Fúria Liberada escrita por Wanderer


Capítulo 1
Capítulo 1




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A perversidade tampouco poupará os perversos. (Provérbio bíblico)

   Aquele foi o mais assustador banho de sangue na história de Dimmsdale. Uma tragédia construída pouco a pouco ao longo de vários anos, por uma combinação de maldade, covardia e negligência. E do mesmo modo que uma inundação é a consequência natural quando uma represa desmorona e as águas contidas dentro dela irrompem sem controle, no momento em que o ponto de ruptura foi ultrapassado e toda a fúria contida naquele jovem coração foi liberada, a matança também foi inevitável...

Dimmsdale estava em alvoroço, porque Trixie Tang faria 16 anos naquela semana e o baile de debutante dela seria um evento grandioso, para o qual todos queriam ser convidados. Mas dias antes, em uma casa de classe média, aconteceu um evento que tinha tudo para passar despercebido: o aniversário de 21 anos de Vicky, a babá malvada que durante anos, havia feito da vida de Timmy Turner um autêntico inferno, atenuado apenas graças à ajuda dos padrinhos mágicos do garoto.

 Já fazia um ano que Timmy estava livre dela porque ao completar 14 anos, os pais acharam que o filho estava crescido o bastante para cuidar de si mesmo, dispensando a supervisão de uma babá. Outras crianças não tinham a mesma sorte. E uma delas sofria ainda mais do que qualquer outra naquela cidade: Tootie, a irmã caçula de Vicky.

 E aquele dia estava sendo o pior de todos na vida da pobre garota. Sua irmã havia decidido fazer a festa de aniversário no calabouço secreto instalado no porão, um lugar com ar condicionado, mas sem janelas, com suportes para vários tipos de armas medievais, uma grande gaiola com um esqueleto humano dentro e outro que pendia de algemas aparafusas nas paredes. Era ali que Vicky estava, junto com as suas amigas do Clube das Babás Enfurecidas Contra Pestinhas.

 Sobre uma pequena mesa quadrada, estavam os presentes de aniversário trazidos para Vicky naquele dia: uma wakizachi (espada curta japonesa) de cabo e bainha vermelhos com 37 centímetros de comprimento. Um chicote de pontas múltiplas feito de um material especial capaz de causar dores terríveis, mas que deixava marcas pouco profundas, que saravam logo. Um mangual (arma medieval que tinha uma bola de ferro fundido com pontas cônicas, ligada por uma corrente a um cabo de madeira) e uma máquina de eletrochoques, que Alyssa (a melhor amiga de Vicky), jurava ter sido comprada de um membro da máfia russa em uma cidade próxima. A babá mais malvada de Dimmsdale achou que testar o equipamento em sua irmã caçula era uma ótima ideia.

    Já fazia várias horas que Tootie estava presa na prancha, só com a calcinha cor de rosa enfeitada com lacinhos e babados brancos, tendo uma bola de mordaça para impedi-la de gritar. Baton roxo havia sido usado para demarcar as partes do corpo de Tootie que em geral ficavam expostas quanto ela usava suas roupas para ir à escola. O restante, de acordo com Vicky era “área liberada” para as chicotadas e estava repleta de marcas. Eletrodos estavam fixados em vários lugares. Tootie havia desmaiado de dor e aproveitando isso, ela tinha sido virada de bruços para ser chicoteada também nas costas. Vicky e suas amigas apenas riam do sofrimento dela, fazendo pausas ocasionais para encher ainda mais a cara. Quando desmaia pela segunda vez, foi colocada outra vez de frente. E ao abrir os olhos, vê a irmã voltar junto com as amigas. Ao chegar mais perto, Vicky pergunta:

