorriu simpaticamente.

Ah, vem aqui...—o sr. Smith andou em sua direção e abriu os braços, na tentativa de ser solidário. Queria envolvê-la em seus braços e confortá-la depois desse dia difícil. O único problema era que sua esposa estava arisca como uma gata.

—Não John... –arfou ela, esgotada, virando de costas para ele. –Você viu o que aconteceu? Prestou atenção? Três unhas borraram e o meu cabelo ficou armado... –ela choramingou desgostosa. –Eu levei mais de vinte minutos para conseguir domá-lo, hoje cedo, mas agora só sobrou uma triste recordação disso! –fungou. Então voltou-se para ele. John estava a poucos centímetros de distância, com o mesmo sorriso simpático de sempre. Os braços ainda atados. –Não. –ela desvencilhou-se dele. –Você não entende... É igual ao meu chefe: é homem e é humano.

John achou seguro rir desse comentário. Luisa também acabou sorrindo de leve. Porém, quando notou que John estava ciente de sua suposta descontração, voltou a amarrar a cara de imediato. O rapaz arriscou mais alguns passos, até ela. O olhar estava tomado por um brilho puro e romântico.

—Mas tem algo em que eu não sou igual ao seu chefe, –ele disse com a voz rouca. Luisa sentiu um arrepio bom passar pelo corpo. Era a primeira coisa boa que acontecia á ela naquela manhã. –Fui eu quem me casei com você. Esse ponto já torna a mim e ao seu chefe, dois caras bem diferentes... –argumentou ele, carinhosamente. –Vem... Você realmente precisa de um abraço. –e enfatizou os braços estendidos para a esposa carente. Ela estava tão abatida...

—Não, não preciso. –rebateu ela. Ainda estava chateada.

—Precisa sim... –ele se aproximou mais, na esperança de conseguir envolvê-la. Tinha a impressão de que ela cederia a qualquer momento, mas inexplicavelmente, algo ainda a mantinha magnetizada no mesmo lugar. O fato era que ela passara por muita coisa naquele dia e, com certeza, não seria uma simples conversa com o marido que conseguiria acabar com seu mau-humor ou alterar sua maré de azar. Não era de se espantar que Luisa continuasse distante e emburrada: definitivamente, ela estava tendo um dia ruim. Por fim, vendo que ainda não reproduzira o resultado esperado, John fez uma coisa que sabia que Luisa jamais resistiria: ele fez beicinho para ela. Aquela cara de criança fofa, geralmente repercutida por ele somente em momentos estratégicos, amoleceu de vez, o coração da Senhora do Tempo.

—Ah... Não faz essa cara... –ela ronronou, manhosa, brincando com os botões da camisa do marido. Sua voz imediatamente se tornou doce de novo.

Os dois se aproximaram para se abraçar, então, quando tornaram a recuar os rostos, contemplaram-se por um instante e se beijaram.

—Até que enfim! –John bufou, rindo, quando se afastaram. Ela lhe deu um tapinha no braço, descontraída. Os dois sentaram-se juntos na grama por alguns minutos: Luisa deitada contra o peito de John. Ambos observando o vento fazer as flores de dente de leão alçarem vôo pelo jardim, transformando a visão em algo único e especial. –Nada pode estragar esse momento...

—Querido... –ela murmurou, em meio ao clima de paz e tranqüilidade. 

—Hum?

—Tem mais uma coisa que eu não te contei... –Luisa ponderou, fazendo uma pequena pausa. John nem se incomodou. Estava se sentindo ótimo por ter conseguido acalmá-la. –Eu... Estou de TPM hoje. –disse, um pouco relutante.

O QUÊ!?—John exclamou, dando um impulso para frente. Luisa acabou sendo empurrada no ato.

—Ai! –gemeu. –Será que você pirou de vez?

TPM? Quer dizer que você está...—ele estudou-a dos pés a cabeça numa fração de segundos. –Argh!—acabou por fazer uma careta. A garota pôs as mãos nos quadris.

—Não faça “Argh!” pra mim! –exclamou, revoltada.

—Tem razão... Desculpe. –John adiantou-se. –É que, só de pensar na idéia... Luisa, você é uma Senhora do Tempo. Eu sempre me esqueço de que grande parte das fêmeas alienígenas também menstruam.

—Bem, só algumas de nós... –ela ponderou. –Outras fazem os maridos “engolirem os dentes” –ela fez uma ameaça retórica.

—Espere. Isso significa que... OH MEU DEUS! –gemeu John, espantado, erguendo-se em pé. –Estamos naquele ciclo outra vez!  —ele cobriu os lábios, exasperado. Ás vezes John fazia um drama... Era profissional em fazer TEMPESTADE EM COPO D’ÁGUA.   

—JOHN... John calma... –Luisa instruiu. A cada passo que dava em sua direção, ele recuava dois.

—Onde eu coloquei? Onde foi mesmo que eu instalei? –ele perguntava, de olhos fechados. Parecia querer se lembrar de algo.

—Instalou o quê meu amor?

—LEMBREI! –John gritou. Deixou a esposa para trás e saiu correndo cozinha á dentro, derrapando desajeitado pelo corredor que levava ao hall de entrada, e finalmente, parando em frente a um porta-chapéus, encaixado na parede, bem ao lado da porta de entrada. Em desespero, ele deslocou a estrutura de madeira e derrubou-a no chão. Em um buraco, disfarçado pelo papel de parede, havia nada menos que um botão vermelho, protegido por uma redoma removível de plástico. O botão estava encaixado dentro da parede. John rapidamente removeu a redoma e apertou-o, de modo que um alarme incômodo começou a ressonar por toda a casa. Junto do som incessante, John emendou: –CRIANÇAS! VENHAM TODAS ATÉ AQUI! É UMA EMERGÊNCIA! -Satisfeito, mas certamente, não muito tranqüilo, ele voltou correndo até o jardim. A esposa o fitava, abismada. –Prontinho querida.

