— Onde está o Jimin huyng? – Jungkook inquiriu à todos quando chegou à cozinha do prédio.

Todos o olharam por alguns segundos. O maknae ainda parecia abatido pela noite anterior.

— Está melhor, Kookie? – Taehyung perguntou oferecendo uma fatia de fruta ao mais novo.

Este meneou a cabeça positivamente em resposta e aceitando a fruta, mastigou lentamente ainda receoso por seu estômago.

— Jimin foi encontrar-se com Nana. Hoje é o aniversário de um mês dos dois. – Hoseok respondeu tomando um gole do seu iogurte. Em seguida, ofereceu-o também ao mais novo que aceitou.

— Oh, havia esquecido... – Respondeu reticente sentando-se.

— Já passa das 10h, logo será o almoço em família. – Namjoon observou.

— Não acredito que vocês estão crescendo tão rápido. Jimin sempre foi o que mais aprontava e olha só! – Jin parecia incrédulo.

— Um dia, mais cedo ou mais tarde, hyung, seguiremos nossos próprios caminhos. – Yoongi afirmou. Já tendo se alimentado aquela manhã, apenas observava a conversa, sentado ao canto com as pernas cruzadas.

Jungkook esbugalhou os olhos repentinamente com aquela frase, que para ele foi uma cortante realidade. Já podia sentir o peso de tais palavras presente em sua vida.

Lembrou-se de Heuna.

Ela havia ligado na noite anterior.

Tateou os bolsos.

— Naturalmente, hyung, mas continuaremos com o grupo... – Hoseok falou dando de ombros mordendo uma torrada.

— É o que também quero, Hobbi-ah. – Yoongi falou tranquilo.

— Claro! – Namjoon exclamou estendendo uma mão.

Todos se entreolharam compreendendo o que o líder pretendia e repetiram o gesto para em seguida gritarem em uníssono:

— BAN-BANGTAN! – Sorriram satisfeitos.

— Hm, quer conversar agora, Kookie? – Jin olhou para o mais novo ainda com um sorriso no rosto. Precisava ajudá-lo com suas novas fases. Lembrou-se também do número sem nome no celular do maknae.

— Eu? Ér... Na verdade eu preciso... – Pigarreou coçando a nuca – Preciso descansar um pouco. Ainda não estou tão bem.- Jungkook crispou os lábios sabendo que não acreditariam por completo.

— Está bem. Coma mais alguma coisa, então. – Jin observou.

Este, por sua vez, levantou-se tomando uma maçã e algumas fatias de bolo nas mãos para em seguida subir novamente.

— Essa que foi uma ressaca, hein. – Hoseok falou entre admirado e preocupado assim que o maknae deu as costas.

Taehyung riu anasalado em concordância.   

Sentando-se em sua cama, Jungkook comeu rapidamente o que havia levado e agradeceu aos céus pelo enjôo da bebedeira haver passado. Sua cabeça ainda doía, mas era suportável.

Segurou o celular a fim de retornar a ligação para Heuna e suas mãos novamente suaram.

— Aigoo, Jungkook! – Exclamou para si mesmo, encorajado-se.

Lembrou-se da vez em que quase contara sobre Heuna para seus hyungs.

Um mês atrás...

Flashback On

— Jimin hyung, você é um international playboy, também. Assim como eu. – Falou cheio de orgulho - Ela não resistirá aos seus encantos. – Jungkook abriu um sorriso sapeca.

— Jungkook-ah, o que você anda fazendo todas as noites na lanchonete aqui perto, hein?! - Jin perguntou curioso percebendo os ares do maknae, cheio de si.

Jungkook crispou os lábios ficando vermelho em segundos.

— Eu... Há uma garota que --

— AIGO! MAS O QUE VOCÊS ESTÃO FALANDO?! – Jimin expressou aflito com sua voz aguda.

Todos o olharam.

— Já sei o que fazer.

Jimin falou saindo em seguida, batendo a porta atrás de si.

Flashback Off

— Pensei que seria mais simples... – Jungkook pensou alto ao lembra-se do que aconselhara e dissera à Jimin hyung – Jin hyung já havia notado. Como eu estaria agora se tivesse falado naquele momento?

