Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 52
Círculo de Despedida


Notas iniciais do capítulo

Oi!

" (...) -Mas... Havia um sonho dentre os outros sonhos. Uma cena que eu jamais poderia ter imaginado. Muito menos temido. Especialmente, porque não fez sentido algum pra mim... –interveio ela, incomodada. -Foi tipo uma informação jogada ao vento. Como se o Tormento planejasse me atormentar com uma desconfiança. Algo que eu ainda não tivesse me dado conta."



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O Doutor concentrou-se exclusivamente nas lembranças que tivera em sua TARDIS. Lembrou dos belos momentos que compartilhara com cada um de seus amigos e companheiros em todos esse anos de viagem no tempo. Lembrou-se de todas as vezes que a TARDIS errou as coordenadas. Lembrou-se de cada confusão que ela os metera. Lembrou-se da fumaça e do cheiro dos motores funcionando. Lembrou-se das guinadas que eram tão a cara dela... E por fim, lembrou-se do som que ela fazia ao decolar, que sempre trazia esperança à todos que o escutavam, por onde quer que a cabine passasse.

O Doutor reabriu os olhos e se surpreendeu ao ver, em volta de si, a sala de controles da TARDIS.

—Ra-rá! Isso foi incrível! –ele saltitou junto de Luisa, de um jeito juvenil. –Como vocês sabiam que isso daria certo?

—Apesar de parecer a TARDIS, na verdade não passa de um gigantesco holograma... Achamos que uma abordagem simples e muito bem planejada fosse muito mais segura e prática do que se bolássemos um plano qualquer, com abordagens estratégicas e complicadas, e grandes finais improvisados...

—Isso foi uma indireta, ou foi só impressão minha mesmo? –ele perguntou, sem realmente se chatear.

Luisa apenas sorriu, misteriosa.

—Desculpe, mas terá que conviver com essa dúvida... –ela brincou.

—Oh! Vocês mulheres e suas charadas... –o Doutor sorriu otimista, revirando os olhos, ao se apoiar de costas no painel de controles. –Eu amo isso!

E eu amo viajar com você! —Luisa sorriu, animada. 

—Mas como foi que você conseguiu entrar aqui? –o Doutor não conseguia entender.

—Adriana nos contou sobre a Maquina Metamórfica do Tormento, que tem ligação externa com um tipo de “Sala Camaleão”. É essa a sala que o Tormento usa para criar as imagens referentes ás lembranças scanneadas das mentes das pessoas. Com a máquina ele consegue selecionar as lembranças, enquanto a Sala Camaleão serve para reproduzi-las como em um cinema 3D. Á partir das lembranças scanneadas, ele consegue criar uma cópia perfeita dos lugares referentes ás suas lembranças... Consegue inclusive copiar os rostos e as vozes das pessoas que fazem parte delas, além de manipular suas reações, tornando tudo “mais real”, como ele gosta de fazer... Confesso que fiquei chocada com a eficácia dessa tecnologia! —admitiu Luisa, dando uma volta ao redor do painel de controles, seguida de perto pelo Doutor. –Foi idéia da Adriana localizar o caminho para a Sala Camaleão, com o poder da mente, enquanto Ofélia e eu entravamos em ação. Ofélia decidiu raquear o sistema da máquina, deixando-a confusa entre as lembranças dela e as suas. O tempo que o Tormento está perdendo para estabilizar a freqüência dos níveis de scanners, para voltá-los de novo exclusivamente ás suas memórias, é o que me possibilitou corromper o sistema também, e invadir suas lembranças, até finalmente encontrar você.

Nossa!—o Doutor impressionou-se. –Isso foi muito... Profissional.

—Obrigada. –Luisa sorriu, erguendo os ombros, simplista. –Mas eu sei que você teria feito o mesmo...

—Com certeza –o Doutor esfregou a nuca de um jeito cômico, um pouco descrente quanto á isso. No fundo, ele sabia que optaria pelo plano complicado, cheio de variáveis e finais improvisados... –Mas e o resto do plano? Se essa sala da TARDIS não é real, então isso significa que ainda estamos dentro das minhas memórias...

—Não se preocupe quanto a isso –Luisa contornou. –Estamos salvos agora. O Tormento estava atrás das suas lembranças mais atormentadas... Ele não gostará nem um pouco de saber que você andou pensando em coisas boas nos últimos minutos. Só queria ver a cara dele quando descobrir que sua mente se encontra em um ambiente confortável para você... Esse era o verdadeiro plano o tempo todo! Quando a máquina reiniciar, ela vai dar pane. Com isso, a Sala Camaleão vai “perder a memória” e cancelará o holograma onde estamos, e nós seremos libertados!

—Brilhante! –o Doutor exclamou quando os motores da nave começaram a se agitar. –Estamos decolando!

—A maquina do Tormento deu pane... Nós vamos pra casa! –gritou Luisa, não cabendo em si de tão feliz.

No segundo seguinte, todo o compartimento interno da TARDIS desapareceu e eles reapareceram na Sala Camaleão, como fora previsto.

—Doutor, Luisa! Graças á Deus! –Ofélia os saudou. –O Tormento está muito fraco... Ele voltou para seu escritório particular!

—Ótimo! Adriana já está preparada? –sondou Luisa.

—Acredito que já venha se preparando pra isso á mais tempo do que imaginamos... –confirmou Ofélia.

—Perfeito! –o Doutor sorriu. –Então, o que estamos esperando? Vamos ajudá-la!

Em poucos segundos eles refizeram o caminho até o andar superior e depararam-se com o Tormento, caído no chão, nos braços de Adriana.

—O que aconteceu aqui? –perguntou Ofélia, congelada com a cena que via.

—Ele está muito fraco –explicou Adriana. –Não conseguiu lutar. Ele tem sempre que estar se alimentando... Quando vocês cortaram o vínculo dele com a máquina, não somente o Doutor teve as lembranças libertas, como também todos as outras vítimas... O sistema todo foi corrompido!

—Então, sem querer... Nós libertamos todo mundo? —Luisa indagou, surpresa.

—Vocês conseguiram... –sorriu Adriana. –Parabéns!

A todos nós!—o Doutor segurou Adriana pelos ombros, orgulhoso. –Não se esqueça de se incluir na lista. Você foi incrível, Drica... Incrível!

—Obrigada. –ela sorriu, sem jeito.

—E quanto a ele? –perguntou Ofélia, indicando o Tormento com a cabeça. –É seguro deixá-lo solto por aí?

—Meu primo já causou problemas demais... –começou Adriana. –Eu vou tratar de controlar as coisas daqui para frente. Os Tormentos e as Calmarias terão o alimento que desejam, mas só o suficiente. Nada mais do que precisamos... Ficaremos com o que nos é junto. Recolheremos apenas o valor estipulado pelas porcentagens corretas que trazem o equilíbrio de sentimentos para todas as criaturas desse universo. –ela fez uma pausa. Todos os outros três a fitaram, inspirados. –Hoje marca o fim da dinastia deliberada dos Tormentos. Á partir de amanhã, eu, a outra metade essencial dos pólos, reinarei sob as duas raças! Calmarias e Tormentos trabalharão lado a lado, e nós todos viveremos em completo equilíbrio!

