Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 130
Desaparecimentos em massa


Notas iniciais do capítulo

Hello! ;)

Prontos para embarcar em mais uma aventura? Então apertem os cintos, pois esta é a cereja do bolo, meus caros leitores!



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Aquele foi só o começo.

O começo de uma seqüência de eventos, aparentemente desconexos, e improváveis de serem associados por uma pessoa de intelecto e capacidades normais.

Porém, será que realmente não havia nada em comum em todos aqueles desaparecimentos?

Só porque ocorreram em dias diferentes, em lugares diferentes e em épocas diferentes, não significava que não obtivessem nenhum tipo de conexão.

Sabem o que dizem por aí: Não entender uma coisa, não necessariamente a torna desimportante.

E... Se olhar com atenção, vai notar que NADA é por acaso.

 

*      *       *

20 de Março de 2010 – Londres, Inglaterra

Era uma manhã bastante calma. Uma mulher negra, já vestida para o trabalho, com seus cabelos amarrados todos em um coque, preparava uma xícara de chá de frente para uma janela que dava para a rua. Nesse exato momento, uma outra mulher entrou na cozinha.

—Bom dia Martha.

—Bom dia mãe –disse a moça na janela.

—Já vai trabalhar?

—Aumentaram meu expediente. Vou começar uma hora mais cedo...

Ah, esses hospitais... Sempre querendo sugar os funcionários até não poderem mais! Você devia ganhar um aumento por ter que ficar uma hora a mais trabalhando.

—Mãe! –chiou Martha. –Eu AMO o meu trabalho, e o faria até mesmo se não ganhasse um tostão sequer...

—Okay... Continue pensando assim –disse a mulher ainda sonolenta, se retirando da cozinha.

—Essa é a minha mãe... Está sempre reclamando –Martha riu, falando sozinha. –Se um só dia ela ficasse sem julgar alguém ou sequer reclamar de nada, eu diria que não seria ela mesma –ela fez uma nota mental.

Martha continuou a olhar o movimento da rua a partir da janela; quando levantou a xícara de chá na altura do rosto, reparou que uma estranha luz dourada brilhava no contorno de suas mãos. Intrigada, ela se observou melhor como num todo, e concluiu que não eram apenas suas mãos que brilhavam, e sim o corpo inteiro... De certo ficou assustada. Não era para menos... Ela era médica, mas nunca vira um diagnóstico como esse. Infelizmente, não houve muito tempo para pensar sobre isso, pois num momento ela estava lá, atônita, no outro... Havia sumido sem deixar rastros.

Com seu desaparecimento, a xícara de chá que estivera em sua mão despencou para o chão e se partiu.

Com o barulho de louça quebrando, a mãe de Martha correu até a cozinha:

—Você disse alguma coisa, querida?

 

*     *      *

28 de Novembro de 1954 – Nova York, E.U.A  

Uma garota ruiva observava com olhar crítico, o marido posicionar os móveis da sala recém decorada.

—E então, o que você acha? –perguntou ele, animado com o trabalho concluído.

—Não Rory, está tudo errado! Eu disse pra você por o sofá na parede ao lado da porta, e a mobília na parede oposta à escrivaninha, e não o contrário!

—Mas afinal, Amy, qual a diferença?—perguntou ele, enrugando a testa.

—A diferença é que desta forma você está espantando a visita ao invés de convidá-la para entrar e tomar um chá.

—Ah, Amy, essa é a coisa mais ridícula que eu já ouvi... –zombou, porém se calou ao ver que não estava agradando.

—Você não entendeu nada do que eu disse, né?

—Não é isso. São muitas coisas pra lembrar...

—Você nunca presta atenção quando eu falo!

—Isso não é verdade.

—É claro que é!

Rory se juntou a ela, para ter uma visão geral da sala.

—Ora, Amy, não me venha com essa agora! Até que ficou bonitinho assim...

—Você tá brincando? Não tem ESTÉTICA nenhuma! Os móveis tão todos se estranhando... Não tem QUÍMICA alguma entre eles!

Rory ergueu uma sobrancelha.

—Pensei que éramos nós que devíamos ter a química certa, não os móveis...

Você me entendeu!

Naquele instante a campainha tocou. Amy suspirou.

—Você pode ir ver quem é? –pediu a moça.

Rory foi tentar abrir a porta, mas foi impedido pelo pé da mobília que ficou no caminho. Tentou algumas vezes desviar dela, mas então, finalmente perdendo a paciência, resolveu chutar a peça, machucou a perna e começou a pular em um pé só.

Amy não se conteve e começou a rir da situação.

Entendeu agora porque a mobília não deve ficar ao lado da porta?—e sem dizer mais nada, foi ao encontro do marido e o ajudou a empurrar o móvel para fora do caminho.

—Oh, muito amável de sua parte me ajudar, senhora Williams –sorriu Rory.

Amy o beijou rapidamente.

—Agora atenda a porta –disse e se afastou. Foi mover o sofá de volta para o centro da sala, para recomeçar a mudança. Rory girou a maçaneta.

—Pois não? Hã... desculpe a demora pra atender... Estamos com uns probleminhas técnicos aqui –brincou. Do lado de fora, havia uma mulher com roupas estranhas: um vestido roxo, cabelos presos, meio espaventados, olhos claros, um guarda chuva em mãos... Ela sorriu e piscou para ele.

—Oh, está tudo bem... Veja só: me pediram para entregar isso ao senhor Williams e sua esposa! –foi falando sem rodeios. –Pegue e beba, bonitão. –e entregou-lhe um copo com um líquido dourado.

—Ah, que gentil. Muito amável de sua parte –ele disse, segurando o copo, então observou o conteúdo e franziu a testa. –Mas, quem foi que... –ele ergueu a cabeça e se espantou. Mal começara a falar, e veio a descobrir que a mulher não mais se encontrava em sua frente. Ela simplesmente sumira! Mais precisamente, no momento exato em que ele desviara os olhos dela para poder observar a bebida. –Então tá... Como quiser—intrigado e desconfiado, ele fechou a porta e voltou para dentro de casa, ainda com o copo em mãos. 

