Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 60
Esperança é a última que morre


Notas iniciais do capítulo

Hello my friends!!

Estamos aqui, de volta à faculdade, e postando esse capítulo muito animadamente!! (estou com um pressentimento bom sobre esse ano, mas tudo bem, vamos aguardar).

Cá estamos no desfecho da aventura dos Expressos Paralelos

"Os Zygons queriam a chave da TARDIS. O Doutor a tinha, e resolveu negociá-la... Será que foi uma decisão boa de se tomar?"



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Não! Doutor!—Luisa gritou. Ela tentou impedi-lo, mas Holmes segurou seu braço, mantendo-a no mesmo lugar. Ela trocou olhares confusos com o detetive, mas ele apenas a fitou pacientemente.

—Tenha calma. –aconselhou-a em meros sussurros. Ele parecia estar querendo ver até onde o Doutor seria capaz de chegar, porque logo após ter lhe dado um toque, o detetive voltou a fitá-lo, atentamente.

Melissa foi a próxima a querer agir, porém, desta vez ela foi mais ligeira. Correu na direção do rapaz e lhe deu um tapa no rosto.

Endoidou? Enlouqueceu de vez? Pirou na batatinha? Ficou maluco? Vai entregar sua TARDIS pra eles no mole?

—Vou. –ele sorriu, tranqüilo. –É o certo a se fazer, não é mesmo senhora Lancaster?

A mulher abriu um sorriso triunfante.

—Até que enfim você teve bom senso, Doutor! –ela concordou. Então parou, e fitou-o com muita cautela. –Muito bem, então... –e estendeu a mão.

—Tá legal, só vamos raciocinar por um instante e usar a pequena maça cinzenta—ele declarou, ao que o sorriso satisfeito no rosto da mulher já começou a sofrer instabilidade. -É obvio que você já poderia ter rastreado minha nave... Afinal, você me rastreou! Entretanto, não poderia adentrar nela, sem isto!—mais uma vez, indicou a chave em sua mão. –Então escute minha proposta: Eu vou dar a minha chave pra você... Mas com uma condição muito clara e específica... -ele fez uma pausa, olhando de relance para seus amigos, alarmados, logo atrás. -Quero que tragam todos os demais passageiros do expresso pra cá. Vivos! Todos os oito. Nessa mesma sala. Todos os que sobraram... Sem mais danos. –então acabou suspirando. -Se é para isso tudo acabar, então que estejamos todos juntos!—sussurrou a ultima frase com amargura, mas logo se recompôs: -Como é? Temos um trato? Se os trouxer para cá, eu juro que lhes entrego a chave...

A mulher fechou a mão, observando-o com cautela. Depois, percebendo seus ombros caídos, o olhar baixo e o ar impotente que o Doutor exalava, abriu um exagerado sorriso torto.

—É mesmo muito esperto –ela admitiu. –Terá o que quer. Afinal, não posso discordar de você, Doutor: Sem dúvida será mais rápido liquidálos, se vocês estiverem todos reunidos... 

—Muito bem então. Está feito. –com essa deixa o Doutor deu-lhe as costas, ao mesmo tempo que ela se retirou. O rapaz abriu caminho entre os demais amigos, com a chave no punho fechado e a mão livre na cabeça. Por fim, encostou as costas na parede e pendeu a cabeça para trás, exausto. Luisa deu alguns passos em sua direção.

—Espero que saiba o que está fazendo –ela advertiu, preocupada. –Estamos todos contando com isso.

Tem tanta coisa na minha cabeça...—ele franziu o cenho, como se sentisse uma leve pontada. Luisa tocou-lhe a dobra do braço, de modo á apóia-lo. Seu ato fez com que ele abrisse os olhos, instantaneamente, para contemplá-la. –Eu queria poder fazer alguma coisa pra ajudar...

—E você pode. –Luisa sorriu, amigavelmente. –Enquanto estamos conversando, sua cabecinha de gênio está raciocinando feito louca... Eu te conheço, moço!—ela brincou. –Sei que vai pensar em alguma coisa...

Ele endireitou o corpo, um pouco mais animado.

—E você continua me apoiando, mesmo depois de tudo o que passou hoje...

—E como você acha que eu deveria agir? –ela deu de ombros, sorrindo de leve. –Você é meu melhor amigo. Nada que aconteça será motivo suficiente para me fazer parar de acreditar em você... –ela fitou-o intrigada. –Pensei que soubesse disso...

—Eu sabia. –ele afirmou. –Só preciso de coisas que me façam lembrar, de vez enquanto... –terminou, simplista. Luisa fitou-o com admiração e deu-lhe um abraço.

—Eu confio em você. Nós todos confiamos... Quer um grande motivo para movê-lo? Bem, você tem dez ótimos motivos... —e indicou a cabeça na direção dos companheiros de equipe, que fitavam-nos entre olhares curiosos e preocupados. Dexter pôs a língua para fora, balançando também o corpo, contente ao ver os dois juntos, dizendo frases encorajadoras um para o outro. 

Em meio á toda a confiança que os amigos lhe passavam naquele momento tenso, inesperadamente, o Doutor fitou um ponto fixo no vagão em que estavam e ergueu as duas sobrancelhas, descruzando os braços e dando o sorriso mais empolgado e confiante do mundo. De repente, tudo fez sentido.

—Eu conheço esse olhar... –Luisa ponderou, esperançosa. Então estalou os dedos e apontou para o rosto do amigo, empolgada. -Você teve uma idéia! –ela sorriu amplamente com as mãos no peito, aliviada, então inesperadamente cobriu os lábios, detendo-se.—Ai meu Deus... Nós temos um plano?  

—Vou precisar de sorte... –ele admitiu, enfim, comprovando suas suspeitas. Então voltou-se para o restante do grupo. –Eu sei que não temos muito tempo para bolar um excelente plano, então eu vou resumir: penas ajam normalmente. Não interfiram, não interajam e, em hipótese alguma, demonstrem bravura perante aos Zygons. Será mais fácil se nós fingirmos estarmos cooperando com os eles... Agora, sobre todo o resto, eu apenas lhes digo para improvisar. Meus planos são conhecidos por serem um por cento combinados adiantadamente e noventa e nove por cento improvisados. –o Doutor resumiu. –Com isso, acho que vocês já devem imaginar o que vem pela frente... Apenas, prestem atenção nas deixas e nos sinais subliminares... Lembrem-se: É no oculto que estão as respostas. Tenho certeza que mais tarde isso fará algum sentido... –ele proferiu, coçando a cabeça, meramente confuso. -Em todo caso, sejam naturais e tentem não se esquecer desse meu ultimo aviso: usem a audição. Quando todas as coisas coincidirem e estiverem emparelhadas, dêem impulso para cima.—ele proferiu, sem mais nem menos. –Usem a criatividade! Na certa, imagino que agora vocês já saibam o que fazer...