— Observem os olhos dela! Esbugalhados de medo! Não é uma fofura?
— Parece uma ratinha diante de um lince faminto – diz Maisie, a loura de olhos azuis.
— Acho que é mais como uma corça rodeada por lobas. Que nesse caso, somos nós! - fala Alyssa, segurando-a pelo queixo.
— Aí, eu acho que ainda não esgotamos as possibilidades dessa coisa. – diz Vicky apontando para a máquina de eletrochoques cinza metálica, do tamanho de um forno de micro ondas com vários fios saindo dela e que estavam ligados ao corpo de Tootie por pastilhas adesivas. Vicky vai até o equipamento onde pequenas áreas haviam sido pintadas com um cinza escuro para receberem inscrições no alfabeto romano sobre as inscrições originais em cirílico.
Vicky ajusta a máquina para um choque muito mais intenso do que ás vezes anteriores e liga. Tootie sente a eletricidade percorrendo todo a faz tremer da cabeça aos pés. Porém Vicky não fica satisfeita e aumenta a potência. Quando desliga, vê a cabeça da irmã caída sobre o peito. Aquilo a deixa muito irritada:
— ACORDE!VOCÊ ESTÁ ATRAPALHANDO NOSSA DIVERSÃO!

No entanto, apesar de Vicky ter gritado com a boca encostada no ouvido de Tootie, a garota permanecia com a cabeça abaixada. Aquilo preocupa Cheryl a garota afro-americana, que toca a jugular de Tootie com os dedos e recua assustada, dizendo:
— Vicky, você exagerou! Sua irmã está morta!
Fechando a cara, a líder das babás malignas responde:
— Não me irrite falando tolices, ou irá substituir Tootie nessa prancha!
— Pois toque o pescoço dela como eu fiz, e comprove você mesma!
Vicky faz o que Cheryl havia dito, e fica pálida.
— Você... Está certa! Minha irmã... Morreu!
 O pânico se espalha entre o grupo. Aquilo podia levar todas elas para a cadeia por muito tempo, ou resultar até mesmo em pena de morte! Vicky estava atordoada demais para pensar em alguma coisa. É Lauren que consegue manter a calma e diz:
— Ninguém poderá nos acusar de nada, se ocultarmos o cadáver dela em um lugar onde ninguém possa encontrar!
— Você conhece algum? – pergunta Maisie, a garota loura.
— Sim, um pequeno posto de combustível, nos arredores da cidade. O lugar está em ruínas faz muito tempo, e os tanques subterrâneos estão secos. Podemos arromba-los facilmente, e jogar o cadáver dentro. Ninguém jamais encontrará essa pirralha!

Vicky não gosta de ideia de descartar a irmã daquele jeito, mas sabia que a amiga estava certa. Era preciso fazer Tootie sumir. Depois iria pensar em alguma justificava para o fato. Cheryl se lembra de algo muito importante, e pergunta:
— E como vamos fazer para tirar o cadáver dela daqui, sem que os seus pais percebam?
— Não se preocupe com isso. Basta que ordene aqueles covardes que fiquem calados sobre isso, e eles não ousarão me trair depois! Agora venha comigo, Lauren. Vamos pegar o saco de dormir de Tootie, e colocar o cadáver dela dentro. Alguém tem carro?
— Eu! –responde Cheryl.
— Certo. Agora fique aqui junto com as outras,enquanto Lauren e eu pegamos o saco de dormir.
 Enquanto sai junto com a outra garota, bastava olhar para o rosto de Vicky para perceber que ela estava muito aborrecida e também importunada por uma estranha dúvida: sempre que não tinha nenhuma criança em suas mãos para maltratar, torturava Tootie. Com a morte da irmã, como essa lacuna seria preenchida? Ao mesmo tempo uma sensação estranha a incomodava, sem que ela soubesse dizer para si mesmo o que era.

  Após Vicky e Lauren virarem a direita no corredor, Maisie abre as algemas dos tornozelos e depois as dos pulsos. O corpo mole de Tootie cai no chão e então ela percebe que os olhos da garota desafortunada estavam abertos. Sentindo calafrios, ela empurra Tootie com o rosto voltado para a parede e junto com as amigas, vai encher a cara ainda mais. Nesse momento, os acontecimentos começam a tomar um rumo inesperado.