E foi com essa promessa que o elo psíquico se rompeu e os quatro voltaram á seus corpos, ainda á pouco envoltos no circulo da sala de ensaio da casa-prisão. Ao quebrarem o circulo, Luisa sentiu as pernas fraquejarem e deixou-se cair no chão, assim como todos os outros. Na percepção da garota, suas costas vieram de encontro com o solo em câmera lenta, depois seus braços se abriram, esticando-se por todo seu comprimento. Sua mão direita aterrissou nos tacos de madeira, enquanto sua mão esquerda esbarrou em alguma coisa que não era nada parecida com a textura do piso. Ela virou a cabeça para o lado e avistou o melhor amigo, também com o braço estendido na direção dela. Aparentemente, suas mãos haviam se esbarrado na queda. Os dois se fitaram por um momento, então um sorriu para o outro e terminaram o serviço, entrelaçando os dedos. 

—Nós fomos libertados? –perguntou Ofélia, erguendo-se sentada.

—Não. Ainda estamos na casa... –o Doutor ergueu-se, junto de Luisa. –Acredito que todas as vítimas dos Tormentos foram libertadas da máquina das lembranças, mas não das prisões compactas...

—É verdade. Todas as vítimas do Tormento continuarão presas nas prisões-casa, enquanto não quebrarmos os globos de neve... –lembrou Adriana, com o primo Tormento ainda nos braços, desacordado.

—Não esquente sua cabecinha de Calmaria –instruiu-a o Doutor. –A última parte do plano é por minha conta...

O Doutor apontou a chave de fenda sônica para cima e todos fitaram o objeto.

—O que você pretende fazer? –perguntou Luisa.

—Enquanto estávamos no “escritório” do Tormento, eu scanneei o armário onde estavam todos os globos de neve... Agora, é só ajustar a polaridade da chave de fenda sônica na freqüência correta e trazê-los pra cá...

—Mas a chave sônica... Não funciona em madeira. –Luisa começou. –Doutor... O armário não é de madeira?

—É, mas quem foi que disse que eu pretendo trazer o armário junto? –ele sorriu, travesso, apertando o botão da ferramenta. Luisa sorriu amplamente quando tudo ao redor começou a tremer e milhares de globos de neve apareceram flutuando no teto. –Rápido! Rápido! Saiam do caminho! Saiam agora! Fiquem todos atrás de mim...

Rapidamente, Luisa, Ofélia e Adriana (carregando o Tormento consigo), correram para trás do Doutor, que já estava fora da sala de ensaio, ainda segurando a chave sônica acionada. Todos fitaram a legião de globos de neve que não paravam de brotar no teto. Quando pararam de aparecer, o Doutor concluiu que todos já haviam se tele-transportado para lá. Não havia mais o que esperar...

Ele olhou para trás, na direção das companheiras.

—Prontas pra libertar todo mundo?

E como!

O Doutor voltou a atenção para os globos de neve.

Gerônimo.—ele interrompeu o sinal da chave de fenda sônica e todos os globos de neve despencaram do teto, estatelando-se em milhões de cacos de vidro, por todo o chão. De todas as direções, pôde-se ver um tipo de luz dourada e azul vazar de todos os globos quebrados no chão, e subir, levitando na direção do teto, onde pareciam flutuar, girando e rodopiando com movimentos leves delicados, quase como se estivessem dançando. Elas misturavam-se entre si, percorrendo todo o espaço da sala, como que criando para eles um espetáculo á parte, de cores e movimentos desordenados, mas que traziam na desordem, uma beleza inigualável. Flutuaram bastante, até finalmente começarem a evaporar, desaparecendo de vista.

—As forças vitais das pessoas estão sendo devolvidas! –festejou Adriana. –Elas estão livres!

—Sim, estão livres! –Sorriu o Doutor, ao ser abraçado por Luisa. Depois de uma sessão geral de troca de abraços e festejos, eis que surgiu uma dúvida:

—Mas e quanto a nós? –perguntou Ofélia. –Por que nós não fomos libertados também?

—Eu sei porquê. –o Doutor passou o braço em volta do pescoço da garota. –O nosso globo de neve estava com o Tormento quando ele tentou me fazer chantagem... Tecnicamente, ele ainda deve continuar com ele... – o Doutor se insinuou na direção do Tormento, desacordado. –Você me permite comprovar minha tese? –pediu permissão à Adriana.

—Permissão concedida. –ela assentiu, então o Doutor continuou o que pretendia fazer: inclinou-se e vasculhou a capa negra do Tormento. Só parou quando um sorriso formou-se em seu rosto: o sinal claro de que tinha encontrado o que procurava.

—Senhoritas... Apresento-lhes o último convidado da festa: O nosso globo de neve! –ele puxou o objeto, empolgado.

—Fantástico! –comemorou Ofélia. –Agora poderemos ir pra casa!!!—então, alguma coisa nela murchou. Adriana percebeu logo a mudança de comportamento da amiga e dirigiu-se a ela:

—O que houve? –perguntou, segurando-a nos ombros.

—Eu não vou ver mais nenhum de vocês de novo? –ele completou, sentida. –Eu nunca mais á verei de novo, Adriana...?

—Eu receio que não –a outra confirmou suas suspeitas. Em seguida, ela a fez sentar em um banquinho que estava ali e ajoelhou-se de frente para ela, segurando suas mãos. –Mas foi bom, não foi? O tempo que passamos juntas? O tempo em que fomos amigas...

Ofélia não pôde deixar de abrir um leve sorriso.

—Nós éramos incríveis juntas...

—É! –sorriu Adriana também. –E ainda somos –ela levou a mão ao queixo da amiga para fazê-la olhar fundo em seus olhos. –E sempre seremos. Entendeu?

—Entendi. –Ofélia agora se sentia muito melhor. –Eu vou sentir sua falta... Mas você sempre estará comigo, de algum jeito... Afinal, uma amizade como a nossa não merece acabar dessa forma...

—Garota esperta! –Adriana sorriu para a melhor amiga e elas se abraçaram. Adriana Ergue-se então e tratou de se despedir também dos outros dois:

—Luisa. Grande! Grande Luisa! –ela sorriu, segurando as mãos da garota. –Espero que você tenha muita sorte durante todo o seu trajeto... E que você brilhe como a estrela que está dentro de você.

—Obrigado, Drica –Luisa sorriu em retorno. -Eu adorei te conhece! Foi tudo simplesmente incrível...

—Melhor ainda com vocês aqui conosco... Foram vocês que nos despertaram para uma nova vida! Veja o caso de Ofélia: Amanhã, ela acordará em sua verdadeira casa. Claro que não se lembrará de nada que ocorreu aqui, assim como todas as outras vítimas do Tormento, mas bem lá no fundo... Ela sempre saberá que é especial.

—Com toda a certeza ela é –Luisa afirmou, sorrindo também para Ofélia. Esta se aproximou, de modo que Luisa estendeu sua mão para segurar a mão dela. –Vocês duas são!

—Nós quatro. –afirmou Ofélia.

—É! Você também garotão... –Adriana puxou o Doutor para junto delas. –Rapaz esperto... Chegou como quem não queria nada e acabou salvando o dia de todos nós! Tem idéia de quantas pessoas você libertou hoje?

—O bastante para popular um planeta inteiro –ele sorriu, abraçando Adriana. –Você terá muito trabalho pela frente... Espero que tenha muito tempo livre!

—E você também, Senhor do Tempo –ela sorriu. –Venha me visitar quando puder... Aquela sua navezinha é poderosa! Ela pode rastrear qualquer um nesse universo... Quem sabe nós não nos encontramos de novo?

—Pode contar com isso! –ele sorriu, batendo continência para ela. –Foi um enorme prazer conhecê-la, Lady Adriana! Defensora da Paz e da justiça. Devotada ao amor... E á alegria de viver. A positiva! A inigualável, Drica! Nunca irei esquecê-la, dou minha palavra!