Todos se entreolharam, completamente perdidos. Infelizmente, não houve mais tempo para repassar o “plano”, já que os Zygons e a senhora Lancaster retornaram ao bagageiro.

Aqui estão os imundos!—a mulher retornou junto do cão na coleira, escoltando consigo os dois aristocratas, a moça de vestido vermelho, o garçom, o pai bêbado, a mãe submissa e Austin, o menino com problemas psicológicos, além do garoto Alex, de boina, gravata borboleta e suspensórios. Quando este ultimo passou pelo Doutor, eles se entreolharam fixamente. –Acordo cumprido, Doutor. Agora todos vocês podem se reunir uma ultima vez, antes de encontrarem a morte!

—Oh, não! –a moça loira de vestido vermelho bufante choramingou no peito do garçom, por quem se apaixonara durante a viagem, ao que ele a segurou firme junto de si. Mesmo tendo o conforto de saber que o Doutor tinha um plano, Luisa não deixou de ficar inquieta e ansiosa, perante á nova situação. Alguns dos presentes abraçaram-se, ao mesmo tempo que outros trocaram olhares de conforto com seus amigos e entes queridos, já pressentindo a aproximação do fim. O único que permanecia completamente impassível, era o Senhor do Tempo.

Agora, seja um bom menino e cumpra sua promessa, Doutor—latiu o cão. –Nos dê a chave!

—Eu farei isso com o maior prazer... –ele caminhou na direção dos Zygons, tranqüilamente. Então parou, á menos de meio metro de distancia da senhora Lancaster, com as mãos entrelaçadas nas costas. –Porém, antes, eu gostaria de fazer uma pequena observação. É que eu estou um pouco incomodado com esse calor que está fazendo aqui dentro... Você não estão? Quero dizer, com todas as portas e janelas do trem lacradas... Não á muita probabilidade de alguém conseguir escapar daqui, até mesmo vocês.

Os Zygons trocaram olhares zombeteiros.

—Não se preocupe, Doutor, nós teremos um ótimo sistema de ventilação nas nossas maquinas do tempo...

—Sim, sim, eu já sei. As maquinas que vocês roubarão de mim e do dr. Brown, á força. Mas essa é uma história velha. Eu gostaria de falar sobre o futuro... Quero dizer, vocês pretendem roubar minha TARDIS, mas precisam da minha chave para conseguir invadi-la. Isso é compreensível. O que eu não entendo, é porque vocês ainda não a tele-transportaram pra cá. Seria tão mais prático, já que vocês se apropriariam da chave, fugiriam logo em seguida e nos deixariam a deriva nesse bagageiro quente e incômodo. Seria o desfecho perfeito para seu “fabuloso plano infalível”, mas do contrário, posso ver que vocês tomaram outro rumo, já que a chave está aqui, bem na sua frente, mas minha nave ainda não deu as caras...

O cão estreitou os olhos para o Doutor.

Não pense que fomos tão ingênuos, Doutor. É claro que suas maquinas do tempo já foram transportadas para nossa base oficial. O conceito está certo, apenas a ordem está diferente. Nós nos livraremos de vocês primeiro, e depois nos tele-transportaremos desse inferno sobre rodas, para nunca mais voltar a pisar nesse planeta desprezível!

O Doutor balançou a cabeça, impressionado.

—Hum... Ótimo plano. Foi você sozinho que pensou nisso? –ele provocou. –Porque está tão bom quanto a causa que vocês abraçaram para estar executando essa maluquice toda... –ele se inclinou para frente. –Uma verdadeira besteira.

O cão rosnou para ele.

É sua ultima chance. A chave! Nos dê a chave!

—Bom, é claro que eu darei. Afinal, foi o nosso combinado! E promessa minha... –ele tagarelou, descruzando os braços de trás do corpo e erguendo a chave na altura dos olhos, mostrando-lhes que a tinha em mãos. –Ela está aqui, como podem ver. Mas, eu devo ressaltar que não será fácil invadir a TARDIS. Ela tem protocolos de emergência, alarmes e tudo o mais que vocês possam imaginar, contra invasores indesejáveis...

Não estamos preocupados com isso!—o cão retrucou. –Por hora, essa será a menor de nossas preocupações... Ainda teremos muito que fazer antes da partir!

—Ah, sim. Porque vocês vão ter muito que enfrentar pela frente... –o Doutor articulou, ganhando tempo. –Olha, eu sei que vocês estão certos de que toda essa maluquice trará resultado, mas, escutem o conselho de um amigo apenas uma vez na vida: Eu devo adverti-los que, se eu fosse vocês, eu tomaria cuidado com pequenos imprevistos, como por exemplo todos os Sensores anti-tele-transporte que eu mandei meu grande amigo Alexander espalhar pelo trem, mais cedo, isolando ainda mais todo o espaço em que estamos... –e ele voltou-se para seu grupo. –Que... Eu sei lá! Por acaso se ativariam com um simples vibrar de um aparelho eletrônico... Como um smart-fone, por exemplo.

Alicia arregalou os olhos. Sentiu que aquela era sua deixa: tirou o celular do bolso discretamente e ligou-o. O simples ato de ligar o aparelho disparou um sinal geral por todo o trem, que colocou o espaço em quarentena. Imediatamente, os Zygons tentaram apertar seus dispositivos de tele-transporte, mas tudo foi em vão. Estavam presos igualmente á seus prisioneiros.

—O que você fez? –indagou Luisa, aos murmúrios, enquanto os Zygons davam seus gritos de indignação. 

—Eu apenas selei sua única saída. Os sensores impedem qualquer um de tentar escapar da base onde foram instalados. A partir de agora, definitivamente, os Zygons estão tão presos nesse trem, quanto nós...