 Horas antes, Anti-Cosmo e Anti-Vanda haviam fugido da prisão de Abracatraz no Mundo das Fadas para o mundo dos humanos e antes disso, ainda haviam roubado varinhas de duas fadas, enquanto elas tagarelavam no vestiário.
Em Dimmsdale, Anti-Cosmo começou a articular planos para libertar mais anti-fadas, até foi atraído pelo aroma de sua comida predileta: galinha assada do Cordon Bleau. Usando a varinha mágica roubada, ele faz várias galinhas assadas saírem voando pelo ar janela afora sem que ninguém perceba até o teto de um prédio vizinho, e começou a comê-las junto com Anti-Vanda. Depois, já com a barriga cheia começa a descansar, até que vê George Von Estranho ao longe. Alarmado, agarra a esposa pelo pulso e saiu voando a toda velocidade até a copa de uma árvore, onde se esconde em meio à folhagem, dizendo:
— Anti-Vanda, fique quietinha e não use sua varinha de jeito nenhum, ou o Von Estranho vai descobrir e levar de volta para Abracatraz entendeu sua anta?
— Entendi, meu marido! – diz a mais estúpida das anti-fadas.

Em seguida, Anti-Cosmo fica vigiando Von Estranho através da folhagem, mas fica tão concentrado nisso que nem percebe quando Anti-Vanda sair de fininho e, após vagar sem rumo durante algum tempo, até ver a pequena janela basculante de um porão aberta.
  Após entrar, vê Tootie caída no chão com a mordaça de bola e os olhos abertos.
— Ei menina bonita, quer brincar comigo?
Mas Tootie não responde. Após olhar para a garota durante algum tempo, Anti-Vanda põe a mão no queixo, pensa um pouco e diz:
— Acho que você não está respondendo por causa dessa bola em sua bola, não é mesmo?
Tootie permanece calada e inerte. Anti-Vanda usa a varinha para fazer a mordaça de bola sair. E pergunta de novo:
— E então, vamos brincar? Não tenho nenhuma companheira de brincadeiras faz tanto tempo!
Tootie continua sem se mexer. Mas aquilo não incomoda Anti-Vanda, que diz:
— Que esquisito! Apesar de você estar com os olhos abertos, acho que está dormindo! Então, vou acordá-la. Só espero que não fique zangada comigo por causa disso!
E usa o poder da varinha mágica. O corpo de Tootie estremece. Aquilo entusiasma Anti-Vanda.
— Eu quase consegui! Vou fazer de novo! – E atinge Tootie outra vez.

Nem a magia da fada mais poderosa era capaz de reviver os mortos. Mas ao contrário do que Lauren e Vicky havia pensado, Tootie não estava morta. Apenas tinha tido uma parada cardíaca. A magia usada pela Anti-Vanda havia funcionado como um desfibrilador, só que de um modo muito mais eficiente. Ao abrir os olhos, a adolescente vê a pequena anti-fada azul flutuando acima e a frente dela.
— E agora, você está melhor o suficiente para começarmos a brincar? Porque aquelas três parecem estar ocupadas demais com alguma coisa, mas não sei o que!
Olhando para o outro lado do porão, Tootie e vê as amigas de irmã diante de uma mesa ocupadas em beber, conversar e rir. O ódio preenche sua alma, a sanidade desmorona. Nesse momento, Anti-Cosmo entra voando pela porta e vê Anti-Vanda pairando no ar diante de Tootie.

Agarra a esposa pelos cabelos e antes que as garotas os vejam, sai voando para fora junto com ela a toda velocidade até o telhado de um prédio próximo de dois andares, onde aterrissa arremessando Anti-Vanda de costas no chão. Muito irritado, pergunta:
— Perdeu o juízo completamente, sua imbecil?O que pensou que estava fazendo?
— Arrumando uma amiga pra brincar! – responde ela com doçura, sem se incomodar com a dor ou ficar amedrontada com a raiva do marido.
— Aquela menina nem é sua afilhada, cretina!E se o Von Estranho tiver detectado o poder de sua varinha roubada...