—E você, Doutor... Eu lhe peço mais uma coisa... –ela deu uma olhadela para se certificar que Luisa e Ofélia estivessem muito entretidas se despedindo, então puxou-o para mais perto de si: -Não a deixe escapar. Mesmo que vocês dois se contentem em ser apenas bons amigos... Não a deixe partir. Ela é muito especial...

—Eu sei. –ele sorriu orgulhoso, contemplando Luisa, ao longe. –Eu sei...

Ele já ia se virar quando Drica segurou seu pulso subtamente. O olhar da garota oscilou por um momento e ela pareceu meio fora de sintonia ao concluir: -O amor é a única coisa que importa, no fim. Essa é a chave. Lembre-se disso durante sua segunda chance... Ela o aguardará muito em breve, na queda da realidade.

Segunda chance? Queda da realidade? —ele indagou confuso. Percebeu que havia algo de errado no modo como ela dissera aquilo. Mil coisas passaram pela sua cabeça naquele instante, mas infelizmente não conseguiu sequer perguntar-lhe nenhuma delas, pois um segundo após ter acabado de falar, Drica voltou a si, já possuindo novamente seu ar normal e sorriu para ele amigavelmente, como se nada tivesse acontecido.

—Doutor? –Drica soltou o pulso dele, sem nem ao menos notar que o estivera segurando um segundo atrás. –O que quê á com você? Parece tão pálido... E sério. Está se sentindo bem?

—Não. Digo, sim! Sim... Eu estou ótimo. –ele sorriu, enfiando as mãos nos bolsos, suavizando novamente o semblante. Por hora, tentou esquecer o que se passara. Quem sabe, conseguiria até dormir de noite sem sentir partes do corpo formigarem inquietas por terem recebido uma previsão futura que envolvia sua inusitada participação...

—Doutor? –Ofélia dirigiu-se a ele no mesmo instante, quebrando de vez sua linha de pensamento, o que foi uma benção naquele dado momento. –Eu ainda não tive oportunidade de lhe agradecer... Á você e á Luisa, na verdade... Agradecer por tudo o que vocês dois fizeram por mim e por Adriana.

—Não se incomode com isso –o Doutor sorriu. Luisa que chegara com Ofélia, juntou-se a ele, pegando em seu braço. –Nós só fizemos o que tinha que ser feito...

—Nós quatro fomos fantásticos hoje! –Concordou Luisa. –Acho que ninguém pode discordar disso.

—Exato. –Adriana segurou a mão do Doutor, de modo que todas as mãos livres foram seguradas e eles voltaram a formar um circulo. De repente, já estavam um de frente para o outro de novo, nos último ciclo da hora da despedida: A hora de partir. 

—Prontas? –o Doutor olhou significativamente para cada uma delas, com um sorriso muito grande no rosto. Luisa continuava a segurar seu braço, por isso, ele teve uma mão livre para poder segurar o globo de neve, virado para o chão. –Vamos para casa.

Ele soltou o globo que se espatifou de imediato, fazendo a casa ao redor se sacudir e tudo nela se dissolver, como num passe de mágica. Em seguida, os quatro desapareceram, voltando cada um para suas realidades, em suas casa, planetas de origem e naves espaciais...

 

*    *    *

Luisa abriu os olhos devagar: estava deitada no chão do console da TARDIS. Quando sua visão se ajustou e ela finalmente conseguiu se levantar com muito custo (por causa das guinadas da cabine), Luisa viu o Doutor correndo novamente ao redor do painel de controles, acionando vários botões em tempo recorde.

—Oi de novo! –ele sorriu, ao vê-la de pé. O Doutor passou rapidamente por ela e Luisa reparou de imediato que o amigo já não estava mais com as roupas de frio, o que a fez lembrar de que também precisava guardar o poncho no armário. O rapaz retomou seu caminho, correndo ao redor do painel de controles, continuando: -Nós voltamos ao Vórtice Temporal. A TARDIS não está mais com os motores travados... A gravidade do globo de neve, que nos manteve presos por todo esse tempo, acabou de nos libertar agora á pouco mesmo. Neste mesmo instante, a TARDIS está refazendo nossa rota de vôo... –ele ergueu a cabeça na direção da amiga, empolgado. -Estamos voltando pra casa!   

—Que ótimo! –Luisa saltitou. Então, seus olhos encontraram os restos derretidos da haste do Dalek, sob um espaço no painel de controles. –Mas, Doutor... E quanto á isso?

—Isso? Bem, vou te dizer exatamente o que fazer: Faça um favor a nós dois e esqueça que vimos à haste desse Dalek, hoje cedo.—ele interveio, surpreendendo-a.

—Como? –Luisa piscou, espantada. –Você vai renunciar o caso?

—Não vou renunciá-lo, apenas não pretendo ficar procurando por mais problemas. –ele voltou a atenção ao painel de controles. –Pense bem: Se tudo isso nos aconteceu simplesmente porque tentamos localizar o lugar de origem dessa coisa, então esse é um sinal claro de que não devemos continuar com isso. Bom, ao menos que você deseje realmente ameaçar nossa segurança e sanidade mental... –ele disse, causando um impacto esquisito na garota. –Apenas... Encare tudo que você vivenciou supostamente naquela outra realidade como se fosse um simples sonho. Talvez, seja somente o que tenha sido: um sonho. –ele fez uma pausa. Luisa encarou-o por um segundo, confusa, como se ele fosse um maluco qualquer que acabara de lhe dizer uma barbaridade. Sem dúvida aquele não era o Doutor que ela conhecera. Como assim ele estava desistindo de ir á fundo naquele mistério? Como se pudesse ler seus pensamentos (o que não seria impossível para ele), o Doutor notou a evidente incompreensão da amiga, (que lhe era perfeitamente deduzida através da expressão facial) e fitou-a intensamente por um instante, antes de tornar a falar. -Eu sou seu amigo, Luisa. E amigos verdadeiros estão sempre querendo ajudar uns aos outros. Você sabe disso tanto quanto eu. E, se tem mesmo consciência disso, então também deve saber que não sou á favor de ignorar aventuras, e que normalmente, não preso muito pela segurança nessas horas, o que é uma falha minha, mas eu juro pra você... Eu juro que tentaria de novo! Talvez, se nós não tivéssemos passado por esse perigo todo, e a haste do Dalek ainda estivesse intacta... Nessas condições, quem sabe, eu até poderia pensar sobre o assunto e considerar uma segunda tentativa... Mas agora, nas circunstancias atuais... –ele franziu o cenho, balançando a cabeça negativamente. Depois, começou a caminhar na direção da amiga, com as mãos nos bolsos. –Sejamos realistas: Nós quase não conseguimos escapar das garras do Tormento. Podíamos ter ficado presos lá, para sempre. Então, acredite em mim quando digo que há coisas que nós simplesmente devemos deixar passar...—ele fez outra pausa, fitando-a por um momento. Então envolveu a amiga em um abraço, na intenção de animá-la. -De qualquer forma... Valeu a intenção.

Luisa encarou a haste do Dalek por cima do ombro do Doutor por um último instante, intrigada, mas achou melhor não discutir com o amigo. Já tinham tido confusões demais, envolvendo sonhos e lembranças, para um só dia. Esse era o mistério que eles deveriam deixar passar. Quanto a isso, ela não tinha dúvida.