—Meu bem... O que foi tudo isso?

—Eu instalei isso, á pouco menos de um mês... É um botão interativo. Eu o comprei na loja de artigos de bombeiros –ele sorriu com as mãos nos bolsos, satisfeito. –É um alarme de “TPM AGUDA”. Serve para deixar todos cientes de que o ciclo de “irritações, distorções de boas intenções e impaciência” está prestes a começar. –ele anunciou, para a incredulidade dela. –É um aviso para todos poderem se preparar para o que vem pela frente!

John estava empolgado com isso. Luisa mordeu a língua, insatisfeita.

—Você instalou um botão de TPM em casa, sem me consultar?

John engoliu em seco.

—Estou detectando uma reação hostil...? –ele instigou, como se estivesse testando-a. Luisa deixou o queixo cair. Não conseguia acreditar no que estava presenciando.

—São atitudes como essa que fazem os homens precisarem de um botão desses...

Vendo que não tinha agradado, John apelou de novo para o bom humor. Dirigiu-se á esposa, deixando-se desabar de joelhos sob o gramado e declamou, aos pés de Luisa: “Oh, Deus! Em um momento difícil como este... Encaro a verdade bem na frente de meus olhos vidrados de pavor e comoção: Minha esposinha está brava comigo. Sim, sim ela está!” —disse, teatralmente. Um sorrisinho apareceu no rosto de Luisa. John era tão dramático às vezes... –“... então, é ao meu anjo da guarda que peço auxílio nesse momento de dificuldade: Devo me abrigar nas colinas ou no porão? Sim senhores... Esta é a questão!”.

Cala essa boca!—Luisa riu, acariciando os braços do marido, que agora a abraçava pela cintura. Naquele momento, as crianças irromperam no espaço.

—Mamãe! –gritou Christoff, animado.

—Pessoal, não se peguem na frente do Chris... Ele só tem cinco anos!—Melissa fez uma careta ao ver os pais entrelaçados. Já havia visto o pai abraçar a mãe daquela forma outras vezes... Só podia significar uma coisa: –Vamos ter outro bebê? Deus do céu! Vocês parecem coelhos!

—Não. Não vamos ter outro bebê.—a mãe negou, sorrindo torto. –Isso é só o seu Pai sendo muito bobo.

—E a mamãe me enlouquecendo –John completou, erguendo-se de pé e entrelaçando o braço ao redor da esposa. Dito isso, um alvoroço se formara: Mais duas crianças atravessaram a porta da cozinha, para o jardim. Eram dois meninos. O mais velho se chamava Matthew. Ele tinha 11 anos, pele clara, olhos verdes, cabelos louros e queixo um tantinho avantajado. Era mais baixo que Melissa e, assim como ela, tinha uma língua afiada. O mais novo tinha 7 anos e seu nome era Dave. Batia exatamente na cintura do outro. Era ruivo (com cabelos desgrenhados e indomáveis, iguais aos do pai), de olhos cor de avelã, pele clara, e sardas ao redor do nariz fino e bochechas. Eles pareciam discutir incessantemente. O mais velho provocava o irmãozinho.

Dave, você é o único RUIVO da família... Não acha que tem algo errado?

—Não! Eu não acho! –gemeu o garotinho ruivo, batendo o pé no chão de uma forma infantil.

—Só há uma explicação viável para isso: Você é ADOTADO!

—Mamãe! –choramingou Dave, correndo para os braços de Luisa. Ela se abaixou para poder lhe dar colo. Assim que ela o envolveu em um abraço, olhou de uma forma reprovadora para o filho mais velho.

—Não ouça seu irmão, Dave. Isso não é verdade... -acalmou-o a mãe, passando a mão em suas costas pequenas, na intenção de relaxá-lo. Dave fungou em seus braços, muito sentido.

—Mas ele é diferente de nós! É ÓBVIO que ele é adotado! –rebateu Matthew, insistentemente.

—Pára Matthew! –Dave começou a chorar. –Mamãe! Faz ele parar...

Oh, meu amor... Não chora, não. Pronto, meu anjo. Shhh... Já passou. Está tudo bem agora... –Luisa intensificou o abraço ao redor do pequeno. Enquanto consolava o filho, ela lançou um olhar urgente ao marido que rapidamente assumiu a causa.

John deu um passo à frente.

—Está enganado, filho. Na ciência do DNA, há muitas ocorrências de casos de crianças que nascem diferentes dos pais, e nem por isso significa que elas são adotadas ou foram trocadas na maternidade... –ele explicou. -Acho que você aprenderá isso no ensino médio...

—É. Eu já estudei isso. –concordou Melissa. –Genética. 2º ano do ensino médio. Uma matéria fascinante... –disse ela arregalando os olhos sem grande animação, aparentando tédio.

—Viu? O papai tem razão, Dave. –Luisa enfatizou, fazendo o menino olhá-la nos olhos. –Você nasceu mesmo da mamãe.

—Mas e se eu tiver sido trocado na maternidade? –Dave insistiu, pegando a deixa do pai. –Então não sou seu filho de verdade?—ele ameaçou chorar novamente. –Essa não! Eu não quero outra mamãe!