Uma potente rajada de energia mágica engolfa os dois imobilizando-os dentro de um campo de força esférico, impedindo qualquer reação ou fuga. Anti-Cosmos diz,resignado:
— Irá descobrir onde estamos e nos capturar...
O líder das fadas surge diante deles, dizendo:
— Se não é a minha dupla de anti-fadas favorita!
— Você gosta de nós? – pergunta Anti-Vanda, alegremente.
— Ele está sendo sarcástico, sua desmiolada!- retruca Anti-Cosmo.
— Agora vamos voltar para o mundo das fadas, aonde irão me explicar nos mínimos detalhes como conseguiram sair de Abracatraz!
O trio desaparece. Mas as terríveis consequências do ato insensato de Anti-Vanda estavam prestes a começar.

No porão Tootie estava confusa, mas já tinha percebido que sua odiada irmã havia saído, deixando apenas três de suas amigas ali. Todas bêbadas. Sorrateira ela vai até a mesa onde pega a wakizachi, mas antes que vá até o pequeno grupo vê Maisie retornar cambaleante, com uma garrafa de rum na mão. Tootie se deita no chão e espera até Maisie chegar mais perto.
A garota loura está bebendo um gole da boca da garrafa quando sente uma dor aguda no peito, que a faz largar a garrafa que bate no pé direito antes de rolar no chão, e olha para baixo onde vê despontar a brilhante lâmina ensanguentada e a sua camisa branca se manchar de vermelho. Uma mão lhe tampa a boca e em seguida, outros golpes são desferidos. Pouco depois Maisie cai de cara no chão, com as marcas de 13 perfurações nas costas.

Tootie lambe o sangue da lâmina como se fosse calda de sorvete. Cheryl e Alyssa não tinham ouvido o barulho da garrafa quebrando no chão, nem percebido a morte da colega delas. Sorrateira como um gato, a irmã caçula de Vicky pega o mangual e se aproxima das duas.
Mal se aguentando em pé, Cheryl e Alyssa estavam abraçadas e rindo, enquanto relembravam seus atos de maldade feitos contra crianças no passado. Então Cheryl tira o braço dos ombros de Alyssa e se afasta um pouco para pegar uma garrafa de uísque, porque outra já estava vazia. Quando está estendendo o braço, vê algo tão esquisito que a faz pensar que era uma alucinação causada pela cocaína: Tootie apoiada no pé direito fazendo um fouetté de balé com uma pequena espada na mão direita e o mangual na outra.

Só percebe que a ameaça era real ao ser atingida na têmpora pela bola de ferro fundido, pesando dois quilos. Cai no chão já morta. Alyssa estava acabando de beber mais um copo de uísque quando percebe a chegada de Tootie. Mas não tem tempo de pensar em nada. A wakizachi entra pelo seu queixo, atravessa o cérebro e sai pelo topo da cabeça. Tootie move o braço para trás, e o cadáver da inimiga cai no chão.

Então Tootie ouve o som de passos se aproximando e se esconde sob a escada. Lauren desce as escadas carregando o saco de dormir junto com Vicky, que diz:
— Encontrar essa coisa foi mais difícil de encontrar do que eu esperava!
— E como alguém podia imaginar que ela guardaria isso... CUIDADO, VICKY!
 Lauren empurra a amiga por sobre o corrimão, fazendo-a cair de lado sobre o assoalho. Irritada por causa do impacto doloroso, Vicky começa a abrir a boca quando vê algo que a faz pensar que estava tendo uma alucinação: sua irmã caçula, viva outra vez, atingindo Lauren na barriga com a wakizachi.