—Quem era? –perguntou Amy.

—Uma mulher me entregou isso –disse, meio confuso.

—Como assim? Ela simplesmente te entregou esse copo, assim do nada?

—Exato! Então, quando estava prestes a perguntar quem enviara o copo, ela desapareceu!

Amy ficou pasma.

—Não pode ser... Tem certeza que foi exatamente assim que aconteceu?

—Claro que tenho! –insistiu Rory. –Num momento ela estava lá, e no outro... –ele disse, trêmulo.

—Okay... Nós já vimos muitas coisas estranhas... Mas isso? –disse ela, pensativa.

—Será... –Rory ergueu as duas sobrancelhas. –Não, não poderia ser obra... do Doutor. Poderia?

Amy levantou a cabeça e seus olhos encontraram os do marido. O rosto dela se iluminou.

—Depois de tanto tempo... –disse, com um tom de esperança na voz. -Já faz anos que não o vemos! Será possível que ele finalmente deu um jeito de nos encontrar?

Rory crispou o lábio.

Sinceramente, espero que não. Nós acabamos de pagar a reforma da casa...

Amy ficou ansiosa. Só de imaginar a possibilidade do amigo estar procurando por eles, foi o bastante para trazer esperança de volta ao seu coração.

—Rory... Isso tudo tá parecendo MUITO obra do Doutor! E se realmente for, sabe o que isso significa, não é?

Que estamos fritos, possivelmente.

—Não, seu bobo! Significa que talvez a gente volte pra casa! –ela deu um panfleto na cabeça dele, e seguiu andando de um lado para o outro, agitada.

—Ah não, Amy... Não vai começar de novo a conservar esperanças sobre esse assunto... O Doutor disse que se fossemos tocados pelo anjo, não haveria volta –falou, mas se arrependeu amargamente por ter dito. Amy o encarou com cara de poucos amigos.

—Rory, presta atenção! O Doutor mente às vezes, tá? Ele pode ter dito isso no calor do momento, sei lá... Porque tava sem idéias melhores! Mas... Se isso aqui for ele tentando se comunicar conosco... –ela apontou para o copo que Rory ainda segurava. -... Tentando consertar as coisas... Não sei, talvez devêssemos aderir.

—Como assim?

—O que a mulher disse pra você fazer com esse copo?

—Disse pra eu pegar e beber o conteúdo.

—Ué, então beba, ora!

Rory ficou atônito.

—Amy, ela é uma MULHER ESTRANHA! Como pode me pedir pra beber esse negócio, se NEM SABEMOS O QUE É?

Amy deu de ombros.

—Eu esperava que a gente descobrisse o efeito depois de beber.

—“A gente?

—Você achou que ia beber tudo sozinho? –Amy deu seu sorriso determinado.

—Ah é? E se for VENENO? E se a gente beber e morrer?

—E SE A GENTE BEBER E VOLTAR À VIDA DE ANTES? –gritou Amy. Rory a encarou, impressionado.  

—Você quer MESMO isso, não quer? –Amy assentiu, devagar.

—Tanto quanto você. –suspirou, afastando o ar de choro. –Rory... Você sabe que a gente não se encaixa nesse lugar, nem nesse tempo... Nós fomos transportados pra cá contra nossa vontade, com a promessa de não poder retornar...

—Foi assim que o Doutor disse que seria.

—Ou talvez tenha dito isso para que os Anjos pensassem que era o nosso fim -Amy se aproximou de Rory. Ele segurou o rosto dela, com carinho. A garota estava emotiva. -Pense bem, Rory... E se essa for nossa chance de retornar para casa? Você não aceitaria?

Rory pensou um pouco. Segurou a mão dela.

—Eu vou a onde você for.

Amy sorriu.

—Vamos fazer isso então... Juntos. Vem! –tomou o copo de suas mãos.

—Espere Amy! –Rory pensou em beber primeiro, mas não houve tempo. A esposa já tinha bebido sua parte. Entregou-lhe o copo de volta.

—Ah, o gosto não é ruim. Sua vez.

—Certo. –Rory não teve dúvidas quanto a beber. Ele não sabia o que aconteceria, mas queria estar junto da esposa, caso algo desse errado... Ou certo demais. –Pronto. –Rory baixou o copo e olhou para Amélia. Então quase morreu de susto. –AMY! TEM UMA LUZ...

A garota observou seu corpo. Estava com toda a silhueta em um dourado brilhante.

—Alguma coisa está acontecendo –ela disse, analisando seus braços florescentes. –Espero que seja boa...

De repente, um clarão os pegou de surpresa. Amy gritou e desapareceu bem na frente de Rory. O rapaz ficou desesperado. Numa tentativa de se acalmar, pensou que talvez o efeito só estivesse com um pequeno atraso por conta dele ter bebido o conteúdo do copo depois da esposa. Seja o que for aquilo, logo aconteceria com ele também. Com sorte, logo aconteceria...

Rapidamente, seu corpo começou a acender também, porém, não ficou somente na luz. Uma dor muito forte lhe atingiu o estômago e ele acabou cambaleando feito um bêbado, antes de conseguir chegar ao banheiro. A dor era insuportável... Era tão forte, que ele teve até que se curvar para conseguir andar. Parou de frente para o espelho, se apoiando na pia do banheiro, observando sua imagem...

Outro choque. Não viu o reflexo que esperava... A imagem era de um homem magro, alto, de gravata borboleta e topete...

Ele... Oh! ELE SE TORNARA O DOUTOR!

—O QUE? O que está acontecendo? –Rory arfou, tocando o próprio rosto. –Não pode ser! Eu sou... Eu sou o Doutor?

Foi então que sentiu a vista ficar turva... E caiu no chão, inconsciente.

Segundos depois, a mesma luz que ainda o contornava, se tornou mais forte e o fez também desaparecer.

 

*       *        *

17 de Julho de 2012 – Chiswick / Londres

Uma outra moça ruiva surtava com a mãe e o avô.