Você irá pagar por isso!—rosnou o cão, espumando. Os Zygons ameaçaram avançar no Doutor, mas ele tinha uma arma secreta.

Mais nem pensem nisso!—ele gritou, erguendo o braço e mostrando-lhes a chave prateada da TARDIS que brilhava á meia luz. Os Zygons acabaram se contendo: não podiam correr o risco de perdê-la de vista. –Não, não! Pensem melhor, Zygons... Eu ainda sou o portador da chave! Vocês não podem nos machucar. Não enquanto eu ainda estiver com ela...—o Doutor gritou em defesa, parado á frente do restante do grupo, esticando o braço livre na intenção de proteger os amigos atrás de si. –Essa chave é objeto de desejo dos dois grupos e é a única coisa que impedirá um massacre de acontecer. Isso deixa a situação um pouco mais complicada... –ele tagarelou. –Se bem que, ela é só uma chave de metal. E o metal é um material bem comum. Todo mundo tem pelo menos um objeto de metal no bolso da calça, junto do corpo ou até mesmo dentro da bolsa...

Uma nova deixa. Luisa arregalou os olhos e baixou a cabeça para sua bolsinha rosa. Ela, em geral, sempre tinha alguma coisa que servia para auxiliá-los nas situações mais complexas... Por que não usá-la agora? Disfarçadamente, ela enfiou a mão na bolsinha e tocou logo de primeira alguma coisa comprida, que sentiu ser de metal. Sucessivamente, vislumbrou no fundo da saleta o pai de família que adorava encher a cara, envolver a mulher e o filho com um dos braços, e com a mão livre, segurar superficialmente o revolver particular, ainda preso na cintura; ao que o garçom, que ainda tinha a namorada junto do peito, tirou um talher do uniforme e fitou-o como se fosse algo diferente; então a dupla de aristocratas apalparam os bolsos do paletó e analisaram seus monóculos com correntes de metal; logo depois, foi a vez de Alex, que puxou um iô-iô do bolso; e de Olívia e John Travolta, que se abraçaram na expectativa de terem alguma peça de metal nos corpos, já que eram humanóides. Olhando para o outro lado, viu o dr. Brown revirando os bolsos e apanhar seus óculos de laboratório, com o visor em alumínio e os apoios de metal; Marty tocou o próprio relógio de pulso; Dexter também imitou-os, procurando algo de metal para usar, mas não teve problemas para localizá-lo, pois a medalha em seu pescoço que o dr. Brown havia colocado –constando seu nome e mais uma porção de coisas –já dava bem para o gasto; á direita do Doutor, Luisa avistou Melissa baixando os olhos disfarçadamente, apalpando sua pulseira grossa de metal; ao mesmo tempo que Holmes tirou sua lupa, com a base em metal, de um dos bolsos internos do casaco; ao que Watson puxou com cuidado o estetoscópio, também com partes em metal; Alicia tocou o colar, que tinha um pingente de fênix, revestido de vermelho, mas que tinha na composição puro metal.

O Doutor não fitou-os por nenhum momento. Tinha medo que os Zygosn pudessem desconfiar de algo, mas no fundo, ele sabia que seus amigos tinham captado o recado. Teve uma constatação quando vislumbrou Luisa pelo canto do olho, fitando-o esperançosamente, á espera do próximo passo. Porém, ao invés de transparecer o alivio, manteve-se firme, com a chave na mão.

—Agora, eu diria que estamos chegando á algum lugar. Bem, ao menos empatamos. Porque agora os Zygons também estão em maus lençóis... Assim como nós, aparentemente. Mas é claro que sempre há uma luz no fim do túnel. Esse é o maior estímulo dos homens em toda essa vida. É isso que os move. É isso que sempre os faz seguir em frente... E, é elementar... –Holmes ergueu a cabeça. –Que um homem seja muito capaz de ver além das coisas. Mesmo que precise de uma lupa para reconhecê-las. Apesar, que a verdade pode estar oculta, atrás de um véu, ou de uma janela, por exemplo.

Holmes imediatamente aproximou-se da janela mais próxima, sem dar alarde, e fitou a paisagem noturna através do vidro da lente de aumento, levemente embaçado.

—Na vida existem vários tipos de sinais... Um homem tem que saber reconhecê-los e esperar pela hora certa, em que tudo passa a fazer sentido... –o Doutor tirou a chave de fenda do bolso e ativou-a contra a chave da TARDIS, proporcionando um pequeno zumbido que tomou o vagão, sem tirar os olhos dos Zygons nem por um segundo. Mantendo-se sempre concentrado, para não chamar atenção para suas ações, ele prosseguiu confiante: –Mas é evidente: eu não sou nenhum expert sobre a vida. Eu também erro, como qualquer um... Mas é obvio que eu queria muito ser experiente e centrado em uma causa maior, como faz um brilhante cientista...

Foi a vez do dr. Brown arregalar os olhos. Imediatamente, checou seu relógio e o de Marty, igualmente sincronizados.

Falta apenas um minuto pras nove...—ele sussurrou, para seu companheiro de dezesseis anos. –Eu não sei o que vai nos acontecer, Marty, mas vai ser logo, logo...

—É mesmo uma pena que eu não saiba nenhuma dessas coisas. Mas sem dúvida, eu adoraria fazer algo grande! É, eu sei... Sendo um “doutor”, a minha vida é sempre uma correria constante em prol de salvar vidas e ajudar pessoas –Watson sorriu com a referência, colocando as mãos nos bolsos. -Mas seria um barato tirar um dia de folga para fazer uma coisa que eu nunca fiz antes, como cantar ou atuar, por exemplo... –John Travolta e Olívia sorriram um pro outro. -Mas, se eu ainda fosse um adolescente... Eu continuaria a acreditar no impossível e que sonhos podem se tornar realidade, independente da situação... –ele disse e Luisa e Melissa entreolharam-se, sorrindo inspiradas. –Mesmo os que ainda nem passaram pela nossa cabeça direito, com todas as indecisões do dia a dia... –Alicia ergueu a cabeça e sorriu. –A esperança é o que nos move... Pelo menos, é nisso que eu acredito.

—Notável –resmungou a senhorita Lancaster. –Apesar de toda essa prosa, isso são apenas crenças, Doutor. Suas crenças. Não cabe a nós discutirmos no que você acredita ou deixa de acreditar! O fato é que está cercado e nós não vamos pegar mais leve com você só porque o “coitado” revelou uma batelada de sonhos perdidos... Largados no esquecimento!

