Luisa Parkinson: A Companheira Fantástica escrita por Gizelle PG


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Tudo bem?

Quem está a fim de ler Doctor Who hoje? Bem, esse é só o Prólogo, mas não se preocupem, logo vem mais por aí...
Ah! Só mais uma coisa: eu já expliquei a regeneração "Três em Um" do Doutor, mas quero deixar bem claro que vocês podem imaginar na cena, qualquer um dos Doutores que forem de sua preferência (inclusive algum mais antigo, porque às vezes o Doutor transparece algum gesto, ação ou sentimento que remota à eles).

Então deixem a imaginação conduzir vocês...

Espero que gostem!



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A biblioteca de Nâncoda  Marks-3º estava vazia. O brilho envelhecido dos dois sóis que se punham dos lados opostos do horizonte, ainda iluminavam todas as alas internas do galpão florescente. Na silenciosa ala de leitura só restara um homem, revirando insistentemente um livro denominado Melody Malone, de uma edição especial. O rapaz alto e magro mantinha os olhos vidrados no livro, sem realmente lê-lo. Distraidamente, ele apanhou um relógio de bolso de dentro de seu casaco vinho, comprido (usava roupas pouco comuns) e conferiu as horas: naquele planeta, o conhecido ar de fim de tarde vinha adiantadamente, ás três e meia e não ás seis horas. Ele passou a mão diversas vezes pelo rosto e entre os cabelos, desalinhando-os por baixo do chapéu de caubói que lhe escondia a testa; parecia aflito, até mesmo desgostoso com alguma coisa. Aquele clima de paz e sossego não enganava ninguém... A tempestade chegaria logo após a longa temporada de bonança. Não fazia diferença: Querendo ou não, o seu dia chegaria. Qual dia? O Dia em que ele teria que erguer a cabeça e seguir em frente, sem mais olhar para traz. O problema era que ele não queria seguir em frente; não desta vez. Não hoje. Nem nunca mais. Só queria poder reverter às coisas... Ter uma nova chance de poder fazer a diferença. Com sorte, poderia alterar o futuro, isso se conseguisse primeiro, mudar o passado, o que era definitivamente impossível naquele momento. Seus olhos tristes se espreitaram, forçando a visão para conseguir ler as letras miúdas das notas de rodapé: observações, idéias vagas, opções, referencias e tudo o mais. Estava naquela fase de manusear o livro, cheirá-lo, revisar cada observação, cada nota do autor, cada amassado, a sinopse na contracapa, o marca página lateral onde ficavam o maior número de Spoillers; cada lugar onde poderia estar marcado alguma informação importante. Ninguém poderia imaginar, mas naquele momento, aquele livro era o mais importante de todo o universo. Simplesmente por um pequeno detalhe: Fora escrito por uma amiga sua. Talvez mais do que isso... Enfim, a trama enfatizava os bons momentos que haviam passado juntos e, ao mesmo tempo, existia em memória de seus familiares mais próximos, os pais dela. No passado, os três foram grandes amigos do rapaz; amigos íntimos e inseparáveis, que já não estavam mais com ele... Não por opção, mas por um golpe duro e insensível do destino.

   Novamente chegou na parte mais importante de todas, para ele: o Epílogo. Não por simbolizar o fim, mas por conter as notas finais do autor. Aquele epílogo fora escrito exclusivamente em sua dedicatória. Ele já havia lido um milhão de vezes e leria mais outras mil se isso significasse sentir-se perto daqueles que ele amava. Curiosamente, aquele livro era o único objeto que passara de mão em mão entre todos os quatro amigos, nos últimos tempos, e que acabara agora ficando integralmente sob seus cuidados: nas mãos do último que sobrara.

   Era sempre ele o último. E sempre seria. Não havia como ser diferente...

   Conformado em parte, com seu papel no universo, ele fechou os olhos, sentindo o peso do silêncio envolvê-lo por completo: aquela era uma história verídica. Um adeus expresso em folhas amareladas. A história do fim dos bons tempos; a despedida de seus fieis companheiros e, sem mais delongas, o recomeço de sua vida solo.

   Estaria sozinho desde então, mesmo que isso desagradasse por completo sua melhor amiga. Ele não poderia se arriscar novamente. Não depois de tê-los perdido daquela forma... Não agüentaria outra perda como essa. Disso ele tinha certeza!

   Ele colocou os óculos de leitura e respirou profundamente, reunindo toda a coragem e força que precisaria para conseguir reler mais uma vez o Epílogo, sem chorar:

Epílogo: Por Amélia Williams.

“Olá, velho amigo.

E aqui estamos você e eu na última página.