O amigo se afastou ao sentir um novo declínio vindo da cabine. Correu para junto do painel novamente, sem tirar os olhos da câmera externa da nave, pelos próximos minutos. Luisa sentou-se em uma das poltronas e ficou observando-o trabalhar. Era algo que não costumava fazer, em geral. Ele parecia ainda mais ágil distribuindo os comandos pela nave, visto de um ângulo fixo. A garota se recostou ainda mais na poltrona, procurando se recordar de algumas passagens importantes que fizeram parte da última aventura. Na real, era outra coisa que não tinha muito tempo de fazer. As aventuras sempre foram contínuas, de modo que eles nunca tiravam um tempo de folga para respirarem um pouco e refletirem sobre o que haviam acabado de fazer. A menina se pegou pensando nas lembranças e imagens aleatórias que o Tormento manipulou dentro de sua mente... Tudo agora não parecia ter passado de um sonho muito distante, mas ela ainda conseguia se lembrar do desespero que sentiu ao presenciar algumas cenas. A do melhor amigo morrendo bem na sua frente, foi uma delas. E aquela história maluca de regeneração?

Hã! Como se alguém pudesse regenerar de corpo inteiro para tentar enganar a morte... Mas que besteira!  

Luisa ergueu-se da poltrona, inquieta. Alguma coisa estava fazendo suas mãos suarem de ansiedade, e ela não gostava muito de quando isso acontecia, especialmente sem motivo aparente.

—Pensando?

Luisa ergueu os olhos e encontrou os do amigo, em cima de si. Ele parecia estar observando-a já há um tempo.

—É. Por aí.

—E posso saber o que está levando seus pensamentos á vagarem tão longe?

—Não, é que... É só uma coisa. Uma cena, na verdade, que o Tormento fez acontecer dentro da minha cabeça, enquanto ele estava vasculhando minhas memórias...

—Sala Camaleão. Cria cenas atormentadas para mexer com seu psicológico. Todas as cenas não passam de situações manipuladas... Baseadas apenas em algo que você já vivenciou ou que tem medo de vivenciar algum dia na vida. A máquina também copia pessoas e vozes conhecidas para dar um quê mais real. –ele relembrou em voz alta. -Então não ligue para isso. Seja lá o que você viu, simplesmente esqueça. Em pouco tempo, não passará de um sonho ruim.

—Mas... Havia um sonho dentre os outros sonhos. Uma cena que eu jamais poderia ter imaginado. Muito menos temido. Especialmente, porque não fez sentido algum pra mim... –interveio ela, incomodada. -Foi tipo uma informação jogada ao vento. Como se o Tormento planejasse me atormentar com uma desconfiança. Algo que eu ainda não tivesse me dado conta.

O Doutor franziu a testa, inclinando-se para ela.

O quê foi que você sonhou?

Luisa baixou os olhos, um pouco sem jeito.

—Eu... Não sei bem como dizer. Na verdade, foi tudo muito rápido e eu não entendi direito o que aconteceu, então tudo pode soar meio insano...

Insano?—ele riu. –Confie em mim. Sou especialista em entender coisas insanas. Na verdade, insanidade é meu nome do meio das segundas aos sábados!

—E nos domingos?

—Os domingos são chatos. Nunca tem nada pra fazer e tudo fica monótono. Por isso que passamos o último domingo viajando. Não suporto não fazer nada!

Luisa sorriu um pouco mais, descontraída. O amigo sabia ser engraçado e escolhia sempre as melhores horas para fazer proveito de seu dom. Contudo, ela precisava voltar ao ponto principal daquela conversa, e isso tirou um pouco do efeito alegre que ele lhe proporcionou. 

—A cena era meio esquisita. Estávamos eu e você atravessando a rua...

—Okay –ele arregaçou as mangas e apanhou um bloquinho com caneta de dentro do bolso, e pôs-se imediatamente a anotar algo. –Atravessamos a rua... Certo.

—Que droga você está fazendo agora? –Luisa riu, perdendo a concentração de novo.

—Estou anotando tudo o que você disser. Imaginei que você se sentiria melhor se eu bancasse “o cara profissional”. Na verdade, eu sou o rei do profissionalismo...

Fica quieto!—ela sorriu amplamente, repreendendo-o de brincadeira. 

—Tá bom, agora é sério. –ele guardou o bloquinho no bolso e apoiou-se contra o painel de controles, cruzando os braços, depois, prestando atenção nela. –Pode falar agora.

Você não existe, mesmo... —ela riu uma última vez ao observá-lo, então Luisa respirou fundo e prosseguiu: –Bem, como eu estava dizendo anteriormente, antes de ser interrompida e avaliada—ela lhe lançou olhares provocadores, só de zombaria. –Eu dizia que estávamos atravessando a rua e então, eu não sei bem como... Você meio que começou a passar mal. Sei lá... –ela colocou uma mexa de cabelo atrás da orelha, fitando os próprios pés. –Então eu meio que tentei te ajudar, mas você disse que não precisava. Que por acaso tinha um truque dos Senhores do Tempo para enganar a morte, algo do tipo...

Não!?—ele disse com uma expressão que variou de surpresa para irônica. –Aquele danado não fez isso...

—Não fez o quê?

—O que eu penso que o Tormento possa ter feito. Mas continue, por favor... Eu quero saber de todos os detalhes possíveis para que depois eu possa surtar com razão. Prossiga.—ele a incentivou.

—Você está me assustando... –ela riu de nervoso. –Tem certeza que está se sentindo bem?

—Está brincando? Estou ótimo!—ele sorriu forçado. –Continue. Imagino que a melhor parte ainda esteja por vir...

—Se com a melhor você quis dizer “a pior”, então talvez tenha razão... –ela disse, com sarcasmo. –A verdade é que você deitou-se ali mesmo e eu me sentei ao seu lado, então o seu corpo todo começou a irradiar uma luz dourada, especialmente ao redor do rosto e das mãos... Então, eu meio que entrei em desespero: não sabia o que fazer. Eu queria te ajudar a todo custo...

Ah! Aquela coisinha atormentada não fez isso!—o Doutor esbravejou, em tom ainda bem humorado, forçando uma “cara feliz” para tranqüilizar Luisa, mas era obvio que por dentro ele estava querendo estrangular o Tormento. –Aquele baixinho mau caráter não sabe o que o espera... –do nada, ele ergueu o braço para cima e apontou para os comandos da TARDIS. –Querida, pegue seu casaco! Após uma tonelada de séculos no futuro, depois de muito ser rebaixado pela líder das Calmarias, o Tormento ainda terá uma surpresinha pela frente! Ah, sim... Ele que me aguarde!

Luisa não tirava os olhos do amigo, embasbacada.

Doutor?—ela sorriu, meio confusa. –Por que está falando assim?

—É só um acerto de contas que eu e aquele anão de jardim atormentado ainda teremos pela frente. Nada que você possa dar parte, é claro. –ele acrescentou rapidamente, antes que ela abrisse a boca.

—Mas por que você está tão inquieto? Você mesmo disse que era tudo um sonho programado para me atormentar e que eu não devia me preocupar com isso...

—Exato! E você faz muito bem em ignorar os fatos... –ele complementou. –Eles são meu departamento.

Luisa cruzou os braços, fazendo cara feia.

—Doutor!? Não vai adiantar tentar me enrolar... Poucos conseguem essa proeza –ela repreendeu, incrédula, mordiscando a própria língua de leve. -E, só pra constar: eu sei muito bem identificar um sorriso forçado!