—Eu não estou ACREDITANDO que a Bety fez isso comigo! Ela realmente não devia... Eu apenas me ofereci para ajudá-la com os preparativos e ela me XINGOU daquele jeito! –gritou, histérica, andando de um lado para o outro da sala.

—Acalme-se querida –pediu seu avô, Wilfred.

—... Essa foi a GOTA D’ÁGUA! Eu vou mostrar para aquela filha da...

—SEU avô tem razão, Donna. Por favor, tente se acalmar! –disse Sylvia Noble, a mãe de Donna. –Tome, beba essa água com açúcar...

—Eu não QUERO água com açúcar!

Então o que você quer?

—Que a Bety me peça desculpas! –cruzou os braços.

—Ah! Pode esperar sentada... –Sylvia colocou o copo sob a mesinha de centro. –Você sabe muito bem que não foi uma boa idéia ter aparecido com o Shaun na preparação da festa.

—ESTÁ ME CULPANDO AGORA!? –gritou Donna, espalhafatosa. –Espera... VOCÊ ESTÁ DO LADO DELA!!!???

Não estou do lado de ninguém! A questão não é essa...

—É CLARO QUE É!

—Não é não! A questão aqui é você ter levado o EX da garota numa festa que ele NEM FORA CONVIDADO!

—Oh! EX DELA? O EX DELA É MEU MARIDO! A Bety não tinha nada que surtar daquele jeito...

—Mas se você sabia que isso podia acontecer, então por que não evitou levá-lo junto?

—Ora, porque EU NÃO SABIA!

—Arrrrr MAIS COMO NÃO SABIA? A GAROTA É SUA AMIGA DESDE AS ÉPOCAS DE COLEGIAL!

—Eu sei, mais não tenho culpa! Na época ela tinha ciúmes do namorado e não deixava ninguém saber quem ele era. –tomou um gole de água com açúcar. –Além do mais, ela sempre foi mesquinha e egoísta! Nem sei como agüentei sua companhia por todos esses anos...

A mãe de Donna a encarou, com as sobrancelhas erguidas.

—Será que só ELA era errada nessa relação “amistosa”?

Donna boquiabriu-se.

—O QUEEEE? ESTÁ DE NOVO DEFENDENDO ELA? Oh! Será que eu perdi alguma coisa? SERÁ QUE A BETY É SUA FILHA LEGITIMA E EU SOU ADOTADA!!!??? –deu chilique.

—Não seja ridícula...

—Por que não inscreve nossa família num daqueles programas que fazem testes de DNA? Talvez tenhamos uma surpresa...

—Donna, por favor, não seja tão dramática! –a mãe sentou no sofá, exaurida.

Donna riu ironicamente.

—Ah, você fica aí me culpando, jogando na minha cara cada erro que cometi há milênios... E depois EU sou a dramática?

—Você é dramática sim! E MUITO MANDONA, SUPERFICIAL E MIMADA TAMBÉM! –explodiu a mãe. Donna se calou, estupefata.

Wilfred, o avô de Donna, mordeu o lábio, preocupado com a direção da discussão. Donna pareceu se ofender com o que a mãe dissera.

—Quer dizer que é isso que você pensa de mim? –encarou a mãe, depois o avô. –Vocês dois me vêem assim?

Wilf arregalou os olhos. Gaguejou um pouco antes de falar, tentando escolher as palavras certas. Foi o bastante para ela interpretar seu hesito de forma errada.

Donna se ergueu do sofá, virou as costas e saiu pela porta.

—ESPERE! NÃO VÁ! DONNA! –gritou seu avô, em vão.

—Deixe ela, pai. Caminhar ajuda a esfriar a cabeça. –disse a mãe de Donna, aparentemente despreocupada. Wilf sentou-se ao lado dela, no sofá, agitado.

—Como você pode estar tão CALMA? Sua filha está momentaneamente desequilibrada, andando sozinha por aí! COMO PODE NÃO SE IMPORTAR?

—Eu me importo! Me importo mesmo com ela. Por isso lhe dei esse toque. Pra que ela perceba melhor suas ações e tente tomar mais cuidado com as atitudes que tomar, futuramente...

Wilf a encarou, criticamente.

—Parece que ela não é a ÚNICA que precisa de um chá de simancol, por aqui –e se levantou, deixando a mulher sozinha na sala, encasquetada.

 * * *

Donna Noble estava triste. Esse não era um sentimento muito casual para ela... Em geral, estava sempre rindo, e falando. E falando. E falando. Pois é! Ela era muito falante... O problema é que tinha gente que se incomodava com isso, e, mesmo quando não era o caso... Bem... talvez ela fosse um pouco indelicada as vezes... Inconseqüente também. E estourada. Tá bem! Ela tinha MUITOS DEFEITOS... Mas okay: falando sério agora, quem é que não tinha?

O problema, foi que ouvir isso da própria mãe a abalou demais. Tanto que fez com que Donna vagasse pelas ruas, atordoada, sem nem perceber onde estava indo. Sim... Ela era adulta, e sim também: costumava agir muito por impulso. Talvez por isso, muitos a comparassem com uma adolescente: por causa da falta de maturidade. Mas essa era a visão dos outros. Donna em si, não se enxergava assim. Para ela, estava sendo sensata. Bom, talvez estivesse mesmo... Quem seriamos nós para julgá-la?

O fato, foi que esse seu pequeno descuido à guiou para uma rua onde jamais havia passado antes.

Donna Noble enfim percebeu que o caminho era desconhecido. Enxugou as raras lágrimas –sim, ela era bastante resistente, forte e enérgica. Raramente a veriam chorando por qualquer coisa... O que nos faz pensar que ouvir aquilo tudo de sua mãe, devia tê-la machucado pra valer. Enfim, Donna desviou os olhos do sol escaldante do meio dia. Ao secar o rosto, olhou para baixo automaticamente. Foi quando ela viu...