Esta era uma pergunta sem resposta.

Procurou o número de Heuna em suas chamadas. Selecionou-o mordendo o lábio inferior. Sua respiração estava mais rápida subindo e baixando o peitoral por debaixo da fina camisa branca.

Em um segundo, lembrou-se do Kiji, o rapaz que a garota sempre mencionava, e sentiu uma gota de um ciúme impensado respingar seu coração.

Não tinha o porquê em sentir-se enciumado se Heuna e ele eram apenas amigos. Amigos. Afinal, nunca tivera coragem suficiente para perguntar diretamente à garota sobre este rapaz; não queria dar a entender à ela – ou seria à ele mesmo? - outra coisa... Outro sentimento.

***

A ida do maknae ao estabelecimento de Heuna havia se repetido muitas vezes durante os quatro breves meses anteriores sem nenhum alarde, até que os noticiários estouraram mês passado com o namoro do Jimin com a sua staff e então atriz do novo MV e, assim, não teve tempo - nem coragem - de conversar com seus huyngs sobre o assunto.

Na verdade não tinha muito o que dizer. Assim convencia-se o maknae: ambos, Jungkook e Heuna, apenas conversavam por longos minutos e sorriam divertidos enquanto se conheciam aos poucos. Afinal de contas, todas as especulações sobre Jimin e Nana estavam muito recentes. Ele deveria pensar nos demais. Deveria pensar no grupo e não levar mais esta preocupação para todos naquele momento.

Pensava ele em esperar tudo passar, mas as coisas começavam a sair de seu controle.

Desde que vira Heuna pela primeira vez, sempre uma desculpa como motivo para ir à lanchonete surgia, a fim de poder estar perto daquela garota que lhe havia cativado com poucas palavras e roubado seus pensamentos.

Sentia falta, na verdade, de alguém por perto que estivesse ao mesmo tempo longe de holofotes e daquela rotina louca de K-idol. Ali, com Heuna, conseguia respirar melhor. Havia encontrado o que sentia que lhe faltava, apensar de não saber o que o futuro tramava para ele sobre isto.

Aos poucos, nestes meses, conversas eram traçadas por ambos e logo o maknae a esperava ao fim do expediente para conversarem com traquilidade e comerem algo antes de partirem. Descobriu que Heuna era de família coreana e apenas sua mãe era brasileira dona de um famoso restaurante com toques Brasil-Coreia, assim como aquela lanchonete.

O negócio da família se expandia e o pai da garota trabalhava como escritor e diretor chefe de um jornal sul-coreano. O que deixava a garota dividida entre as duas profissões. Amava a gastronomia assim como a vida de escritora que também poderia rumar.

O tal Kiji sempre a ajudava e parecia fazer parte também dos negócios da família. Certa vez Heuna comentou que cresceram juntos... Parecia fazer parte da vida da Heuna. Eram íntimos de algum modo e isto passou a incomodar o maknae de forma que estava impossível para ele não assumir este ciúme que ele próprio julgava infantil.

***

Jungkook resolveu não pensar mais e apertou na tela de seu aparelho para realizar a ligação.

O número do outro lado chamava.

O maknae suspirou pesadamente e sentiu-se quente. Seu coração acelerava a medida que esperava, nervoso, pela voz de Heuna:

— Jungkook?

— A-annyohaseyo, noona. – Falou sério, mas estava feliz em ouvi-la.

A garota do outro lado silenciou aguardando. Jungkook continuou sem antes pigarrear, limpando a voz que ficara rouca de nervoso:

— Vi sua ligação noite passada...

— E viu minhas mensagens também. – Heuna afirmou com uma tranquilidade madura para os seus quase 23 anos.

O mais novo não esperava por esta. Como explicar sem que parecesse uma desculpa?

— Bem, eu estava ocupado... Cansado... Eu adoeci. – Falou por fim, agitando-se, sem planejar as próximas palavras.

­— Kookie, você estava ocupado, cansado ou doente? – Heuna questionou com um leve suspiro do outro lado da linha.

— Eu passei mal após um jantar com meus hyungs. – Falou um tom mais baixo.