—Sério? Mas não há nenhum sorriso forçado por aqui... -ele interveio, pasmo com a perspicácia dela. E, como já era esperado, forçando ainda mais o sorriso. –Além do mais, você não pode me desmentir!

—E nem preciso. –ela ergueu uma das sobrancelhas. -Seu rosto já faz o serviço completo.

O Doutor tornou a encará-la, fazendo uma careta.  

—Mas o quê você está fazendo? Falando com todos esses gestos e implicâncias... –ele interveio, indignado. –Não há nada aqui para se desmentir. Muito menos para se questionar...

—Há uma coisa, sim senhor—–ela interveio. A garota pôs as mãos nos quadris, fitando-o fixamente. Dois grandes indícios de que, muito em breve, ele estaria em maus lençóis... O Doutor, por outro lado, não ajudava a provar o contrário com sua hesitação toda. Ele estava com a maior cara de culpado desse universo. -Eu me lembro muito bem de você ter mencionado o termo “regenerar” no meu sonho... Claro, isso antes de você morrer de vez!—ela anunciou, irritadiça, como se fosse ele o partidário da brincadeira de mau gosto.

Como assim eu morri???—ele indignou-se. -Com tantos finais prováveis para um sonho como esse, o Tormento tinha logo que me matar? Isso é um insulto! Está certo que, uma ou cinco vezes isso quase me aconteceu de verdade, mas nada disso serve de motivo para o Tormento usar minha imagem dessa forma... Eu vou processá-lo!

Como é que é?—Luisa parou de chofre, pasma. –Você disse uma ou cinco vezes!?

O Doutor respirou profundamente, mordendo o lábio e passando a mão na cabeça, antes de prosseguir:

—Tá legal. –ele suspirou. -Cumprindo com o combinado de ser o mais profissional possível, acabo de averiguar as variáveis e constatei que essa é uma emergência do tipo STPNF.

—O que é uma emergência STPNF?—indagou Luisa, de prontidão.

Senhor do Tempo Pego No Flagra. –ele explicou, então sua cara de culpado aumentou ainda mais, e ele não viu outra opção, a não ser se justificar. –Eu jurei que ia contar tudo a você até o fim dessa viagem. Cheguei até a falar com Drica sobre isso...

Drica?—Luisa franziu a testa, cruzando também os braços. Mais uma bola fora para o Doutor. Dois a zero para a menina. –Por que mencionou isso pra ela? Quando vocês dois conversaram sobre isso? Onde eu estava esse tempo todo?

—Estava desacordada, presa dentro do espelho –ele relatou, pacientemente. –Nós estávamos pensando em como trazê-la de volta, quando eu acabei tocando no assunto...  –ele fitou-a com intensidade. –Eu queria ter dito antes... Antes de nós acontecermos. –ele acrescentou.

—Desculpe, eu não entendi... –Luisa franziu o cenho, confusa. –Antes de nós acontecermos?

Ele respirou fundo de novo.

—Quando nós nos conhecemos e eu fui embora... Bem, na verdade havia um motivo –ele começou, prendendo a atenção da amiga. –Eu sabia que se começássemos a manter uma amizade, eu acabaria cedendo e traria você para dentro da TARDIS, como minha companheira, como de fato eu fiz. Mas isso, poderia nos trazer graves conseqüências no futuro...

—Eu me lembro de termos conversado sobre isso uma vez, antes de eu aceitar levar essa vida contigo... –Luisa afirmou. –Eu achei que deixaríamos as coisas rolarem, ao invés de ficarmos nos preocupando com o futuro...

—E eu tentei, mas mesmo deixando as coisas fluírem automaticamente, ainda sim há uma coisa que eu não posso ignorar, ocultar ou simplesmente esquecer... E é sobre isso que eu venho querendo falar com você.

—E o que é? –ela fitou-o com intensidade.

—Sou eu. Isso é parte de mim e é importante que você ouça tudo que eu tenho pra dizer e tente compreender o melhor que puder...

—Eu prometo que vou me esforçar –ela sorriu, segurando em seus ombros. –Você pode me dizer o que quiser...

—Certo –ele começou, meio sem jeito. -O fato é que tudo aquilo que você sonhou... Tirando a parte do final, é claro... Já que eu ainda não morri, como você pode perceber... –ele brincou para quebrar um pouco o gelo. -Mas, todo o resto sobre “truque dos Senhores do Tempo para enganar a morte” e “regenerações”... Tudo isso é verdade.

Luisa arregalou os olhos para ele, quando a ficha caiu.

—Oh... –ela desviou os olhos por um instante, raciocinando, depois voltou a fitá-lo. –Entendi o motivo da sua inquietação.

—Você sabe o que é uma regeneração, não sabe?

—Em geral, se for equivalente ao mesmo termo que aprendi na escola, então a regeneração seria a reconstrução dos tecidos de um corpo, certo?

—Exatamente. –ele assentiu. –Está correto. Só que na prática, especialmente para um Senhor do Tempo, essa definição é um pouco mais exagerada, já que nós regeneramos de corpo inteiro.

Luisa fitou-o sem palavras, evidentemente perplexa.

Ah... Então é mesmo tudo verdade...—ela tentou encarar o amigo, mas seus olhos não paravam quietos, como se procurassem refúgio em qualquer outro lugar. Sua cabeça rodava, perdida em pensamentos... O Tormento poderia apenas estar querendo assustá-la com aquele sonho, mas na verdade, talvez sem querer, acabou fornecendo a dica essencial para que ela buscasse entender aquela situação que viria a encarar, mais cedo ou mais tarde. –Você só pode estar brincando comigo... Isso pode realmente acontecer? Quero dizer, você pode realmente se regenerar?

—Posso. –ele admitiu, sem tirar os olhos dela. –Essa é a minha biologia: Eu não envelheço. Eu me regenero. E, antes que você diga qualquer outra coisa, eu advirto que isso não acontece sempre e que as minhas regenerações podem se tornar sim, um problema pra nós dois. 

—E como isso pode vir a ser um problema? –ela sorriu, inquieta.

—Bom... –ele desviou os olhos, soltou todo o ar que tinha nos pulmões e massageou a nuca. Parecia um pouco incomodado com o assunto que ia abordar. –Isso ainda não é bem um problema... Mas pode se tornar se nós continuarmos a ter um... Digamos assim: um envolvimento contínuo.

Luisa parou de chofre. Seus olhos não conseguiam focar um ponto fixo na imagem do amigo á sua frente. Ela parecia estar toda em alerta. De repente, Luisa sentiu as bochechas corarem e tomou consciência de que queria mesmo era poder desaparecer dali.

—Você quer dizer...

—Tecnicamente, sim. –ele assentiu, adiantando-se. –Eu sei que não estamos oficialmente... Ah... Juntos. Mas de certa forma, eu precisava alertá-la da possibilidade de algo em mim... Hã... Mudar.

—Então... –ela tentou ao máximo não se concentrar no calou que estava tomando seu rosto. -Você já fez isso outras vezes antes?

—Já sim. –ele assentiu. –Quando eu estou próximo de morrer, independente da causa, eu consigo contornar a situação fazendo com que minhas células regenerem todo o meu corpo. Deste modo, além de ganhar uma nova vida, eu também ganho um rosto novo. E com ele, um novo paladar, novas manias, gostos... Você sabe como é: corpo novo, tudo novo! Eu tenho que começar a me conhecer, tudo de novo, desde o começo.

—E isso não dá trabalho? Parece cansativo...