—Que é isso? –se abaixou para apanhar um jornal, onde havia uma velha manchete... “Estrela Misteriosa toma os céus de Londres na noite de Natal” –embaixo constava uma foto da dita cuja. Era GIGANTESCA, e... frágil ao mesmo tempo. Olhando bem, parecia composta por linhas finíssimas e brilhantes... Como teias de aranha.

Inesperadamente, uma imagem veio à sua mente. Aconteceu num flash instantâneo que durou apenas segundos, mas foi o bastante para chamar sua atenção: havia um galpão inundado por água e uma criatura vermelha com muitos olhos, pernas e presas, guinchando horrivelmente. 

—O que? –Donna soltou o Jornal como se fosse algo repugnante. Tocou a cabeça assim que o fez. Tinha alguma coisa errada...

—Oh! Mais que cabeça a minha! –uma mulher apareceu em seu caminho, sorrindo gentilmente. Recolheu o jornal. –Eu devia por alguma coisa pesada em cima dessas coisas para que não fiquem voando para a rua.

Donna a encarou, meramente confusa.

—Desculpe... Nos conhecemos?

—Oh, sim. Acabamos de nos conhecer. –sorriu simpática. –Eu me chamo Doris. Desculpe atrapalhar seu caminho com um de meus “jornais fujões”. Sabe como é... Ventania e folhas de papel não combinam.

Donna olhou do jornal para a moça que o estava segurando.

—Você tem mais de onde veio esse?

—Sim. Claro. Eu trabalho neste sebo –ela apontou para o lado, onde havia um salão com portas abertas e uma placa escrito: “Sebo LDNL”. Donna se espantou. Como não notara o estabelecimento bem ao seu lado? A moça percebeu sua hesitação. –Gostaria de entrar e conhecer o espaço? Garanto que encontrará alguma coisa que lhe interesse. Confie em mim: todo mundo encontra. –e foi guiando-a para dentro do estabelecimento.

Assim que entraram, Donna mal pode acreditar no tanto de coisas que havia naquele lugar. A moça o chamava de “sebo”, mas estava mais para um bazar. Tinha todo o tipo de coisas, desde roupas, até livros e utensílios domésticos... Na verdade, era uma bagunça e tanto! Porém... algo no modo desarrumado daquele lugar foi capaz de cativar e contentar Donna.

—Minha nossa... Isso é incrível! –ela comentou.

—Ah, sim. As pessoas dizem todo o tipo de coisas sobre lugares como esse... Imagino que você deva ser uma das clientes mais gentis.

—Ah... É sério é? –ela sorriu, observando toda a montoeira de coisas à sua volta. Donna Noble, gentil? Essa era nova... –Não recebe muitas pessoas aqui, não é mesmo querida?

—Não –a outra admitiu, tirando o casaco. –Na verdade, esse é o meu primeiro dia no emprego.

—Ah, que legal. Fico feliz por você...

—Obrigada. Está sendo ótimo poder ajudar minha família... –a moça começou a tagarelar, mas Donna não mais a ouvia. Na verdade, ouvia só um burburinho beeeem longínquo. Mas dessa vez não fizera de propósito... Sua atenção fora tomada por uma seqüência de coisas que encontrou pela frente. A primeira era uma espécie de luva azul com espaço para três dedos.

Novo flash

Desta vez, ela viu a si mesma posicionando sua mão em uma espécie de área de reconhecimento de pessoal autorizado, para poder abrir uma porta não muito convencional.

Soltou a luva.

Caminhou mais um pouco e foi se ater perto de uma caixa de bijuterias, onde um colar com um pingente em forma de pílula lhe chamou a atenção.

Ela o segurou e viu uma criatura branquinha e molenga, com um sorriso amigável lhe dando tchauzinho.

Deixou o colar escorrer para dentro da caixa. E seguiu em frente.

Rumou para a estante de livros –o que não chamou-lhe muito a atenção. Donna não era exatamente uma fã de literatura. Bem, ao menos que se tratasse da vida de alguém famoso ou algo do tipo.

Porém, um livro em especial a deteve... Agatha Christie.

Um zumbido irritante lhe encheu os ouvidos. Donna foi se virar: havia uma vespa voando perto dela. Sem medo algum, ela afastou o inseto com o livro que estivera olhando antes.

A distração a fez olhar na direção de uma porção de revistas à porta do sebo. Se aproximou e puxou uma, cuja a atração principal era a descoberta de fósseis intactos e conservados pela lava, na antiga e soterrada cidade de Pompéia.

Naquele instante, Donna começou a sentir calor. Olhou propositalmente para uma chama acesa em um castiçal perto dali. Na mesma hora, o fogo apagou. QUEM APAGOU A LUZ?

Silêncio. A mulher se aproximou do castiçal, intrigada, mas outra coisa fez seu pensamento dispersar:

Perto de uma caixa cheia de lenços e cachecóis, encontrou um par de tênis velhos... O modelo era um All Star vermelho e surrado.

Rapidamente, viu a imagem de um homem passar zunindo por sua cabeça. Ele estava de costas, e corria mais rápido do que uma pessoa comum teria fôlego para fazer.

Terno azul... –foi a única coisa que conseguiu memorizar dele.

Mal erguera a cabeça, já deu de cara com um modelo idêntico ao que o rapaz estivera usando.

Esquisito... Havia algo familiar em tudo aquilo. Uma conexão estranhamente familiar.

Ignorando toda aquela baboseira, Donna voltou-se para a moça no balcão. 

—Gostou de alguma coisa? –ela lhe sorriu, acolhedora.

—Hã... Não. Hoje não, infelizmente. –respondeu. –Em todo caso, você foi muito atenciosa comigo... Eu gostaria de poder ficar com um cartãozinho da loja, caso deseje retornar aqui depois.

—Ah, sinto muito... Estamos sem cartões no momento. A minha chefe, Sally Sparrow, saiu justamente para mandar fazer mais. Enfim... Dessa vez vou ficar te devendo. Desculpe.

—Tudo bem –Donna sorriu.

—Ah! Espera! Eu tive uma idéia provisória –a moça pegou um papel em branco e uma caneta. –Estamos sem cartões, mas mesmo assim eu posso anotar o endereço e o nosso telefone num papel avulso, pra você poder guardar...