— Mesmo? - A garota pareceu testar.

— Nee. Voltamos para casa por minha culpa. Eu exagerei em... Algumas... Doses.

Do outro lado, Heuna arqueou uma sobrancelha encarando o próprio celular. Preferiu não entrar em detalhes neste assunto, pelo menos por enquanto:

— E se sente melhor agora?

— Bem melhor. – “ouvindo sua voz”, pensou o maknae – Bom, eu lhe devo desculpas, noona, por ter saído daquele jeito da lanchonete na manhã passada e... Por não haver me explicado desde então. – Pensava nas mensagens que havia lido durante o jantar deixando-as sem resposta. 

— Tudo bem, Kook, mas ainda não falou o que está acontecendo. Fiquei preocupada em ter dito algo ruim ou... – A garota pensava em suas palavras já ditas, mas não encontrava motivos – Não sei.

Jungkook calou percebendo que mais cedo ou mais tarde teria que confessar o que sentia. Não suportaria viver com este sentimento guardado neste redemoinho que o complicava.

— Jungkook, você está aí? – Heuna inquiriu diante do silêncio – Por que você não quer que eu mencione o Kiji-ah? – Arriscou.

— Aigo, noona! – Jungkook ficou impaciente, o que sobressaltou a garota do outro lado da linha – Novamente este nome?! Prefiro que, em nossas conversas, não seja preciso falar nele. – O mais novo sentiu seu rosto arder e um peso ruim tomou conta do seu peito.

— Jungkook. – A voz de Heuna pareceu fria.

— Aish, noona... Me desculpe. – O maknae lamentou-se crispando os lábios com força.

— Não dá pra conversar com você deste jeito. – Começou a mais velha – Olha, liguei ontem para saber como estava, já que você não costuma não responder às mensagens. Mas já vi que está bem. Até mais.

— Ani! Não, espera! – “Seria este o momento para falar?...” – Pensou o maknae com seu coração palpitando descompassado. Sentiu um leve tremor. – Te-tenho ciúmes.

Foi o que conseguiu dizer.

Pôde ouvir um descontraído riso abafado do outro lado da linha. 

— Ciúmes? Não seja pabo. – Sorriu leve – Seu bobinho... Por isso não me deixava falar sobre ele--

— Ainda prefiro não deixar... – Jungkook a interrompeu coçando a nuca. Sentia que esta conversa não levaria a lugar algum e não sabia como retomar o controle desta situação. Já se arrependia por haver revelado seus ciúmes.

Agora ela o acharia um tolo e ele não poderia fazer nada.

— Mas, Kookie, deixe-me--

Foi novamente interrompida.

Jungkook ouviu passos se aproximando e falou apressado:

— Preciso desligar, noona. Nos falamos depois, ok?

Foi a vez de Heuna em sentir um peso no coração. Era ela que agora se sentia uma boba por preocupar-se com o Jungkook que parecia só querer esquivar-se da mesma.

Talvez estivesse enganada sobre ele.

Como ele sentia ciúmes e a afastava dele?

Talvez devesse ela deixar-se ir da vida do maknae, já que ele rejeitava suas tentativas em torná-lo parte da sua.

Mas, por que teria ele se aproximado? Não podia entender.

Ela quem fora a boba da história. Pabo.  

— Nee. – Surpreendeu-se Heuna ao ouvir seu próprio tom triste. Desligou em seguida sem mais delongas.

Jungkook sentiu que a magoara e virou-se para a porta com o olhar entre cansado e confuso.

Determinou-se em acabar com esta situação de uma vez por todas. Iria até a lanchonete e conversaria com Heuna como ela merecia. Se acalmaria, falaria dos seus sentimentos mesmo sabendo que ela já tinha alguém. Seria honesto com ambos e ouviria quieto o que ela teria a dizer sobre o tal Kiji.

Não sabia ao certo, mas sentia que precisava da confiança da garota. Decepcioná-la o cortava profundamente.

Precisava dela por perto, como uma bússola a qual podia guiar-se tranquilo, feliz, leve. Não gostava da ideia de assumir para si que estaria apaixonado por alguém. Tudo isto era novo demais para o maknae. Mas precisava ser claro consigo mesmo, amadurecer, ou afastaria a quem quer que fosse.