—Até que não. As primeiras quinze horas são um horror, eu devo admitir. A cabeça e tudo mais, ainda não reiniciaram direito, mas depois eu me sinto renovado e com o pique de uma criança de cinco anos!

—Esse lado seu eu já conheço –ela sorriu, perdendo um pouco a timidez. –Mas, depois de toda essa mudança, o que acontece com o seu antigo eu? –ela indagou, fitando-o intrigada.

—Desaparece do mapa. –ele suspirou. –O lado bom é que eu só regenero de corpo, de modo que minha mente se mantém intacta. Assim, eu continuo sendo sempre a mesma pessoa por dentro, com as mesmas lembranças e conhecimentos adquiridos. Por fora, é que sou diferente.  

Luisa encostou-se ao lado dele, apoiando o corpo contra o painel de controles. Ambos fitaram as paredes na outra extremidade da sala de controles. De repente, o painel da nave se acendeu sozinho e a musica *Zedd Clarity começou a tocar de plano de fundo. Diante do cenário atual, Luisa se viu tentada em perguntar:

—Por que resolveu me dizer isso só agora?

—Não foi uma tática. Ou por opção... –ele assegurou, distante. –Na verdade, eu acho que simplesmente esqueci por um tempo... Preferi fingir que esse rosto seria para sempre meu, e que eu poderia estar para sempre ao seu lado... –ele baixou a cabeça. –Esse tempo todo, eu só estava me enganando.

—Não estava... –ela afirmou, segurando delicadamente em seu braço, lhe dando força. –Por que você se cobra tanto? Por que fica se punindo por ser feliz?

—Eu não me puno. O tempo faz isso comigo.

—Mas o tempo nem encosta em você. Você sempre consegue domá-lo, contorná-lo e interceptá-lo! Não vejo por que o tempo poderia atrapalhar sua vida...

—Está errado. –ele interveio, sem olhá-la no rosto. –Eu não posso domá-lo. O tempo não pode ser detido. E essa é a grande maldição.

—Como assim? –Luisa indagou, sem entender. –Que maldição é essa?

Ele lançou-lhe um olhar triste e pesaroso.

—Você pode querer passar o resto da sua vida ao meu lado, mas eu não posso passar o resto da minha vida com você. –ele informou, deixando-a sem reação. –Eu não envelheço como você... Eu nunca poderei estar sempre ao seu lado, porque quando fico velho meu corpo muda e eu sigo em frente. Enquanto isso, o tempo vai passando para você e para todos os outros... E eu sempre acabo ficando sozinho.

—Então... Está com medo do desfecho. -ela deduziu, pensativa, fitando o horizonte. -Agora sei porque isso pode ser um problema. -Luisa baixou os olhos, brincando distraidamente com a manga da blusa.

—Você está bem? –ele quis se certificar que o choque não seria tão grande para ela.

—Só estou pensando... –ela balançou a cabeça negativamente por um instante, como se reprovasse um pensamento, então um sorriso se formou em seus lábios. -Então você estava insinuando que nós teríamos algum envolvimento... Tipo assim, amoroso?

—E já não temos? –ele interveio, erguendo uma sobrancelha. Desta vez, a música *Acenda a Luz- Girls, começou a ressonar no ambiente, como se a TARDIS achasse apropriado.

Luisa desviou os olhos, corando um bocado. Será que até a cabine azul sabia?

—Tem razão. Não podemos mais esconder isso... Está na nossa cara! –ela afirmou, então voltou a fitá-lo de esguelha. –E o que nós devemos fazer agora?

—Não sei. –ele deu de ombros, encarando-a. –Eu não sou especialista.

—Nem eu. –admitiu Luisa, sorrindo de canto de lábios. O rapaz imitou-a, um pouco mais solto.

—Foi Drica que basicamente abriu meus olhos para isso... Ela é ótima com conselhos.

—É, parece ser mesmo... –Luisa assentiu para ele. –E o que ela disse sobre nós?

—Você sabe. Todo mundo ao nosso redor parece saber... É como se, de alguma forma, existisse um complô para nos unir. O próprio universo forjou o nosso reencontro na sua formatura... E eu juro que não planejei uma virgula sequer desses últimos três dias!

—Então... Você quer dizer que acha que foi destino?  -quis saber Luisa.

—Eu não diria exatamente nessas palavras, afinal, as coisas podem mudar de rumo á qualquer momento... –ele começou, fazendo-a desviar os olhos por um instante. -Mas, por outro lado, está dando tudo tão certo até agora que até eu estou ficando impressionado com o rumo que as coisas estão levando... –ele sorriu.

—Sério? Eu também! –ela brincou, cutucando-lhe com o cotovelo, de leve. –Ás vezes, até parece mesmo que fomos feitos um para o outro...

Ele parou de chofre, assumindo de imediato uma postura rígida.

—É por isso que eu ando preocupado. –O Doutor voltou a ficar sério. –Agora que você sabe que eu regenero, também deve ter assimilado a idéia de que eu vivo muito mais do que uma pessoa comum.

Luisa encontrou os olhos dele, pensativa.

—Então você acha que nunca poderia dar certo... –ela fez uma pausa, fitando os próprios pés, sentida. -Uma humana e um Senhor do Tempo?

Ele assentiu, igualmente sentido, baixando a cabeça e fitando a abotoadura do terno.

—Ora! Mas que clima é esse? –Luisa descontraiu-se, ignorando o fato de seus olhos começarem a lacrimejar. –Isso não importa! Isso nunca nos impediu de sermos amigos, impediu? E daí que de vez enquanto a gente se empolga um pouquinho? Hã! Grande coisa... Qualquer um faz isso hoje em dia!

—É exatamente o que eu penso! –ele afirmou, agora mais revigorado. –Mas as pessoas nunca parecem entender esse nosso lado... E se a gente só estiver mesmo curtindo o momento?

—Tem toda a razão! E, se você e eu nos beijamos de vez enquanto, isso não é da conta de mais ninguém, e também não significa que estejamos envolvidos de corpo e alma em um relacionamento, não é?

—Com certeza... Eu abraço essa idéia!—ele enfatizou, entrando na onda da amiga. –Nada disso será um problema se nós continuarmos a não ter um relacionamento sério...

—É... Não será. –os dois foram diminuindo a espontaneidade, até que estavam novamente em silêncio. -Ai! Que droga estamos fazendo?—gritou Luisa, de repente.

Acho que estamos experimentado a lenta sensação de enlouquecer em casal... Isso não é tão relaxante quanto pensei! –o Doutor concluiu. Então, algum tempo depois, voltou-se para a amiga, indignado com o universo. –Por que todo mundo sempre decide o rumo de nossas vidas? Por que todos sempre acham que nós deveríamos ficar juntos?

—Talvez porque só nós dois não enxergamos isso –Luisa deu de ombros, considerando a idéia por um instante. –Eu sei lá... Talvez deveríamos nos dar uma chance, afinal. Talvez isso seja bom. Talvez faça toda a diferença... Talvez não. Ou talvez, nada disso importe de verdade... –ela riu, indiferente.

—Você está certa. –ele deixou um sorriso escapar, ao que aproveitou para segurar a mão dela. –Isso não é da conta de ninguém. Não é?

—Não mesmo! –ela suspirou e repousou a cabeça no ombro dele (ao som de *Clichê Adolescente -Manu Gavassi). –Só vê se não vai mudar de rosto logo agora... Eu gosto muito dessa versão atual.