—Ah, seria ótimo, obrigada –Donna assentiu, dando uma última olhada no lugar, enquanto ela escrevia. –Marque o nome do Sebo também, por favor, pra eu não esquecer.

—Claro –a moça concordou. –Vejamos... “Sebo... Lembre... Donna... Noble... Lembre...”

Donna imediatamente a encarou.

—O que você disse?

—Oh, isso não é nada. Só uma forma de memorizar a sigla do sebo: “LDNL” “Lembre Donna Noble Lembre”

Donna franziu o cenho levemente.

—Tenha um bom dia senhorita -a moça lhe entregou o cartão, aparentemente sem notar que ela ficara intrigada, e voltou aos seus afazeres, entrando nos fundos da loja.

Donna ficou uns segundos petrificada no lugar. Então um falatório qualquer da televisão ligada a trouxe de volta, e ela se apreçou para sair.

No caminho, passou de novo pela estante de livros... Mas desta vez a observou melhor e perdeu a fala.

As lombadas... Todas etiquetadas com letras aleatórias, completavam a frase “Lembre Donna Noble, Lembre”, diversas e diversas vezes, repetidamente.

Assustada com tudo aquilo, Donna correu para a calçada. Nem reparou que um alarme levemente camuflado começara a piscar, no meio das bugigangas.

Ela chegou à calçada, ofegante. Apoiou as mãos nos joelhos, recuperando o fôlego.

—Está tudo bem, Donna... Tudo bem. Não precisa perder a cabeça... É obvio que isso tudo não passa de uma grande e esquisita coincidência...

Olhou a capa de uma última revista, que estava em exibição na porta: Dinossauros em uma Espaçonave.

Tá... Aquilo não lhe dissera nada. Ótimo! A comprovação de que precisava para deixar de ser paranoica e seguir seu caminho em paz.

Bem... Adoraria tê-lo feito, sem não encontrasse um “bicho feio e enrugado”, à sua espera. Um Silêncio.

Okay... Ela nunca vira uma criatura como aquela, mas alguma coisa em sua estranha forma não humana, deixou-a novamente com a incessante sensação de familiaridade.

POR QUE DIABOS ESTAVA SENTINDO AQUILO?

—Ah! Nossa, quase me matou de susto, querido –riu forçado. –Quem está aí dentro da fantasia? É o Deric? Ou quem sabe o Cole... –ergueu uma sobrancelha. –BETY É VOCÊ? Espero que não seja essa a forma que arrumou para me pedir desculpas... Francamente, não foi a sua melhor idéia...

O Silêncio então ergueu um dedo comprido na direção da cabeça dela. Em seguida, uma espécie de descarga elétrica aconteceu, e Donna foi envolvida por uma experiência assustadoramente inesquecível. LITERALMENTE –pois no passado, ela tivera as lembranças apagadas pelo Doutor, da última vez que se viram, e, pelo Silêncio ser uma criatura de esquecimento, sua energia causou um efeito reverso na mente de Donna, devolvendo a ela todas as suas “memórias escondidas”.

Isso mesmo: “Escondidas”, e não “apagadas”. Isso porque uma memória de fato nunca deixa de existir. Ela apenas pode ser oculta por alguma força psiquicamente poderosa, ou então, cai naturalmente no esquecimento... Como uma pagina de website, que vai ficando para trás cada vez que não é atualizada. Ela continua lá... Só que não tem mais destaque.

Foi isso que aconteceu com o cérebro de Donna, e suas lembranças com o Senhor do Tempo.

Num segundo, ela não lembrava de nada... No outro, foi devolvido à sua mente uma infinidade de experiências emocionantes, vividas e assimiladas, de modo a fazerem-na pensar diferente...

Donna abriu os olhos. Não era mais superficial, ou mimada... Okay... Continuava a ser meio mandona, mas ninguém é perfeito! O fato era que ela se importava com as pessoas agora. Se importava DE VERDADE! Se tornara sentimental e apaixonante... A garota que sonhava em conhecer planetas e estrelas e passou noites e mais noites olhando para o céu com o telescópio do avô, à procura de um homem com uma caixinha azul.

—Ah! –ela caiu de joelhos, tremula, com os olhos lacrimejando. –Eu me lembro dele... Eu me lembro... do Doutor. Como pude esquecê-lo? Oh, sim... O DESGRAÇADO APAGOU MINHA MENTE! 

Seria um momento reconfortante de nostalgia, se Donna não começasse a sentir uma imensa dor de cabeça.

Oh não! O Doutor dissera que isso aconteceria... Disse que a mente de Donna ia QUEIMAR se ela lembrasse dele ou das coisas que viveu ao seu lado... MEU DEUS, E AGORA? ESTAVA MESMO ACONTECENDO...!

O Silêncio viu que o trabalho estava concluído e se mandou, ativando um tele-transporte. Donna nem se importara... Quando se está com a cabeça prestes a explodir, literalmente, alienígenas alheios deixam de ser prioridade.

—Não... Não... O que está acontecendo comigo? O que está acontecendo? –ela fechou os olhos, na esperança de que tudo passasse. Porém, as cenas não paravam de invadir sua mente, como água saindo da torneira com pressão. Não dava para conter, nem fazer parar.

Foi então que ela abriu os olhos e encarou as mãos, contra a superfície da calçada: elas estavam brilhantes. Douradas e ficando cada vez mais brilhantes a cada segundo...

—Minha cabeça! A minha cabeça está sobrecarregada! O que vou fazer? Eu... AAAAAAAAAAH -Donna gritou. Foi a última coisa que fez antes de desaparecer.  

Ninguém na rua viu... Engraçado como ninguém nunca vê essas coisas.

 

*      *      *

24/ 12/ 2011 – Noruega de uma Realidade Paralela

—E então, o que vai fazer hoje? –perguntou uma mulher loira, parada à porta do quarto da filha, carregando uma cesta de roupas limpas. Seu nome era Jackie Tyler.

