Um Romance Épico de Verão escrita por Wanderer


Capítulo 1
Capítulo 1




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  O bizarro apocalipse de Bill Cipher havia terminado com a derrota do demônio dos sonhos e seus capangas, todos tão estranhos quanto ele. Faltavam apenas mais alguns dias para que os irmãos Pines deixassem Gravity Falls, voltando para o seu lar na Califórnia.

 Mabel estava sozinha no quarto deitada na cama de barriga pra cima, apenas com uma camiseta regata branca e calcinhas cor de rosa, pensando em tudo que havia acontecido durante aquele verão fantástico. (Foram tantas coisas incríveis! Mas sinto que ainda falta algo...) É então que ela ouve o toque do smartfone que Pacífica havia lhe dado no dia anterior. Atende na hora e ouve a voz da amiga, perguntando:

 - Como vão as coisas?

— Um tédio só! Depois daquela batalha épica, tudo parece tããão chaaaato!

— O que acha de irmos nadar juntas? Eu conheço um lago lindo!

— Gostei da ideia! Trouxe um biquíni que até agora eu simplesmente esqueci no fundo da minha mochila e quero muito usar! Vou chamar o Dipper, a Candy e a Wendy para irem nadar junto conosco.

Não! – o súbito tom aflito na voz de Pacífica surpreende Mabel - Tenho um assunto muito importante e bastante pessoal sobre o qual eu desejo conversar com você, e se houver mais pessoas por perto, eu não vou conseguir dizer nada!

— Que tal fazer isso agora? Eu estou sozinha no quarto.

— Prefiro dizer frente a frente.

— Qual o motivo de todo esse mistério?

— Por favor, pare de fazer perguntas! Pegue o seu biquíni, protetor solar e se encontre comigo na rua atrás do shopping Center, na entrada do velho restaurante Bunyan daqui à uma hora. Eu levarei a comida, bebida e toalhas.

Pacífica desliga, deixando Mabel um pouco confusa e muito curiosa. Porém, como ela não tinha nada melhor a fazer, a tarde estava escaldante e nadar em um lago parecia uma ótima ideia. Sobretudo na companhia de uma amiga.

 Veste um suéter branco com a estampa de um trevo verde de quatro folhas e uma mini-saia alaranjada. Dentro de uma pequena sacola de plástico amarelo onde havia uma estampa de uma borboleta púrpura, ela põe o tubo de protetor solar e um biquíni como estampas quadrados de vários tamanhos e com três cores: amarelo-ouro, abóbora e verde lima.

   Descendo as escadas sem ter visto o irmão ou os tios em alguma sala ou nos corredores, ela encontra Soos sozinho no balcão e pergunta:

— Cadê todo mundo?

— O seu irmão está no porão com o Ford, o senhor Stan foi á cidade e a Wendy precisou ir ao banheiro. E você, onde está indo?

— Passear por aí. Agora que tudo voltou ao normal, quero desfrutar da tranquilidade!

  Assim que fecha a porta atrás de si ao invés de seguir pela estrada Mabel entra na floresta, se esgueirando em meio ás árvores. Desse modo evitaria ser vista pelo irmão ou Wendy, caso algum deles surgisse nas janelas para chama-la e fazer perguntas. E também de encontrar o tio, se ele estivesse voltando de carro.

   Chegam ao local mencionado em quarenta minutos. O prédio do restaurante tinha só um andar, estilo anos 50, com a porta dupla na entrada e todas as janelas fechadas com tábuas pregadas na parede. Pacífica chega cinco minutos depois, usando uma bermuda de lycra rosa choque, mini blusa e sandálias púrpura, segurando um cooler vermelho e uma sacola quadrada de jeans. Corre até ela e pergunta:

— E então? Qual é o assunto tããão importante e misterioso que você quer falar comigo?

— Espere até chegarmos ao lago.  –responde Pacífica começando a caminhar rápido, como se quisesse sair dali antes que elas fossem vistas por alguém. O comportamento esquisito apenas aguça a curiosidade de Mabel, que segura um lado da alça prateada para dividir o peso e enquanto caminha junto com Pacífica, inicia uma conversa para tentar descobrir o mistério.

 - O que houve com aquele restaurante lá atrás?

 - Não aguentou a concorrência do shopping e faliu.

 Observando com mais atenção o rosto da amiga, percebe tensão e nervosismo.

 - Você não parece bem. Qual é o problema? Tem algo de errado acontecendo na sua casa?