Quando ler essas palavras, Rory e eu já teremos partido. Saiba que vivemos bem e fomos felizes. E acima de tudo, saiba que sempre amaremos você. Mas às vezes eu me preocupo com você. Acho que quando formos, você não vai querer voltar aqui por um tempo e talvez esteja sozinho, o que você nunca deve ficar. Não fique sozinho, Doutor. E faça mais uma coisa por mim: Há uma garotinha esperando em um jardim. Ela vai esperar muito tempo, então precisará de muita esperança. Vá até ela, conte-lhe uma história. Diga-lhe que se for paciente, terá dias que nunca irá se esquecer. Diga que irá para o mar lutar contra piratas. Que ela vai se apaixonar por um homem que esperará 2.000 anos para mantê-la á salvo. Diga-lhe que ela servirá de inspiração para o maior pintor de todos os tempos e que salvará uma baleia no espaço sideral. Diga á ela que esta é a história de Amélia Pond. E que é assim que termina.”

   Ele retirou os óculos de armação redonda e prensou-o contra sua têmpora, fechando os olhos. Não conseguia acreditar que aquilo era mesmo um adeus. Não podia ter acabado! Aquele não era o fim definitivo! Não era! Como assim não haveria mais volta? Desde quando acabaram-se as segundas chances? Como o universo poderia ser tão esplendoroso e, ao mesmo tempo, tão injusto? Por que fizera isso com ele? Justamente agora, quando estava começando a se acostumar com a idéia de fazer parte de uma família!

   Agora, mais uma vez, lá estava ele: decepcionado, com o coração em pedaços... Fugindo do futuro. Evitando-o. Correndo para o mais longe possível.

   Contudo, não se importava realmente com a parte da “correria”. Na real, ele correra sua vida inteira. Certamente, exercitar as pernas mais um pouco não faria mal algum... O problema central era seguir em frente, e permitir que tudo que viveram juntos caísse no esquecimento.

   -Ah, Ponds... –ele murmurou, ainda de olhos fechados. –Como poderei seguir sem vocês?

   As ultimas linhas escritas por Amy Pond (Williams) ressonaram em sua cabeça, como um fantasma:

“Há uma garotinha esperando em um jardim. Ela vai esperar muito tempo, então precisará de muita esperança. Vá até ela, conte-lhe uma história. Diga-lhe que se for paciente, terá dias que nunca irá se esquecer. Diga que irá para o mar lutar contra piratas. Que ela vai se apaixonar por um homem que esperará 2.000 anos para mantê-la á salvo. Diga-lhe que ela servirá de inspiração para o maior pintor de todos os tempos e que salvará uma baleia no espaço sideral. Diga á ela que esta é a história de Amélia Pond. E que é assim que termina”.

   Foi então que, só por um instante, um brilho de esperança acendeu-se em seu olhos, tornando-os otimistas.

   Teria que seguir em frente de uma maneira ou de outra, mas antes tinha um pequeno serviçinho á ser executado:

   -Ah... Amélia Pond! Minha doce Amélia... Nem as leis do universo são capazes de calar a sua voz! —ele sorriu imensamente, tomando conhecimento do seu próximo passo. Antes de “virar a ultima página”, teria que terminar aquele ciclo da melhor maneira possível... E que maneira melhor de se terminar algo, que da mesma forma que se começou? Um jardim. Uma garotinha ruiva de sete anos que era cuidada pela tia (que constantemente deixava-a sozinha). Uma garotinha sozinha em um casarão imenso e assustador. Uma garotinha que não se assustava com o simples fato de estar sozinha lá, mas sim com uma rachadura na parede de seu quarto. O que poderia ser melhor do que visitá-la uma ultima vez? –Amy Pond, ainda posso fazer uma última coisa por você... Prepare-se para rever o seu Doutor Maltrapilho!

   Ele levantou da cadeira da ala de leitura, guardando de uma vez só os óculos e o livro no bolso: tinha muito trabalho á fazer. O rapaz desatou a correr para fora da biblioteca e seguiu com o mesmo pique pelas ruas, até chegar em um beco lateral e encontrar, nas sombras, uma cabine policial azul dos anos 50, com suas teias de aranhas e arranhões estampados, demonstrando o quanto ele se ausentara, distanciados-se da sua rotina matinal, que eram suas viagens. Ele passou a chave na fechadura da pequena caixa azul e adentrou em seu interior, á principio todo escuro, mas que revelou-se em seguida, iluminado e muito maior do lado de dentro do que do lado de fora: Era sem dúvida uma nave espacial. A melhor nave do universo, para se ser exato.

   -Olá querida! –ele sorriu revigorado, falando com a nave. –Desculpe a demora desta vez. Eu precisava esfriar a cabeça...