—Eu não sei... Não programei nada pra hoje –respondeu sua filha, jogada na cama, esperando as horas passarem.

—Mais hoje é véspera de Natal! Você sempre faz planos pro Natal...

—Costumava fazer. Agora não mais. –endireitou o corpo e sentou-se, afastando uma almofada do caminho.

Jackie pôs a cesta de roupa no chão e sentou-se na cama com a filha.

—Rose...  –afagou suas costas. –Lamento que esteja sofrendo... Mas mesmo assim, não pode ficar o resto da vida enfornada nesse quarto, pensando nos problemas. Você é jovem! Ainda tem muito que viver, e eu não estou gostando nada desse seu comportamento...

—Mamãe –suspirou Rose. –Não acha que já sou grandinha pra você ficar me dizendo o que devo ou não fazer? Por que você não vai cuidar do Tony? Ele precisa mais de você do que eu...

Jackie inclinou a cabeça.

—Isso não é verdade. Seu irmão pode ser pequeno, mas uma coisa não altera os fatos: Vocês dois são meus filhos. Vocês dois podem precisar de mim e do seu pai, e contar com nosso apoio sempre, independente da idade que tenham.

Rose sorriu sem mostrar os dentes.

—Obrigada mãe –a abraçou.

—Por que você não vai encontrar o Mickey? Talvez se divirtam juntos tentando bolar um programa para hoje...

—Mamãe... O Mickey tem o trabalho dele... Conversamos ontem mesmo e ele estava super empolgado porque tinha que instalar um novo programa nos computadores da Torchwood. Ia passar o dia inteiro fazendo isso...

Jackie fez cara de quem não se contentou com a explicação. 

—Bom, você também trabalha na Torchwood, mas está de folga hoje, então... Até onde sei, não há nada de mais em vocês dois tirarem uma folga de vez em quando para por em prática sua vida social, caso ainda tenham uma! –resmungou, se levantando. Rose bufou. Jackie apanhou sua cesta e saiu do quarto. Naquele exato momento, Tony, o irmãosinho de Rose, correu para junto da mãe, com um brinquedo em mãos. –Ah, olha só você! Vem aqui... Prontinho querido -ela o pegou no colo, depois se voltou para a filha. –A propósito, melhor se apressar... Mickey vai encontrá-la no parque daqui a meia hora.

Rose franziu o cenho.

—Como? –encarou a mãe, então tudo fez sentido. –Mamãe! Eu não acredito nisso... Você ligou pra ele!?

Rose tem namorado!—cantarolou Tony.

—Eu vou acabar exterminando esse pirralho –revirou os olhos.

—Ei! –Jackie se intrometeu. –Nada de Daleks nessa casa, por favor! –e foi embora, levando o filho junto.

—Exterminar! Exterminar! –Tony disse repetidamente. Sua voz se tornando mais abafada conforme se afastavam.

Rose pôs a mão na cabeça. Tinha planejado ficar o dia todo no quarto, lembrando do passado... Mas de repente, seus planos mudaram drasticamente, o que a deixou meio sem reação. Bom... parece que ela tinha um programa agora com que se ocupar. O que implicava outras decisões complicadas –que não estava nem um pouco a fim de tomar –como por exemplo: O que ia vestir? Como ia esconder sua cara de desanimo? Como ia afastar as lembranças? Como ia fazer para tirar certos pensamentos da cabeça? O que diria à Mickey ao encontrá-lo naquela véspera de Natal?

Oh sim... Ela estava com um problemão. Mas fazer o quê? Sua mãe a colocara nessa... Claro que ela podia ligar para Mickey e desmarcar, mas também não seria justo com ele. Mickey Smith podia não ser mais seu namorado há bastante tempo, mas mesmo assim, era uma peça fundamental em sua vida. Sem ele, o plano de reabrir Torchwood provavelmente estaria suspenso. Apesar do pai de Rose, Pete Tyler, ser rico naquele mundo paralelo, e ter financiado grande parte do projeto –para não dizer todo ele –ainda sim, sem a ajuda do gênio dos computadores, Mickey Smith, nada disso teria acontecido. Como poderiam hackear o material oficial da UNIT, para saber suas últimas descobertas? Como poderiam ter acesso a todas as câmeras de segurança instaladas no planeta, e assim, detectar presença alienígena hostil antes de qualquer um e iniciar uma missão com a promessa de proteger a Terra? Como poderiam trabalhar com novas possibilidades tecnológicas, e projetar um arsenal próprio de armas e antídotos, sem estarem por dentro dos arquivos confidenciais da Nasa, e da área 51? Bem... Digamos que a Torchwood literalmente SABIA DE TUDO.

Rose foi no habitual: já estava de calça jeans e blusa, então vestiu uma jaqueta com capuz e calçou os tênis. Fazia muito frio lá fora, e isso a levou a acrescentar um cachecol ao conjunto, para se aquecer um pouco mais.

Desceu o prédio pela escada de incêndio. Ela gostava de fazer aquele caminho. Não era por nenhum motivo especial. Bem... a não ser por reativar velhas lembranças.

Apesar de estarem numa cópia exata de seu planeta, eles não estavam mais morando em Londres. Se mudaram para a Noruega, desde a passagem da Baía do Lobo Mau. Deste modo, as escadas de incêndio não pertenciam ao prédio onde vivera sua infância e adolescência toda, mas mesmo assim, não deixavam de ser escadas de incêndio.

Escadas de incêndio lembravam duas coisas à ela: Perigo e Correria. Pois é... Bons tempos aqueles.

Rose saiu do prédio onde morava atualmente. Estava nevando.

Mais lembranças a atingiram. Desta vez, seus olhos lacrimejaram um pouco, mas ela tentou espantar para longe a dor que vinha sentindo o dia todo.

Os natais nunca mais foram os mesmos depois que tudo acabou. Sem ele não era mais a mesma coisa...

Rose logo chegou no parque que sua mãe mencionara. Era o mais freqüentado da cidade, porém, naquele fim de tarde estava mais deserto do que nunca. Talvez por dois principais motivos: estava frio, e era véspera de Natal. Àquela hora, as pessoas estavam junto de suas famílias, aproveitando a companhia uns dos outros. Mas não os Tyler. Tudo estava diferente desde que ficaram presos naquela outra realidade, sem possibilidade de voltar à sua Terra. Ao seu verdadeiro lar. Mesmo assim, Rose lutou e conseguiu retornar uma última vez para ajudar seu querido Senhor do Tempo. Contudo, era obvio que ela esperava que no fim, alguma coisa pudesse ser alterada, mas o rapaz insistiu que ela devesse voltar para o mundo paralelo –seu novo lar –de onde não devia ter saído, para começo de conversa. “Tudo porque a fenda entre mundos estava fragilizada de tantas vezes que a utilizaram no passado, para viajar de um mundo para o outro, e isso poderia partir a realidade e blá blá blá”.

Okay. Tudo bem. Rose não se chateou. Bem, um pouquinho. Ela esperava que pudesse voltar para casa e reatar a antiga vida de viagens com o amigo... Mas nada feito. Ao invés disso, lá estava ela agora: uma agente Torchwood, trabalhando por conta, lidando com alienígenas como nos velhos tempos, mas mesmo assim, sem contato com o incentivador principal de tudo isso. Ah... Como ele fazia falta.

Se ela não tivera mais vida social depois disso? Bem... As coisas não foram fáceis; Certa vez ela e Mickey resolveram contratar pessoas para trabalhar na Torchwood. Um rapaz super mente aberta e puro entusiasmo se apresentou para o serviço. Seu nome era Andrew. Logo a principio Rose gostou do tipo dele, (lembrava bastante um certo Senhor do Tempo...), e parece que o rapaz sentiu a mesma empatia por ela à primeira vista. Logo havia sido contratado, e com isso, o contato dos dois começou. Em pouco tempo já se tornaram grandes amigos e começaram a namorar. Então houve uma noite... O apartamento estava vazio, e os dois se excederam um pouquinho demais. Quando deram por si, estavam na cama, juntos. Contudo, durante a troca de carícias, Rose fechou os olhos... E sua imaginação trouxe a imagem do Senhor do Tempo à sua mente, que –em suas fantasias secretas –rapidamente tomou o lugar do jovem que a beijava com fervor. Então tudo aconteceu muito rápido. Num momento, estavam no meio de amassos intensos e incessantes, então ela disse o nome dele... O nome certo, quero dizer. O nome do cara que realmente devia estar ali, no lugar de Andrew... Subsequentemente, pusera tudo a perder. Os dois discutiram e Andrew foi embora. No dia seguinte, descobriu que ele havia pedido demissão. Eles nunca mais o veriam de novo.

Desde então... Rose tem passado longe do amor. Ela decidiu que não se envolveria mais com ninguém, pois seu coração pertencia somente a um homem. O Senhor do Tempo solitário, do extinto planeta Gallifrey.

—Ei Rose! –a loira se virou. Estivera tão absorta em pensamentos, que nem vira Mickey se aproximar. Mickey Smith era um rapaz negro, usava uma japona volumosa, gorro na cabeça, cachecol no pescoço cobrindo parte do rosto também, e luvas nas mãos. Parecia que estava indo para o Pólo Norte. –Como é que vai?

—Bem. E você?

—Bem. Terminei mais cedo o serviço hoje, então pensei que talvez a gente pudesse fazer algo juntos.

—Certo. Você tem alguma idéia? Infelizmente o meu estoque acabou.

—Bem, eu pensei que a gente podia ir à uma pizzaria... –Mickey começou a falar, então de repente ele ficou em segundo plano, quando Rose avistou um casal caminhando juntos de mãos dadas. Ele era alto e magro, ela era baixa e loira. Passaram rápido... Não deu pra ver os rostos. Porém, aquilo foi o bastante para machucar seu coração. –Ei... Rose? Rose? Está tudo bem? –Mickey voltou ao primeiro plano.

—Eu estou bem –mentiu. –Por que não estaria?

—Você está chorando –Mickey alertou. Rose mordeu o lábio e as lágrimas vieram, desta vez com consciência, e mais impacto. Que pena... Ela estivera se segurando tanto para não chorar naquele dia, mas aquilo arruinou todo seu esforço.

—Vem aqui... Vamos sentar naquele banco –Mickey a guiou para um banco de praça, localizado embaixo de uma árvore, que os protegia da neve. –Vai me contar o que te deixou assim ou prefere me deixar fora dos seus problemas de novo?

—Não comece Mickey –suspirou Rose, exausta. Mickey continuava esperando que ela falasse, então a garota cedeu. Não estava com muita vontade de discutir com ele.  –É... O de sempre –falou com a cabeça baixa, as mãos mexendo distraidamente no zíper da jaqueta. Mickey ergueu as sobrancelhas.

—Ah não... –bateu a mão na coxa. –De novo não... Não me diz que tá triste assim de novo por causa do Doutor!?

Rose ergueu a cabeça. Fazia tempo que não ouvia aquele nome ser pronunciado por alguém. Meses, talvez. Ela mesma não dissera mais em voz alta. Ultimamente se contentava em somente lembrar do rapaz. Manter sua memória viva apenas em seus pensamentos. Entretanto, Mickey a conhecia bem até demais. Não era preciso perguntar muito para chegar à conclusão de que o culpado de mais um dos chateamentos matinais de Rose Tyler, era o importuno Doutor. E, bem... Ele já vinha agüentando muito daquela ladainha em silêncio. Talvez agora fosse hora de dizer o que pensava sobre o comportamento dela.

—Rose, me escuta –segurou as mãos dela e olhou fundo em seus olhos. –O Doutor não vai voltar. O que aconteceu não pode ser mudado. Ainda que você conseguiu surpreendê-lo ano passado quando voltou para o nosso planeta Terra e ajudou a deter o Davros e os malditos Daleks... Mas presta atenção: Mesmo com você tendo feito o que fez, isso mudou alguma coisa? Continuamos aqui Rose! –a garota desviou o rosto. –O Doutor explicou! Ele foi bem claro quanto a isso... Jamais voltaremos para casa. –fez uma pausa. Segurou-a pelos ombros. -Então pelo amor de Deus, Rose, esquece ele! Esquece o Doutor de uma vez por todas e segue sua vida!