—A senhora está errada –o Doutor retorquiu, com um brilho diferente no olhar. Alguns traços antecipados de vitória começavam a transparecer em seu rosto. –Não são meus sonhos. São nossos sonhos. E não estão perdidos ou esquecidos... Estão acontecendo aqui e agora. Em todo momento. Á cada segundo, estão se tornando cada vez mais reais e cada vez mais concretizados... –ele disse num fôlego só. –E, por acaso tem idéia do que possa estar nos movendo?

A mulher deu de ombros.

Me surpreenda.

O Doutor sorriu torto.

—Com prazer: a resposta para tudo isso é esperança. Porque nesta vida, muitas coisas nos transmitem esperança... Alguns atos, iniciativas, objetos, cheiros e, até mesmo, sons. Esses são todos ótimos sinais... Mas os melhores são sempre os que “caem do céu” e nos surpreendem...

—São nove horas! –o dr. Brown anunciou ansioso para Marty e Holmes, baixinho. –É agora! Á qualquer minuto...

Santo Deus!—naquele exato instante, Sherlock vislumbrou através da lupa na janela, uma coisa pequena rodopiando e caindo dos céus, aproximando-se á toda velocidade do solo, brilhando como uma estrela de fogo. Em poucos segundos, ela iria colidir com o chão...

Dentro do vagão, o Doutor prosseguia com seu esquema, aparentemente indiferente com tudo aquilo. Ele aumentou o zumbido de sua chave sônica contra a chave da TARDIS, tornando-a mais brilhante.

O que está fazendo?—perguntou o cão, finalmente, com os olhos cintilando com a fonte de luz azul-esverdeada da chave sônica refletindo contra a chave prateada da TARDIS.

—Bom, isso é o que eu chamo de “plano B”, ou “escapada pelos fundos”. –ele sorriu. –Agora, voltando ao assunto inicial: Eu acredito que vocês saibam o que dizem sobre os Sensores de anti-tele-transporte...? Bem, assim como a Terra tem os produtos “Made in China”, que geralmente possuem algum defeito ou falha: o universo tem os “famosos produtos Aniquianos”, que são universalmente conhecidos como os “vai não volta”. Que em geral, significam que uma coisa que é feita para um determinado uso, não funciona ao ser ativada ao contrário... –então ele abriu um sorriso ainda mais amplo. –E, pelo que eu sei, os Sensores de anti-tele-transporte dispersos por esse trem, são inteiramente Aniquianos... E, sendo assim, o mesmo tele-transporte que não funciona de dentro pra fora, funciona de fora pra dentro! —e disparou a valer sua chave sônica contra a chave da TARDIS que começou a acender em uma cor dourada. –E eu acredito que o sinal proposto pela ligação entre a minha chave sônica e a pequena chave da minha brilhante caixinha azul voadora receberia um suposto retorno imediato, exatamente ás... Eu sei lá... Nove horas e um minuto? O que a traria direto á sua fonte, ou seja: eu.

Imediatamente, ao invés de colidir com o chão, o pequeno objeto que Holmes observava da janela, com tanto afinco, perdeu velocidade e mudou de rumo, evitando uma colisão contra o solo. Logo em seguida, começou a voar verticalmente, na direção do trem, mostrando-se muito maior do que aparentava á longa distancia. Tinha o formato retangular, voava e era completamente azul. Com certeza, tratava-se do sinal que o Doutor tanto esperava: Era a caixa azul voadora!

Nove horas e um minuto!—anunciou dr. Brown, agora em alto e bom som.

Meu Deus! É o sinal! É o sinal! —gritou Holmes. –É a caixa azul voadora! É ELA!!!

De repente, eles começaram a ouvir um ruído rouco e prolongado e a cabine emparelhou-se com o trem:

   “Vuuuuuuuuuuuuuuul! Vuuuuuuuuuuuuuuuul! Vuuuuuuuuuuuuuuuul!

Inesperadamente, uma ventania avassaladora tomou contra do interior do trem e os Zygons mal puderam parar em pé. Ao mesmo tempo que o grupo de pessoas e Dexter, a planta carnívora do bem, foram envolvidos por uma luz azul brilhante.

O que você fez?!—gritaram a senhora Lancaster junto do cão, tentando manter-se em pé e dando ordens em vão, para o restante dos Zygons.

—Eu fiz somente o que a senhora pediu... –o Doutor terminou, destemido, sem deixar de pressionar uma chave contra a outra, nem por um instante. –E apenas a surpreendi. Será que a senhora acha que foi o bastante?

PEGUEM-NOS! ACABEM COM ELES! ATAQUEM SEUS IMBECIS! ATAQUEM!!!—o cão ordenou, mas os Zygons se atrapalhavam com a ventania com a força de um tufão e caiam um em cima dos outros. Na verdade, a suposta “ventania” era gerada por um campo de força, criado especialmente para protegê-los e atingir qualquer coisa fora da coloração azul que os envolvia. O que era o bastante para impedir os inimigos de interferir em sua partida colossal. –DOUTOR! NÃO OUSE...!

—Tchau, tchau! –o Doutor abriu um imenso sorriso pelo canto dos lábios. A coloração azul aumentou de intensidade e eles todos foram tele-transportados á bordo da TARDIS, como se fossem clipes de metal atraídos por um ímã extra grande. Assim que chegaram, o Doutor já se arranjou junto do painel de controles, dirigindo a nave.

Estamos na TARDIS!!! Estamos na TARDIS!!! Nós conseguimos!!! —comemoraram Luisa e Melissa, abraçando junto de si Alicia, Marty e o dr. Brown. Olívia e John Travolta se juntaram aos cinco logo depois, também comemorando.  Holmes e Watson também o fizeram, mas demoraram um pouco mais, pois levaram um tempo para assimilar a nova mudança de cenário. Por um longo intervalo de tempo, ficaram pasmos ao olharem ao redor, e contemplarem o quão esplendoroso e extenso era o interior da pequena caixa azul.

—Me belisque Watson... –Holmes pediu. O amigo ficou tentado.