 - Um monte delas! Após ter sido desfigurado por Bill Cipher, o meu pai ficou tão convicto que aquele demônio iria conquistar o mundo que fez investimentos malucos apostando nisso, e a consequência é que nós estamos quebrados!

 - A propósito, como foi que o seu pai voltou ao normal?

 - Aquela transformação horrenda durou apenas algumas horas.

 - Bem Paz, sua família é podre de rica! Acho difícil de acreditar alguma coisa poderia acabar com uma fortuna tão grande quanto a de vocês!

 - No entanto, isso aconteceu. Agora, para evitar que os credores venham bater a nossa porta, papai está tendo de vendar empresas, ações, títulos financeiros e até mesmo a mansão!

— O quê?Está dizendo que vocês terão de deixar aquela mansão enorme e chique?

— Infelizmente sim. E o pior é que o contrato de venda já foi assinado!

— Como isso pode ser algo ruim?

— Porque o comprador é o velho McGucket! Aquele velho não apenas recuperou a sanidade, como se tornou multimilionário com a venda de suas patentes ao Governo. Os meus pais não conseguem aceitar a ideia que agora, estão abaixo dele na escala social! E a lista de problemas não termina aí.

 - O que tem, além disso?

 - Nós nunca nos preocupamos em nos relacionar bem com a população local. Os Northwest sempre viram a si mesmos como semideuses, e tratavam todos os moradores da cidade como seres inferiores. Por causa disso, agora não temos nenhum amigo por aqui.

  Meia hora depois elas chegam ao local de destino e Mabel fica extasiada com a beleza do lago de águas cristalinas, que era três vezes mais extenso que um campo de futebol e duas vezes mais largo, com uma pequena praia de areia branca, onde despontava uma rocha solitária inclinada grande como um ônibus, oferecendo uma área de sombra natural.

— Que lugar lindo! Eu não acredito que em Gravity Falls podia haver algo tão espetacular!

— Agora, vamos trocar de roupa, colocar o protetor solar e nadar! – diz Pacífica, já começando a tirar a blusa.

— E a nossa conversa?

— Não seja impaciente. Tudo no momento certo.

 Dez minutos depois, elas estavam prontas. Pacífica havia posto um pequeno e sexy biquíni rosa, que realçava a beleza de seus peitinhos e da bunda arrebitada. Uma grande toalha de praia cor de rosa havia sido estendida na praia, com quatro pequenos cilindros de aço cromado do tamanho de maçãs colocados nos cantos da toalha para impedir que ela fosse levada por qualquer ventania súbita.

    Pacífica sugere tirarem a parte superior dos biquínis porque ambas estavam em um local isolado, onde ninguém iria vê-las. Mabel gosta da ideia e durante meia hora, elas ficam se bronzeando de topless, tendo apenas pássaros e borboletas como testemunhas. Depois, recolocam o topo dos biquínis.

  Porém, quando ela tenta falar com Pacífica, a outra corre para o lago e começa a nadar. Mabel tenta saber qual era o assunto que havia exigido a ida delas até um lugar tão afastado, mas cada vez que ela tentava fazer qualquer pergunta Pacífica jogava água nela ou mergulhava iniciando um jogo de esconde-esconde. Após algum tempo, Mabel desiste e entra no jogo. Uma hora depois elas saem da água, e sentam sob a grande pedra.

 Então, num movimento repentino, Mabel empurra Pacífica para baixo e, sentada sobre a barriga da amiga, segurando-lhe os pulsos, diz:

— Eu não vou deixar você se levantar até me dizer tudo!

Resignada, Pacífica começa a falar:

 - Eu tinha oito anos quando os meus pais me levaram a uma viagem ao Caribe. Ao ouvir falar daquele lugar, muitos adultos pensam em festas com drinques exóticos e shows com lindas dançarinas seminuas. As crianças, em passeios de barco, brincadeiras na praia, sorvetes de frutas tropicais e visitas a castelos antigos ou locais que no passado, eram frequentados por piratas. Para mim, a temporada de duas semanas podia ser resumida numa palavra: tédio!  

 Eu e meus pais ficamos o tempo todo num enorme iate ancorado perto da costa, sem colocar os pés em terra, como se tivesse havendo uma epidemia ou algo assim. No barco havia apenas parceiros de negócios, para quem os meus pais me exibiam como se fosse uma boneca de porcelana. É claro que havia outras crianças, só que todas eram mais velhas do que eu e me tratavam como se eu fosse uma pirralha ainda no jardim de infância. Logo me afastei delas, mas ninguém pareceu perceber ou se importar com isso.

