Uma vez, eu tive um sonho muito bonito.

Sai carregava em seus braços um menininho de cerca de dois anos. Ele era branco e tinha olhos negros como o homem que o levava, mas o cabelo era cor-de-rosa. E esse menino me via e me chamava de mamãe, estendendo os braços para que eu passasse a ser a pessoa que o segurava.

E então, junto com a minha família, eu iria até a casa dos meus pais. Mamãe gritaria com um papai saudável, como sempre fazia, enquanto ele faria alguma piada horrível qualquer. E Sai riria, porque ele sempre achava graça nas piadas do meu pai.

Mas, quando se é um shinobi, nada sai como nos sonhos. A realidade é dura, a morte nos espreita a cada passo que damos, e a chance de sermos verdadeiramente felizes é praticamente impossível.

Uma vez, eu disse a Deidara que não tinha medo da morte, que a aceitaria como parte provável da minha vida de kunoichi; entretanto, estava enganada. Eu não sabia o quanto a morte é dura, até receber a notícia da morte de Tsunade-shishou. Mesmo quando sofri um aborto espontâneo, eu não sabia o quão avassaladora era a perda de alguém que fez parte da sua vida por tanto tempo. E eu também não sabia o pavor que uma perda me causava até ver meu noivo morrer em meus braços. A dor da morte corrói de dentro para fora e acaba com nossos sonhos.

A morte do meu futuro filho acabou com uma boa parcela de sonhos que eu criei desde quando soube, naquela fatídica manhã de verão, que eu estava grávida. Eles estavam voltando a surgir quando os restantes foram destruídos quando Sai foi se juntar ao nosso bebê, morto por um ato de pura maldade de um Madara Uchiha que nem vivo realmente estava.

A guerra acabou e, junto com ela, todas as minhas estruturas mentais caíram. Eu não queria ser uma salvadora do mundo, ou a kunoichi que superou a Princesa Tsunade, muito menos um símbolo de esperança e paz ao lado do restante do Time Sete. Eu só queria ser, mais uma vez, a Sakura de dezoito anos, com os amigos vivos, com minha segunda mãe viva e, acima de tudo, ao lado de Sai. Iludida na minha redoma do mundo perfeito de Konoha, sem noção de tudo que viria em um ano e meio.

Mas sonhos não se realizam para um shinobi.