   A cabine, que era na verdade uma coisa viva (ela tinha alma), fez ressoar em um eco amplo, um gemido rouco e arrastado, como se sentisse dor e irritabilidade, ao mesmo tempo. Ele empertigou-se em frente ao painel de controles, no centro da nave.

   “Vuuuuul...” “Vuuuuuul...” –rangeu a nave.

   -Onde foi que paramos mesmo? –o Doutor puxou uma televisão antiga no grande painel de controles e olhou-a com espanto. Lá estavam duas fotos, ambas da mesma mulher, mas com roupas e poses diferentes. Na primeira, estava vestindo um vestidinho vermelho curto, e seu cabelo castanho liso (com alguns cachos nas pontas) batia nos ombros; na segunda, tinha os cabelos presos em um coque que se escondia por baixo de um chapéu azul marinho emplumado, o vestido de época comportado, também era azul marinho, o saiote bufante batia nos calcanhares (era bem estilo do século XIX), usava luvas e sorria para a câmera de canto de lábio, imponente. –Ah! Isso mesmo... Clara Oswin Oswald. Um verdadeiro mistério pra mim até então... –disse pensativo. –Encontrei-a duas vezes até agora: uma no Asilo dos Daleks, outra em 1800. Sendo que nas duas vezes, eu não pude salvá-la. A pergunta que não quer calar: Como eu continuo encontrando-a se ela está morta?

   “Vuuuuuul!” “Vuuuuuuuuul!” –fez a cabine, tirando-lhe o foco da tela antiga. Ele imediatamente girou um botão e desligou-a, fazendo as duas imagens da moça, tanto quanto as informações pendentes sobre ela no canto da página (como num registro histórico seu), desaparecerem de vez. Então voltou-se totalmente para a cabine:

   -Sim, sim querida! Tem razão. Fui mesmo um velho tolo a ponto de não perceber a mensagem subliminar que Amy queria me dizer com o Epílogo logo que o li pela primeira vez...

   “Vuuuuuuuuuuuul”!

   -Naturalmente! Naturalmente! Mas acho que já chega de ficar tentando encontrar novas ofensas para descrever o quanto fui estúpido! –falou. -É claro que Amy estava todo o tempo querendo me lembrar da forma mais fácil de nos vermos uma ultima vez, além de conseguir se confortar com os fatos: Fazendo-a continuar a ter fé em mim pelo resto de sua vida...

   “Vrrrrruuuuuuuul”! –a caixa fez, arranhando os motores.

   -Desculpe querida! –pediu ele, enquanto passava uma flanela nos controles empoeirados do painel da sala de controles principal. –Esqueci de acionar os reguladores de pressão...

   “Vuuuuuuuuuuuuuul”!

   -Sim, sim. É claro que você tem todo o direito de ficar irritada e extremamente incomodada com isso. Eu acho que perdi um pouco o jeito de manejá-la... Queria que a River estivesse aqui. Sei que parece besteira, mas tenho a singela impressão de que ela pilotava um tantinho melhor do que eu... Só não conte isso pra ela, ouviu?

   “Vuuuuuuuuul” “Vuuuuuuuuul” “Vuuuuuuuuuuuuuuuul”!

   -Eu sabia que poderia contar com você, garota esperta! –ele acariciou um dos controles da nave, como se fosse um cachorrinho. –Sua menina levada... 

   “Vuuuuuuuuuuuul!” “Vuuuuuuuuul!” –a cabine rangeu mais uma vez. Desta vez de uma forma mansa, e bem baixinho.

   -Eu sei querida, também senti a sua falta... –ele sorriu, pesaroso. –Mas não se preocupe, minha garota Sexy, você continua em ótima forma e eu ainda consigo te guiar por todo espaço e tempo... Por entre as estrelas e as profundezas do Vórtice Temporal... –ele disse, poeticamente. –Mas hoje, nós temos uma missão agendada: Encontrar o Jardim de Amélia Pond, ainda criança. Será que podemos ir até lá, amor?

   “Vuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuul!” –a cabine ressonou. Um ressonar forte, rouco e determinado.

   -Ótimo! –animou-se ele ainda mais, correndo ao redor do painel de controles, quando todo o console interno da nave começou a chacoalhar, dando guinadas e solavancos em todas as direções. Ele gargalhou intensamente ao sentir-se de volta aos velhos tempos, ao mesmo tempo que brandia:

   -Amélia Pond! A garota do nome de contos de fada... Tão doce quanto uma princesa! A garota que esperou. A ousada, a louca a inigualável Amélia Pond, com seus sonhos encantados... Os seus sonhos com um Doutor Maltrapilho ainda estarão por vir. E ela terá esperança! Sim ela terá porque eu estou indo vê-la!—sorriu ele, de um jeito meio psicopata. –Espere por mim Pond! E espere acordada! Porque o seu Doutor está indo visitá-la! Rá!


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