  Um dia, o barco estava bem perto da praia e usando um potente binóculo emprestado por um tripulante observei a praia, vendo as crianças comuns brincarem e invejando a liberdade delas. Aí, outra coisa chamou a minha atenção: mulheres lindas usando biquínis minúsculos! Fiquei observando-as durante horas e só parei quando fui chamada para o jantar. À noite, sonhei que estava na praia, entre todas aquelas mulheres lindas.

 Nos dias seguintes, aproveitei todas as chances que tive para repetir o meu papel de observadora furtiva. De volta a Gravity Falls, e não conseguia tirar as lembranças da minha cabeça. Passei a olhar as criadas da nossa mansão e as garotas na piscina do clube como nunca havia feito antes. O meu interesse logo se tornou uma obsessão que eu não podia satisfazer, porque eu tinha medo de uma eventual reação negativa das garotas e mais ainda do que meus pais fariam se descobrissem a respeito das minhas fantasias.

  De fato, sem perceber eles até as fortaleceram. Gostavam sempre de dizer: ”Um Northwest nunca se mistura com a ralé!” Por causa disso eu não ia á escola, para evitar que eu entrasse em contato com as crianças da cidade. Ao invés disso, os melhores professores particulares vinham até a mansão, dar aulas para mim.

 Então á dois anos atrás, aproveitando a chance quando os meus pais haviam viajado para tratar de negócios, eu saí de casa e comecei a vagar sem rumo pela floresta. Então escutei alguns barulhos esquisitos. Fui à direção deles e foi aí que eu vi pela primeira vez aquelas duas garotas que tantas vezes você viu junto comigo.

 - Está falando de Ava e Betty? – pergunta Mabel, se referindo à garota negra e a outra, de cabelos castanhos curtos e lisos.

— Sim. Elas estavam fazendo aquilo que tantas vezes eu havia imaginado nos meus sonhos. Aí a Betty me viu e em seguida, a Ava também. Antes que fizessem qualquer coisa, falei a primeira coisa que me veio à cabeça: “Posso me juntar a vocês?” Elas sorriram. Logo, nos tornamos inseparáveis. Eu estava feliz por saber que havia mais garotas como eu. Os meus pais não se opunham a isso porque as viam como damas de companhia, ou algo assim.

   No entanto, apesar de gostar muito da companhia de Ava e Betty, assim como delas por mim não existia um sentimento mais profundo além da amizade. Apenas desfrutávamos das nossas travessuras juntas. Essa situação prosseguiu até que certo dia, uma garota especial entrou na minha vida.

— Garota especial? – pergunta Mabel, soltando os pulsos de Pacífica.

— Sim. No começo eu não gostava dela. Na verdade, até a maltratei várias vezes. Qualquer outra pessoa teria me odiado, se tornando minha inimiga. Mas ela tinha um enorme coração e não guardou mágoa. Na verdade, ela foi bastante gentil comigo e por causa disso eu comecei a sentir medo.

 - Medo de quê?

 - De ser rejeitada, se ela soubesse do jeito esquisito como eu gosto de garotas.

Mabel sai de cima de Pacífica, que se levanta. Segurando as mãos da amiga, Mabel diz:

— Você é sensacional, Paz! Lutou ao meu lado contra todos aqueles liliputianos e também contra os amigos monstruosos de Bill Cipher, em meio a toda aquela loucura! Se essa garota de quem você gosta for tola a ponto de não perceber isso, é ela quem merece um chute no traseiro! Portanto, vá ao encontro dela e abra o seu coração!

Olhando Mabel nos olhos, Pacífica diz:

— É o que eu estou fazendo agora.

 Mabel ruboriza, enquanto sente a cabeça girar. Abaixando os olhos diz:

— Cheguei a Gravity Falls tendo como objetivo principal desfrutar de um romance épico de verão. Mas todas ás vezes fiz isso, eu entrei pelo cano. Se eu fosse esperta como o Dipper, teria percebido que esses fracassos eram pistas de que o meu destino era encontrar a felicidade ao lado de outra garota. E estou muito feliz de você seja esta garota, Paz! – conclui Mabel, levantando a cabeça para encarar Pacífica.