—Com prazer –ele o fez e o outro sobressaltou-se. –Isso é por não pagar a hipoteca da semana passada... E por usar a parede do quarto como “tiro ao alvo” com arma de verdade; E também por ter usado meu cachorro como cobaia para seus experimentos malucos, pela centésima vez...

—De acordo. –Holmes massageou o braço, ainda boquiaberto ao fitar a nave do Doutor. –Entretanto, falando somente da pequena observação que você fez sobre seu cão... Eu devo descordar, e ressaltar que ele não se importa.

Alexander aproximou-se do Doutor, devagar, subindo até o painel de controles com os olhos brilhando.

Isso é um sonho?—ele perguntou. Então voltou-se para a outra extremidade do salão gigantesco da nave, onde estavam a mulher de vermelho abraçada ao garçom; a família desequilibrada, unida e feliz novamente; e os dois aristocratas, dando tapinhas um nas costas do outro, comemorando.

O Doutor voltou-se para ele com um sorriso carismático.

Não. Essa é a minha vida—ele destacou. -E fico muito feliz por tê-los á bordo dela!

 

*    *    *

 O Doutor e Luisa entreolharam-se demoradamente. Ela no chão, com os braços envolvendo as pernas num abraço; ele de pé, com o corpo meramente inclinado, de modo que todo seu peso estava sendo colocado sob a perna esquerda.

—E os Zygons? –perguntou Luisa, agora que estavam a sós.

—Creio que a UNIT e a Torchwood não se importarão de irem buscar os Zygons no Expresso Oriente, afinal, eu lhes poupei o entediante trabalho de terem que capturá-los... –afirmou o Doutor, sentando-se ao lado dela, na escadaria da TARDIS.

—E quanto ao resto da história? Os acidentes nos dois expressos ainda vão sair nos jornais do dia seguinte?

—É evidente. A história não pode ser sempre reescrita. Qual seria a vantagem se isso sempre acontecesse?

Sempre eu não sei, mas ao menos hoje as várias pessoas que morreram no acidente entre épocas não teriam morrido á toa, atacadas por plantas-carnívoras geneticamente alteradas, não acha?

—É. Mas isso não deixa de ser um ponto fixo. –ele argumentou. –O fato é que quando os Zygons criaram essa armadilha, eles não só a fizeram, como também criaram um paradoxo. Isso significa que não podemos mais interferir no que já foi feito. Qualquer terceiro dano, poderá causar uma ruptura total do tecido da realidade...

Mas então o planeta está em perigo!—ela adiantou-se, atônita.

—Não. O planeta já agüentou coisa pior. São esses dois pontos que se tornaram linhas fixas-paradoxicais. Não podemos mais interferir nelas. Se ninguém alterar o que já foi feito, não teremos surpresas indesejadas...

—Então... Estamos seguros?

—Seguros? –ele não pode segurar o riso. -Nós nunca estamos seguros!

Luisa riu também.

—Tem razão. Só passei por apuros desde que comecei a viajar com você... –Luisa afirmou. Ele a contemplou e ela fitou o horizonte. –Como pode ser tão divertido e perigoso, ao mesmo tempo?

O Doutor sorriu.

—É essa a graça das viagens. Nunca tem um lado totalmente ruim, nem um totalmente bom. É sempre inovador e assustador, ao mesmo tempo...

—E é maravilhoso. –ela suspirou.

—É. Maravilhoso. –ele concordou.

Enquanto eles atinavam, Melissa irrompeu no espaço, ajeitando-se entre os dois com um balde de pipoca.

—E aí? Estão pensando na morte da bezerra?

—Não. No pessoal do expresso... –Luisa contou. –Será que todos vão ficar bem depois de tudo o que aconteceu?

—Eu não sei, mas acho que a família desequilibrada já ficou. Você viu como o pai começou a dar valor á esposa e ao filho depois de quase ter perdido a família? –destacou o Doutor.

—É. Os aristocratas também pareciam contentes. Eles com certeza firmaram ainda mais a amizade... –concluiu Luisa.

—E a loira e o garçom logo vão estar de casamento marcado... –Melissa encheu a boca de pipoca. –Pra eles foi uma viagem romântica...

Românticamente conturbada, só se for... –Luisa acrescentou. –Só faltava eles quererem um jantar romântico á luz de velas, servido pelos Zygons e com o Sherlock Holmes tocando violino no fundo...

—Seria engraçado! –o Doutor riu pelo nariz. –E também um completo desastre...

—Holmes e Watson gostaram muito da TARDIS. Mas acho que eles negarão a história para qualquer um que lhes vier perguntar... –avaliou Luisa.

—Com certeza. Não é esperado de um detetive consultor e de um médico prestigiado, comentários fantasiosos sobre coisas de outro mundo. Precisamos lembrar que eles vieram de uma época em que esse tipo de coisa não passava de blefe de bêbados que perambulavam em becos escuros na madrugada... Além de ninguém acreditar neles, isso mancharia sua reputação. –supôs o Doutor.

—Igualmente ninguém acreditará em nós se dissermos que conhecemos o verdadeiro Sherlock Holmes e o dr. John H.Watson... –averiguou Luisa.

Imagine! Claro que você pode sair e contar isso pro mundo todo!—disse Melissa. –A única coisa, é que daqui a uma meia hora, o pessoal do hospício vai estar batendo á sua porta...

—E falando em hospício... Quem aqui nunca vai se esquecer do dr. Brown? –Luisa sondou.

—Ele era sem dúvida um dos melhores cientistas que tive o prazer de conhecer... –o Doutor sorriu, animado. –Nós até trocamos nossos contatos... Ele é sensacional!

—Acho que o Doutor encontrou sua alma gêmea... –Melissa brincou. –Outro cientista maluco!

Os três riram abertamente.

—O melhor foi poder cantar o Grease com o John e a Olívia! –Luisa comemorou, dando socos no ar. –Você acha que a solda vai segurar o material permanentemente?

—Com certeza. É só eles não se exporem á outra viagem pelo hiper-espaço e na velocidade da luz... –o Doutor afirmou. –Fora isso, eles ficarão ótimos!

—Melhor do que tudo isso foi a minha selfie com o John Travolta! –Melissa contou vantagem. –A legenda vai ser: “Embalei nos embalos do John; Caí na gandaia e na armadilha dos ETS também”. –os três riram juntos, novamente.

—E quanto ao Alexander? O que houve com ele?