Luisa sorriu encantadoramente para o menino.

—Não existe possibilidade disso ter acontecido, meu anjo, porque eu e o papai tivemos você aqui em casa –ela afirmou. –E eu me apaixonei tanto pela sua carinha fofa que, mesmo que você estivesse em um berçário, junto de várias outras crianças, seria impossível de confundi-lo com outro bebê. –ela disse, fazendo-lhe cócegas. O menino acabou sorrindo. Já Matthew, perto dali, bufou e revirou os olhos.

—Mesmo assim, ainda acho que ele é adotado! –teimou Matthew.

—Você acha? –John lhe deu corda. -Se bem que... Se não me engano, eram duas crianças loiras que nós adotamos, não é querida? –o sr. Smith fingiu relembrar, lançando uma piscadela à esposa.

—Bem, se você diz... –Luisa ficou em cima do muro, com ar de riso ao entrar no ‘joguinho’ do marido. –Foi você que movimentou a papelada necessária. Eu não tive nada a ver com isso!

—O quê? –Matthew ficou paralisado, olhando assustado da mãe para o pai. –Como assim?

—Bem... Você e a sua irmã Melissa foram abandonados e encontrados em uma caçamba de lixo por um mendigo muito camarada. Isso foi á vários anos atrás... Naquele tempo estávamos querendo ter filhos, mas não conseguíamos porque a mamãe ficava no ciclo do botão vermelho o mês todo. –ele brincou, provocando a esposa também. Luisa achou que John estava começando a merecer umas boas palmadas. Mas não disse nada. Apenas ficou observando-o com os olhos semi-cerrados, fez um bico gigantesco e balançou a cabeça negativamente, com aquilo tudo. Dave estava bem quietinho em seu colo. Chris brincava na caixa de areia, indiferente com tudo o que se passava ao redor. Já Melissa, tinha um brilho distinto no olhar. Parecia um tanto... Feliz. O marido prosseguia com a farsa: -Queríamos ter filhos, então vimos vocês sendo anunciados no noticiário, há muitos anos atrás. Nos comovemos com a história e pensamos: Por que não adotá-los?—mentiu o sr. Smith.

Hã!?—Matthew pareceu ficar anestesiado. De repente, o mundo todo estava de cabeça para baixo.

Então quer dizer que eu sou ADOTADA!—festejou Melissa. –EU SABIA QUE NÃO PERTENCIA Á ESSA FAMÍLIA DE LOUCOS!

—Ah, querido! Que droga! Combinamos que só diríamos isso a eles quando os dois fizessem vinte anos... –lamentou Luisa, fingindo desapontamento.

—Tem razão. Eu conto o resto depois... –então John deu-lhes as costas e se retirou, voltando á cozinha. Antes de sair, porém, lançou uma singela piscadela à esposa, que retribuiu a intenção lançando-lhe um beijo invisível. Melissa viu a piscadela que o pai deu e, após Matthew adentrar na casa junto de John, atrás de respostas, ela constatou insatisfeita:

—Era tudo brincadeira, não era?

—Claro que sim, querida. –sorriu Luisa radiante. –Quem disse que a única forma de educar é batendo? Existem outros métodos bastante eficazes...

—Ótimo! –resmungou Melissa, cruzando os braços e fechando a cara, marchando de volta para a cozinha, deixando a mãe sozinha com os dois pequenos.

Acabada as desavenças, Luisa abraçou o filho de 7 anos, ainda em seu colo, com carinho e beijou sua testa.

—Você sabe que a mamãe te ama, e que jamais mentiria pra você, não é?

—Sei. –sorriu Dave.

—Eu quero uma resposta mais convincente que isso. -ela cutucou sua barriguinha, fazendo-o rir de verdade com as cócegas. –Sabe mesmo? Sabe mesmo, hein? Hein?

Sei mamãe!—ele riu imensamente.

—Ah, agora está muito melhor...

Vendo que todos haviam ido embora, e que estava perdendo uma grande oportunidade de participar do “expresso da cosquinha”, Christoff se aproximou da mãe e do irmão. Luisa imaginou que ele também quisesse brincar –Chris adorava um momento bobeira—mas, contraditoriamente, o menino lhe fez uma pergunta, muito sério:

—E eu, mamãe? –perguntou inocentemente. –Sou adotado?

Luisa riu espirituosamente ao ouvir o filho de 5 anos fazer uma insinuação daquelas.

—Meu amor... E você sabe lá o que é “ser adotado”? –questionou a mãe.

Chris deu de ombros, ingênuo.

—Não. Mas parece ser importante... –falou ele, devagar, esfregando os olhinhos. Chris sempre fazia isso quando estava ficando com sono. Captando a deixa, Luisa o apanhou no colo, e instalou-o juntamente de Dave.

—Não, meu amor. Nenhum de vocês é adotado. Nem mesmo o Matt e a Mel. –riu ela, abraçando as duas crianças. –Ah... Como eu amo vocês, meus meninos...

—Nós também te amamos. –Dave disse, depois de sustentar o olhar de Chris: ele entendia tudo que o irmãozinho queria dizer só de observá-lo. Como que para ilustrar o que o irmão dissera, Chris abriu os braços e disse:

—É verdade, mamãe... Um tantão assim, olha!

—Nossa! Quanto amor! –ela disse entusiasmada, distribuindo beijos para todos. –Assim eu vou ser a mamãe mais feliz do mundo!

—Mamãe... –Dave ponderou, depois que se afastaram. Ele parecia inquieto. –Poso perguntar uma coisa?