As duas se abraçam e se beijam. Pacífica aproveita para soltar o fecho do topo de biquíni da amiga que ao perceber isso, retribui o gesto. Logo elas estão de topless. Os seios de Mabel eram pequenos e caberiam dentro de uma taça de champanhe. Os de Pacífica tinham o dobro do tamanho. Mas apesar sentir uma ponta de ciúme ao invés de reclamar daquela diferença, Mabel começa a desfrutar dela, enquanto sente a calcinha de seu biquíni sendo retirada...

  Após noventa minutos de paixão desenfreada elas param completamente exaustas. Mabel ergue os braços, dizendo:

 - Esse é o dia mais feliz da minha vida! Se o que aconteceu hoje não foi o início de um romance épico, então eu não sei mais o que é isso!

— Eu faço minhas as suas palavras. – acrescenta Pacífica.

— A propósito, o que acha de irmos falar a respeito disso com Ava e Betty?

— Vai ser difícil, porque elas não estão mais entre nós.

  Aquelas palavras assustam Mabel, que pergunta:

— Por acaso elas morreram durante aquele apocalipse maluco?

— Oh céus, não! Apenas estão no Havaí numa viagem de férias, junto com as suas famílias. O mais irônico é que elas saíram daqui alguns dias antes do Bill transformar a nossa cidade numa filial do Inferno. Voltarão em 31 de agosto.

  - No mesmo dia em eu e o Dipper iremos fazer aniversário para depois, sairmos de Gravity Falls. – diz Mabel abaixando os olhos.

— Ei, não fique deprimida! Isso não combina com você!

— Como posso permanecer feliz, sabendo que terei de deixa-la para trás?

— Está se esquecendo de algo muito importante...

 - E o que é?

— Que ainda temos mais quatro dias para outros encontros, antes da sua partida.

 Um lindo sorriso ilumina o rosto de Mabel.

— Todos serão como esse?

— Quer algo diferente, mais calmo e bem comportado?

— De modo algum! A propósito, serão todos aqui?

— Eu conheço outros lugares apropriados. E não se preocupe com os meus pais. Eles saíram da cidade me deixando sob os cuidados dos criados que nem ligam para o que eu faço, mesmo porque os meus pais nunca conquistaram a lealdade deles que, além disso, nem sabem se vão continuar trabalhando na mansão, depois que o McGucket chegar.

  Elas se levantam e iniciam a viagem de volta, carregando o cooler juntas. Ao chegaram á frente da cerca da loja, elas se abraçam. Mabel volta para a cabana do Mistério e Pacífica, para a mansão de sua família.

 Os encontros se sucedem e Mabel se alegra no dia da partida, ao ver a amiga no aniversário dela e do irmão. Durante a festa, Mabel vai para dentro da cabana dizendo que iria guardar o presente que havia ganhado. Meio minuto depois, Pacífica faz o mesmo alegando que precisava ir ao banheiro.

As duas garotas vão para o quarto onde os gêmeos haviam ficado para uma última rapidinha, em meio a um festival de carícias ardentes e beijos molhados. Depois voltam para a festa. Pacífica exibia uma perfeita cara de pau. Mabel estava radiante, mas todos acharam que era por causa da festa...

   Quando faltavam apenas vinte minutos para sair da cabana e pegar o ônibus para a viagem de volta á Califórnia, a menina ouve o smartfone tocar. Ao olhar para a tela, reconhece o número de Pacífica, que começa a falar rápido.

 - Mabel, ouça com atenção e não faça perguntas por que tenho pouco tempo. Não poderei ir ao ponto de ônibus para me despedir de você e do Dipper, pois estou prestes a sair da mansão e da cidade junto com os meus pais, que de modo algum querem estar aqui quando o McGucket chegar. Não sei pra onde vamos ir. Enviarei notícias assim que for possível. Adeus, minha querida! 

  A chamada termina. Mabel fica triste, mas aí se lembra dos últimos momentos junto com sua amada, e isso á alegra um pouco. Ouve o som de passos e põe o smartfone dentro da mochila, fechando o zíper poucos segundos antes do irmão abrir a porta, dizendo:

  - Venha logo Mabel, ou iremos perder o ônibus!

— Já estou indo, Dipper!

 Ela se levanta e sai junto com o irmão, deixando para trás o quarto vazio e silencioso. As férias dos irmãos Pines na estranha e incrível Gravity Falls haviam terminado. Mas o relacionamento de Mabel com Pacífica Northwest ainda estava no começo...


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