— Sacrificando a si mesma para tentar salvar a vida da minha irmã?
No breve tempo que leva para dizer aquela frase, Tootie golpeia Lauren mais quatro vezes antes de cortar o pescoço até chegar perto da coluna cervical com um movimento da esquerda para a direita, quase fazendo a cabeça da garota se separar do corpo enquanto conclui:
— Tolice!Ela não vale a pena!

Vicky olha em volta. A direita dela, caídas no chão estavam Cheryl e Alyssa. Adiante, no outro lado da masmorra Maisie, em meio a uma grande poça de sangue. Vicky não tinha ideia de como sua irmã tinha retornado na morte, mas não tinha nenhuma intenção ser liquidada por uma pirralha.
Levanta-se de um salto e corre em direção a um dos suportes onde estavam penduradas várias de suas armas medievais e pegar uma delas poderia se defender e vencer o combate, porque era uma lutadora mais forte, experiente e habilidosa. Se esquece de que num combate,nunca se deve dar as costas para o inimigo.

Quando está quase pegando uma espada longa, é atingida no lado direito da cabeça pela irmã, que empunhava o mangual. Porém, ao invés de matar Vicky instantaneamente, como havia ocorrido com Cheryl, à bola de ferro causa uma hemorragia na área de Broca, a parte do cérebro que controla a fala. Em outro gracioso fouetté, Tootie golpeia Vicky no mesmo lugar. O dano no cérebro fica pior. Um terceiro golpe de cima para baixo, a faz cair no chão.
Quando tenta se apoiar nos braços para levantar, um impacto no pescoço rompe esmaga a sétima vértebra cervical. Vicky fica paraplégica, impossibilitada de fugir. Como também não podia mais emitir qualquer som, ela chora de dor em silêncio, enquanto os golpes prosseguem.
  Os ataques seguintes quebram as clavículas e pouco a pouco, vão triturando os braços. Então Tootie para e enquanto a arrasta pelos cabelos, fazendo-a esfregar o rosto no chão, dizendo:
— Aniversários são dias especiais, minha irmã. Você recebe amigos, ganha presentes deles, acende as velas do bolo de aniversário, canta e ouve músicas, se diverte. Em, hoje tudo isso aconteceu, e graças a uma pequena fada azul, eu pude voltar da morte, para retribuir tudo que recebi de você e suas amigas.

(Fada azul? Do que ela está falando?)

Tootie vai até a mesa onde estavam o bolo de aniversário, as garrafas de bebida alcoólica e as carreiras de cocaína. Tootie não se interessa pela droga, e decide tomar um pouco de uísque, mas cospe tudo logo após o primeiro gole, dizendo:
— Que gosto horrível! É pior do que o seu xixi! E ainda faz arder a minha língua! Acabei de lembrar de algo óbvio, mas que é muito útil!
 Em seguida, Tootie derrama o conteúdo de uma garrafa de rum e outra de uísque sobre a irmã, encharcando-a de bebida da cabeça aos pés e deixando um resto para fazer uma trilha de quase três metros. Vicky não entende o motivo de tudo aquilo, até que vê a irmã segurando um isqueiro e a chama irromper brilhante no topo.
Vicky fica apavorada,sem acreditar que a irmã teria coragem suficiente para prosseguir:
— Agora,para tornar esse aniversário realmente completo e perfeito, a única coisa que está faltando é... Acender você!— E sorrindo, larga o isqueiro.

  Para Vicky, a queda, o início do fogo e o avanço das chamas parecem ocorrer em câmera lenta durando minutos, durante os quais um turbilhão de lembranças passa por sua cabeça, fazendo-a se lembrar de como a irmã caçula era: uma garotinha meiga e ingênua, fã de bichos de pelúcia e bandas de rock adolescente, dançarina talentosa de balé e que sentia uma grande paixão por Timmy Turner, apesar do garoto não retribuir o sentimento. Tudo aquilo havia desaparecido daqueles olhos, restando apenas ódio e loucura. Só então ela percebe a real magnitude de seus erros.