Era o que estava fazendo com a Heuna, tão gentil e verdadeira.

Isto não estava certo.

Yoongi adentrou no dormitório chutando o chão distraído enquanto bocejava quando Jungkook disparou tais palavras:

— Estou gostando de uma pessoa, hyung. Nos conhecemos há uns 4 meses e não sei mais o que fazer.

Yoongi foi pego de surpresa:

— Q-quê?! – Exclamou pondo a mão no coração com uma careta - Antes mesmo da história toda do Jimin e da Nana vir à tona você já conhecia alguém? Mas como foi isso, Jungkook?!

— Não tenho tempo agora! Preciso consertar o que fiz. – Saiu correndo do dormitório.

— E O QUE VOCÊ FEZ?!! – Yoongi gritou a todo pulmão para um maknae já distante – Aigoo! Alguém me explica o que está acontecendo com este garoto! – Exclamou para si mesmo descendo apressado de volta ao outro andar para falar aos demais o que havia acabado de acontecer.

Jungkook passou em disparada pelos corredores respirando ofegante e abriu às pressas a grande porta de vidro do prédio da Big Hit. Sentia seu coração pulsar em sua garganta e engoliu em seco. Seu rosto vermelho formava pequenas gotículas de suor.

 Correu a mesma rua dobrando a quadra ao lado e avistou a lanchonete da sua Heuna.

Agora, mais do que nunca estava determinado em expor seus sentimentos e deixaria que ela decidisse o que fosse o melhor. Estaria preparado para isto. Sim, estaria preparado. Heuna é especial e ele teria que lutar por ela.

Abriu de súbito a porta da lanchonete naquela manhã ensolarada.

Inspiradora.

Adentrou o estabelecimento a procura da sua amada. Não a encontrando, dirigiu-se a uma das funcionárias:

— Annyonghaseyo! Você sabe onde está a Heuna?

— O-Oh! – A voz da pequena funcionária falhou ao vê-lo dirigir-se à ela novamente. Tão simpático, educado, lindo...

— Você está bem? – Jugkook perguntou à jovem, que antes havia pedido seu autógrafo. Ele olhou-a nos olhos curioso e apreensivo.

Ela o admirava abobada, até que respondeu finalmente:

— N-nee! Heunna unnie está no escritório. – Olhou-o com um ar levemente malicioso sorrindo de lado para o maknae pensando nos motivos que levavam o alto rapaz à procurar Heuna com tanta urgência – Terceira porta à direita! – Encorajou-o, o que fez as bochechas de Jungkook arderem. Este, por sua vez, sorriu estendendo suas mãos para a funcionária, claramente sua fã e admiradora.

— Kamsahamnida! – Jungkook fez uma simples vênia.

A jovem retribuiu segurando as mãos estendidas do maknae e incontrolavelmente gritou agudo com os dentes trincados por alguns segundos para conter o escândalo que gostaria de expressar, fazendo Jungkook sorrir.

O maknae soltou-se da funcionária enquanto piscava para a mesma mordendo a ponta dos próprios lábios. 

— Não faz issooo... – A pequena falou ainda entre dentes vendo-o distanciar-se sorridente pela sua reação.

Jungkook abriu a porta lateral do estabelecimento deparando-se com um longo corredor e uma cozinha à esquerda. Tenso novamente, seguiu pelo corredor contando as portas. Seu coração batia forte, nervoso e ansioso. Sentiu suas mãos suarem e seus passos ficaram mais pesados.

Deparou-se com a porta indicada aberta e gelou ao encarar a cena a sua frente.

Todo o calor que o aquecia deu lugar a um repentino frio que perfurou impiedoso seu jovem coração. Seus olhos começaram a arder com as lágrimas que insistiam em se formar, mas não as rejeitaria. Já estava cansado de tudo: rotina e agitações, holofotes e solidão. Agora era a vez das lágrimas.

Como mencionara Yoongi certa vez,

“Sou apenas o maknae Jungkook”.— Pensou o jovem.

Sentiu-se diminuto com o que via. Perdera o chão sob seus pés.