O menino desceu de seu colo: atitude suspeita. O detector de encrenca instintivo começou a apitar na consciência de Luisa. Ela envolveu Chris em seus braços (pois o sono já começara a dar vestígios) e se inclinou para o menino ruivo.

—Tá legal. O que foi que você quebrou? –Luisa desconfiou. O menino costumava enrolar quando tinha feito algo de errado. O lado bom de tudo, era que ele não aprendera a guardar segredo e Luisa podia contar com ele para saber de qualquer coisa. Qualquer coisa mesmo, que estivesse acontecendo dentro das paredes de sua casa. Naquele dia, porém, Dave não estava agindo como se tivesse feito bagunça ou quebrado algo. Ele retorcia a camiseta do pijama de uma forma automática e nervosa, quase como se descontasse no tecido todo o desconforto que sentia ao estar dizendo aquilo para a mãe. Luisa estranhou sua reação. –O que foi, meu bebê? O que está havendo?

—É que... –ele parecia indeciso em prosseguir. –Eu tive um pesadelo essa noite.

—Outro pesadelo? –para Luisa, aquilo foi o mesmo que dizer que ele havia ralado o joelho. –Você sonhou com o quê?

—Foi horrível! –ele bradou. –Nós fomos capturados por um bicho prateado! Então, eu, você, Chris, Mel e Matt fomos levados a um lugar muito frio e sombrio e o bicho separou você da gente! –quando terminou, ele fazia beicinho, igual ao que John fizera mais cedo. Mas o que o primeiro tivera de fofo, esse não conseguiu copiar. Parecia mais genuinamente triste que outra coisa. Luisa segurou o rostinho do filho com ternura, com cuidado para não acordar Chris.

—Isso não vai acontecer, anjo, porque foi só um sonho ruim. –ela enfatizou. –Pesadelos são ruins enquanto estamos de olhos fechados. A partir do momento que abrimos os olhos e começamos nosso dia, ele vira um pensamento ruim, que, se tudo correr bem, não passará de uma mera lembrança aleatória, de noite, quando você voltar a fechar seus olhinhos.

—Não. Eu nunca mais vou voltar a dormir! –Dave decretou. A mãe inclinou a cabeça, achando graça da carinha de relutância dele.

—Não pode ficar sem dormir... –disse, disfarçando o ar cômico. Ela sabia que o filho estava dando muita importância á causa, e não queria ferir seus sentimentos. –Vamos... Eu leio uma história pra você. Canto uma cantiga de ninar... Quem sabe a do Velho Fazendeiro McDonnald, que tinha uma fazenda... Você adora essa música!

—Não gosto mais. –Dave disse, sentido. -O Matt disse que é coisa de bebê. E o papai sempre diz que eu já sou um mocinho! –suspirou, em conflito. -Não posso ser as duas coisas... Posso?

Luisa refletiu por um segundo, olhando para o rostinho desconsolado do filho.

—Não importa o que os outros querem que você seja –ela disse, por fim. –Você sempre será meu anjinho.

Os olhos de Dave se iluminaram instantaneamente.

—Mas... O papai...

—O papai diz isso só pra te incentivar –garantiu. –Ele não está exigindo nada de você, Dave. É só uma forma carinhosa de dizer o quanto ele tem orgulho de você. Entende? Ele não quer que você cresça antes da hora. E o Matthew, bem, você sabe que ele sempre fica pegando no seu pé... –destacou. –É só ignorá-lo, que tudo acabará bem. Agora, a pergunta decisiva é: Você gosta da música do Velho Fazendeiro?

Dave assentiu positivamente. Os olhos fixos na mãe.

—Então você continuará gostando, ora! E continuará cantando e cantando até que você enjoe! –anunciou Luisa. -Se é que isso ainda vai acontecer algum dia...

Dave riu da expressão duvidosa que a mãe fez com o rosto.

—Então... –ele começou. –O pesadelo vai embora com a música?

—Vai sim. Com certeza. –ela assentiu. –E quer saber, se a do Velho Fazendeiro não der conta do recado, nós ainda temos um milhão de outras músicas para testar! –ela anunciou, erguendo-se, ainda carregando Chris no colo, adormecido, e estendendo a mão livre para Dave. Ela estava acostumada a se desdobrar para cuidar de mais de um deles ao mesmo tempo. –... tem a da Dona Aranha; a do Sapo Que Não Lava o Pé, e... Como é mesmo aquela que fala do balão?

—Cai, cai, balão?

—Essa mesmo! –Luisa bagunçou os cabelos do filho. –Está vendo? O dia está passando, nós estamos falando de um assunto agradável... É assim que funciona! Não precisa ter medo de um pesadelo, pois é só isso que ele é: Um sonho ruim. A partir do momento que você se esquece dele... Ele passa a não perturbá-lo mais... Entendeu?

Dave assentiu, já mais animado. Abraçou a cintura de Luisa e acompanhou-a de volta á cozinha. Dave sabia que a mãe teria que passar no quarto dele e de Chris, para deixar o caçula dormindo no berço, e que faria o percurso bem lentamente, para não despertar o garotinho em seu colo, portanto, assim que entraram na casa, Dave não conseguiu mais conter sua inquietude de criança sapeca e disparou pelo corredor, casa a dentro: provavelmente, com o bom humor restaurado e a vontade de brincar e fazer bagunça, gritando dentro de si.

