Sakura aproximou-se de Itachi com pressa. Desejou fortemente que seus amigos continuassem a acreditar no seu julgamento e no de Tsunade e não interferissem em nada. Abaixou-se e passou a examinar o corpo de Itachi com seu próprio chakra.

Estava vivo.

Sim, Itachi Uchiha ainda vivia! Fraco, morrendo lentamente pela luta com Sasuke e pela doença que o consumia, mas, ainda assim, vivo. Com toda a certeza, ele sabia que ela estava ali: ele conhecia aquele chakra, que passou tantas vezes pelo seu corpo. Não estava inconsciente, porém cedia à exaustão, aceitando seu destino.

Sakura poderia curá-lo. Ela poderia salvar a sua vida, ajudá-lo a continuar de pé, mas sabia que, de todas as pessoas do mundo, a que mais desejava Itachi Uchiha morto era ele mesmo. A kunoichi, como alguém que respeitava e gostava do renegado, não deixaria seus esforços por Sasuke serem em vão. Ela havia aceitado levar o seu legado adiante, afinal, mesmo que discordasse fortemente disso.

Aproximou-se um pouco mais de sua orelha e passou a falar tão baixo que mais parecia um sussurro.

― Itachi-san… Eu curei Sasuke dos piores ferimentos e ele vai ficar bem. Vamos levar ele para Konoha antes que Madara ou Zetsu cheguem aqui. Se me permite, quando o coração dele estiver livre de ódio, quando ele conseguir entender… Eu quero contar para ele a verdade, por mais que você seja contra isso. Não quero que ele te odeie até o fim porque você é alguém que merece mais do que isso. Ele estará em boas mãos pois amamos ele. Você foi um grande homem e eu vou me lembrar disso todos os dias. Sasuke-kun vai lembrar também, eventualmente.

E ali, tão perto do rosto de Itachi, Sakura ouviu um som anasalado, quase como um suspiro, e sentiu um fraco aperto em sua mão, tão próxima da dele antes, e que agora era segurada. Kisame chegou naquele momento, e ela não se alarmou, lembrando-se do que Itachi dizia no recado que mandou para ela pouco tempo antes.

― Sakura-chan!! ― Ela ouviu Naruto gritar e se virou para trás, mostrando com serenidade no olhar e a falta de tensão que estava tudo bem com ela e que Kisame não demonstrava perigo. Ele não parecia conseguir enxergar as mãos dos dois.

― Kisame, quanto tempo ― cumprimentou o homem-tubarão.

― Quanto tempo, baixinha ― ele sorriu daquele jeito sarcástico de sempre.

― Ele ainda está vivo. Não deixe o Tobi encontrá-lo até que ele morra. Ele te contou que eu estaria aqui, não é? Te deu orientações, certo?

Ela recebeu a afirmação que precisava com um aceno positivo da cabeça do nukenin. Ele soltou uma risada rouca no fundo da garganta.

― Vocês dois acabaram se dando bem, não é? Eu sempre soube que ele tinha um ponto fraco por você. ― Ele observou as mãos unidas e Sakura se sentiu constrangida, mas não soltou-as. Decidiu desviar o assunto para o ponto principal; ela precisava ser rápida.

― Kisame, eu tenho um favor para te pedir. Eu preciso levar os olhos de Itachi-san ― contou. O homem tensionou, visivelmente contra aquilo, e os olhos pequenos semicerraram ameaçadores. ― O Tobi não pode chegar perto deles, principalmente agora que estão parcialmente curados. Se o Sharingan do Itachi-san chegar nas mãos dele, eu jamais vou me perdoar. O mundo inteiro estará em perigo e tudo pelo que Itachi-san lutou estará perdido.

As palavras de Sakura pesaram em Kisame, que entendia a gravidade da situação, se lembrando de tudo que Itachi o disse dias antes de morrer, como se esperasse por aquele momento e tivesse planejado cada detalhe como aquele. O olhar de Sakura mostrava que a baixinha não estava blefando. No meio daqueles olhos também viu algo que não sabia entender o que era, mas então compreendeu que Itachi realmente desejou que seus olhos ficassem com ela.

― Itachi realmente pensa em tudo, não é? Tudo bem. Mas seja rápida.

― Obrigada. ― Ela sorriu abertamente com alívio. ― Eu serei.

Sakura sedou Itachi e removeu seus olhos, como ele havia pedido para que ela fizesse no dia anterior. Ele estava fraco demais.

Após terminar, guardou as orbes em um recipiente seguro e selado em um pergaminho.

― Adeus, Itachi-san. Obrigada por tudo que você fez por mim, pelo Sasuke e por Konoha. Daqui pra frente deixe o resto comigo, eu vou fazer tudo valer a pena. ― Ela disse, não sabendo ao certo se ele a ouvia, perto demais da morte. Mesmo assim, com um último toque de carinho que Itachi receberia na vida, levemente passou a mão pelas raízes dos cabelos negros, um conforto final para uma alma tão perturbada.

Olhou para Kisame e ele soltou um de seus sorrisos, pegando Itachi sem dificuldade e colocando-o em seu ombro.

― Dessa vez eu posso me despedir de você, baixinha. Na última vez você saiu sem avisar ― ele zombou ― tome cuidado com esses olhos.

― Tomarei ― assentiu ― Kisame… Como vai Deidara?

 ― Já estava achando que não perguntaria. ― O sorriso dele se expandiu. ― Ele foi espancado sem dó pelo Líder, mas agora está bem. Explodindo mais as coisas do que nunca, mas está bem. Direi que mandou lembranças.

― Espero que só ele saiba que nos encontramos ― ela insinuou.

― Só ele saberá. Itachi me deu instruções, se lembra? E sem contar que eu não achei tão ruim assim que você tivesse fugido. Uma menininha fofa como você deve ficar em um lugar que te sirva melhor.

 Logo em seguida, Kisame fez uma reverência e desapareceu com Itachi na noite escura.