 (Oh, minha doce irmãzinha! O que foi que eu fiz a você?)

 Nesse momento, o fogo a alcança. A dor causada pelas labaredas é excruciante. Porém, o remorso tardio que a babá malvada sente é algo muito pior.

  Tootie sorri, sentando em uma das cadeiras e como estava faminta, começa a tirar pedaços do bolo de aniversário com as mãos e comê-los, enquanto olha a irmã queimar como se aquilo fosse algum mórbido show de TV. Mas parecia estar contrariada por algum motivo. Só se levanta depois que as chamas apagam completamente. Então vê uma bolsa branca com alça em cima de uma cadeira. Curiosa, abre e em meio a vários itens femininos, uma pistola Sig calibre 380. Põe a wakizachi dentro e sobe as escadas, segurando na mão direita o mangual ensanguentado.

Quando chega a sala Tootie encontra os pais olhando para a TV LED de 36 polegadas. Vicky havia ordenado a ambos ficassem assistindo TV, enquanto ela e as amigas “se divertiam” na festa de aniversário. E eles ainda estavam lá. Mas desviam os olhos da tela quando a veem descer as escadas,manchada de sangue e o corpo repleto de cicatrizes.

— Tootie! O que houve com você? – pergunta o pai, assustado.
— Vicky e suas amigas se divertiram comigo. Depois, eu me diverti ainda mais com todas elas!
O casal estremece de medo por causa do tom de voz e do brilho insano no olhar da filha.
— E que fedor horrível é esse que estamos sentindo, vindo do porão? – pergunta a mãe.
— Fedor?Não mãe, você está enganada! É o aroma mais agradável do mundo... Churrasco de vagabunda!
— Está dizendo que matou e queimou a sua irmã? – pergunta o pai, mal acreditando no que havia acabado de ouvir.
Como pode fazer isso, Tootie? – pergunta a mãe.
Aquela pergunta deflagra outro surto de fúria na adolescente, que larga a bolsa, ergue o mangual com lágrimas nos olhos e começa a atacar com rapidez surpreendente, dizendo:
— Após tudo que sofri naquele calabouço, como ousam falar assim comigo? Desgraçados! Vocês são os piores pais do mundo! Eu os odeio!Odeio!Odeio!

Doidle, o cão de estimação chega, mas ao ver o que estava acontecendo fica tão assustado que corre para a cozinha e se esconde embaixo do armário, ganindo de medo.
Tootie só para de golpear quando fica exausta. Com um sorriso macabro no rosto, salpicada de vermelho dos pés a cabeça, ela olha para os restos mortais de seus progenitores, que haviam morrido abraçados.
— He, He, He!Acho que agora, eles entenderam as consequências da omissão!

Após pensar um pouco, larga o mangual e começa a arrastar o casal escada acima, para deixa-los no porão até pensar em algo melhor e mais definitivo. É uma tarefa difícil e exaustiva para uma adolescente de 14 anos. Ela tem de parar várias vezes para descansar, com os braços doendo por causa do esforço. Numa delas, resmunga:
— Dupla de bons para nada!Nunca cuidaram bem de mim enquanto estavam vivos! Só me dão trabalho depois de mortos!

Após deixar os cadáveres no porão, Tootie olha para o bolo de aniversário. Vicky e suas amigas tinham comido pouco porque estavam ocupadas demais com a tortura e em encher a cara. Por causa disso, ainda restava quase metade do bolo de cinco quilos. Ela o carrega na bandeja, e o põe no chão perto da porta. Depois, começa a destruir móveis, roupas e tudo mais dentro do quarto da irmã, sem deixar nada intacto. Em seguida, desce as escadas e guarda o bolo dentro da geladeira. Então toma banho, põe uma camisola cor de rosa, puxa até os ombros a coberta branca enfeitada com rosas de várias cores, e logo está dormindo em sono profundo, com um grande sorriso no rosto.


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