A primeira coisa que ele percebeu, ou na verdade relembrou, é que havia muito mais gente do que deveria naquela festa e ele nem parecia perto de encontrar alguém conhecido. Aparentemente, todos os seus amigos haviam sumido para algum lugar desconhecido, deixando-o sozinho para resolver aquela situação tensa. Por sorte, acreditava, a casa de Kiba não era tão grande, então poderia simplesmente sair procurando a amiga por aí; ela devia estar em algum lugar próximo. Ou não.

Caminhava lentamente, lançando um olhar atento sobre todos que estavam no recinto. Ser relativamente alto lhe dava uma vantagem em sua tarefa, o que o permitiu avistar, de longe, uma cabeleira familiar. O conhecido estava encostado na parede, seus braços cruzados e sua cabeça baixa, totalmente aleatório ao que estava acontecendo ao seu redor. Se não o conhecesse minimamente e não soubesse da situação, poderia pensar que estava dormindo.

Pôs-se a pensar por um instante, parando em seu caminho. Deveria ir falar com Shino? Ou seria muito indiscreto, praticamente expondo que a amiga havia contado para alguém? Quer dizer, naquela altura do campeonato, ele realmente se importava em ser indiscreto sobre o fato? Quando TenTen parecera tão desesperada e ele não estava conseguindo encontrá-la? