Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 12
O Apito dos Desesperados


Notas iniciais do capítulo

Olá!!! :)
Hoje o capítulo está cheio de ação e adrenalina!
Os mistérios começam a ser solucionados...

"Todo mundo foi dar uma passadinha no subterrâneo... Melissa foi a última que o fez, e será a primeira a entrar em contato com os alienígenas locais".



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Melissa levantou-se de supetão. Massageou a cabeça com cuidado, seus olhos estavam um pouco embaçados; Viu um chão estranho, com uma espécie de grama azul. A garota lembrou-se em um segundo do momento em que o Doutor, ainda na superfície, guardara no bolso um chumaço igual ao que havia lá em baixo. Ele não dissera nada, mas aparentemente seria mais uma pista do que estaria esperando-os no subterrâneo. Tonta, ela cambaleou e caiu a menos de um metro de distancia de duas finas colunas postas verticalmente, uma paralela à outra. Olhou mais adiante e reconheceu um outro “pula-pula” ao longe: tratava-se de uma planta estranha e elástica, de textura aparentemente igual ao que Melissa aterrissara anteriormente. Ela voltou a olhar as duas colunas verticais que pareciam aproximar-se aos poucos. Seus olhos retomaram o foco, resolveu então erguer a cabeça. Quando finalmente o fez, deparou-se com uma criatura estranha bem na sua frente.

A tal criatura era magra e alta. Vestia armadura completa, com escamas artificiais nas cores prata e bronze. A arma lembrava uma corneta –o formato era bem parecido. Usava botas e um tipo de calça à prova de estática, ou coisa parecida. Tinha na cintura um tecido vermelho intercalado junto da armadura. No pescoço, usava argolas de aço que o cobriam como uma continuação da armadura. O mais curioso era o rosto. Este estava coberto por uma mascara acinzentada, escamosa, meio enrugada; a boca parecia uma fenda, rachada em alguns pontos, os olhos era grandes, pretos e assustadores. O brilho que este proporcionava era maligno. No topo da cabeça e nas laterais desta havia uma pele verde e escamosa que se sobrepunha a mascara. O ser sibilou para a garota. Parecia zangado.

—Ai meu Deus! –gemeu Melissa tentando proteger-se.

—Você veio trazer o capacete? –perguntou a criatura.

—Quê? –exclamou Melissa. –Capacete?

—Eu pedi-lhes um capacete. Pois bem, onde está?

Melissa pareceu confusa. Não conseguia compreender como aquilo poderia fazer algum sentido.

—Não. Já trouxeram o capacete. Eu só vim ajudar. Não quero me meter em encrenca... –disse Melissa assustada com a expressão da mascara. –Por favor, me deixe ir...

—Não vou fazer-lhe mal... –disse a criatura. –Ah! Já entendi. Está com medo...

—Mas é claro que estou! –grunhiu Melissa nervosa. –Fique sabendo que é muito feio assustar as pessoas!

—Desculpe. –pediu ele, e pôs-se a tirar a mascara. Quando o fez, apareceu seu verdadeiro rosto. Era todo verde. Assim como no topo da cabeça, tinha muitas escamas, mas até que o verdadeiro conjunto de seus olhos, nariz e boca eram menos intimidadores: tinham proporcionalidade, como os de Melissa, apenas o rosto em si era diferente na tonalidade e composição. –Olá. Meu nome é Malohkeh. Desculpe tê-la assustado.

Melissa levantou aos poucos, até ficar em pé totalmente, cara a cara com o homem-réptil.

—Eu sou Melissa. –apresentou-se. –O que é você?

—Minha espécie é Homo Reptilia, ou se preferir: Reptiliana. Sou um Reptiliano. E você, como posso ver, é uma Homo Sapiens, uma Humana!

—Sou sim. –disse Melissa, engolindo em seco. O homem-lagarto ficava circulando-a como se analise cada movimento seu cuidadosamente. Isso a deixou um pouco nervosa. –O que quer comigo?

—Nada. Gosto dos seres humanos. Eu os estudo.

—Então você é uma espécie de cientista?

—Exatamente. Quando tenho a oportunidade, colho amostras de vocês para ficar a par de todo o seu desenvolvimento, como ocorre sua reprodução, como se alimentam, onde vivem, como interagem em sociedade...

—Nossa... Espero que você tenha escolhido boas pessoas para analisar. Existem muitos seres humanos bons, mas também, existem outros cheios de idéias fúteis e maldade no coração. Se você se basear por esses últimos, então provavelmente terá uma idéia distorcida da raça humana. –constatou ela, ao que Malohkeh emendou:

—Toda raça tem suas imperfeições. Mas é claro que o estudo é aprofundado... Não gira apenas em torno de conhecimentos banais.

 Foi aí que Melissa teve um estalo.

—Espera aí! Não está pensando em colher amostras minhas ou está? Pois fique sabendo que sou muito resistente e não ajo com tanta disciplina quando alguém me ameaça! –defendeu-se ela. –Posso parecer frágil e indefesa, mas sou muito, muito perigosa! Quando me sinto ameaçada eu sou capaz de...

—Sei muito bem do que é capaz. Eu os estudo, lembra-se? –sorriu o Reptiliano. –Mas não quero que veja as coisas por esse lado. Não estou tentando ameaçá-la, do contrário, apenas estou tentando ajudar.

—Ajudar?

—Havia um rapaz ainda apouco... Ele estava aqui, eu vi quando foi apanhado pelos guardas –afirmou Malohkeh, sério. –Isso é muito preocupante. Se levarem-no a julgamento, ele será acusado mesmo que permaneça em silêncio. Ele estará fora de seu território, não há defesas contra um crime como esse. Ele não deveria estar aqui...

—E nem vocês deveriam estar lá em cima, na superfície! –interpôs, Melissa. -Quem foi que disse que estava aberta a “passeata de lagartos pelas ruas de Pisa?”. Se vocês se consideram no direito de andarem entre nós na superfície, então, os humanos têm o mesmo direito para quão o subterrâneo!

—Não estamos no direito de freqüentar a superfície... Fizeram isso ilegalmente, mas há uma boa explicação para isso: Meu povo sente-se ameaçado por conta de uma certa construção feita bem acima deste local...

—Está falando da Torre de Pisa?

—Não sei como se chama. Só sei o caos que ela está causando aqui em baixo.

—Do que está falando?

 Malohkeh olhou desajeitado de um lado para o outro, depois puxou a menina para mais próximo de si e murmurou:

—“Terá de ser explicado em outro lugar... Aqui é muito perigoso. Outros guardas podem nos ver...”.

—Certo, mas antes disso, será que pode me explicar o que você faz com o capacete do meu amigo?

O Reptiliano olhou para as próprias mãos: lá estava um capacete com a lateral amassada. Fez uma cara de culpa e começou a girá-lo em suas mãos com certo nervosismo.

—Eu encontrei-o aqui no chão. Caiu quando o rapaz foi capturado pelos guardas. –ele engoliu em seco. -A verdade é que usei-o para atraí-la para cá, sabe...?

—Como é? –exclamou Melissa, pasma. –E pensar que confiei em você...

—Não fiz por mal. Na verdade, fiz isso pelo bem do seu amigo. –explicou Malohkeh. –Se ele for julgado, como de fato será, não terá chance alguma dentre os líderes Reptilianos. Mas como já disse, eu gosto de vocês humanos... Apesar de ser contra as regras, quero-os bem. Foi então que pensei que, se não estivessem em desvantagem, talvez pudesse haver alguma chance de negociarem a paz. Na verdade, se seu amigo tiver testemunhas que o ajudem, pessoas que possam comprovar que ele não estava fazendo nada de errado, então talvez ainda haja chance de sairmos todos imunes...

—Entendi. Atraio-nos aqui para baixo para que pudéssemos ajudá-lo... Muito esperto. –sorriu Melissa, aprovando sua ação. –Só uma coisa: Você por acaso não enviou um holograma ou coisa do tipo, também para a superfície, enviou?

—Não. Devo admitir que não sou muito entendido desse tipo de tecnologia, embora nós a tenhamos; Só fui responsável pela conversa do comunicador. Realmente, não faço idéia do que você esteja falando. –falou Malohkeh dando de ombros.

—O.K. Se não se importa, eu gostaria de sair da “linha de fogo”. Não quero ser capturada por guardas, sabe?

—Perfeitamente. –o homem-lagarto levou-a para seu esconderijo improvisado, dentro de uma caverna. Melissa arregalou os olhos quando viu, deitadas sob o chão, suas amigas Luisa e Agustina, ambas adormecidas. Correu ao seu encontro tentando reanimá-las. Quase instantaneamente as duas abriram os olhos e levantaram-se com dificuldade. O capacete extra estava com elas.

—Eu as encontrei –disse Malohkeh. –As duas vieram ao meu chamado de ajuda... Sei que esse fora o motivo, pois estavam carregando o capacete que lhes pedi. Não queria que os guardas as capturassem também, então tive que trazê-las aqui, para mantê-las em segurança.

Bom trabalho cara—sorriu Melissa. –Gostei muito da idéia de identificação com o capacete... Foi bem criativa, só não muito precisa. Mas tudo bem, se nós três descemos até aqui pensando que era mesmo o Doutor falando pelo comunicador, então acho que fez um bom trabalho. Enfim, essas são minhas amigas, Luisa e Agustina.

—Melissa... Você aqui em baixo? O que aconteceu? –perguntou Luisa vacilante.

—Calma, está tudo bem. Estamos entre amigos. Este é Malohkeh, um Reptilianos dos bonzinhos. Ele é um cientista e está do nosso lado...

—Só quero que esses conflitos terminem logo! Há séculos que não consigo trabalhar em paz por conta das reclamações sobre essa torre... –desabafou Malohkeh.

—Só um minuto: O que a Torre de Pisa tem a ver com tudo isso? –indagou Agustina.

—Há muitos séculos essa construção foi iniciada na superfície... Mas foi um erro. Nada nunca fora construído nessa região, tudo por um único propósito... Proteger as crianças.

—Crianças? –repetiu Luisa confusa. –Que crianças?

—As nossas crianças. –explicou o Reptiliano. –Essa tal torre foi construída bem em cima do nosso criadouro.

—O quê? –espantou-se Agustina. –Um criadouro? Aqui em baixo?

—Sim. E infelizmente, ele foi violado. Nossas crias ficam adormecidas dentro de suas cascas protetoras até que chega a hora de nascer. O problema é que o espaço em que ficam armazenadas em hibernação está mudando por causa das condições da superfície. Não há mais sol, a água não mais irriga a terra, os nutrientes acabaram, as condições ficaram precárias, tudo por causa da construção desta torre. Ela está originada bem acima do criadouro e, com as condições ruins, como de fato estão, o desenvolvimento de nossas crianças não se torna completo. Muitas morrem muito antes de nascerem! Precisamos do nosso espaço de volta. Talvez não pareça, mas todas as mudanças ocorridas na superfície, são como um espelho para o subterrâneo. Se a superfície de determinado local foi abalada, ou mesmo alterada, então isso é refletido diretamente para o interior do planeta. Do jeito que as coisas andam, seremos extintos, antes mesmo que possamos pensar em algo. –ele fez uma pausa pesarosa. -O Reptiliano que viram na superfície era um batedor. Ele estava procurando evidencias e constatações. Foi mandado para descobrir o que estava causando todo esse problema e, acabaram de constatar que fora tudo culpa de uma estrutura de pedra! Acredite, não queremos o mal de vocês, humanos. Só queremos ajuda.

—Entendemos perfeitamente, Malohkeh –disse Luisa. –E nós iremos ajudá-los!

—Mas como? Não podemos derrubar a torre, podemos? –insinuou Melissa.

Não! Definitivamente não podemos! –retrucou Agustina com um olhar severo. –Precisamos de outra saída. Sobretudo, uma menos desastrosa. Tem que haver outra escapatória... Mas derrubar a Torre de Pisa? A-hã! Isso não pode ser uma opção! –negou ela.

—Seria muito mais fácil, mas também não seria justo. Eu vi o trabalho que tiveram para construí-la... Não poderemos simplesmente derrubar o monumento! –disse Malohkeh.

—Eu concordo. –sorriu Agustina, satisfeita.

—E o que seu povo pensa sobre isso? –perguntou Luisa.

—Por eles, já teríamos reconquistado a Terra, e mandaríamos vocês viverem aqui em baixo ou fariam vocês de escravos. Mas acho que atitudes muito radicais nunca dão bons resultados...

—Puxa, quanto amor! Já vi que o seu povo gosta mesmo da gente... –disse Melissa sarcástica.

—Não nos culpem. Éramos os antigos donos da Terra. Antes de Vocês, nós é que habitávamos a superfície...

—Sabemos disso. O nosso amigo, Doutor, nos contou.

—Conhece nossa história, esse Doutor? –espantou-se Malohkeh.

—Não fique muito esperançoso. Ele não é um homem qualquer... Ele nem mesmo é humano. –disse Melissa.

—Como? –indagou Agustina perplexa.

—É isso mesmo. –disse Luisa, calmamente, para não alarmá-la. –Lembra quando eu disse que o Doutor não era o tipo de homem que ficava parado em um só lugar e coisa e tal?  Bem, uma hora você iria mesmo descobrir... Ele não é exatamente um homem. Ele é um Senhor do Tempo. Um... Alienígena, sabe?

—O Quê!? –exclamou Agustina. –Mas ele parece...

Um homem normal? Eu sei. Mas na verdade, ele nem da Terra é!  Ele a habita há muito tempo... Desde muito antes de seu planeta originário explodir.

—Você disse um Senhor do Tempo? –perguntou Malohkeh. –Quer dizer... Um senhor de Gallifrey? Um dos causadores da devastadora Guerra do Tempo?

Todos silenciaram. Luisa e Melissa não confirmaram nem negaram nada. Não sabiam do que ele estava falando. Certo: Sabiam que ele era originário de Gallifrey, que era um Senhor do Tempo e que seu planeta já não existia mais, mas nunca ouviram nada sobre uma Guerra do Tempo!

Elas se mantiveram em posição de defesa; se aquilo fosse algo deveras ruim, como Malohkeh transpareceu, então o Doutor poderia ser acusado de mais coisas no julgamento, do que apenas ter entrado em território proibido.

—E isso importa? –irrompeu Melissa. –Isso vai garantir a paz de nossas espécies agora? Ficar criticando-o, por acaso vai levar a alguma coisa além do desentendimento? Eu acho que não! Então vamos parar de julgá-lo pelo que ele é, para que possamos tentar resolver todo esse problema! Será que eu fui suficientemente clara?

Todos entreolharam-se de acordo. Luisa ficava a cada minuto mais orgulhosa de Melissa. Ela estava enfrentando seus medos e começara a demonstrar seu lado humanitário e amigo perante ao Doutor.

—A solução é essa: Precisamos estipular a paz total entre os humanos e os Reptilianos. Também precisamos salvar o Doutor e inocentá-lo... –disse Melissa, tomando as rédeas da situação. -Eu proponho um ataque surpresa... Vamos surpreendê-los!

*     *     *

O tempo passou, o Doutor começou a voltar a si... Abriu os olhos e descobriu-se amarrado contra uma árvore de aço, com cipós fortes, do mesmo material. Ele tentou se mover, mas não teve sucesso: as amarras estavam muito apertadas. Até sua respiração tinha que limitar-se a ser curta. Entre os cipós e seu peito, não havia espaço o bastante para seus pulmões se enxerem o suficiente. Ainda estava um pouco tonto... Se tivesse tentado ficar de pé, provavelmente não conseguiria. Se rosto estava muito pálido, o suor brotava em sua testa. Conseguiu apenas pronunciar duas palavras aos suspiros: “Tirem-me daqui... tirem-me daqui...”.

Ele estava em um tipo de sala com pouca iluminação, e também trancada. Em cima de um balcão próximo dali, reconheceu ferramentas e instrumentos assustadores para testes. Ele não tinha forças nem para protestar. Viu ao longe algo verde com um uniforme branco se aproximar. Um tipo de médico réptil.

—O que você faz aqui? –perguntou-lhe severamente.

—Eu... Eu... –suspirou o Doutor. Encontrava-se muito fraco. Teria desmaiado se o réptil não o tivesse reanimado impacientemente.

—Responda! –ralhou o homem-réptil.

—Madame Vastra... Não acha que está sendo mandona demais? Olhe para mim: estou acabado! –tagarelou ele, meio sonolento. –Você tem que aprender a controlar esse ego ou será ele que tomará o controle de tudo...

—Pare de brincar! Não sou Madame Vastra nenhuma! –retrucou o réptil enfurecido. -Agora responda minha pergunta, humano insignificante!

—Ei... Também não precisa ofender! –replicou o Doutor fazendo uma careta, ocasionada pela tentativa de mexer um braço. -Onde está Madame Vastra? Tenho certeza que ela esclarecerá tudo...

—Está blefando! Não há Madame Vastra nenhuma aqui...

—Como assim não há? Ela é sua guerreira boa pinta, traga-a aqui e talvez eu possa cooperar...

—Ah... Gosta de joguinhos, hein? –disse o Reptiliano com um olhar malicioso. –Então veja se gosta desse: Eu disse para me responder o que faz aqui ou então eu partirei direto para minhas táticas rápidas e eficazes de adquirir respostas, e adivinhe, você não gostará muito de descobrir como funciona essa parte do jogo...

—É uma ameaça? Isso não funciona comigo. –murmurou o rapaz, dolorido. –Mas só de curiosidade, quem quer saber essas informações?

—A raça Reptiliana. Agora diga-me: O que quer conosco? Por que desceu até nossas terras? Você é um dos responsáveis pela nossa devastação?

—O quê? –estranhou o Doutor. –Quem quer sua devastação?

Vocês humanos estão tentando acabar com nossas crias. Sem elas pereceremos! Não teremos nossos jovens, então a raça Reptiliana se extinguirá! Não é um bom plano, meu rapaz... Devo admitir que foi muito tolo de sua parte pensar que seríamos tão ingênuos de aceitar tudo pacificamente... Sem ao menos lutarmos! Se for guerra que vocês querem, é guerra que terão!

—Uma... Guerra? Quem quer uma Guerra? Eu não. Odeio as... Guerras. –gemeu o Doutor, quase desmaiando novamente. O Reptiliano apertou seu rosto com força para mantê-lo acordado.

—Vai querer cooperar do modo mais fácil ou do mais difícil? –perguntou ameaçadoramente. Como o Doutor não respondeu, este apanhou uma seringa que continha um líquido verde dentro e apontou-a para o rapaz, indefeso.

—Então acho que será do modo mais difícil. Não tem problema! Será divertido extrair à força, as informações necessárias de você...

—Ah...? –o Doutor nem conseguia se manter acordado. O Reptiliano estava prestes a aplicar-lhe o que quer que fosse aquilo, quando foi surpreendido; Levou um soco e uma rasteira. Caiu sem saber quem o atacara. Levou consigo a seringa que espatifou-se imediatamente ao sofrer o baque contra o chão.

—Doutor! –Luisa correu desesperada ao seu encontro, enquanto Melissa se recompunha massageando o punho por conta de um dos golpes que dera no réptil. Agustina e Malohkeh vieram logo atrás, dando cobertura às meninas. –Shhhhh... Está tudo bem agora. Não se preocupe, nós estamos aqui...

Ela acariciou seu rosto com carinho. Mesmo estando inconsciente, um sorrisinho manifestou-se em seus lábios, como se soubesse estar agora, em boas mãos.

—O que devemos fazer para soltá-lo? –perguntou Melissa à Malohkeh.

O homem-réptil imediatamente correu para um painel de controles a um canto, na qual puxou uma alavanca que provocou o imediato afrouxamento dos cipós da árvore. O rapaz teria despencado direto para o chão se Luisa e Agustina não o tivessem segurado. Transportaram-no ainda adormecido, com certa dificuldade (ele era pesado, mesmo para um cara magricela), passaram despercebidos pelo alojamento onde ficavam o restante dos guardas e escaparam para um ponto afastado do laboratório.

O Doutor ainda dormia, quando a confusão recomeçou:

—Estão ouvindo? Fomos descobertos! Já devem ter tomado conhecimento de que o guarda foi nocauteado! Precisamos de um plano, e rápido! –grunhiu Malohkeh agitado.

—Precisamos acordar o Doutor! –falou Luisa. –Ele é o único que saberá o que fazer...

—Ok! E como exatamente faremos isso? –indagou Melissa.

—Deixem comigo –garantiu Agustina. Ela inclinou-se e beijou-o de novo. No mesmo instante ele pareceu recobrar a consciência.

—Não TARDIS... Mais cinco minutinhos querida... –murmurou ele despertando; os cabelos totalmente dos avessos, o corpo dormente, a cabeça explodindo em dor: ele com certeza não estava bem. –Ah... Oi todo mundo! Sou eu ou o cosmos é que está sonolento? Eu não entendo: Por que vocês estão oscilantes? Estão ficando duplicados também... Será efeito da cafeína?

—Em primeiro lugar, nós não estamos oscilando, e em segundo lugar, você nem tomou café! –replicou Luisa. –Pare de bancar o bobo... Precisamos de você! Sua ajuda é necessária!

—Necessário é um copo de café... Eu adoraria tomar um agora. Faz bem pro... “Ai!” –gemeu ele indignado. –Por que você me beliscou?

—Força do hábito –disse Melissa indiferente. –Vê se acorda “bela adormecida!”, nó estamos com problemas!

—Problemas? E vocês acham que estão com problemas? Veja só: Eu tenho um super plano que pode nos salvar de todos esses “verdinhos carrancudos” e não sei onde foi que o coloquei!—disse ele, aparentemente sob o efeito de alguma droga. Malohkeh tentou não ficar ofendido com aquela descrição de sua espécie.

—Então quer dizer que você tem um plano? –sorriu Luisa esperançosa.

—Tenho! É claro que tenho! Eu sou o... Ahn... –ele fez uma pausa. –Calma. Não consigo me lembrar...

“O Doutor”. Você quer dizer? –completou Melissa.

O Senhor do Tempo encarou-a por um momento, analisando o que ela dissera.

Não é isso não –negou, inesperadamente. -Mas até que me cai bem... Acho que vou ficar com esse nome –disse, meio abobado. –Alguém quer ouvir uma canção? Eu conheço todas do Frank Sinatra...

Ah! Pelo amor de Deus! Desculpe Frank, não é nada pessoal... –Melissa revirou os olhos e tacou-lhe um tapa na cara.

—AI! –gemeu ele massageando o rosto. –Que é que deu em você mulher!? Quem lhe deu permissão de me estapear? “Menina irritante...”

—Me chamou de quê? Ah. Está certo. Agora é ele mesmo... –suspirou Melissa. O amigo finalmente voltara ao seu estado normal (que pra variar, era bem doido também).

Pelo gelo do Asilo dos Daleks! Quem é esse? –disse o Doutor esquivando-se rapidamente de perto do Reptiliano ali presente.

—Calma! Eu sou Malohkeh, cientista representante da raça Reptiliana. Não estou do lado dos guardas como você pensa. Estou ajudando vocês... Desculpe pelo susto.

—Ah. Aí a coisa muda de forma... Prazer em conhecê-lo –o Doutor apertou sua mão, um sentimento de imensa curiosidade tomou conta dele. –Desculpe a pergunta, mas por que está nos ajudando?

—Eu sempre ajudo as pessoas, é meu dever. Sou um cientista. Meu trabalho serve para instruir melhor uma civilização inteira. Esse cargo é adquirido por todos os meus antepassados. É uma herança, passada de geração para geração. Agora coube a mim seguir o exemplo de meu pai,  de meu avô, de meu tataravô e assim por diante.

—Mas você não é muito novo para ser um cientista? –perguntou o Doutor interessado.

—Tenho exatamente 500 anos. É uma boa idade para se exercer uma profissão.

—Ah. Sei como é. –sorriu o Doutor. –Eu estava no ápice com essa idade, cheio de sonhos... Agora tenho 1.000 e tantos anos... Estou um pouco velho para fazer trabalhos repetitivos. Nunca fui muito bom com essa coisa de “paciência”.

—Dá pra ver. –cutucou Melissa, feliz por ter de volta o amigo para irritar. Ele só lançou-lhe um olhar rápido e retornou ao que falava.

—Mas você, meu caro amigo verde, não me é estranho... Será que já nos vimos antes?

—Eu me lembraria se houvesse acontecido. –disse o réptil com sinceridade.

—Certo. Sei que está se divertindo tentando se lembrar dele, mas Doutor... E aquele plano que você nos prometeu?—cantarolou Luisa, um pouquinho ansiosa.

—Plano? Vocês não tem um? Eu pensei que tivessem tido tempo suficiente para pensar... O que ficaram fazendo? Compras? –indignou-se ele.

O quê?—gritaram todos nervosos.

—Não, não. Eu estava brincando!—sorriu o Doutor, sempre bem humorado. –Deviam ter visto as caras de vocês...

Todos reviraram os olhos, irritados pelo susto.

—Talvez me lembrar de onde o conheço não seja realmente importante agora, mas preciso de informações: Por que não começam me deixando a par do problema? Digam-me o que está acontecendo aqui embaixo.

O reptiliano explicou-lhe todos os detalhes sobre o problema da Torre de Pisa e como esta estava afetando a criação de sua espécie. O Doutor pareceu ficar horrorizado. Como era possível que uma construção de pedra pudesse causar tantos danos? Ao fim das explicações, começaram-se os preparativos.

—Bom, o plano é o seguinte: Nós vamos pedir uma audiência. Tentaremos nos explicar, entrar num acordo, sairemos o mais pacificamente possível dessa história. Não queremos comprometer a raça humana. Faremos tudo com calma e precisão... Alguma pergunta?

—Sim. –disse Luisa com a mão erguida. -O que exatamente nós vamos fazer?

—Será um plano curto e objetivo. Duas de vocês ficarão aqui, podem ser Agustina e Melissa, “a menina irritante...”

—Pare de me chamar assim! –esbravejou Melissa, cruzando os braços.

—Isso nunca! –ele estalou os dedos e continuou a tagarelar seu plano. –Vocês duas conversarão com os líderes Reptilianos e tentarão entrar num acordo: Lembrem-se que não queremos arranjar um confronto! Então sejam diretas e precisas.  Não demonstrem medo! Eles sentem quando vocês ficam apreensivos, são capazes de usar seu medo contra vocês, portanto cuidado. Enquanto isso, para parecer mais real a encenação, Malohkeh fingirá ser quem as capturara, assim vocês não correm risco de serem forçadas a nada. Será tudo uma questão de ensaio. Luisa! Você pode vir comigo. Nós iremos até a superfície... Pegaremos a TARDIS, então voltaremos no tempo e consertaremos tudo. Essa parte é teórica. Teremos de improvisar um pouco... Prontos?

O Doutor esticou a mão direita, os outros colocaram as suas mãos em cima da dele e ergueram-nas em um só movimento, como em um “viva” ao belo plano e ao seu brilhante trabalho em equipe.

—Agora sim! Vamos arrasar com eles! –gritou Melissa animada. O Doutor lançou-lhe um olhar de censura e ela se redimiu dizendo: –No bom sentido, foi o que eu quis dizer... Ah! Seu sem graça... Você nunca deixa eu me divertir!

Antes que o Doutor pudesse travar um passo em direção a saída do esconderijo, Agustina surpreendeu-o. Ela segurou seu braço de modo insistente, como se tivesse medo de separar-se do rapaz. Alguma coisa não estava certa. Agustina era vista por ele como uma mocinha bem corajosa e decidida; seu maior defeito era a falta de valor, que não se dava o luxo de dar a si mesma. Ela era inteligente, tinha jogo de cintura... Se não o tivesse, não teria mergulhado de cabeça nessa aventura, pra começo de conversa. Foi ela quem fora juntando-se aos poucos com o trio. O Doutor confiava nela. Sabia que ela seria leal, assim como soube o mesmo sobre Luisa e Melissa quando as viu pela primeira vez; ele tinha esse dom. Não entendeu de imediato no que aquele gesto iria levá-los, mas não ignorou seus motivos: Ela parecia preocupada e inquieta, talvez precisasse de algum tipo de consolo. Por fim, achou melhor parar e ouvir o que a moça tinha a dizer.

—Tu não podes fazer isto! –persuadiu ela. –Não pode arriscar-se desta maneira! E se tu fores pego? Como executaremos o restante do plano? Só tu sabes como fazê-lo!

—Não se preocupe. Vai dar tudo certo. É só confiar em mim...

—Eu já fiz isso antes! –retrucou ela, meio angustiada. –Tu disseste para que eu e tua amiga levássemos um capacete ao subsolo! Tu prometeras que seria seguro e descubro que nem mesmo era tu que falavas! Se fosse o caso, estaríamos agora nas garras do inimigo...! Tu me fizeras acreditar que eras um homem comum, mas agora descubro que nem humano és! Não tens uma casa, nem um nome... Aquelas duas meninas nem sabem quem tu és de verdade, mas aceitaram seguí-lo de bom grado! Ficas andando por aí, chamando pessoas inocentes para acompanhá-lo em viagens não estipuladas! Aposto como nem mesmo viestes para cá de barco! Essa TARDIS não é um navio, é? Só em um dia, se é que ainda é dia, descobri que tu não és humano, que tens uma idade impossível e que moras fora da Terra! Sei que pareço frustrada, mas essa não é a intenção! Não o culpo por nada disso, só não entendo o porquê escondestes isso tudo de mim! Por acaso pensou em me dizer à verdade, por um só momento?

Silêncio. O rapaz ficou perplexo. Não sabia nem o que dizer a ela. As coisas foram fluindo tão fora de escala, que ele esquecera-se de que não dissera nada a ela. Sentiu-se horrível por tê-la feito sofrer, não queria que isso se repetisse. Como faria para se redimir com ela, agora que já soubera de tudo? A mascara caiu, a farsa toda foi descoberta, não havia mais nada a se dizer, nem o que explicar, o problema é que Agustina ouvira tudo isso do pior modo possível: Através dos outros. Se fosse o Doutor que a tivesse deixado a par de toda a verdade, com certeza ela não reagiria desta maneira. Mas agora era tarde até para se desculpar. Ele quebrara a confiança que existira entre eles e conquistá-la novamente não seria uma tarefa fácil. Por fim, optou por pedir perdão, mesmo sabendo das inúmeras possibilidades de não ser perdoado. Era a coisa certa a se fazer, e como um verdadeiro lorde, era seu dever cumprir a regra.

Ele apanhou a mão da moça e se ajoelhou. Ela ficou a contemplá-lo como se não esperasse uma reação como esta.

—Eu sei que errei. –disse ele, os olhos fixos nela. –Fui um completo idiota... Devia tê-la deixado a par dos fatos. Mas não quis esconder a verdade, se é o que pensa. Em nenhum momento tive vergonha de expressar o que sinto, assim como você teve a iniciativa de me convidar para conhecer a torre. Coragem é o que não nos falta, mas encarar a realidade é às vezes um passo muito difícil. Perdoe minha atitude, eu menti e sei o mal que lhe causei ao fazê-lo. Não sou realmente um homem. Talvez nem ao menos seja digno de confiança, mas pergunto-lhe a seguinte sentença: Se eu tivesse dito ser um Alien, de 1000 anos, que vivesse em outro planeta que não fosse o planeta Terra, você teria me julgado inicialmente?

Agustina ficou em silêncio. Sabia o que teria feito: não teria acreditado em nada e ainda por cima chamaria-o de louco. Agora ela entendia. Precisava passar por uma experiência realista como essa para poder compreender melhor esses fatos, ou nem ao menos estaria considerando-os agora como verdade.

—Tu tens razão. Fui uma boba ao pensar em criticá-lo! Devia ter previsto as conseqüências se houvesse ocorrido da maneira que sugeri anteriormente... –admitiu ela.

—Não –o Doutor se ergueu. -Minha bela e doce Agustina, você não está entendendo. Sabia que precisava me questionar... Você fez certo! Do contrário, não teria solucionado o mal entendido. Se tivesse ignorado essas revelações, não teria chegado à compreensão que chegou. Você, a balconista da pousada, idealizadora e sonhadora como de fato é, precisava me questionar, para poder saber a verdade. Você é brilhante por isso. Por que tem coragem e voz ativa. É por isso que a mandei junto de Melissa para executar a parte do trato entre as raças... Como uma missão de paz. Não percebe? Vocês duas são as mais qualificadas para essa tarefa!

—Eu não sei se conseguirei –disse ela, olhando-o nos olhos. –E se eu fracassar?

—Fracasso é sempre uma opção. –falou ele acariciando seu rosto, fazendo-a sorrir. –Mas quer saber? Você não irá fracassar.

—Como pode ter tanta certeza?

—Eu só tenho. –ele fitou-a demoradamente. -Veja bem: Todos nós temos as mesmas chances de fracassar... Até mesmo eu! Todos podemos errar, mas nós temos uma chance de vencer, e isso já é um consolo. –sorriu ele encostando sua testa na dela, aproximando seus rostos. –Eu apenas sei: Você não irá fracassar.

Agustina sorriu aliviada. Estava feliz. Tinha alguém que realmente acreditava nela, e não era uma simples pessoa! Era o Doutor. Mas não tinha somente a ele, tinha feito muitos amigos nessa aventura e agora parecia saber o que fazer. Tinha se encontrado novamente. Sabia do que era capaz.

—Tudo bem. Então vamos ao plano! –sorriu ela beijando-o, felicíssima.

—Isso aí! –aplaudiu Luisa ao ver aquela cena tão feliz e emocionante. –Valeu Agustina! Uhu!

—Você está bem? –perguntou Melissa à amiga.

—Estou ótima. –sorriu a outra, otimista. –Tenho a impressão que as coisas vão começar a dar certo agora.

—Vamos pessoal! Não temos muito tempo... –avisou  Malohkeh que ficara de vigia esse tempo todo. –Doutor, pegue isso. –ele atirou ao rapaz um bracelete com uma tela embutida. Imediatamente o Doutor colocou o objeto no pulso. –É um GPS. Desculpe pelo estado em que se encontra, está um pouco velho, mas vai funcionar perfeitamente.

—Brilhante! Posso usá-lo para encontrar a saída... –disse o Doutor impressionado. –Obrigado amigo.

—Ele mapeia todas as nossas entradas. Também mostra os corredores que estão livres. Não é muito, mas já é uma garantia de que vocês não vão cruzar um corredor cheio de guardas. –explicou o Reptiliano.

—Malohkeh! Eu o amo por isso! –sorriu o Doutor entusiasmado. –Engraçado. Não me parece à primeira vez que essas palavras saem da minha boca...