O Doutor exalou pensativo, fitando o console da TARDIS. Ele sabia que aquele rosto duraria menos que os outros demais, já que era um efeito colateral de uma regeneração que dera errado; unindo suas duas últimas versões anteriores e misturando-as com a, ainda á pouco versão atual, formando por fim o rosto que ele apresentava como seu, hoje. Em meio a todas essas lembranças, o Doutor sorriu, acrescentando: 

—Sabe que eu também gosto deste rosto. –assentiu, repousando a cabeça encima da dela. –Acho que ele me traz sorte.

—É? -ela tornou a rir descontraída. Porém, quando parou, encontrou os olhos do amigo sobre ela. Eles eram profundos e eternos, como o por do sol no verão, e obtinham um ar sereno ao contemplá-la, quase como se estivessem sorrindo para ela. Luisa não teve chance: acabou se perdendo naquele tom castanho-esverdeado e ambos ficaram em um tipo de reação suspensa, como se estivessem hipnotizados um pelo outro. Devagar, o Doutor aproximou o rosto do dela. Luisa fechou os olhos. Seus lábios estavam para se tocar, o rapaz, prestes á envolvê-la em seus braços, mas no último minuto, o rapaz esbarrou a mão acidentalmente no painel de controles e ativou, sem querer, a alavanca de partida do motor da TARDIS, antecipando sua decolagem. Naquele instante, a cabine sacolejou e eles perderam o equilíbrio. 

Quando tudo parou de chacoalhar e a nave estabilizou, estacionando em solo plano, o Doutor voltou-se para ela de imediato:

—Você tá bem? Você tá legal? Ah! Minha nossa... Como eu sou desastrado!—ele se prontificou, fitando-a preocupado. Luisa não conseguiu conter o riso.

—Me diga você! –interpôs ela, afinal, fora Luisa que aterrissara em cima dele. 

Os dois se levantaram juntos e o Doutor correu para checar a câmera externa da nave. O truque de retroceder as coordenadas funcionara... Eles estavam em casa.

Rá! Prontinho. –ele deu um soco no ar. –Apesar de ter sido uma viagem acidental, nós pousamos com sucesso! Veja só: Estamos em casa, ainda na segunda feira e, veja: Passamos apenas três horas fora! Uau! Nem nos adiantamos demais, nem nos atrasamos muito. Fantástico!—ele se gabou.

Estamos em casa?—ela abriu um sorriso e ele cruzou os braços, sentindo-se o melhor piloto de máquinas do tempo do mundo. –Ai, meu Deus! Vamos lá pra fora!—Luisa o arrastou pelo braço, fazendo-o contornar o painel de controles central, e correr direto para as portas da nave.

—Olha, eu não quero me gabar, mas acho que estou ficando realmente bom nessa coisa de... –o Doutor começou, mas assim que Luisa abriu a porta, ambos deram de cara com uma Melissa zangada, de braços cruzados e bico ultra mega reprovador. O rapaz atrás de Luisa engoliu em seco. -... Chegar na hora.

Com uma manchinha de protetor solar no nariz, usando maiô, óculos de sol e chinelos de dedo, Melissa recebeu-os á seu modo...

—MAIS O QUE É QUE DEU EM VOCÊ? EU JÁ IA CHAMAR A POLÍCIA! –ela gritou, fazendo escarcéu.

—É. Falei cedo demais... –o Doutor gemeu, tapando o ouvido por causa do grito estridente de Melissa. –O que foi dessa vez, menina irritante? Eu fiz as contas: passamos apenas três horas fora!

Ará! CULPADO!—ela gritou, apontando o dedo indicador na direção dele. -Quatro horas e meia! Eu estou aqui tomando sol desde que vocês sumiram, e eu contei cada minuto!

Opa... –o Doutor engoliu em seco. –Bem, acho que não fui tão preciso assim...

—Melissa... Nós podemos explicar... –Luisa começou, mas a melhor amiga abriu passagem, pedindo gentilmente para ela se afastar, para que conseguisse ficar diretamente cara á cara com o Doutor.

—A coisa não é com você, Luisa. Estou me referindo ao capitão irresponsável aqui. Acusado de usar irresponsavelmente sua maquina do tempo para afastá-la ao máximo desse planeta... Sem dar noticias, nem sinal de vida. –ela sorriu para ele, provocativa. –E o que você tem a dizer em sua defesa, pouca telha?

O Doutor notou alguma coisa na mão que ela apontava acusadoramente para ele, e franziu o cenho.

—Eu entendi mal, ou você está mesmo me ameaçando com o pote de protetor solar?

Melissa revirou os olhos e espalmou a própria testa. Depois, voltou-se para a melhor amiga.

—Não acredito que você viajou de novo com esse cretino... E sem mim, ainda por cima! –Melissa abraçou Luisa forte. –O que deu em você? Eu fiquei preocupada...

—Eu ia chamar você... Juro! Mas ele disse que era uma emergência... –Luisa explicou-se, após as duas se afastarem, mas isso não pareceu aliviar a sensação de culpa que ela estava sentindo. –Sinto muito. 

—Fica fria, Lu. Não culpo você por todo esse inconveniente. O Doutor é pirado! E, eu sei como pode ser difícil lidar com a hiperatividade dele de vez enquanto...

Ei! Quem você está chamando de hiperativo?—ele protestou, indignado.

Você já se viu dormindo?—Melissa interveio. –Eu já tive a pouca sorte de passar uma noite em sua companhia e, francamente, você no auge da madrugada mais parece que sentou num formigueiro!

O Doutor fez uma careta, abrindo a boca, como se quisesse dizer algo, mas não conseguira arranjar as palavras certas. Melissa ignorou-o voltando a atenção exclusivamente para Luisa, mudando de humor da água pro vinho.

—Você não imagina quem esteve aqui... –ela começou, inquieta e meramente ansiosa, de uma forma pouco comum. –Lembra do meu primo de segundo grau, Marty McFly?

—O de cinqüenta e poucos anos? –Luisa surpreendeu-se. –Aquele que mora fora do país e tropeçou na pilha de presentes do seu aniversário?

—Ele mesmo! –confirmou Melissa ainda mais inquieta. –Ele apareceu do nada! Disse que estava de passagem na cidade...

—Espero que isso não signifique que teremos mais um hospede na TARDIS. Ela não é um táxi, sabiam? –anunciou o Doutor, encostando-se na espreguiçadeira da loira, ao lado de sua nave. -Não estou tentando ser rude, pelo contrário, mas não quero mais nenhum parente seu na tripulação. Já não basta ter de agüentar você! Isso já seria penitência... –então, ao ver os olhares intrigados das outras duas, acrescentou: -Sem ofensa, é claro!

Melissa semi-cerrou os olhos para ele.

—Você é um idiota. –ela sorriu. –Sem ofensa, é claro.

O Doutor bufou, cruzando os braços e revirando os olhos. Luisa prosseguiu, quebrando o clima de rixa entre os dois:

—Mas porque você está tão agitada? Ele é seu primo! –Luisa lembrou-a. –Eu não sou especialista... Mas você não deveria estar feliz com a vinda dele?

—Deveria, se não fossem críticas as circunstancias... -então, ela fitou o Doutor com urgência. –E... Eu não sei ao certo como agir quanto á isso. Nem sei como explicar direito como aconteceu... Mas o Marty não é o mesmo Marty que nós conhecemos! Ele estava mais novo... Muito mais novo! Com aparência de uns dezesseis anos, na verdade. E, sei que isso vai soar esquisito, mas algo me diz que ele veio do futuro!