—Ele foi pra casa. Parece que ver a TARDIS fez bem pra ele. Alex parecia muito mais inspirado agora, do que antes de pegar o trem em 1930... O lado bom das experiências, é que elas sempre nos acrescentam de algum modo. –contou o Doutor.

—Falando em experiência: e a Alicia?

Melissa franziu o cenho para os dois amigos. Tudo bem que eles estiveram falando dos colegas até agora, ela mesma chegou a participar da conversa, mas aquilo já estava ficando ridículo...

—Vocês estão gravando algum monólogo ou “diário de bordo” por acaso? –ela enfatizou.

—Não. Isso nem passou pela nossa cabeça... –Luisa deu de ombros, trocando olhares confusos com o amigo que coçou a nuca, intrigado. –Nós nem pensamos nisso... Um diário de bordo?

—É, mas é uma ótima idéia! –o Doutor empolgou-se. –Nós bem que podíamos começar a registrar nossas aventuras em um diário de bordo... Seria divertido!—os olhos dele brilharam. Luisa sorriu com a animação dele, mas Melissa permaneceu impassível, fitando-o como se ele fosse louco. –Essa é mesmo uma ótima idéia Melissa! Posso saber de onde você tirou inspiração para pensar em uma coisa dessas?

Melissa olhou ao redor, indiferente.

Eu acho que foi quando vocês dois começaram a falar dos nossos amigos como “fantasmas de um passado distante”, quando na verdade, ainda temos metade da equipe á bordo...  –ela falou, apontando para suas costas. Imediatamente, o Doutor virou a cabeça para trás e contemplou o dr. Brown, Marty, Watson, John e Olívia xeretando as minúcias do painel de controles, enquanto Alicia re-surgia da passagem larga que levava a uma cessão de corredores internos da nave. Durante uma meia hora, ela só esteve entrando e saindo, contemplando espantada a extensão improvável da cabine azul, pelos dois ângulos. Como que por impulso, as duas garotas o fitaram ainda no degrau da escadaria, e o Doutor se levantou, caminhando na direção dos demais, meramente surpreso.

Ah! Me desculpa! Me desculpa mesmo... Nós passamos por tanta coisa hoje que eu quase me esqueci que ainda tínhamos companhia!—e, com isso, aproximou-se dos amigos, sorrindo e sondando o que estavam achando do passeio.

—Ora, BRILHANTE! É brilhante, Doutor! Tudo isso é muito improvável, mas incrivelmente lindo! Olha só esses motores anti-combustão! As alavancas gravitacionais! As campainhas, os discos de inibição! Quanta variedade de botões e geringonças... Me diga: eu morri e estou no paraíso dos cientistas?—riu o dr. Brown, não cabendo em si de tanta satisfação. O Doutor sorriu em retorno, envolvendo-o com o braço e dando-lhe tapinhas nas costas.

—É, meu amigo... Dr. Brown, o senhor não morreu, isso eu posso lhe garantir! Mas com certeza o senhor chegou onde nenhum outro cientista conseguiu chegar...

—Oh! Essa foi sem dúvida a melhor descoberta de todas! Bom, a segunda melhor. A primeira, claro, foi concluir a criação da minha máquina do tempo...

O Doutor fitou-o de imediato, fingindo sentir-se ofendido.

—Ei! Calma aí grande gênio... Está querendo me passar para trás? –ele brincou e todos ao redor, riram.

Não! Isso nunca!—o dr. Brown se prontificou, também caindo na risada. –Isso nunca, meu amigo... Nós dois, com certeza, merecemos nossos prestígios!

—Marty. Alicia. Como é que vocês estão? Se divertindo muito? –o Doutor perguntou, passando á diante.

Muito? Isso aqui é muito maneiro!—Alicia festejou.

—É! Sua nave é muito legal –Marty exclamou, ainda extasiado com a vista de tirar o fôlego. –Eu sei que é estranho dizer isso, porque é uma nave e tudo mais... Mas é que, às vezes, você olha muito fixamente para uma parte dela, e de repente você desvia os olhos, e olha de novo, e tudo parece se transformar... Tudo é tão colorido! Tão convidativo... Estou me sentindo num parque de diversões!

O Doutor riu.

—Não se preocupe. Choques culturais e sensações inexplicáveis são perfeitamente comuns nessas circunstancias. –ele esclareceu. –Daqui a pouco você vai se habituar com a vista...

Acho que nunca irei me habituar, Doutor... –ele retorquiu, quase que hipnotizado. O Doutor tornou a rir.

Esse é o espírito!—aprovou o Senhor do Tempo. -Se todo mundo enxergasse as coisas como Melissa, a vida seria muito chata... –brincou, certificando-se que ela não escutasse. Pelo menos naquele minuto, ele estava com sorte... Sendo assim, caminhou rumo aos próximos três tripulantes temporários da TARDIS. –Meu caro dr.Watson! John e Olívia! Como estão passando? Desculpe não ter perguntado antes... É que nós fizemos quatro paradas diretas em 1930 para que os outros desembarcassem, e eu fiquei um pouco tonto com a mesmice...

—Tome quatro dessas ao dia –o dr. Watson recomendou, entregando-lhe uma cartela com comprimidos alaranjados. –Isso vai deixá-lo mais concentrado e diminuirá os efeitos da sua hiperatividade...

O Doutor ergueu as sobrancelhas, pasmo.

—Como você soube que eu sou hiperativo? Não! Não me conte! Deixa eu adivinhar: Você deduziu isso só de me avaliar!

Watson mordeu a pontinha do bigode.

Na verdade foi a senhorita Melissa que me contou. –ele interveio, sério, acabando com o clima enigmático. O Doutor ficou fitando-o por um instante, decepcionado, o que, pra começo de conversa, provocou-lhe um risinho contagiante, que logo alcançou também os lábios do Doutor.

Você hein...!?—ele riu, apontando bem humorado para o médico. –De qualquer forma... Obrigado pelo remédio. –então sorriu e cumprimentou John e Olívia. –Como estão se sentindo? Espero que a solda-sônica tenha dado pro gasto...

—Se deu! –John sorriu, batendo a palma da mão direita contra a do Doutor, depois ambos fecharam os punhos e chocaram-se de leve um contra o outro, em um cumprimento moderno e juvenil. –Cara... Eu e a Olívia estamos nos sentindo muito melhor!