*    *    *

O plano foi iniciado. Eles seguiram em direções diferentes. Malohkeh ajeitou a armadura e apanhou sua arma, Melissa e Agustina, com as mãos amarradas nas costas, bancaram as “rebeldes capturadas” e seguiram seu caminho de encenações. Enquanto isso, o Doutor e Luisa seguiram na direção oposta, pelos corredores subterrâneos, sem ameaças de guardas. O Doutor nada contestou o aparelho que Malohkeh confiou a ele. Na verdade, ele e Luisa foram logo seguindo, o mais rápido possível, pelos caminhos que eram ditos como “desbloqueados” ou “sem presença de guardas”. Ambos atravessaram inúmeros túneis de pedra, com estranhas folhas sob suas paredes –nem houve tempo para apreciar a decoração exótica, Reptiliana. –Luisa começou a sentir um nervosismo nada encorajador: parecia que quanto mais andavam, mais entrelaçado ao subterrâneo ficavam. Aquilo era igual a um labirinto, só que não havia o perigo de serem engolidos pelas paredes, o que já era um bom começo. Pelo que sabiam, iriam pegar um atalho para chegar à superfície. Mas não deviam se demorar lá em cima: cada segundo era valioso, pois enquanto estivessem viajando na TARDIS, os outros três estariam ganhando tempo com encenações e argumentos para tentar negociar e distrair os antigos proprietários da superfície da Terra. Luisa respirou fundo. Suas pernas já doíam de tanto correr... Será que o amigo nunca se cansava? Pensou em perguntá-lhe isso, mas antes que tivesse chance, ouviu dele o inesperado:

—É aqui. Se escalarmos esse túnel sairemos diretamente na superfície, bem ao lado da Torre de Pisa.

—Ótimo, mas não acha que tivemos que andar demais? Quero dizer, estávamos agorinha bem em baixo de onde a torre fora construída... Por que pegamos outro caminho se podíamos ter voltado por onde entramos inicialmente?

—Por que, de acordo com Malohkeh e com esse GPS –ele balançou o objeto no pulso de modo que ela pudesse vê-lo. –A nossa antiga entrada fora tomada por vigias. Estou falando de muitos e muitos guardas Reptilianos, doidos para capturarem mais algum humano desavisado que decida tentar chegar “a fundo” nas localizações. Ou seja, nossa passagem foi interceptada. Teríamos que dar a volta ou dar de cara com o inimigo.

—Melhor dar a volta. –constatou ela, mordendo o lábio.

—Pode crer. –ele lançou-lhe um olhar de confirmação. –Venha. Vamos acabar logo com isso.

O Doutor começou a apalpar a parede como se procurasse uma passagem escondida. No fim, seus dedos tocaram uma folha que moveu-se fazendo com que uma porção de terra escorresse da frente de um tele-transporte escondido. Os dois se entreolharam, um sorrisinho apareceu-lhes nos lábios. O tele-transporte estava em desuso, talvez levaria algum tempo para conseguirem manuseá-lo, mas com uma ajudinha da chave sônica, pareceu fluir perfeitamente. Os dois correram para a cabine do tele-transporte e ficaram cara a cara um com o outro. O fato era que não havia muito espaço lá dentro: a capacidade era de apenas uma pessoa ou réptil por vez. Luisa agradeceu muito por ambos serem magros, ou então não serviriam juntos lá dentro. O Doutor acionou um controlador com a chave sônica, o que fez o aparelho decolar rumo à superfície, instantaneamente.

—Ra-rá! Quem precisa de manual quando se tem uma chave dessas!? –comemorou ele.

 Em poucos segundos chegaram à superfície. Desembarcaram no mesmo instante e correram ao encontro da Torre de Pisa. Mas havia algo errado: Onde estava a Torre?

—Como assim viemos parar aqui? Que erro de cálculos monstruoso foi esse? –Luisa olhou desesperada para o amigo que xeretava com mais precisão o aparelho preso ao pulso. –Você estava com o GPS, me diz então como nós conseguimos errar o caminho!

—Você está certa. Deveríamos estar em outro lugar, mas o GPS estava programado certo! Por que viemos parar aqui? –desabafou ele indignado. Eles olharam ao redor... Ao invés de estarem na enorme praça da torre, estavam na rua circular da Pousada, com todos os seus becos laterais e a pequena pracinha central, agora com mais habitantes que antes. –Eu não entendo, estava dizendo bem aqui: Piazza Madrina.

—Quê? Mas que raio de nome é esse? –Luisa puxou o pulso do Doutor para poder verificar, ela mesma, o que estava escrito. –Não acredito...

—O que foi?

—Estávamos vendo o mapa de cabeça para baixo! Veja: O nome da praça correspondente à Torre de Pisa é Piazza Arcivescovado, ou seja, “Praça Arcivescovado”. A que estamos agora chama-se Piazza Madrina. Viu? “Praça Madrina”. E está localizada a várias quadras da torre...

—Deixe-me ver. –o Doutor inclinou-se para observar as localizações. Havia muitas “Piazzas” em toda a região. –Mais que droga! Será que tudo aqui em Pisa tem que começar com “praça”?

—Não sei, mas acho que devemos nos apreçar. –avisou Luisa. –Bem que eu achei que estávamos andando muito no subterrâneo apenas para sair ao lado da torre... Por que teríamos que fazê-lo se estávamos bem embaixo dela? No máximo teríamos que ter andado só um pouco para contornar o lugar e escapar “pelos fundos”.

—Você está certa. Mas agora não adianta ficarmos nos criticando: devemos pensar em como chegaremos lá há tempo. –disse ele, olhando além das casinhas e sobrados da rua. –Não temos mais os cavalos. Não há como... –então parou de chofre. –Ah não...

—O quê que houve? –apreçou-se ela em perguntar.

—Minha TARDIS. Eu fiz o plano contando com ela e agora percebo que na verdade nem sei onde ela está! O fato é que, mesmo que chegássemos a tempo, não poderemos viajar pelo Vórtice Temporal e consertar tudo sem ela...

A situação era mesmo crítica. Como poderiam consertar tudo sem ajuda da máquina que faria o trabalho? O Doutor esqueceu-se desse pequeno detalhe. Perdera sua caixa azul desde o momento em que pôs os pés na cidade... Esquecera-se de procurá-la. Na verdade, esquecera-se até mesmo do fato dela estar perdida. Agora tudo resultaria em fracasso: Não importava o quanto pensassem, sem a TARDIS, não haveria nada que pudessem fazer... Bem, a não ser que alguém tivesse uma idéia brilhante. A propósito: era um ótimo momento para isso.

