Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 63
E o tempo fechou


Notas iniciais do capítulo

Hi! ;)

Desculpa aí gente que eu atrasei uma semana pra postar... Probleminhas técnicos... (traduzindo, faculdade! kkkk). Enfim, cá estamos again!

"Viajar no tempo é sempre algo incrível e surpreendente. O trio está completamente ciente disso, e absolutamente contagiado por essa ideologia. Porém, nem sempre as coisas estão no nosso controle. E para onde estão indo, é praticamente impossível ter controle sobre as criaturas que habitam o lugar, ou mesmo sobre a própria sobrevivência. De fato, será um desafio e tanto".



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*    *    *

(em algum lugar, não tão longe dali...)

Luisa abriu os olhos devagar. Sua cabeça latejava de leve. Era óbvio que ela tinha se desequilibrado e batido a cabeça em algum lugar... Mas ao tentar se erguer, não reconheceu o espaço ao seu redor.

—Doutor!? –gritou instintivamente. Sua voz ecoou por toda parte. Estava tudo muito escuro, e ela teve que forçar a vista para conseguir ver alguma coisa. –Que lugar é esse?

Caminhou errantemente durante um tempo, então, finalmente distinguiu uma forma humana de casaco comprido. Era alta e magra e parecia singularmente familiar...

Andou se escondendo, é?—ela sorriu e correu até a figura parada. Tinha tanto que perguntar: Onde estavam? Por que estavam no escuro? E, o mais importante: por que a TARDIS estava tão quieta? –Te peguei! —Luisa gritou, abordando o amigo com um abraço indiscreto, como para surpreendê-lo em uma brincadeira inocente, mas o que veio a seguir acabou se tornando uma surpresa e tanto para ela mesma.

—Ei! O que você faz aí? –o Doutor acendeu a luz atrás dela. A garota se virou, intrigada, ainda abraçada á forma imóvel, de casaco comprido.

—Você? –pareceu não crer.

—Em carne e osso! –ele sorriu, cruzando os braços e deixando o peso do corpo pender contra o batente de uma porta cinza de madeira. Endireitou a cabeça e fitou-a atrevidamente. –Está se divertindo abraçando meu manequim ajustável?

Imediatamente, ela se afastou da forma humana em que estava agarrada: era mesmo um manequim de plástico vestindo casaca. 

—Que bizarro... –ela recuou para junto do rapaz, sem tirar os olhos do manequim. –No escuro, eu podia jurar que era você!

—É mesmo? –o Doutor caminhou até o manequim e analisou-o com clareza. –Náá! Impossível! Eu não me pareço com isto... Não. Nunquinha... —então parou ao lado da amiga e lhe deu um toque: -Talvez você devesse experimentar usar óculos... Nunca se sabe... Seus olhos podem estar precisando de auxilio. –ele passou reto por ela, deixando-a bastante confusa. Então voltou e acrescentou:—Por falar em auxilio... Acho que deveria vir comigo. A sala de controles fica chata sem você.

Ela se virou automaticamente.  

—Onde eu estou, exatamente?

—Dentro do armário... Na sala de controles. –ele acendeu o resto da luz, revelando toda a amplitude do local. O sorriso provocante que o Senhor do Tempo emanava, entregou que seu principal objetivo ao acender as luzes envolvia principalmente causar um sorriso no rosto da companheira e deixar seus olhos brilhando em perfeito êxtase e surpresa, ao contemplar a imensidão de roupas que um armário Gallifreyano poderia comportar. De closets entulhados á porta, chapéus e sapateiras... Tudo girava em torno de uma grande escada caracol, bem no centro do salão, que se erguia perspicaz, quase até o teto, e avançava de andar em andar, bombardeando a pessoa que a subisse com uma impactante visão de um imenso armário circular, com roupas preenchendo todo o vácuo entre as paredes em espiral. Em cada arara, pendurado em cada cabide de metal, haviam milhões e milhões de vestimentas compactadas ao máximo, seguindo a inclinação das paredes, agregando vários tipos de modas universais, para homens e mulheres, inclusive: algumas eram terrestres, populares ou bregas, mas sem dúvida conhecidas; Outras, por outro lado, eram peculiares, esquisitas, e distintas de qualquer outra coisa jamais vista antes por um humano. Algumas cores eram tão berrantes e ousadas que chegariam a soar completamente inaceitáveis aos olhos de algum estilista famoso, mas até que havia algumas bem diferentes, que apesar de toda a peculiaridade que carregavam em sua criação, eram bem legais. Luisa foi obrigada a se recuperar rápidamente do choque cultural, pois o amigo antecipou o fim do tour que seus olhos faziam pelo lugar, com um pouco de ênfase, e uma tosse forçada: –Muito bem. Sim, eu sei: “É grande!”, “É espaçoso!” “E também é maior por dentro...” Agora, se apresse! Temos um mistério para desvendar... –ele disse em um tom empolgantemente contagiante, arrastando-a pelo braço até a metade do caminho, para fora do aposento. Mas infelizmente, sua abordagem irrecusável não causou o impacto que ele desejava...

—Eu já vou! Só espere mais um minuto... -ela deu uma ultimo olhada em geral: aquela amplitude a deixava fora de área. Antigamente, era estranho pensar que portas poderiam se abrir e revelar outros mundos, mas ultimamente, isso parecia mais natural que o normal. Porém, era impossível evitar reagir de tal forma... Ninguém em sã consciência conseguiria se acostumar com aquela visão. Olhar para o gigantesco armário, também maior por dentro, era como sentir a sensação de entrar na TARDIS pela primeira vez. Era mágico e intenso... Uma reação impossível de se ignorar, ou simplesmente deixar passar. –Como eu nunca entrei nesse lugar antes? Esteve ao meu alcance o tempo todo...

Parkinson! —o Doutor chamou impaciente, fazendo a amiga se voltar para a porta com urgência. –Se não se importar, eu gostaria que assimilasse tudo isso o mais rápido possível. Melissa e eu estamos aqui, sozinhos e entediados, só esperando por você para podermos conferir juntos um mundo novo de entretenimento e confusão, que provavelmente nos espera á todo vapor, através das lindas e sexys portas azuis da minha magnífica nave espacial... –ele fez uma pausa, analisando sua própria proposta. –É. Acho que ficou bem á altura...—ele argumentou, pensativo. –Sabe? Eu não queria ser chato, ou repetitivo, ou intolerante... Mas, em todo caso, é melhor ser rápida, porque a TARDIS está ficando impaciente! –ele anunciou sem mais nem menos. -... Eu não ia dizer nada, mas juro que ouvi o motor central da TARDIS bocejar em desaprovação á nossa aterrissagem forçada e eu não estou muito a fim de testar a paciência da minha nave... Então, se pudermos nos apreçar... –ele disparou, inquieto. Luisa revirou os olhos e sorriu bem humorada. O amigo era mesmo uma figura...

—Tá bom. –ela cedeu, segurando na dobra do braço dele. –Mas só porque você não pareceu estar realmente desesperado...

O Doutor sorriu silenciosamente e eles seguiram para fora do armário. Ao conseguir conduzir as duas amigas até as portas de saída da TARDIS, ele suspirou aliviado. Finalmente, a TARDIS poderia acalmar os ânimos e estabilizar os circuitos sozinha, como deveria ser feito. Enquanto ela se repararia, eles tentariam matar o tempo explorando as novidades que os aguardavam do lado de fora. Em geral, esse plano costumava funcionar... Então, não havia porquê mudar o esquema.

—Bem, atrás dessas portas há um novo mundo... E blá, blá, blá... Coisa e tal. Etecétera, etecétera... –ele foi o mais breve possível, ao segurar as maçanetas. –Bem, não vou fazer cerimônia. Vocês já conhecem a especialidade da casa...

E puxou as duas portas para dentro, abrindo-as de uma vez. A luz do sol ofuscou sua visão em um primeiro instante.

—Vixi! Espero que não estejamos em uma praia! –Luisa ponderou, colocando a mão na frente do rosto, para impedir a passagem da insistente luz solar. –É que eu não sou muito fã da areia colando nos lugares mais importunos, e variados...

—Uh! Até que uma praia viria bem a calhar... –Melissa mordiscou a língua, deliciada com a idéia. –Ainda bem que sempre trago óculos de sol e protetor solar comigo... É o que eu sempre digo: “uma vez embelezada feito rosa, para sempre elegante e poderosa!”

—Bem, se isso significar alguma coisa, espero que a tradução seja uma confirmação precisa de que viemos parar em um lugar seguro e tranqüilo, porque a TARDIS bem que merece um descanso... E nós também. o Doutor semi-cerrou os olhos; as expectativas incertas. –Aparentemente, caímos em algum lugar fora do mapa e eu odeio não conseguir formar uma perspectiva certeira sob nosso novo destino nos primeiros dez minutos...

—Isso significa que você não sabe o que vem pela frente? –Luisa sugestionou.

—Exato. Não tenho nada. Nem um palpite sequer... –ele caminhou sob uma trilha de areia clara, sem se afastar muito da cabine. As meninas o esperaram na porta, conferindo de perto todos os seus passos em direção ao desconhecido. Desviando os olhos da luz do sol, o rapaz logo notou que estavam em uma área sem grande vegetação, mas com um intrigante amontoados de gigantescas árvores nas laterais, e á frente, quase como se formassem, juntas, uma clareira ao redor dos recém chegados. O Doutor contemplou o sol adiante. Ele tinha um brilho mais intenso do que o da Terra e parecia irradiar muito mais calor... O céu também era mais límpido, as árvores, mais dispersas para preencher o espaço que desejassem na natureza, sem a interferência do homem ou de qualquer outro ser que pudesse subjugar e determinar sua locação.

Lá longe, no horizonte, montanhas em diferentes tons de verde se erguiam majestosas e aves bastante grandes, em parte ofuscadas pela claridade, voavam bem alto no firmamento. Tudo tinha um cheiro de natural e íntegro, como o Doutor jamais imaginou sentir novamente nesta vida... Era como se aquele lugar tivesse parado no tempo. E ele com certeza entendia disso. Seu povo não era somente uma das raças mais antigas do universo, como também, fora uma das percussoras principais do inicio dos tempos... Era quase como rever o Big Bang e sentir que a junção de todas aquelas milhares de partículas, um dia se juntariam e formariam um paraíso como aquele... Sem dúvida, ele estava diante de um elo perdido. Um horizonte desconhecido. Uma terra esquecida pelo tempo, e abençoada pelos deuses mais puros e belos. Sua beleza era estonteante, e o aroma, divino. Emanava um ar imponente e simplista, de recente criação. De onde poderia ter surgido tão inigualável aparição?

—Ei! Que diabos é aquilo? –Melissa perguntou, franzindo a testa, e apontando para a direção das montanhas. –Parece uma nuvem escura de tempestade... E está se aproximando!

—Nuvem escura de tempestade? –Luisa indagou. Então tirou, sem esforço algum, um binóculo profissional da Bolsa Que Tudo Tem, e tratou de conferir a aparição, ela mesma, através das lentes. –Ih! Tem razão... Doutor! Você viu aquelas nuvens enormes lá no horizonte? Parecem mesmo estar vindo pra cá...

—O quê? –o Doutor caminhou até elas, nas portas da cabine. –Nuvens de tempestade? Isso é bobagem... Está fazendo um calor escaldante aqui!

Luisa estendeu-lhe o binóculo.

—Veja você mesmo. –então ele apanhou o objeto e contemplou a vista.

Mas não é possível!—ele exclamou. -Elas estão mesmo se movendo! Adiantando-se todas na mesma direção e ao mesmo tempo... –ele observou, então voltou a fitar as duas amigas por cima do ombro. -Isso é estranho... Nuvens nessas circunstancias costumam estar muito carregadas e, conseqüentemente se tornam lentas e formam descargas elétricas, normalmente conhecidas como relâmpagos. E, se olharem com atenção, vão perceber que elas não produzem nenhum relâmpago, nem mesmo trovão, e isso é esquisito até mesmo para uma nuvem de tempestade. –ele destacou. -O peso da água evaporada que as constitui atrapalha a deslocação de um canto para o outro do céu, e torna o percurso ainda mais complicado... O que, ocasionalmente não explica o motivo delas estarem se aproximando de nós tão rapidamente. –ele averiguou. –Agora, resta apenas uma questão: Serão mesmo nuvens, eu me pergunto?

—Se não forem, o que serão então? –Luisa ergueu uma sobrancelha. –Pássaros não podem ser tão grandes...

—Na Terra talvez não, mas universo afora eles podem –o Doutor explicou. –Talvez isso seja um enxame de alguma coisa... Vespform. Arraias gigantes de metal. Pássaros gigantescos. Morcegos, quem sabe. Ou talvez isso seja alguma outra coisa muito obvia que estou deixando passar...

—Como se fosse novidade, “você esquecer algum detalhe importante” –Melissa bufou, brincando com a estrutura dos óculos de sol. –Quando você lembrar o troço importante, vê se não esquece de compartilhar a informação com a gente...

—Espere aí... Eu posso aumentar a potencia das lentes de aumento com a minha chave sônica! –ele anunciou, animado. Então, usou a chave no objeto. –Pronto! Barabumba! Agora vai funcionar... –então, voltou a focar “as nuvens migrantes” e sufocou um grito. –Mãe do céu!

—O que foi? –Luisa aproximou-se dele. O amigo estava branco feito papel e mais tenso do que nunca. Suas mãos cravaram-se no binóculo de tal forma que até pareciam uma coisa só. Ele parecia ter visto um fantasma. –Você viu as nuvens engraçadas de novo?

—Sim. Ah... Apesar de não serem evidentemente nuvens e não parecerem nem um pouco engraçadas deste ângulo. –ele antecipou-se, deixando-a preocupada. –Grandes coisas bicudas voadoras —ele murmurou quase inaudívelmente. –Mas isso não é possível...

—Desculpe... Como é? –Luisa balançou a cabeça, confusa. –Que é que você viu?

—Bom, eles são grandes. Muito grandes mesmo... E isso não parece bom. Na verdade, é ruim. Muito ruim. É péssimo, para ser exato... Mas tem um lado bom em tudo isso. É! Sempre temos que ver o lado bom das coisas... E o lado bom é que estamos longe, muito longe deles. Completamente fora de alcance... O que me faz sentir um homem de sorte por ter estacionado a TARDIS á muitos quilômetros de distância daquelas nuvens selvagens no horizonte –ele tagarelou, mas uma espécie de guinchada aguda repercutiu vinda da nuvem no horizonte e eles se abaixaram simultaneamente, relativamente em pânico.

—O que foi isso?—Melissa gritou assustada.

—Bem... Acho que essa é a nossa deixa para nos enterrarmos vivos embaixo da areia e torcermos para não sermos vistos pelas próximas horas seguintes! –o Doutor brandiu com os dedos nos ouvidos, tentando se sobressair á sinfonia de grunhidos ensurdecedores que vinham aumentando gradativamente no horizonte agora não tão distante.  –Isso é terrível! Eu não esperava por um ataque surpresa... Estou vendo que teremos um grande problema pela frente! Especialmente se eles continuarem a serem mau-educados e intrometerem-se na nossa prosa particular...

Eles? ELES QUEM? –Luisa insistiu, abaixando-se, como se para se esquivar do som. –Quem está chegando?

—Ah! As criaturas mais antigas e empolgantes que o seu mundo conhece... E provavelmente, as mais selvagens!

Mas do que é que você está falando?—Melissa berrou, intimamente incomodada com o barulho.

—DINOSSAUROS! –o Doutor respondeu, em contraste. –Pterodátilos, para ser exato! Estão todos adiantando-se em nossa direção... Precisamos sair daqui imediatamente!

QUÊ? Está dizendo que são aves jurássicas que estão vindo em nossa direção, agora, nesse exato instante, no céu?—Melissa indignou-se.

—É. E o barulho infernal também é culpa deles...

—O que acha que estão fazendo? –Luisa perguntou. –Por que estão gritando?

—Os Pterodátilos estão enviando uma mensagens á outros do bando... Provavelmente porque acabaram de encontrar carne fresca e querem chamar os amigos para uma reunião social amistosa... Oba! Vão dar uma festa!

—Hum. Cuja nós vamos ser o menu! –Melissa interveio rispidamente. –Ótimo!

—Mas como você...? –Luisa insinuou para ele, mas o amigo logo desfez sua curiosidade.

—Eu já disse que falo dinossaures? Pois é! Eu falo todas as línguas... –ele tornou a repetir. –Pode tomar nota se quiser... Eu disse a mesma coisa na noite em que nos conhecemos...

—Ai, CARAMBA! Então nós vamos ser o cardápio principal do dia?—Luisa esbravejou.

—Isso! Você entendeu!!! –ele sorriu incondicionalmente.

E você não vai fazer nada?—ela retrucou indignada.

—O que eu posso fazer? São DINOSSAUROS!!! –ele atou as mãos, empolgado.

—É. Mais um motivo pra você tentar bancar o herói! -Melissa guinchou, exasperada. –Então deixe de embromação, Doutor! Pode ir mexendo esse traseiro alienígena, e trate de nos tirar daqui agora mesmo! Eu hein! Virar comida de dinossauro... É ruim, hein!

—Tudo bem... Mas a TARDIS não vai gostar muito disso! –o Doutor estremeceu. –O pior é que Holmes tinha razão...

Holmes?

—É. Antes de nos despedirmos na Baker Street 221B, ele fez questão de dizer: “Se vocês viajarem para o passado, mandem um abraço aos dinossauros...Hã! Aquele grande filho da mãe!—o Doutor praguejou, então um novo urro surgiu de outra direção e eles não tornaram a pensar duas vezes em partir. -Venham por aqui, RÁPIDO! –o Doutor sinalizou para elas recuarem para dentro da cabine e fez a TARDIS decolar, mesmo contra sua vontade. Ela soltou um pouco de fumaça e gemeu indignada um bocado de vezes, arranhando deveras o motor, mas acabou decolando, na verdade, pouco antes da nuvem carnívora de Pterodátilos famintos alcançarem-nos. Após a caixa azul partir, sua marca quadrada ficou estampada na areia molhada; se fosse tomada distância do solo, de modo a enxergar uma extensão muito maior do terreno arenoso, era possível reconhecer, somente a partir de uma vista aérea, uma gigantesca marca redonda impressa no solo: uma pegada de dinossauro. Mas os dinossauros não eram as únicas coisas com que teriam que se preocupar... Pois quando a TARDIS chegou á alcançar a órbita do planeta, despertou o interesse de uma entidade distinta, surgida das profundezas das Terras Malditas. Algo tão velho quanto o próprio tempo, mas também deveras ardiloso... O fato era que o trio não queria arranjar problemas. Só queriam partir o mais rápido possível de lá. Se possível, para outro sistema solar... Porém, com os reparos ainda em andamento, a TARDIS não conseguiria se afastar o bastante, á ponto de sair da órbita daquele planeta. Aonde quer que estivessem, com as coordenadas travadas e observados por quem fosse, eles ainda ficariam por lá durante um bom tempo...

 

*   *   *

Enquanto isso, o comandante Taylor e Jim acabavam de ouvir a mensagem de socorro de seus médicos cirurgiões. Era evidente que o monstro escapara, e que a situação no subsolo tinha evoluído para uma classificação particularmente alarmante...

—Taylor! Eles estão em perigo! Não podemos ficar parados! –agitou-se Jim.

—Aí é que está! –o comandante Taylor rebateu, nervoso. –Se interferirmos, o espécime pode escapar... E aí todo o experimento vai pelos ares! Pense nisso, Jim. Não teremos outra chance de capturá-lo...

Se não interferirmos, todos vão morrer! —gritou Jim. Ele deu as costas á um Taylor arredio, e chutou a porta com a arma em punhos. Taylor levantou-se de impulso.

Você não pode com ele Shannon! Ninguém pode! Se for lá embaixo, você será um homem morto! SHANNON!!!

Jim já percorria as escadas, rumo ao sub-solo, sem olhar para trás. Porém, antes o tivesse feito, porque Taylor vinha correndo em seu encalço.

Pare! Não entre aí! JIM!—e se jogou em cima do homem. Estavam em frente à sala blindada. Já era possível ouvir os urros da besta e sentir o tremor que cada passo seu provocava no solo. Taylor e Jim travaram uma luta corporal, até que o comandante o dominou, imobilizando-o no chão com a estrutura pesada da arma contra o peito. –Se fizer isso você vai morrer! Não pode se oferecer assim para o inimigo! Você não tem defesa! Está sem cobertura! Como espera apagá-lo sozinho, com uma arma dessas, se nem os vários litros de sonífero conseguiram?

—Minha mulher, Taylor! Eu preciso salvá-la!

—Não podemos nos arriscar! Ela é adulta, Jim, ela sabe se cuidar... Se for sensata, procurará um lugar para se esconder e ficará bem quieta... Do contrário, não será você que irá conseguir fazer a diferença!

—NÃO! EU PRECISO SALVÁ-LA!!!

—Aquele brutamontes fará sua coragem sumir assim que entrar naquela sala e, por conseqüência, destruirá sua arma, como se ela fosse um pedaço inútil de plástico! –gritou Taylor. –Além do mais, você está em estado de choque. Pessoas em estado de choque não conseguem se concentrar. Se conter. Só fazem besteira... Partem para cima! Fazem a primeira coisa que lhes vem à cabeça e, sinceramente, acho que isso é o mesmo que suicídio. Você quer morrer, Shannon? Quer que seus filhos fiquem desamparados?

Jim foi diminuindo o nível de adrenalina. A respiração foi acalmando aos poucos...

—Não. –ele respondeu, voltando ao controle de suas ações. –Desculpe, você tem razão. Foi um deslize meu...

—Ótimo. Teve uma perfeita recuperação... –Taylor observou, saindo de cima do amigo. –Agora, que já conseguimos acalmar os ânimos, recuperar o juízo e, instintivamente, a dignidade, precisamos agir de forma organizada e certeira. Pode ser a diferença entre o nosso fim e uma tragédia colossal...

—Boa observação. –disse Jim, irônico. –Mas acho que as prioridades estão invertidas...

—Não vou perder essa oportunidade, Jim... Aquela coisa é nossa única chance de descobrir tudo. Se fracassarmos, Terra Nova, a viagem para um novo recomeço, a colônia, tudo terá sido em vão...

Jim caminhou até o comandante e respirou fundo.

—Tudo bem. Então... Vamos dar nosso melhor.

—Como é?

—Você mesmo disse que eu não conseguiria sozinho. Que estaria em desvantagem... –ele deu de ombros. –Bem, mas eu não estou só, agora. Somos uma dupla, Taylor. E vamos vencer aquele desgraçado nem que isso tire nosso couro!

Taylor sorriu, apertando sua mão.

—É assim que se fala, rapaz... Que bom que recuperou o juízo!

—É. Bom, então vamos cortar o papo furado. Não pense que esqueci: Minha mulher ainda está lá...

—Não comesse de novo!

Ambos caminharam lado a lado em direção á porta do laboratório. O tempo pareceu correr mais devagar. Á cada segundo, as palpitações aumentavam. Teriam que lutar, se quisessem salvar vidas e obter sucesso... E estavam preparados para isso.

Adentraram no espaço: tudo silencioso á principio. Entraram e encontraram o lugar deserto, com máquinas ao chão e instrumentos arremessados longe, na hora do desespero.

—Onde estão todos? –perguntou Jim em meros sussurros. –Não acha que todos foram...

—Não. Eles são melhores que isso. –afirmou Taylor. -E um Abelissauro não é tão rápido o bastante. Teria que, ao menos estar em dois ou três para conseguir encurralar um maior numero de presas... –explicou. –Ele nunca seria tão preciso...

—Assim espero. –Jim receou. –Abelissauro, hã? Outra espécie nova?

—É. Eles vem surgindo de inesperado. Nunca vi coisa igual. Antes o aviso era só “cuidado com o T. Rex”. Agora passou casualmente para “cuidado com o T. Rex e companhia...”.

—Fascinante. –Jim bufou, com a arma em mãos. –Será que não prever isso faria parte do plano de algum revolucionário? Lucas, talvez...

—Não sei. É isso que pretendo descobrir com esse experimento. –destacou Taylor. –O problema é que não consegui entender precisamente se os médicos conseguiram inserir ou não o chipe, antes da besta acordar... Se ele estiver pronto, não precisaremos lutar. Só abriremos as portas de emergência e o deixaremos sair para a floresta... Se ele passar pelas Terras Malditas, nós saberemos.

—Então seu plano não era apenas espionar os Sextos, mas também descobrir o caminho para as Terras Malditas?

—Sei que, de alguma forma, todas essas coisas estão interligadas... –contestou Taylor, apontando a arma para todos os lados, enquanto falava. -Mas não saber onde é que tudo se alinha é a nossa perdição. É isso que nos mantém sempre um passo atrás dos Sextos. Alguma coisa me diz que, se descobrirmos a localização das Terras Malditas, então saberemos onde tudo se encaixa e, por sua vez, passaremos a frente dos Sextos e poderemos ter uma chance de virar o jogo. Do contrário, Terra Nova estará sempre á mercê de desconhecidos predadores, como o Abelissauro, e também dos Sextos. Isso se não fizermos algo extremo e sensato para reverter a situação.

—Falando em extremo... Não deveríamos estar lutando com um Abalissauro nesse instante? –Jim olhou para o companheiro, intrigado. –Já estamos conversando há uns bons quinze minutos e nada daquele brutamontes aparecer... Isso já era previsto?

Taylor recuou um passo.

“Um parente do T. Rex causar pânico em todo mundo e depois sumir do mapa...”? Não. Essa é nova...

Avançaram pelo laboratório, desta vez, dando as costas para a jaula arrebentada e caminharam para a direção do estacionamento dos Rovers (um tipo de veículo militar, com estruturas de ferro e metal, usado pelos humanos naquele lugar) no pedaço mais escuro do salão, com barris grandes e coisas de metal descartadas. Sempre com as armas em punho e atentos á qualquer grunhido, saído das sombras.

—Tudo bem... Acho que estamos sozinhos. –disse Jim, baixando a arma ao chegarem ao fim da linha. –De algum jeito misterioso, ele se foi. O Abelissauro sumiu.

Mas é um DINOSSAURO! Enorme, feroz e com raiva porque sua integridade foi violada... O inimigo o tocou. Ele está com o orgulho ferido, Shannon! A última coisa que ele faria em uma situação como esta seria ir embora de fininho!

Jim fitou-o com estranheza.

—Como pode saber o que ele pensa? Ah! Deixa pra lá... –Jim desviou os olhos. –Quer saber? Deveria escrever um livro sobre o sentimentalismo dos dinossauros. Em 2149 eu até duvidaria, mas no lugar em que estamos, tenho certeza que muita gente compraria...

—Shannon... Guarde as piadinhas para mais tarde! Nós não podemos ser superficiais a esse ponto. Não podemos ignorar os fatos! Tirando a parte poética e filosófica da coisa: ele estava com medo; estava assustado; Ele foi drogado e apagado e então, seu metabolismo de dinossauro cancelou o efeito do sonífero e ele enganou todo mundo nessa sala, dando a volta por cima causando pânico e desespero. Ele é um Tiranossauro! Uma máquina de matar que estava muito zangada conosco! Se você fosse ele, para onde acha que teria ido?

Jim pensou um pouco, então fitou a localidade em geral, um tanto desconfiado.

—Neutralizar de vez o inimigo. Acabar com a vida de quem me violou. Matar a todos. 

—Certo. –aprovou o comandante, re-apontando sua arma para vários alvos imóveis, á longa distância. –Então, acho que nós dois acabamos de chegar á conclusão de que, por instinto, ele ainda está aqui.

—Tem razão –Jim também voltou á postos, com a arma em mãos. –Vamos terminar o serviço...

Caminharam, fazendo o caminho inverso entre os Rovers parados lado a lado em duas fileiras separadas por uma trilha no centro, que a dupla percorria em tempo real. Pararam no meio do trajeto, porém, quando ouviram um barulho atrás de um dos veículos.

—Quem está aí? –gritou Jim. –Saia! Saia agora com as mãos para cima!

—Pelo amor de Deus, Jim! Estamos caçando um dinossauro Rex! Espera que ele erga os bracinhos miúdo e se entregue?

—Desculpe. –Jim sacudiu a cabeça. –Força do hábito...

Mas, naquele instante, dois braços finos e morenos ergueram-se de trás do veículo, seguidos por um corpo humano de rosto conhecido, cabelos compridos e avental branco: Era Elisabeth, a esposa de Jim.

—Elisabeth! –Jim gritou, imediatamente correndo até ela.

—Jim! –ela gritou, ao se abraçarem. –Você me achou!

—Eu fiquei tão preocupado... Onde está o resto do pessoal?

—A maioria escapou pela porta da frente, porque a do laboratório estava lacrada. Sobrei eu, Carla e Maison. Eles devem estar por aí... Em choque. Vai ser muito difícil encontrá-los agora...

—Tudo bem. Nós vamos achá-los... Mas primeiro, precisamos encontrar o Abelissauro. –disse Taylor, interferindo na conversa do casal.

—Não entendo como um dinossauro daquele porte poderia desaparecer. –comentou a doutora Elisabeth.

Ela e o marido caminharam na direção de Taylor, ainda parado na trilha, mas conforme foram se aproximando, Jim diminuiu as passadas. Sua face ficou branca feito papel e, em seu semblante, o medo dava indícios de tomar conta da situação. Ele abriu os lábios, mas não proferiu nenhum som... Estava assustado demais para falar.

—Eu também não sei... Mas acho que descobriremos em breve. -seus olhos estavam vidrados na estrutura de metal que sustentava o teto. Bem lá no alto, equilibrando-se sob ferro fundido, estava o dinossauro, fitando-os atentamente com sua imensa cabeçorra voltada para baixo, na direção deles, o rabo fino e comprido esticado na direção da outra extremidade, e o corpo com listras amarelas e pretas, feito uma abelha gigante (o que provavelmente resultara no nome sugestivo: Abelissauro) encolhido, preparado para saltar sobre o comandante... Vislumbrando tudo isso, Jim não pode se conter: –Taylor, CUIDADO!

Jim gritou, Taylor mirou o teto e, respectivamente, o  Abelissauro saltou sob ele. Um tiro foi disparado da arma do comandante, mas serviu apenas para fazer o bicho ficar deslocado. Taylor deitou no chão e rolou para baixo de um dos veículos de Terra Nova, enquanto o dinossauro caiu em pé e atordoou-se ao perceber que sua presa havia desaparecido. Enquanto o Theropoda estava de costas, Jim e Elisabeth correram para o outro lado, escondendo-se atrás de um balcão.

O Abelissauro não os viu por sorte, mas na certa, Taylor estava encrencado.

—Fique aqui, Elisabeth. Eu já volto...

—Jim, não brinque com a sorte! –ela alertou, preocupada.

—Eu só vou ajudar o Taylor. –ele deu-lhe um beijo de despedida. –Vou ficar bem...

—Não, querido! Você não está entendendo... –ela interveio. –O Chip ainda não foi implantado! O experimento está incompleto!

Jim olhou em choque para a esposa. Foi como receber um balde de água fria.

—O QUÊ? –ele sufocou um grito. –Meu Deus, Elisabeth! Colocamos tudo á perder... Taylor vai ficar uma fera quando descobrir!

—Mas ele não vai descobrir! –ela contestou, deixando-o intrigado.

—Não vai? –Jim ergueu uma sobrancelha. –COMO?

—Eu sei que vai parecer loucura, mas esquematizei o plano todo enquanto estava escondida... –ela começou. –Primeiro você e Taylor irão distraí-lo. Então, eu irei por trás do Abelissauro e terminarei o serviço...

—Como é? Esse é seu plano?—ele segurou-a pelos ombros, aturdido. -Não! Nada disso!

—Quer terminar o serviço ou não quer? –ela olhou bem firme em seus olhos.

—Ah! Que droga Elisabeth! –ele praguejou, cedendo enfim. –Por que tinha que ser tão teimosa?

Ela sorriu amorosamente.

—Porque sou sua esposa –ela respondeu. –E uma boa médica.

—Tem razão. –ele sorriu inquieto, então deu-lhe um beijo na testa e segurou forte sua mão. –Pronta?

—Quanto mais rápido agirmos, mais rápido vai acabar... Adiante!—ela concordou, e juntos os dois correram meio exasperados na direção da fera, de costas para eles, enquanto tentava abocanhar Taylor. Mas o comandante já tinha dado conta do recado: estava armado e apontava sua arma freneticamente na direção do bicho, que não parecia se amedrontar nem um pouco. O Abelissauro abriu sua bocarra e lançou um urro assustador na direção do comandante, que arrepiou até os pelos da nuca dos outros dois, mas mesmo assim, o casal continuou correndo, determinados a fazer dar certo desta vez. Jim aproveitou a distração do bicho e passou rápido por ele, tomando a frente de Taylor, e chamando a atenção do dinossauro.

—Ei! Grandalhão! Olha aqui ó!

—Jim? O que está fazendo? –replicou Taylor.

—Ganhando tempo! –Jim gritou, então o comandante Taylor olhou para as patas do bicho e vislumbrou Elisabeth, de relance. Pareceu ficar pasmo por um instante, então se recuperou do susto e recuou, para junto de Jim, ainda em tempo de escapar de uma dolorosa pisada.

Mais essa agora!—Taylor rebateu. –O que podemos fazer para ajudá-la?  

—Ela pediu para distrair o dinossauro... –Jim respondeu entre dentes. –Vamos apenas chamar a atenção... Se ele não se mover muito será melhor para ela. –então, ambos apanharam suas armas e apontaram-nas para o Abelissauro. O bicho deu um passo á frente e Taylor atirou. A bala passou reto por ele. A intenção não era mesmo machucá-lo... Só queriam confundi-lo.

Embaixo da fera, a doutora Elisabeth Shannon estava sendo o mais precisa e delicada, que poderia ser... Tinha que ter certeza de que o chip estaria devidamente implantado e, ao mesmo tempo, tinha que cuidar para não ser vista. Era um trabalho arriscado, mas ela iria até o fim.

Durante alguns segundos, o dinossauro ficou parado, observando-os, como se aguardasse alguma coisa... Então, de repente, o bicho preparou uma pose de ataque e avançou, sem mais nem menos. Jim e Taylor recuaram rapidamente e se enfiaram dentro do primeiro Rover que encontraram. Aqueles eram veículos bastante resistentes... Entretanto, o Abelissauro pisoteou a estrutura e esmagou-a encima deles, no mesmo instante. Inesperadamente, o sentimento de felicidade por terem arranjado uma boa saída explícita acabou se voltando contra eles, tornando-se um obstáculo ainda maior e, por assim dizer, o pesar por uma má idéia...

—Elisabeth! Dá pra ir mais rápido! –gritou Jim, exasperado, embaixo das ferragens do transporte. –Não sei se vamos durar muito tempo nessas condições...

—Calma aí! –ela acenou, correndo novamente para junto da perna do parente do T-Rex, acelerando o processo.

O Abelissauro só aquietou-se quando percebeu que conseguira capturar os dois seres humanos de uma só vez e, a cada segundo, intensificava uma nova pisada encima da estrutura amassada do Rover recentemente destruído... Gotas de suor começavam a brotar na testa de ambos os dois homens, que tinham os corpos massacrados contra o chão, pelos destroços do veículo. Eles não conseguiriam resistir muito mais tempo sob aquela pressão...

Vamos lá! Acabe logo com isso!—gritava Taylor, á todo vapor. Mas ele já não era um jovem na flor da idade, muito menos tinha a mesma consistência física de Jim... Quando seu colega chegasse perto de ficar sem ar ou perder a consciência, Taylor já estaria em maus lençóis...

O trabalho da doutora Shannon estava quase acabado. Agora, ela só precisava cravar o chip em algum lugar dentro do corte na perna do Abelissauro, e isso provavelmente desagradaria um pouco seu paciente...

Elisabeth...—suspirou Jim, já sem forças. Seus pulmões já não conseguiam comportar oxigênio.  O ar escapava-lhe pelas narinas, mas mal tinha forças de drená-lo de volta...

Elisabeth preparou-se para finalizar o processo.

—Desculpe –ela adiantou-se para o Abelissauro, então forçou o chip contra a carne viva, aberta anteriormente por um de seus colegas, e cravou-o lá: sem chance de ser novamente removido. O dinossauro urrou de dor e saiu trotando rumo á grande porta da garagem... Deixando-os todos para trás. Queria era se livrar do “inimigo” e não pensou duas vezes quando vislumbrou e correu na direção do portão rígido e jogou todo seu peso contra ele, para arrebentá-lo em dois. A estrutura se dividiu de forma colossal e a criatura jurássica sumiu por entre as árvores gigantescas, deixando para trás apenas o rombo no portão da garagem dos Rovers / laboratório experimental.

—Jim! Comandante Taylor! –Elisabeth correu exasperada para ampará-los. Por sorte, ainda estavam vivos. –Vocês estão bem? Deixe-me examiná-los...

—Estou bem... –arfou Taylor, sentando-se com dificuldade. –Eu sobrevivi á coisas piores...

Jim bufou.

—Pior que ser esmagado por um Abelissauro adulto? Essa é difícil de acreditar...

—Mas nós conseguimos! Conseguimos o que queríamos... –anunciou Elisabeth, animada, enquanto fazia uma checagem rápida no ombro do marido. –Só espero que tenha realmente valido a pena...

—Não se preocupe com isso, minha cara... –Taylor ponderou, fitando o imenso rombo deixado pelo Abelissauro no portão de ferro da garagem. –Apostamos nossas vidas nesse experimento. Tudo o que vier depois é lucro! E eu acredito piamente que não seremos decepcionados...

Comandante Taylor! Comandante Taylor! Chamando comandante Taylor!—alertou uma voz, saída do auto-falante. –Solicitamos sua presença imediata nos arredores da Colônia... É muito importante que o senhor não ignore essa mensagem. Esse é um Código Vermelho: Precisamos do senhor imediatamente!

Taylor ergueu-se do chão com a ajuda da doutora.

—Mas o que foi agora? –ele ergueu uma sobrancelha, intrigado.

Temos visitantes, senhor.

 

*    *    *

—O que aconteceu agora? –Melissa indagou, tossindo muito. A fumaça que se formava dentro da TARDIS já vinha sendo expelida á muito tempo do painel de controles e parecia se tornar muito mais tóxica á cada instante. –Se eu quisesse acender um cigarro, por exemplo, provavelmente seria atirada no Vórtice do Tempo no mesmo instante, como penitência; mas, quando a “dona azulzinha” cisma em nos intoxicar por pura espontânea vontade, feito uma chaminé entupida, ela ganha apenas um suspiro e talvez um tapinha de consolo nas costas, “se ela tivesse costas”. Mais que droga! Onde estão nossos direitos iguais? Eu exijo uma audiência com os fundadores das leis do universo, porque é realmente embaraçoso admitir que uma caixa azul tem mais liberdade de expressão do que eu!

—Melissa! –o Doutor arrastou-se para perto dela. –Faça um favor á todas as civilizações: Cala essa boca.

A garota ficou roxa de raiva.

—Você é um imbecil espacial, alguém já te disse isso?

—Grande coisa. –o Doutor deu de ombros. –É típico dos seres humanos fazerem críticas... Alguém já te julgou por causa do seu cheiro, por acaso?

—Meu cheiro? –Melissa intrigou-se, cheirando de leve as axilas. –Eu não tenho cheiro nenhum!

—Sim você tem. Na verdade todos os seres humanos. Isso é uma herança dos seus antepassados primatas. Não é nada mais que um fato. Muito antes de vocês desenvolverem a fala, vocês precisavam se comunicar a partir de alguma coisa. Poderiam ser grunhidos, pinturas nas cavernas ou o próprio cheiro...

—O quê? –Melissa fez outra careta. –Tá brincando né?

—Não é brincadeira. Eu falo muito sério... –ele tentou manter a postura enquanto ela o estudava igual faria uma águia á um coelhinho ingênuo e distraído, no solo: uma presa fácil. –É sério! Já ouviu aquela famosa expressão “Cheiro do Medo? Bem, muitas criaturas alienígenas dizem isso aos humanos em filmes: “Sinto seu cheiro de medo no ar, humano desprezível”!—ele imitou, fracassando penosamente na imitação. –Bem, não é bem assim... Mas você sabe: a humanidade costuma romantizar um pouquinho as coisas... 

Melissa estapeou a própria testa. O Doutor ficou observando-a retirar um celular do bolso do shorts jeans curto, e começar a discar um numero freneticamente.

—O que é que você está fazendo? –o Doutor sondou, realmente incomodado com a urgência com que ela discava os números. –Será que eu posso saber dos seus planos infalíveis ou a informação é “privada” apenas para o clube da Luluzinha?

Melissa estendeu-lhe o telefone.

—Eu tô ligando pro hospício. –ela disse séria. Sua expressão foi tão legítima e espontânea que chegava a ser cômica. -Acho que eles ainda tem aquela vaga que eu reservei pra você há quase três anos atrás... Tá a fim de se registrar ou eu mesma faço isso?

O Doutor revirou os olhos. Melissa ainda lhe indicava o telefone, provocativamente. Ele perdeu a paciência e ambos entraram em uma disputa pela linha telefônica: Melissa, determinada em discar o número quantas vezes fosse necessário, e o Doutor, pronto para cortar a ligação com sua chave sônica, sempre que possível. Foi no meio daquela confusão de puxa de cá e puxa de lá, braçadas, empurrões e rasteiras, tentando apanhar o aparelho, que o pequeno objeto acabou sendo arremessado em órbita, voando da mão de Melissa para além do console, e aterrissando de mau jeito do outro lado da sala de controles, com um baque ecoante e comprometedor. Por um segundo, o Doutor limpou “o pó” das mãos com aquela famosa expressão de satisfação no trabalho cumprido—claro que o Senhor do Tempo não pretendia se livrar assim do celular, mas o desfecho acabou saindo melhor do que a encomenda. Depois, para completar, o rapaz ainda foi capaz de lançar um sorriso provocativo á garota, que simultaneamente, quase a fez subir pelas paredes.

Ora seu... Ordinário!  -ela gritou, quase espumando de raiva, e partindo para cima dele. Estava mesmo afim de estrangulá-lo, mas foi detida por Luisa que surgiu do nada, massageando a cabeça, com o celular desta na mão.

Ai... Isso aqui me acertou! –ela gemeu, aborrecida. –Posso saber quem foi que jogou isso em mim?

O Doutor e Melissa se entreolharam com cara de culpados, então, sem mais nem menos, um apontou para o outro, acusando-se á ambos.

—FOI ELE (A) QUE COMEÇOU! –gritaram em conjunto. Luisa fuzilou-os com o olhar. Bufou. Devolveu o celular à Melissa e encarou o Doutor.

—Onde estamos?

Ele ficou em silêncio por um instante, comprovando se o terreno estava mesmo fértil para receber novas informações, ou se levaria um tapa de ambos os lados ao proferir a próxima palavra.

—Bom... É aí que está a graça! –ele articulou, sorrindo animado. -A TARDIS não quer ir embora, porque ela ainda está se consertando e nós temos que esperar por ela. Então, como já é de costume, teremos que descobrir por nós mesmos...

—Mas esse lugar é exatamente o quê? Nós estamos no passado, certo? Isso é evidente porque acabamos de ver Pterodátilos no céu, vindo nos lanchar gratuitamente... –argumentou Melissa.

—Engraçado sua utilização de palavras. –o Doutor divertiu-se. –Mas certamente, isso não significa nada. Porque os Dinossauros não precisam ser precisamente habitantes da Terra. Suponhamos que hajam outros sistemas solares como o nosso... E conseqüentemente, haja partículas de vida animal e vegetal que fossem iguais á essas... Então, é bem provável que existam outras criaturas como essas, universo á fora.

—Mas isso é mesmo real? Estamos mesmo em um tipo de mundo pré-histórico, com dinossauros e tudo mais? –insistiu Melissa. –Um tipo de Jurassic Park?

—Sim. Sim. Talvez estejamos em um mundo como o de “Jurassic Park”. –o Doutor andou pelo console, acompanhado pelos olhares das garotas. –Mas com certeza será muito mais complicado que isso...

—Como assim? –Luisa perguntou. –Estamos seguros dentro da TARDIS... Podemos passar nosso tempo livre aqui dentro e esperar até que ela acabe de fazer os reparos para que possamos ir embora...

O Doutor fitou-a de um jeito que nunca fizera antes.

—Mas isso pode levar horas. Dias. Semanas até... –ele anunciou, aproximando-se dela. –Quer mesmo sentar e esperar? Será que você será mesmo capaz de não enlouquecer? Porque até mesmo esses simples e específicos segundos que estamos perdendo com essa conversa já estão me deixando profundamente incomodando... –ele contornou. Então ergueu as sobrancelhas, suavizando um pouco a expressão ansiosa. –Estamos em um mundo novo! Um universo de possibilidades infinitas! Uma verdadeira caixinha de surpresas! Será que Luisa Parkinson realmente gostaria de arriscar perder essa aventura? –ele tocou-a na ponta do nariz e ela sorriu.

—Ah... Não. Não! É claro que não... –ela disparou. -Esqueça o que eu disse. Eu não perderia isso por nada! Não sei o que deu em mim, na verdade... Acho que foi uma reação em cadeia por ter ficado preocupada com ele...

O Doutor encarou-a sugestivamente.

—Preocupada com quem?

—O quê? –ela instigou.

—Você disse que estava preocupada com “ele”. –o Doutor se aproximou ainda mais dela, desconfiado. -De quem está se referindo...?

—Ninguém. –ela riu de nervoso, recuando alguns passos, na mesma freqüência de passadas que o amigo se antecipava em sua direção. -Eu nem mesmo disse isso...

—Disse sim. Você disse! –ele encurralou-a contra o painel de controles e fitou-a bem no fundo dos olhos, intrigado. Ao ver a expressão confusa da menina, ele estudou-a rapidamente com o olhar: a garota segurava inconscientemente a barriga lisa e ereta com as duas mãos, por cima da blusa. O Doutor franziu o cenho e voltou a encará-la. –Você não se lembra?

—Lembrar de quê? –ela fez uma careta, esquivando-se do olhar bisbilhoteiro dele. –Eu não entendo... O que foi que eu falei?

—Você disse que estava preocupada com ele...

—Com ele? Tem certeza que eu não estava me referindo a você?

—Não. Se estivesse, você diria “você” e não “ele”. –então, o rosto do Senhor do Tempo se iluminou. –Melissa também ouviu você falar! Ela pode esclarecer tudo... É sempre bom ouvir uma terceira opinião. Melissa! Melissa! Diga á ela o que você ouviu...

Melissa viu o rapaz acenando animadamente em sua direção, então ela tirou os fones de ouvido, para poder escutá-lo.

—O que foi? Porque está se contorcendo feito um macaco com coceira?

Imediatamente, a empolgação do rapaz murchou. Se Melissa já estava usando fones, então definitivamente não teria ouvido o que a amiga dissera anteriormente...

—Ah, esquece. –ele voltou-se para Luisa, vencido. Ela já não tinha mais as mãos sobre a barriga, mas sim nos quadris, encarando-o insistentemente.

—Conseguiu o que queria? –ela questionou. O amigo ficou sem reação. Luisa aproveitou a ausência de palavras dele e sorriu imensamente. –Esqueça o que eu falei. Isso não importa mais...–ela tocou a ponta de seu nariz. –Vamos nos divertir ou não? -e arrastou-o pela manga do casaco, para perto de Melissa, já de plantão ao lado da saída. –Anda! Os dinossauros estão esperando!

—Clama, apressadinha! –ele se permitiu sorrir. -Eu sabia que você não resistiria á isso...

—É. –ela sorriu, aos e separarem. –Eu amo as aventuras. De um modo geral, são a melhor parte das viagens...

—Talvez a única coisa que realmente importe no fim –Melissa concluiu. Depois, quando notou que os olhos dos outros estavam sobre si, ela esclareceu: –Já sentiu como se tudo girasse ao redor de uma coisa só, inclusive você? Bem, talvez seja esse motivo que nos una, no fim das contas... As viagens são tudo. É por isso que estamos aqui... Nós três. Três vidas. Três caminhos completamente diferentes, mas com um desejo em comum: uma vontade louca de se aventurar.