—Muito obrigada! –Olívia tocou-lhe o braço com ternura. –Obrigada, Doutor. Obrigada por tudo.

—Ah... Que nada.  Eu só fiz o que tinha que ser feito—ele enrubesceu de leve, modesto. 

—Mas estamos nos sentindo muito melhor! E essa viagem foi incrivelmente maravilhosa! Vocês nos fez ampliar ainda mais nossos horizontes... De repente, as coisas parecem estar tão diferentes! Não sei se eu e o John nos habituaremos novamente á nossas vidas normais, depois de tudo o que descobrimos sobre nosso lado humanóide... –Olívia admitiu. –Mas, independente disso... Você abriu nossos olhos, como ninguém jamais conseguiu fazer durante todos esses anos. Nunca testemunhamos algo igual... Palavra de artista!—ela disse sincera, com a mão sob o peito.

—Olha... Não sabem o quanto eu me sinto... –o Doutor apenas fitou-os. Os olhares de ambos estavam sorrindo para ele, assim como seus lábios. Quando os olhos riem, a alma também o faz e, ao sentir todo o carinho e gratidão que eles lhe transmitiam, ele não precisou dizer mais nada. –Obrigado. –sorriu em resposta.

De repente, uma inesperada explosão no painel de controles ocorreu e o Doutor pediu licença, dirigindo-se na velocidade da luz, para cima dos controles.

—Não... Não... Explosões feias! Quem mandou vocês darem as caras agora? –então ele percebeu uma coisa transparente e gosmenta escorrendo de um canto do painel, onde alguns controles deram curto. Abaixou-se e ergueu uma das placas que constituía a base dos controles, já meramente entreaberta, só para receber uma lambida áspera e gosmenta de Dexter, que brincava de esconde-esconde dentro da carcaça do painel. –Ei! Seu bobinho! Saia daí Dexter! O painel de controles não é lugar para brincar... –ele tentou ser duro, mas as contínuas lambidas carinhosas de Dexter (que acabaram de espaventar seu topete por inteiro) acabaram lhe fazendo rir no final. E o Senhor do Tempo ergueu-se avisando a todos que estava tudo bem. E passou rente á uma sombra boquiaberta, na outra beirada do painel... E retrocedeu os passos, para encarar um inconsolável Sherlock Holmes, que ainda permanecia congelado, fitando o majestoso interior da TARDIS, sem conseguir assimilá-lo.

—Oh! Sherlock! Eu quase me esqueci de você! Acho que nunca o vi tão quieto... -sem fazer cerimônia, o Doutor encostou-se ao lado do detetive e fitou-o pacientemente. –Quer tentar dizer alguma coisa? Geralmente ajuda a amenizar o choque...

Holmes demorou-se mais alguns segundos para conseguir reunir forças para responder-lhe.

—Isso aqui é tudo tão estranho... Foge completamente do meu modo de enxergar as coisas.

—E isso não é bom?

—Não sei se gosto disso. –ele retorquiu, encarando tudo meio vagamente. –Me diga: se todos os valores que constituem minha essência estiverem errados, então o que será de mim?

—Eu não sei. Só acho que você deve encarar as coisas como um novo aprendizado e não como se seus valores estivessem errados... –o Doutor avaliou. –Tenta fazer assim. Acredite, ajuda...

—Mas como posso levar o melhor disso se isso for completamente absurdo? Se não houverem explicações viáveis ou... Ou... –Holmes soltou um suspiro profundo e fitou suas próprias mãos. –Estou sendo um idiota, não estou?

—Eu não acho que esteja. –o Doutor disse e Sherlock ergueu a cabeça, esperançoso. –Acho que você agiu muito bem... Foi incrível hoje, lá no expresso... Localizou minha TARDIS sem nem saber ao certo o “sinal” que estava procurando. Mas você soube exatamente o que fazer quando o avistou. Exatamente como eu julguei que faria.

—E isso me torna exatamente o quê á seus olhos, Doutor? –Holmes sondou. -Um homem previsível?

—Um homem brilhante. –o Senhor do Tempo abriu um sorriso e o detetive enrubesceu, voltando a fitar os sapatos. –Porque é isso que você é Holmes: você é brilhante! Um detetive incrível, de excelente intelecto e paixão na profissão que exerce... Você é um exemplo a ser seguido!  

—Ah... Obrigado, Doutor. Eu nem sei o que dizer... –o detetive disse, meio sem jeito. –Não me recordo da ultima vez em que estive tão embaraçado...

—Bom, então essa vai ficar pra história, porque tem mais alguém aqui que também te admira muito e gostaria de trocar uma palavrinha com você... –o Doutor revelou.

—É? Quem? –Holmes fitou-o curioso.

—Ela. –o Senhor do Tempo apontou para Alicia que se aproximou, ansiosa. Holmes contemplou-a surpreso, ao que o Doutor aproximou-se e murmurou em seu ouvido: –Prepare-se para corar de vez. –então deu-lhe um empurrãozinho, ao que o detetive parou frente a frente com Alicia.

—Ah... Olá! –ela disse empolgada.

—Oi. –ele assentiu, sem saber direito como se expressar. –Eu, Ah... Bonitos tênis.

Ela pareceu ter ouvido o maior elogio de todos os tempos.

—Obrigada! –agradeceu, profundamente tocada. Respirou fundo, então disparou: –Você é incrível! Eu nunca disse nada sobre você á nenhum dos meus amigos porque pensei que as pessoas iam me julgar brega pelo meu gosto diversificado, mas a verdade é que eu sempre gostei de Sherlock Holmes. Sempre fui fã de tramas de mistério e as suas são sem dúvida as melhores! E, eu nunca disse nada a você, simplesmente porque não consegui assimilar o que era ter você de verdade ao meu lado o tempo todo, fazendo deduções e desvendando o mistério... Na verdade, é incrível eu conseguir estar admitindo isso logo agora... A verdade é que eu aprendi muito com você hoje! Você é excepcional! É incrível... O melhor detetive de todos os tempos! —ela fez uma pausa. –Eu sou sua fã numero um.

Holmes respirava apenas o necessário, nem a mais nem a menos. Parecia estar poupando fôlego para alguma ação maior...

