O primeiro período acabou exatamente como eu imaginava, apesar da minha tentativa de me passar por um qualquer e entrar de fininho na sala de aula, fui “convidado” a voltar e me apresentar para toda a turma, teria sido algo normal, se não fosse eu a fazer! Acabei errando meu próprio nome e tendo que corrigir, e no caminho de volta a carteira esbarrei na de uma garota loira e derrubei algumas coisas. Durante todas as aulas as pessoas sempre ficavam olhando para mim enquanto cochichavam, apontavam e soltavam risinhos. Resumindo: foi um saco! E para piorar, a pessoa que eu mais queria ter visto não apareceu, Madeleine , a estranha garota de pele pálido-acobreada, que usava capuz e óculos escuros. Depois de entrar na fila e pegar o lanche, fui sentar sozinho em uma das mesas livres ( não sem antes tropeçar e ter de equilibrar a bandeja) dei uma mordida na maçã enquanto ouvia nirvana nos fones de ouvido, e antes que eu pudesse pensar uma conhecida mão entrou em foco enquanto balançava na frente do meu rosto, era Madeleine que me olhava com um sorriso no rosto

—Hey Darth Vader, comendo sozinho? Achei que você fosse o cara...

Ela disse essa frase enquanto segurava uma gargalhada

—Bom, considerando que você está junto com o cara que senta sozinho, não está muito melhor não é? Disse retribuindo o sorriso e guardando os fones no bolso da calça, notei que as pessoas olhavam para nós com espanto, Madeleine pareceu notar também

—Não ligue para eles Bry, estão espantados por eu estar conversando com alguém, isso não é do meu feitio, estudo aqui desde o primeiro ano e nunca conversei com ninguém por mais de 20 segundos, que dera por vontade própria.

Por alguma razão aquela frase me fez sentir feliz por dentro, Madeleine nunca falou com ninguém além de mim, isso deveria significar algo? Porque logo eu? Eu tinha que perguntar, curiosidade sempre foi um dos meus maiores problemas, acho que é coisa de família

—Então...porque logo?

—Oque? Perguntou ela meio confusa

—Porque logo eu? Digo, nunca falou com ninguém antes certo? Então o que a fez falar comigo?

Ela pareceu considerar a pergunta por um tempo

—Não sei, senti algo diferente em você, veja, eu tenho um certo dom para saber o que as pessoas sentem em relação a mim, e as vezes até em relação uns aos outros

Madeleine pareceu cautelosa ao completar a frase, como se tivesse falado algo que não deveria

—Sabe, estou começando a desconfiar que você talvez não seja humana, sabe, sempre coberta, solitária e agora esse lance de “dom de relacionamentos”....

Madeleine levantou de supetão empurrando a cadeira com tudo e fazendo uma cara de espanto

—Que foi que disse?

—Que talvez você não seja humana...

Fosse impossível ou não Madeleine apertou a mesa com tanta força que uma rachadura começou a se formar na superfície

—Então diga o que acha que eu sou

Provocou ela agora com um sorriso diabólico no rosto

—Você é algum tipo de mutante, sei lá, tipo os X-men?

Ao ouvir a frase Madeleine relaxou todo o corpo e começou a gargalhar tão alto e se contorcer que acabou fazendo com que todos no pátio olhassem para nós dois, ótimo, agora seriamos vistos como dois lunáticos mais do que antes...

Antes que ela pudesse se sentar novamente o sinal tocou novamente, ela então recolheu suas coisas e me lançou um ultimo olhar

—Agradeço a Deus ou qualquer outra força superior por você ser tão tapado Mr.Dwyer

E antes que eu pudesse registrar, ela já havia desaparecido edifício adentro, deixando somente o som da sua gargalhada corredores afora.

O restante do dia foi como o começo, cheio de olhares nada disfarçados e piadinhas disparadas a mim, nada que eu não esperasse ou que já não estivesse acostumado, então simplesmente aturei tudo até que o dia tivesse acabado e o sinal do fim da aula soasse. Mas o pior iria acontecer depois

Assim que deixei o edifício e me dirigi a vaga onde havia estacionado, encontrei alguém nada desejável, Scott Lester, ele era o líder dos babacas que me insultaram pelas costas o dia inteiro, o típico capitão de time de basquete, loiro, alto, malditos dentes perfeitos e olhos tão verdes quanto esmeraldas, o babacão estava encostado no meu carro com um sorriso debochado no babacamente-perfeito e era cercada por varias garotas, as típicas sem identidade, quando me viu chegando ele desencostou do carro e me esperou chegar perto antes de falar

—Olha só o que temos aqui pessoal, meu caro amigo Bryan Dwyer! Estávamos te esperando amigão!