Com a paciência de sempre, ela subiu as escadas, levou Chris até o berço –que já estava ficando um tantinho pequeno para ele –e o cobriu. Depois, apurou os ouvidos perto do hall da escada e desceu bem rapidinho ao ouvir o tilintar das chaves de John. Já era quase dez horas agora. Estava quase na hora dele ir trabalhar. Mas antes, ela tinha que conseguir alcançá-lo para dizer uma coisa importante que a deixara muito intrigada.

—John! John! –martelou os pés pelo soalho, conseguindo alcançá-lo já na porta de casa. Os dois pararam e se olharam. John sorriu torto.

Eu adoro quando você me olha assim...

—Dá pra parar com isso? –ela repreendeu. –Não é hora para... –parou de chofre. Olhou de um lado para o outro antes de prosseguir: não queria que nenhuma das crianças escutasse. –Sexo. –disse, inquieta. –Pode me dar uns cinco minutos do seu tempo? Sei que está saindo vinte minutos adiantado para chegar na Editora, e que detesta chegar em cima da hora, mas devo lembrá-lo de que eu não vou conseguir esperar até você voltar...

—Mas tem que ser agora?—ele franziu a testa. Então captou a mensagem. Ela estava fazendo jogo duro, só podia ser... Ele sabia o que realmente ela tinha em mente. Aquele lance das mulheres de dizer que não querem uma coisa, quando na verdade, aquilo é tudo o que mais querem na vida. Sendo assim, John fez outra cara de danado: –Só se forem trinta segundos... Mas não podemos nos empolgar muito. A última vez que fizemos isso, resultou nas últimas doze semanas de gestação do Christoff.

—Não! –ela lhe deu um tapa no braço. –Eu absolutamente não estou pretendendo transar agora! –disse, um pouco alterada. John pareceu ligeiramente desapontado. Luisa respirou fundo e tentou recomeçar: -Será que podemos ter uma conversa civilizada lá na cozinha, por favor? Não quero tirar mais de seu tempo...

—Sim, querida. –ofereceu o braço a ela e Luisa aceitou, apesar de achar que teria de ter outra conversinha com ele, mais tarde, sobre aquele suposto acesso de “sede sexual”, fora de hora. Chegaram na cozinha. John colocou sua pasta de anotações no chão apoiada na perna da cadeira, e sentou-se á mesa, de frente para a esposa que permaneceu em pé, sentada contra a bancada lateral onde ficavam os biscoitos e a prataria. O rapaz entrelaçou as mãos; a garota respirou fundo. –Vamos lá então: Diga o que tem a dizer.

—Bem, vou direto ao assunto: o Dave teve outro pesadelo.

—Mais um? –John empertigou-se na cadeira. –Quando aconteceu?

—Essa noite. –disse Luisa. –Ele não pára de ter esses sonhos agitados com monstros e coisas prateadas e eu não sei mais o que fazer sobre isso! –exclamou, exasperada. –Eu já tentei de tudo! Estou sempre tentando uma abordagem diferente... Hoje sugeri que ele devesse cantar uma canção, para afastar os sonhos ruins, mas ele simplesmente me olhou nos olhos e disse que não queria voltar a dormir novamente! –ela lembrou-se da cena. John esfregou a mão na testa.

—Mas você conseguiu convencê-lo, certo?

—Exato. Mas eu tive mais dificuldade para pensar em uma estratégia diferente hoje... Estou ficando sem idéias boas! –ela se jogou em uma cadeira, esgotada. –Não sei mais o que fazer.

—Você não tem culpa. –John exalou, devagar. –Nosso filho está com problemas. Precisamos ajudá-lo nessa hora. Apoiá-lo a todo custo. Somos o espelho dele. Os exemplos. Precisamos tomar as rédeas da situação. Precisamos provar a ele que está seguro em casa, conosco... –concluiu. –Talvez seja isso. Talvez ele esteja se sentindo inseguro por algum motivo...

—Não sei como foi que isso começou... –ela suspirou. –As cenas que ele relata sobre os sonhos parecem tiradas de filmes de terror! –então uma idéia lha ocorreu: -Será que o Matthew andou assistindo algum filme impróprio para a idade dos meninos menores e o Dave viu alguma coisa que o deixou com medo?

—Acho que não. –John retorquiu. –O Matthew não é má influencia. Ele pode ser bem teimoso, e provocativo de vez enquanto, mas tem seus lados bons. Outro dia mesmo eu o vi brincando de jogar futebol no gramado com o Dave e a Mel... Não acredito que seja isso.

—Você lembra quando o Dave nasceu? Uma estrela cadente caiu, no céu acima de nós, e ele esticou os bracinhos, querendo pegá-la. -Luisa sorriu, recordando-se do passado. –Ele sempre foi tão sonhador...

—E inventivo –o pai emendou. –Ele é um menino muito criativo... Adora surpreender. Houve um dia em que eu estava assistindo com Melissa um documentário sobre camaleões. Depois que o programa acabou, eu reparei que o Dave não parava de rabiscar algo em uma folha. Quando perguntei a ele o que estava fazendo, ele se virou e me mostrou um desenho de um camaleão multicolorido com estrelas nos olhos e um planeta na barriga. Então eu disse: “Filho, porque você o desenhou com estrelas e um planeta?” e ele respondeu: “Porque ele tem um olhar cadente e um estômago interplanetário”. Eu ri e ele ainda emendou, inocentemente: “Se ele tem um arco-íres nas costas, porque não poderia ter o universo inteiro dentro de si?”.

—Eu lembro disso... –Luisa suspirou. Uma sensação boa a invadiu, mas logo se dissipou, pois ela voltou a lembrar dos problemas do momento. -O fato é que não podemos simplesmente ignorar a situação... –declarou, preocupada. –Nosso filho pode até não aparentar, mas eu sinto que, bem lá no fundo, ele está implorando por ajuda. Não podemos ficar vendo-o decair aos poucos, de braços cruzados, sem tomar nenhuma providencia... Isso não está certo. –dito isso, John segurou sua mão, lhe dando apoio.

—Nosso filho não está sozinho. Ele tem a nós. –afirmou com a voz rouca. –Nós iremos ajudá-lo. —sorriu. –Agora acalme-se. Você está muito tensa... Por hora, não se preocupe mais com isso. Dave só está passando por uma fase ruim. Em geral, toda criança passa por isso alguma hora... Eu até lembro de uma vez, quando eu ainda era criança, que um primo meu foi passar uma temporada na minha casa. Obviamente, eu não o via há muito tempo e estava doido para começarmos a brincar. Durante a brincadeira, ele veio me dizendo que precisava fazer uma pausa para ir ao banheiro e que já voltava. Naturalmente, eu assenti e deixei que ele fosse. Por muito tempo, eu esperei que ele voltasse. Talvez não fosse tanto tempo assim, afinal, quando se é criança, se tem uma perspectiva bem diferente das coisas... –refletiu. A esposa o fitava com atenção. -Contudo, chegou um momento em que eu resolvi ir atrás dele para ver porque ele não voltava... Eu o fiz, decidido. Entrei na casa e encontrei-a vazia. Estremeci. Na mesma hora, uma corrente de vento derrubou um objeto próximo a mim e eu me assustei. Seguidamente, ouvi sons de correria... Hesitei. Pensei que tivesse visto uma sombra se mover próxima ao sofá. Imaginação fértil de criança... Respirei fundo, tentando manter o controle. Então, reunindo toda a minha coragem, resolvi que deveria enfrentar o que quer que fosse e acabar de uma vez com todo aquele suspense. –narrou John. -Convencido de que deveria honrar os desenhos de super-heróis que assistia –eu com certeza me sentia fazendo parte de um, naquele momento—caminhei corajosamente corredor adentro. Cheguei á porta da cozinha. Era o fim da linha. Olhando mais atentamente, pude notar que ela estava entreaberta. Resolvi, então, empurrá-la. Quando eu o fiz, inesperadamente meu primo pulou na minha frente com um lençol branco sob o corpo, gritando feito um louco. Era óbvio que eu não sabia que era ele. Pensei que fosse um fantasma e saí correndo, morrendo de medo. Ele veio me procurar depois para pedir desculpas, mas eu fiquei de mal com ele. É claro que, depois disso, eu fiquei meio traumatizado...

—Você acha que o Dave está TRAUMATIZADO? –ela levou as mãos ao peito, segurando a respiração.

—Talvez esteja. Talvez não. Não estou dizendo para marcar um psicólogo. Talvez não seja nada grave. Talvez o menino só queira atenção. –de repente, as feições de John se iluminaram. –Já sei! Vamos promover mais noites em família... Começando por hoje. A gente envolve toda a criançada em umas brincadeiras, só pra mascarar o foco principal, então nós dois fazemos um momento reflexão, para que todos possam dizer como se sentem... –sugeriu. –Puxa! Com certeza o Dave irá se abrir com a gente!

—Será?

—Mais é claro! Veja bem: todo mundo vai falar um pouco de si. Tenho certeza que isso bastará para que ele se sinta à-vontade para compartilhar com nós, algo que lhe estiver afligindo...

—É! Pode dar certo! –Luisa empolgou-se pela primeira vez desde o princípio da conversa. John sorriu.

—Então está feito! –levantou, beijou a testa da esposa, depois beijou seus lábios. E recomendou: -Cuidaremos do Dave mais tarde. Nada de ruim poderá acontecer até lá... Apenas fique de olho nele durante o dia. E, por favor, descanse um pouco. Você está muito abatida... Não quero que pensamentos inquietantes a deixem adoecer... Eu não suportaria vê-la de cama por causa disso. Lembre-se: tudo tem solução na vida. E Dave é um menino esperto... Tenho certeza de que irá se abrir conosco. –sorriu para a esposa, apanhou a pasta do chão e caminhou até a porta que levava ao jardim. -Eu te amo, querida.

—Também te amo, docinho.

E assim aconteceu. Luisa sabia que o marido tinha razão sobre não se afligir antecipadamente, sem antes saber da gravidade dos fatos. Só que ela não podia evitar isso de todo... ELA ERA MÃE! Ficou na mesa por mais um momento, refletindo sobre a conversa que acabara de ter com John. Era estranho estar preocupada... Dave sempre fora um menino desprendido de medos e pudores. Era verdade que, ultimamente, assumira uma postura mais manhosa e chorona... Mas tudo bem, toda criança tem recaídas no período de evolução. Mas, com tanta coisa no mundo para cismar, tinha que ser logo com pesadelos? Não poderia ser com barras de chocolate? Pelo menos assim, ela poderia lhe dar uma bronca e tudo voltaria ao normal... Contudo, ela não tinha a menor idéia do que fazer sobre sonhos. Porque são simplesmente coisas que você não pode controlar. Os pensamentos perturbadores estavam dentro da cabeça do menino, e Luisa sabia que nem a mãe mais dedicada de todo o universo poderia ser capaz de impedir uma coisa dessas de acontecer. Em meio á tanta indecisão e uma vontade louca de poder ajudar o filho, eis que a campainha da casa tocou. Luisa espichou o pescoço, como se procurasse por alguma coisa. Encontrou um molho de chaves em cima do balcão da pia. Bufou, impaciente.