—Eu estou lisonjeado, senhorita Alicia. –ele sorriu pelo canto dos lábios, ainda um pouco travado. –E, devo admitir que estou sem palavras ao receber todo o seu maior reconhecimento. Isso me inspira. Sua atitude me inspira. E também sua determinação, e foco, e preparo, e estímulo, e concentração... –ele fez uma pausa e ela arregalou os olhos, incrédula com o que estava ouvindo. -E excelentes habilidades para dedução. –ele lhe lançou um sorriso completo e ela mordeu o lábio, tremula. –Parece que eu não sou o único que é bom nesse ramo, afinal...

—Você acha mesmo? -ela abriu um sorriso largo.

—Eu nunca me engano. –e lhe lançou uma piscadela. –Conheço um bom detetive quando vejo um. Por isso não se engane, Alicia Lenner. Esqueça as opiniões alheias e siga seu coração. Você se tornará uma grande detetive algum dia... Isso é elementar.

—AH! MEU DEUS! OBRIGADA! OBRIGADA! OBRIGADA! –ela abraçou-o com força, pegando-o de surpresa. Ele ficou sem reação por um instante, então retribuiu o abraço, ao que o Doutor sorriu e todos ao redor tiveram a mesma reação. Até Dexter pareceu estar emocionado. -Como você soube? Como deduziu que eu sou boa nisso?

—Você deduziu. –ele surpreendeu-a, fazendo-a se afastar para contemplá-lo. –Desde o começo desse mistério, você se mostrou apta á tomar conta do caso. Em todos os momentos, deu seu melhor e nunca reclamou. Nem mesmo quando as dificuldades nos alcançaram... É obvio que isso já diz tudo. –ele sorriu e ela cobriu os lábios com uma das mãos, querendo chorar de tanta felicidade. –Esse é seu destino. Esse é o caminho que deve traçar. Quer ser feliz na vida, Alicia? Então exerça a profissão de seus sonhos. Aprenda uma coisa Lenner: Se você conseguir estar satisfeita consigo mesma, o resto é o resto.

Em meio a tudo aquilo, o Doutor olhou para o lado e vislumbrou Luisa e Melissa junto de si, procurando silenciosamente por sua presença. Sorriu e envolveu-as com os dois braços em um abraço triplo. Todos na TARDIS não cabiam em si de tanta emoção. Muito menos Alicia que tinha o coração batendo á mil por hora.

—Valeu por isso. –ela agradeceu. –De verdade. Significa muito pra mim...

—Não –Holmes interveio, dando-lhe um beijo nas costas da mão. –Eu agradeço.

O Doutor ouviu um ressonar instável vindo do painel e anunciou:

—Nós pousamos! –então correu para checar as coordenadas. –Alicia, John e Olívia, este é seu ponto final. Lá fora é 2050, ainda na tarde do dia 15 de março... –todos se entreolharam, ansiosos. –Vocês estão em casa.

 

*    *    *

Alicia caminhava calmamente pelas ruas próximas a sua casa. Pegara um ônibus de volta para oeste da cidade de Londres e desembarcara um quarteirão de distancia de casa. Resolveu voltar o resto do cainho a pé, pensando em tudo que havia feito naquele dia. As palavras de Holmes ainda ecoavam em sua cabeça como em uma melodia “você se tornará uma ótima detetive, Alicia Lenner. Isso é elementar”. O mais engraçado fora que no inicio daquele mesmo dia, ela estava com a vida inteira bagunçada. Sem rumo nem sonhos fixos. Agora parecia outra pessoa. Tinha sonhos, ambições e uma vontade incontrolável de resolver crimes. Sim, nem tudo mudara... Algumas coisas sempre se mantêm, e são essas as coisas que devemos nos apegar mais do que tudo, porque no fim das contas, são sempre nelas que estão ocultas as respostas mais importantes.

Como que para trazer seus pensamentos de volta ao planeta Terra, seu celular vibrou. Ela ergueu-o até o ouvido para atender.

—Alô?

—ALICIA! Menina, cadê você!?

Ela conhecia bem aquela voz exagerada. Era sua amiga Helena, do outro lado da linha.

—Oi! Como é que vai a vida?

—COMO É QUE VAI A MINHA VIDA? –a amiga gritou, inconformada. –Eu queria era saber o que você anda fazendo de tão interessante com a sua, já que não responde nenhuma das nossas centenas de mensagens no seu inter-facebook! Porque hoje, o grupo do 3B passou a tarde inteira procurando por você, sua SUMIDA! —bronqueou Helena.

—Oh... Espere um pouco! –sem cancelar a ligação, ela deu uma olhadinha na pagina do inter-facebook: lotada de cima á baixo com mais de cem mensagens. As teias de aranha desapareceram da pagina oficial da turma. No lugar delas, agora viviam flores virtuais em vasos coloridos, demonstrando o quanto às amizades estavam sendo “cultivadas” naquela plataforma digital. Rapidamente, Alicia retornou á ligação. –Oi! Oi! Foi mal pelo meu sumiço... Mas pelo menos isso teve um lado bom: você usou seu celular exclusivamente para me ligar ao menos uma única vez na vida... –ela anunciou, sorridente, no meio da rua deserta, percorrendo a ladeira que se estendia até sua casa, banhada pelo por do sol.

—Tudo bem então... –suspirou Helena, agora mais calma. -Pelo menos você está bem, Ali? Posso saber o que aconteceu com você hoje?

Alicia deu um sorrisinho torto, passando a mão no bolso e segurando o papel com a mensagem sobre oportunidades, que lera á bordo do Expresso Continental, antes de toda a aventura começar. 

Tá legal...—ela ponderou. -Por onde será que eu começo?


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Notas finais do capítulo

Prontinhoooo

Gostaram do tom alto-astral do capítulo? Eu admito que gosto muito de escrever coisas inspiradoras... Espero que tenha contagiado positivamente vocês!

Viu gente? Esse capítulo foi o desfecho da aventura, mas semana que vem ainda teremos a despedida do restante da equipe que ficou na TARDIS com o trio (Holmes, Watson, dr. Brown, e etc). Vocês podem contar como "continuidade" se quiserem, mas a parte em que eles estão no Trem com os Zygons e tals já terminou. Eu chamaria essa passagem de "entre meio", conectando uma aventura que terminou, à possíveis futuras confusões.

Enfim, semana que vem tem mais!

Beijos!!!



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