Lancei um olhar cansado ao rei babaca e sua legião de adoradores, eu já sabia o objetivo daquilo e não estava disposto dar isso ao senhor dentes perfeitos

—Hey Scott, tem como você me dar licença? Sabe como é, estou muito afim de chegar em casa...

Uma risada curta escapou da boca do outro que cruzou os braços e se colocou ainda mais na frente do uno

—Poxa Bry! Posso te chamar de Bry né? Estamos querendo nos divertir, sabe como é, conversar e descontrair e então vimos o seu maravilhoso...carro e pensamos: ta aí a alma da festa, Bryan Dwyer um cara que sabe se divertir! Vai lá cara, conta uma da suas piadas nerds!

O discurso foi seguido por um coral de risadas seguidores sem cérebro

—Olha só Lester, eu tô realmente cansado, tem como você e seus amigos saírem da frente?

Scott estava prestes a responder quando assim como eu notou uma presença ao longe, Madeleine olhava com preocupação o show que acontecia em frente ao meu carro.

Nessa hora um sorriso quase imperciptivel passou pelo rosto do loiro

—Aquela é a sua namorada? Poxa Bry, quando pus meus olhos em você achei que tivesse gosto melhor, mas aí te vejo com aquela estranha encapuzada? Que decepção!

A frase foi seguida de um teatro e mais um coro de risadinhas. Por alguma razão a qual desconheço, o insulto a Madeleine queimou por dentro de mim e fez uma raiva indescritível brotar de dentro de mim e tudo que eu queria era arrancar aqueles dentes perfeitos. Quando dei por mim estava avançando com um soco na direção de Scott que desviou facilmente e me acertou com um soco em cheio e pude sentir um liquido quente escorrer do nariz. Isso não foi o que me espantou e sim o que veio a seguir. De um jeito inexplicável Leine apareceu rapidamente e com um soco lançou scott voando até o outro lado do estacionamento fazendo seus seguidores irem correndo atraz de seu desfalecido rei.

—Seu idiota! Com pode cair na dele? Fez exatamente o que ele queria!

Disse ela enquanto me ajudava a levantar com uma mistura de preocupação e reprovação no rosto

Duas coisas me surpreenderão naquele instante, o toque extremamente frio da garota que quase me fez saltar de surpresa, e a falta dos óculos escuros que deviam ter caído em algum momento revelando seus olhos, eles eram quase completamente negros com exceção das bordas vermelhas como sangue.

—Eu...foi mal, não sei o que deu em mim, ele disse umas coisas...Não consegui conter a raiva. Mas, o que foi isso?

—Que quer dizer? Disse ela com uma cara extremamente sínica

—Sabe o que quero dizer! Você apareceu do nada e nocauteou o senhor perfeito com um super soco!

—Esta vendo coisas! Levou um golpe muito forte na cabeça.

—Não! Eu sei o que vi!

Ela começou a ficar impaciente e desconfortável, comprovando que eu estava certo.

—Sabe que isso é ridículo! Eu não sou um X-men Bryan!

—Mas-

Um sorriso se formou no rosto da garota, que passou um braço pelos meus ombros e me virou ao edifício

—Vamos Bry, vou te levar a enfermaria para ver esse seu nariz antes que te chamem de Rudolf por aí!

Disse enquanto me guiava em direção a enfermaria e colocava um novo óculos que tirou do bolso.

Era óbvio que ela estava mentindo, eu sei o que vi e o que senti, mas por hora era melhor aceitar a sugestão, mas eu iria descobrir a verdade depois!

Parei pouco antes da entrada do edifício laranja, e quando olhei pensei ter visto uma figura, era feminina, com longos cabelos castanhos e olhos dourados nada amigáveis direcionados a Madeleine, mas quando pisquei já não estava mais lá.