Rose soluçou, magoada. Desvencilhou-se de Mickey, levantou-se do banco, e foi para longe ficar sozinha.

Mickey bufou. Ele não tinha raiva do Doutor. Pelo contrário: Mickey aprendera a conviver com o Senhor do Tempo nos velhos tempos em que tiveram que se unir para salvar a Terra. Mas agora isso era passado... Não fazia mais parte de seu cotidiano. Tinha ficado para trás. Para ele, pelo menos. Aparentemente, o cara ainda estava muito presente nos pensamentos de Rose, e isso começava a irritar. Por que ela não conseguia esquecê-lo de vez? Por que não podia simplesmente seguir com sua vida?

Ele poderia discutir com ela a noite toda sobre isso... Mas havia uma coisa que tomava voz acima de toda discordância entre ambos: sua amizade. E também, todo carinho que Mickey sempre conservaria por ela. Ah... A verdade... Já que estavam falando de verdades, aí vinha mais uma: Ele gostava de Rose. No passado foram namorados, então o Doutor apareceu e de repente tudo foi por água abaixo; contudo, ele nunca deixou de amá-la, admirá-la ou apóia-la, e isso continuaria acontecendo pelo resto de sua vida. Ele sabia que sim.

Então, como um bom amigo dedicado –era assim que ela o via, então, fazer o que? –Mickey resolveu confortá-la, ao invés de deixá-la pior lembrando-a da verdade dura e inalterável. Levantou-se, caminhou até ela, e pôs a mão em seu ombro. Quando percebeu que sua companhia era bem vinda, foi em frente e a abraçou, deixando que chorasse em seus braços. Pelo menos não estaria desamparada e sozinha. Ela poderia sempre contar com ele. Sempre.

—Escuta, Rose... Nada disso importa agora. Hoje é véspera de Natal. Vamos tentar fazer algo divertido que te faça sorrir, ao invés de chorar. O que me diz?

Eles se afastaram. Rose secou as lágrimas.

—Eu acho uma boa idéia. –concordou, fungando.

—Você aceitou? –ele pareceu surpreso por um momento, o que fez Rose sorrir. –Que... Ótimo! Vamos lá então! –e tratou de passar o braço em volta do pescoço dela, e arrastá-la para a pizzaria mais próxima, antes que mudasse de idéia.

Chegaram lá antes de escurecer, mas pararam um segundo na vitrine, para observar uma tabela com imagens ilustrando todos os tipos de pizzas, refrigerantes, sucos, e os respectivos preços de cada coisa.

—Hum... Essa aqui parece ótima –Mickey dizia, observando as possibilidades. Rose olhou distraidamente para a vitrine da pizzaria e viu de relance a face de um Lobo. Arregalou os olhos. Voltou a encarar o mesmo ponto de antes, mas agora só existia seu rosto ali. Intrigada, ela se aproximou do vidro. De repente, Rose Tyler franziu a testa, ao observar sua imagem refletida na vitrine.

—Mickey... Olha só aquilo...

—Só um segundo. Você quer pepperoni ou calabresa?

—É sério Mickey! Olha! –ela o puxou para olhar também seu reflexo.

Ambos estavam com os corpos contornados por uma estranha luz dourada, que vinha aumentando de intensidade.

—Caramba... –Mickey observou as próprias mãos, agora diretamente, e não pelo vidro. –Mais o que é isso?

—Não sei... Mas não parece bom –disse Rose. Sorriu de repente.

—Ei! Isso aí foi um sorriso?

—Talvez.

—Está nos acontecendo uma coisa bizarra, e o que Rose Tyler faz? Ela sorri para o desconhecido.

—Mickey, tá ficando mais forte... –Rose ficou tensa de repente.

—Ai droga, a minha também! –Mickey analisou suas mãos e o resto do corpo. Mesmo por cima das roupas, a luz brilhava intensamente, envolvendo todo o contorno de seus corpos. –MINHA NOSSA... O QUE TÁ ACONTECENDO?

—Mickey! –Rose gritou. Ele se voltou para ela, mas Rose havia desaparecido.

—Rose! –o mesmo ocorreu com ele pouco depois. Com ele, e mais três pessoas num apartamento perto dali: a família de Rose.

Os Tylers: Habitantes de uma outra Terra... Pessoas que não se encaixavam naquela realidade... (a não ser Pete, talvez –mas este mesmo só pensava em estar junto da família, independente de onde isso o levasse)...

Todos eles... Sumiram.

*      *       *


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Notas finais do capítulo

E continua... kkkk

Referências referências e referências... Quem aí pegou todas?

Heeeeey! Eu sei exatamente os surtos que vocês estão dando aí do outro lado kkkk E não vou dar uma de escritora normalzinha porque estou surtando também kk –mas no meu caso é por ter chegado nesse ponto da história!! (gente eu tô extasiada!! Planejei isso com tanta dedicação e enfim chegou o dia de postar...! Hey, dona Sylvia Noble, tá de pé ainda aquela água com açúcar? Eu tô aceitando aqui kkk).

YES!! Coisas estranhas estão acontecendo com os companhions do Doutor na New Who... Mas qual o motivo de tudo isso? Quem está por trás disso? O que será que vem pela frente? Vocês tem teorias? Quero saber tudinho!! *-*

*Lembrando que o Clone do Doutor não existe nesta versão da história, e que o Mickey não casou com a Martha.

*Lembrando também que os desaparecimentos não param por aqui. Teremos mais um capítulo dedicado a personagens que farão parte desta aventura –portanto, se está faltando alguém aí que você gosta muito, e que ainda não apareceu (ou melhor, desapareceu), cruze os dedos, pois ele ainda pode SUMIR muito em breve kkkkk

Estaremos de volta quinta feira!
Espero por vocês!
Beijos!



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