—Oh, Deus! Quando é que esse homem vai aprender a não esquecer as chaves!?—e caminhou decidida até a porta no hall da frente da casa. Mas o que encontrou lá não era nada parecido com John. –Ah, olá.

A sua frente havia uma garotinha de vestido rosa e cabelo trançado.

—A Lua é o Sol. –disse, inesperadamente. Luisa piscou os olhos.

—Como é?

—A Lua é o Sol do anoitecer; o Sol é a Lua do amanhecer; Mas dentre os dois, há sempre uma disputa no entardecer: Juntos, formam o crepúsculo. –ela declamou, como se fosse uma poesia. –O crepúsculo é a mistura do dia e da noite. Mas não há acordo entre a Luz e a Escuridão... Pois não há farol que ilumine para sempre, a trilha de seu coração. –prosseguiu, séria. –Não há enigma. Não há mais questão. Pois então, quem manterá a salvo sua estrela guia? Sua própria intuição. Se nem mais ela assobia, lhe indicando a direção. –contrapôs. –Não haverá o que fazer. Não conseguirá protestar. Quando as Industrias das Máquinas, todo seu amor tomar.  –e, dito isso, suas feições vazias a fitaram por uma fração de segundos, até que, de repente, Luisa foi surpreendida por uma mão prateada que atravessou o corpo da menina, que tremeluziu e desapareceu: era um holograma inteligente.

—Que DROGA é essa!? -Luisa deixou as chaves da casa caírem no chão. Assustada, a Senhora do Tempo cambaleou para trás, desviando da mão que tentava agarrá-la. Fechou a porta atrás de si com urgência. Seu primeiro impulso foi de proteger seus filhos. Refletiu, exasperada, em alguma maneira de conseguir ganhar tempo para continuar a permanecer viva... Mas, confusa do jeito que estava, o dono da mão roubou a cena: era um homem de metal. Um robô com estatura e físico humano, mas ao invés de vestir roupas ou possuir pele, ele usava uma armadura prateada e era todo feito de aço. Na verdade, não havia muito de humano nele... As próprias feições eram vazias. Luisa espantou-se ao observar os olhos, que eram negros e sem brilho de vida. Não possuía nariz, ou orelhas. Apenas uma boca que não demonstrava sentimento algum. O estranho ser se locomovia marchando de forma bastante sincronizada. Luisa tentou assimilar tudo o que acontecera até então: Aquilo fora uma emboscada. O holograma em forma de criança servira como uma distração para mantê-la entretida e completamente absorta do perigo que estaria correndo em tempo real. Uma armadilha cruel, e certamente muito eficaz. Ao ter acabado de subir as escadas da entrada da casa, o robô observou sua vítima encolhida perto da porta, e bateu a mão rigidamente no peito, antes de falar pela primeira vez. 

—MEUS REGISTROS INDICAM QUE VOCÊ É LUISA PARKINSON. –disse a criatura de voz vazia e robótica. –SE A INFORMAÇÃO ESTIVER CORRETA, ENTÃO VOCÊ DEVERÁ VIR CONOSCO.

—Acho que não, amigo. Obrigada. –ela articulou, ansiosa. 

—RESISTIR NÃO É ACONSELHÁVEL. VOCÊ DEVE ACEITAR AS MEDIDAS IMPOSTAS OU ENTÃO AS CONSEQUÊNCIAS PODERÃO SER SEVERAS.  

Luisa piscou incrédula. Adotou uma postura mais séria ao constatar que aquilo não se tratava de uma convocação opcional. Toda aquela encenação servira apenas para informá-la de que ela seria mesmo obrigada a acompanhá-lo. Não gostou nada daquilo. E aquela parte sobre “conseqüências severas”? Quer dizer que, além de tudo mais, ela ainda estava sendo ameaçada? Ergueu-se do chão, sem medo, e espanou suas roupas, sem pressa alguma. 

—Espero que seu salário no fim do mês não dependa disso, porque se sua missão envolver me levar com você, então lamento, mas você será demitido. –ironizou ela, cínica.

O robô a analisou por um instante.

—PODE SER MAIS PRECISA AO RESPONDER? –declarou a resposta como incompatível. Naturalmente, não estava programado para detectar indiretas ou senso de humor.

Ela semi-serrou os olhos e cruzou os braços, bancando a durona.

—Eu não irei com você. –repetiu, com firmeza. –Qual é? Achou que eu me entregaria facilmente ao ouvir uma ameaça? Querido, eu não nasci ontem! Será que não percebeu? Não importa o que você diga... Eu vou continuar bem aqui, na minha casa.—cuspiu, secamente. -Não irei com você. É minha palavra final.  

Esperou que ele reagisse. Nada aconteceu... Impressionantemente, o homem-de-lata não hesitou. Claro que, era realmente meio demente esperar uma reação dessas de um robô, mas como Luisa estava acostumada a falar com pessoas de carne e osso, obviamente, ela esperava uma reação mais... Humana, vinda da parte dele.

—INFORMAÇÃO NEGADA. -ele anunciou, então, sem aviso prévio, segurou-a conta à parede, amassando parte da superfície dura, com os punhos fechados. -VOCÊ VIRÁ CONOSCO.

—Nunquinha! –ela tentou chutá-lo, mas isso somente o fez apertá-la ainda mais contra a parede. Logo, alguns lugares de seu corpo começaram a ficar dormentes e os braços, que ele apertava e prensava com uma força descomunal, adquiriram uma coloração avermelhada. Apesar da imobilidade e da dor constante, Luisa conseguiu retrucar: –O que pensa que eu sou? Seu cachorrinho adestrado?