—Doutor! –Luisa gritou, sobressaltando-o. –Nós erramos o caminho para a Torre, mas viemos parar justamente onde precisávamos estar, pois a TARDIS está em um desses becos!—lembrou ela, empolgada. –Tem certeza que não há nenhuma forma de localizá-la? Por que não tenta a chave sônica? Talvez a TARDIS reconheça o sinal e venha até nós...

—Não. Estamos muito longe. Eu já disse: Isso está fora de cogitação. Completamente impossível –negou ele, então lançou-lhe um sorrisinho torto. –Ao menos que...

—Ao menos que o quê? –instigou ela.

—A-rá! Eu já sei! –gritou ele entusiasmado chutando o ar em um salto, fazendo a menina rir. –Minha cara Luisa, você por acaso não teria um apito na bolsa, teria?

—É pra já! –ela vasculhou a bolsinha e logo entregou-lhe um apito de metal, comum. –E para quê quer usá-lo? Vai chamar um táxi?

—Não seja boba –sorriu ele misterioso. –Vou chamar a polícia!

 Luisa não entendeu de imediato, mas achou melhor não argumentar. Havia muitas coisas brilhantes que o amigo dizia, mas que não faziam sentido algum a princípio, pelo menos ela tinha uma certeza: ele não estaria fazendo isso por brincadeira.

—Veja se você consegue entender: Se eu fizer a um apito comum como esse, uma trapaça, passando minha chave de fenda sônica desta maneira sobre ele... Teremos o que? Um apito sônico!—riu ele divertindo-se. Em seguida levou o objeto a boca e assoprou com força.

No começo, não rendeu nada além de olhares curiosos e objeções vindas das pessoas nas ruas, que olhavam em sua direção. Alguns incomodados tamparam os ouvidos por causa do som estridente. Luisa já podia imaginar vários pontos de interrogação surgindo da cabeça dos moradores locais, mesmo assim, ela sorriu. Gostava das maluquices do Doutor. O som do apito continuou a atravessar-lhes os tímpanos até que um gemido rouco e arrastado tomou lugar da sinfonia desafinada. Este som foi crescendo e se tornando mais próximo até que, sem mais delongas, uma cabine policial azul apareceu bem na sua frente, materializando-se lá. O Doutor abriu um imenso sorriso que chegava-lhe de orelha a orelha. Luisa também não escondeu sua empolgação: Começou a bater palmas e abraçou o amigo, comemorando. Ambos encaminharam-se para as portas da cabine, deixando os demais presentes espantados com tamanha aparição.

—Minha nossa! –murmurou uma mulher, assustada, que passava por lá.

—Como foi que fez isso? –quis saber Luisa curiosa.

—Lembra-se que minha TARDIS tinha um alarme de carro embutido? Bem, ela também tem um GPS sensível a rastreamento de ressonância sônica. Eu até tinha me esquecido disso... Mas aí, foi só dar uma calibrada no apito e... Barabumba! Está feito! -disse ele, animado, destravando a cabine para que pudessem entrar.

—Você é mesmo incrível! –sorriu Luisa, olhando para ele.

Antes que pudessem finalmente partir, uma senhora, já conhecida por eles por causa de umas tais bengaladas indesejadas, veio abordá-los. Ela começou a chamá-los de feiticeiros, falou ás pessoas ao seu redor de como eles a haviam “agredido” da ultima vez e mais um monte de lorotas. Aquilo deixou o Doutor profundamente irritado.

—Ah! Vê se fica quieta!—ralhou ele rudemente para a mulher. Esta manuseava uma outra bengala novinha em folha, e mostrava-a como que intimidando-os. –Deixe-nos em paz! Por que não se ocupa com coisas importantes como tirar uma soneca, mulher? Vá fazer algo de útil!

A velha senhora pareceu ficar sem reação por um momento. O Doutor achou ter “mostrado pra ela”, mas esta logo se recuperou do efeito silenciador daquelas palavras e olhou-os com raiva. O Doutor e Luisa meteram-se rapidamente dentro da TARDIS antes que a velha pudesse pensar em atacá-los novamente. Quando a cabine levantou vôo, ela assustou-se e arremessou no ar, a bengala, que atravessou o lugar onde estivera anteriormente a caixa azul, agora invisível. A cabine desapareceu deixando a praça para trás, e deslocando-se sem controle sob guinadas e rodopios em pleno Vórtice Temporal.


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Notas finais do capítulo

E aí gente? Gostaram do capítulo de hoje? Quanta maluquice! kkkkk

Pois é, o Doutor se esqueceu mesmo de que havia perdido a TARDIS -isso porque os Reptilianos lhe deram uma droga para adormecer, e aquilo provavelmente mexeu com a cabeça dele. A sorte foi que "errando o caminho" eles acabaram chegando ao lugar certo para poder buscar a TARDIS.
Cada coincidência doida... kkkkk

*Mais uma coisa: Conversando com uma amiga minha, precebi que tinha esquecido de mencionar que a história do "capacete" era tipo uma senha. Malohkeh perguntou se a Meli "trouxe o capacete" porque queria ter certeza de que ela tinha vindo ao subterrâneo pelo mesmo motivo de Luisa e Agustina. Anteriormente, ele já havia encontrado com as duas e sabia que elas tinham decido até lá respondendo ao seu chamado (deduziu isso porque elas trouxeram um capacete). Já Melissa não desceu com capacete algum, e ele quis se certificar de que ela fazia parte da equipe ou era uma mera intrusa.

Agora Sim, estamos nos encaminhando para o final desse episódio (aaaaah). Pois é, mas não fiquem tristes. Depois do próximo capitulo (que finaliza a aventura na Itália), ainda tem muitos outros "episódios" pela frente. :D

Beijos!!!



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