—Como assim seu primo “veio do futuro”? –interveio o Doutor, incrédulo. –Você acabou de dizer que atualmente ele tem uns cinqüenta e poucos anos, e também, que o viu mais jovem! Como ele pode ter vindo do futuro e ter ficado mais jovem? No máximo, poderia ter vindo do passado... –o Doutor tagarelou, depois negou com a cabeça. –Do futuro uma ova! Maluquice! Puro blefe! Vocês nem sequer começaram a migrar para fora do planeta... Como poderiam ter conseguido construir uma máquina do tempo?

E eu lá tenho cara de guru? —retrucou Melissa, com a língua solta como sempre. –Ele simplesmente veio até mim, se identificou, falou comigo e desapareceu bem na minha frente!

—Verdade? E como ele fez isso? Ele usou algum tipo de transporte? –o Doutor sondou.

—Ele entrou em um carro.

O Doutor fitou-a como se ela tivesse problema mental. Depois, entrelaçou o braço ao redor do pescoço da garota, e passou a caminhar junto dela, averiguando o caso. Melissa tentou resistir, mas foi arrastado por ele, distraído com os próprios pensamentos.

—Bem... Ao conhecer você, Melissa, como de fato conheço, e ao presumir que você tenha o mesmo DNA da sua família... –Melissa fitou-o fixamente, já esperando uma conclusão cientifica. Passando-se alguns segundos, o Doutor prosseguiu, após o clima de suspense: -Eu diria, simplesmente, que seu primo não está batendo bem da cabeça, assim como você, e que essa informação seja fruto ou conseqüência de uma noitada sem limite e uma manhã exaustiva de ressaca...—Melissa fitou-o indignada, xingando-o por dentro, e ele deu de ombros. –Nós comprovamos que seu organismo rejeita coquetéis de bebidas com facilidade... Com seu primo não deve ser diferente, já que vocês têm o mesmo sangue. Só peça para ele tomar mais cuidado da próxima vez... –o Doutor ergueu uma sobrancelha e sorriu abertamente. -Sua família é mesmo esquisita! Mesmo depois de encher a cara, a maioria das pessoas simplesmente se contentam em dizer que sentem como se tivessem o peso de um piano sob a cabeça... Mas essa história de ter “rejuvenescido e vindo do futuro”, ainda por cima sem recursos... Essa é nova!—ele riu, então segurou Melissa junto de si, contra sua vontade. -É a primeira vez que ouço algo assim... Estou espantado com sua falta de criatividade!

Melissa conseguiu desvencilhar-se dele e prosseguiu, irritada:

—Você é um hipócrita mesmo! Não vê que eu estou falando sério?

—Calma Doutor, talvez tenha algum fundo de verdade no que Méli está dizendo... –Luisa apoiou a amiga. –Pelo menos, nenhum de nós pode afirmar com certeza que alguma dessas coisas não tenham acontecido de verdade, afinal nós dois não estivemos aqui mais cedo... 

—Tem razão –o Doutor concordou. Então respirou fundo e fitou Melissa, agora pondo seu lado “profissional” para funcionar. –Seu primo... O que ele disse exatamente à você? Porque ele deve ter dado alguma pista concreta para você chegar a essa conclusão...

Melissa fitou-o com a mais genuína incompreensão.

—Bem, além dele estar o maior gato, e disso soar completamente esquisito vindo dos meus lábios... Ele também me disse que o Doutor estava em apuros e que precisaria urgentemente da nossa ajuda em 2050!

Imediatamente, Luisa fitou o amigo, boquiaberta.

O Doutor?—a garota apontou para o rapaz, abismada, como se sua existência fosse impossível. –Esse Doutor?

—E nós conhecemos algum outro Doutor por acaso? –Melissa interveio. Sem mais postergar, ela inclinou-se e apanhou de cima de sua espreguiçadeira a primeira página de um jornal novinho em folha. –Tem toda a razão, o Marty realmente deixou uma prova. Você quer fatos concretos, Doutor? Então veja essa manchete “linda” que saiu agora á pouco... 45 anos no nosso futuro. -os outros dois se aproximaram do pedaço de papel e ergueram as sobrancelhas ao depararem-se com a manchete principal:

   “15 de março de 2050”

“Fabuloso Expresso Continental, inspirado no antigo e inesquecível Expresso do Oriente da trama eterna de Agatha Christie, desaparece misteriosamente dos trilhos essa manhã, entre o continente europeu e o americano, levando consigo cem passageiros registrados e dezoito vagões”.

O letreiro já era esquisito, mas o que os fizera prender a respiração de verdade, fora sem dúvida a foto que ilustrava a manchete, logo a baixo.

Não pode ser... —Luisa arquejou ao reconhecer a própria imagem, também a do Doutor e a de Melissa, lado a lado, com os rostos para fora das janelas do trem, acenando juntamente de muitos outros passageiros á bordo dos vagões, na direção da grande multidão de pessoas que percorriam a estação, naquela manhã. –Somos nós! Mas... Como?

—A semelhança é assombrosa... -o Doutor mordeu o lábio. –Não pode ser um engano. Definitivamente somos nós. No futuro. É como um círculo vicioso: nós já estivemos lá, mas ao mesmo tempo, ainda não estivemos. Essa foto no jornal é uma mensagem de nós para nós mesmos. Através dela, nos fora fornecido a pista da nossa próxima aventura... Só pode ser isso!

Mas como podemos estar na foto se nós ainda não estivermos lá?—interveio Luisa, balançando a cabeça lentamente, ainda espantada.

—É aquela velha história de passado e futuro se intercalando de uma forma não linear. –explicou o Doutor. –Como quando você tem um Déjà vu, e acredita que uma coisa que está acontecendo agora, já aconteceu outras vezes antes. Só que, diferente do Déjà vu, nós não lembramos de ter estado em 2050, porque isso ainda não aconteceu, de fato, com a gente, mas sim para nossas versões futuras, entendeu?

—Desculpe Doutor, mas você tem que admitir que isso é pura maluquice... –sorriu Luisa, confusa.

—Nem me fale, amiga! Dá pra acreditar nessa fotografia?—Melissa bufou, apanhando novamente o jornal para si. Por um momento, os outros dois acreditaram que ela estava compartilhando do mesmo sentimento de incompreensão sobre sua presença em um trem do futuro, mas na real, só um pensamento veio á cabeça de Melissa, com convicção, naquele instante, e ela continuou: –Isso só pode ser brincadeira! Dá só uma olhada nisso: Eu não acredito que sou assim de perfil! Que horror! Além de não terem pedido, sequer, a minha permissão para poderem publicar meu rosto no jornal, ainda por cima pegaram meu pior ângulo! Isso é um pesadelo!

A morena não pôde deixar de sorrir com os delírios da melhor amiga.

Melissa... Como eu senti a sua falta! —Luisa fitou a amiga carinhosamente e o Doutor passou a mão sob os cabelos.

—Eu não sei quanto a vocês duas, mas acho que devemos correr se pretendermos chegar á tempo para a foto da primeira página... –o Doutor ajeitou a gravata. -Que horas sai o próximo trem para 2050?


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Notas finais do capítulo

Tachãã! Acabou essa aventura!

Muitas revelações? Expectativas? Sentimentos? Quero saber tudo que rolou aí do outro lado da leitura!

Assim como prometeu o desfecho da história, semana que vem temos mais uma aventura, desta vez com um trem do futuro! Então garantam suas passagens que essa aí vai ser supimpa! kkkkk

Espero vocês na estação!

XX



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