—VOCÊ É A CHAVE. –o homem-prateado disse. Sua boca não se movia enquanto ele falava. Apenas uma luz azul aparecia através de uma fenda retangular, curta e horizontal, furada no aço, assim como os olhos, disposta onde deveriam ficar os lábios. Perguntava-se se algum dia ele já tivera lábios reais...

—Que chave? –ela deu de ombros, confusa.

—INFORMAÇÃO SIGILOSA. VOCÊ SOMENTE RECEBERÁ NOVOS DADOS ATUALIZADOS QUANDO ESTIVER SOBRE NOSSOS CUIDADOS.

Mas eu não irei! Não está ouvindo? NÃO VOU COM VOCÊ! –ela gritou. O robô checou os protocolos adicionais: resistência não era uma opção. De qualquer forma, ele a levaria consigo, quer Luisa concordasse ou não. Foi aí que o humanóide prateado resolveu tomar medidas drásticas: ergueu uma mão, aberta, na direção do rosto dela e avançou. Havia sonífero em gás escapando fracamente das dobras de seus dedos. Luisa se debateu, esquivando o rosto, enquanto ele dizia:

—REMOVER UNIDADE! INTERCEPTAR RESISTENCIA! ATIVAR MODO DE EVACUAÇÃO DE EMERGÊNCIA!

Não! Me deixe em paz! —brandiu a mulher. Com um estampido inesperado, a porta atrás de si se abriu, e Melissa irrompeu no espaço com Chris em seu colo, Dave segurando sua mão e Matthew lhe seguindo de perto. Foi um choque e tanto para todos quando se depararam com um robô rendendo a própria mãe.

—Crianças! Voltem para dentro! Aqui fora não é seguro! CORRAM! –ela brandiu, em desespero.

—Não podemos! –gritou Matt, recuando um pouco para trás da irmã mais velha.

—Não vamos deixar você! –rebateu Melissa, por mais que sua voz parecesse fraquejar de pavor. Tapou a visão de Chris com a mão, impedindo que o menino continuasse a ver a cena. Dave pareceu começar uma crise de pânico.

Bicho prateado! Bicho prateado! —gemeu, apontando o dedinho trêmulo para o monstro á sua frente. Luisa arregalou os olhos para o filho, entendendo o que ele queria dizer: era com aquela abominação que ele andava sonhando! Provavelmente, o presságio viera em forma de sonho, para o menino. Se ao menos eles tivessem entendido a mensagem, talvez poderiam ter se armado contra esse ataque hostil... Luisa estava perdida em pensamentos. Tudo aconteceu tão rápido... Teve vontade de gritar. De socar. De chutar a canela daquele desgraçado de metal por ter assombrado os sonhos de seu filho... Mas, somente uma coisa a trouxe de volta dos devaneios: o grito desesperado de Dave: –Mamãe, CUIDADO!

Foi em meio a uma gritaria do deus nos acuda que tudo se apagou. A última coisa que a Senhora do Tempo viu foi um homem prateado, e o forte jato de sonífero que sua mão emitiu antes que ela perdesse completamente a consciência.

 

 

Ao mesmo tempo, há muitos anos luz de distância, Luisa acordou atônita, com um grito de desespero. Ela suava frio e estava com os batimentos acelerados. Sentiu-se confusa de inicio e demorou-se um pouco para assimilar onde estava: suspirou de alívio ao reconhecer seu quarto na TARDIS. Era um ambiente bem agradável: tinha uma mobília bem distinta e interessante, pintada com cores vibrantes e alegres. Havia uma linda cortina branca instalada em uma janela que, contra todas as expectativas, era de mentira. No teto, havia uma nebulosa colorida e encantadora, que mudava de forma em tempo real. Era muito parecido com o esquema do teto estrelado do quarto azul ao lado, que ela visitara anteriormente, por intermédio da influência da TARDIS. Enquanto estivera lá, sentira uma estranha sensação de nostalgia, que também se repetia naquele ambiente... Era como se, ambos os dois quartos de portas encostadas tivessem algum tipo de ligação significativa, pois Luisa sentia estima pelos dois aposentos.

Ainda respirando meio alterado, a garota fitou a colcha lilás de sua cama e uma cadeira ao lado da cabeceira, que continha sua bolsinha rosa em cima. Era a segunda vez que ela dormia naquele ambiente e já se sentia como se estivesse no seu próprio quarto, na rua Bannerman... Era uma sensação realmente curiosa, quase como se ele fosse realmente feito para ela.

Entretanto, quase nem houve tempo suficiente para recuperar o fôlego, pois novas batidas frenéticas ressoaram em sua porta. Ela estremeceu, ainda com o choque do sonho que tivera recentemente.

Quem é?—indagou, receosa. –Qual é a senha?—inventou de súbito, amedrontada. Tinha náuseas só de pensar que uma voz robótica poderia responder...

Contudo, a pessoa do outro lado da porta não demorou-se a responder, com certeza sorrindo:

Doutor quem.


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Notas finais do capítulo

Tadãããã! kkkk

E essa foi a introdução da mais nova aventura!

Yep. Fui eu sim que escrevi cada palavra. Até os versos da menina holograma. As vezes eu tenho umas idéias muito malucas kkkk
Tô só dizendo isso porque é capaz de alguém me perguntar se eu tenho muito contato com crianças pra poder escrever coisas assim. Bem... defina "crianças". kkk

Espero que tenham gostado!

Semana que vem continuaaaa!

Beijos!!



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