Luisa e o Doutor se entreolharam com sorrisos nos cantos dos lábios, mais inspirados do que nunca. Quando voltaram a contemplar Melissa, ela estava perfeitamente em sintonia com eles.

Então, aventureiros... –ela anunciou em alto e bom som. –Vamos sair por aquelas portas á caminho de uma nova e louca aventura? Vamos viver cada dia o mais inconseqüentemente possível, como se fosse sempre o último?—Melissa atiçou o grupo. –E sem arrependimentos!

—Pode crer!

—Com certeza!

Melissa era ótima em dar discursos. Ela era deveras preguiçosa, mas poderia criar frases de efeito incríveis, capazes de mover multidões, se estivesse de bom humor... Vale ressaltar que isso funcionava perfeitamente bem, mas somente quando ela não passava do ponto e acabava exagerando um pouquinho demais... O que em geral, era sua marca registradas:

Vamos fazer muita besteira! Beber até cair! Comer comidas típicas que farão nosso estômago dar mil piruetas que nem uma montanha russa! Azucrinar com a vida dos outros e depois vomitar no tapete de uma tiazona qualquer, que ama mexerico!

O Doutor e Luisa se entreolharam, incrédulos.

Na boa... Essa última parte é brincadeira, né? –interveio Luisa.

Melissa deu de ombros.

Qual é pessoal! Eu pensei que a gente fosse se divertir!—protestou a loira. Os outros dois acabaram rindo com o tom de desapontamento na voz dela. Melissa era mesmo uma figura.

—Vamos sair logo daqui... –Luisa riu. –Acho que a fumaça tóxica que a TARDIS vem liberando já há algum tempo, vem mexendo com nossos neurônios... E eu não quero ficar com nenhuma seqüela de viagem no tempo, viu galera?

—Pois bem então, senhorita, seu pedido é uma ordem! –o Doutor correu na frente das duas amigas e abriu as portas sem mais delongas. –É isso aí, pessoal! Sejam bem vindas ao maravilhoso, e desconhecido por qualquer outro ser humano, mundo dos Dinos...

—PARADOS AÍ! –gritou uma voz enérgica de um homem. No mesmo instante, vários rifles foram apontados para os três e a cabine. Ao todo, estavam cercados por pelo menos uns trinta soldados armados até os dentes. Devidamente prontos para encher o trio de chumbo, á qualquer misero sinal. E lá estavam eles: presos e encurralados por uma porção de seres humanos, que não faziam a mínima idéia de onde haviam saído... Afinal, estavam no Jurássico ou não estavam? Desde o primeiro momento, o trio ergueu as mãos de imediato e permaneceu paralisado, á mercê dos soldados. Então, um homem de barba branca rala abriu caminho por entre os civis, em pose de ataque. Chegou até eles e ficou apenas á contemplá-los: até que finalmente, o Comandante Taylor lhes dirigiu a palavra.

Caixa azul, é?—ele franziu meramente a testa. –Que se dane. Não sei como foi que chegaram aqui, garotos, mas sei que devem ter vindo escondidos. Clandestinos, de uma nova peregrinação forjada por baixo do nariz das autoridades, eu imagino... –então ele empinou o queixo. –Vocês não são Sextos. Conheço bem o pessoal da Mira. Eles nunca seriam tão previsíveis... Porque, aparecer do nada com uma caixa azul desse tamanho, diferente de qualquer outra coisa que já vimos na Colônia, parece ser meio estúpido da parte de invasores bem treinados... O que me faz descartar totalmente essa possibilidade também. –ele avaliou-os. –Bem, garotos. Se não são Sextos, espiões da Mira, ou qualquer outra coisa do tipo, então serão bem vindos em Terra Nova. –ele abriu os braços, indicando o local ao redor de si. Depois pediu para os soldados baixarem as armas.

—Bom... Muito bom. É assim que se faz. Resolvendo as coisas á base da conversa e dedução, e não com violência... –o Doutor aprovou radiante. –Bravo senhor! Eu realmente gostei desse cara... –ele sussurrou para Luisa.

—Eu sou o Comandante Taylor. –o homem se apresentou, com toda a formalidade de um líder justo, respeitado e admirado por todos.

O Doutor fechou a porta da TARDIS discretamente, antes de se afastar da cabine.

—Ah! Muito prazer comandante! Eu sou o Doutor, e essas duas são minhas companheiras... –ele sorriu abertamente, ao apertar a mão do homem. –Não se preocupe, meu bom homem, nós viemos em paz! Só estamos de passagem, na verdade... Acredito que não iremos ficar muito tempo por aqui, então na certa não terão que se incomodar conosco... Encontraremos nosso próprio caminho em breve. Nem perceberão nossa presença aqui... –ele afirmou. –Á propósito, aqui é...?

—Terra Nova. –Taylor esclareceu orgulhoso. –Minha colônia.

—Oh! Brilhante! Eu sempre quis conhecer um lugar com nome sugestivo como “Terra Nova”... –o Doutor sorriu imensamente. –Ótimo nome! Uma brilhante escolha, comandante Taylor! Adorável... Na verdade, é um pouco pretensioso, devo admitir, mas eu gostei!

O homem encarou-o sério por um momento. Á alguns metros dali, dois oficiais se entreolharam, com sorrisos maliciosos. Pareciam saber o que viria pela frente. O comandante Taylor, porém, pareceu entrar no jogo do Senhor do Tempo, o mais descontraído possível:

—Rá! Está certo filho... Poderão ficar aqui o tempo que precisarem. –ele sorriu, ainda segurando uma de suas mãos, enquanto a outra repousava sob o ombro do Doutor. Então aproximou-se do rosto do rapaz e anunciou: -Mas, com uma condição... Vocês nos contam como conseguiram invadir minha colônia com uma caixa azul enorme, sem serem vistos, e nós os deixamos em paz, combinado, “meu chapa”? —ele satirizou.

O sorriso do Doutor abandonou seu rosto imediatamente.


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Notas finais do capítulo

YEEEEEP!

Terra Nova é uma série criada por Steven Spielberg -que por acaso também criou Jurassic Park, e tantos outros clássicos que permeiam nossa imaginação até os dias de hoje ( e muito mais além, espero!!).
Infelizmente, a série não teve o contrato renovado para uma segunda temporada e eles não finalizaram. Minha proposta aqui é criar um final á altura para essa fantástica história que é Terra Nova. Espero que vocês gostem!

Bom, duvido que tenham percebido, mas no título eu usei a mesma sonoridade de "E o Vento Levou", adaptando para "E o Tempo Fechou". Contudo, advirto que não há nenhuma referência particular à essa história. Neste caso, foi só uma brincadeira sonora mesmo. kkkkkk
Bom, não deixa de ser cultura. Alguém aí já assistiu "E o Vento Levou?" É um filme beeeeeem comprido. Se a história da Luisa tivesse que ter alguma alusão com o filme, então eu diria que seria no tamanho mesmo, porque ambas são tramas longas! kkkkk Olha aí! Algo em comum...

E aí? Curtiram o capítulo? Quais as expectativas por enquanto? Quero saber tudinho!!!

Beijos e nos vemos semana que vem com a continuação! ;)



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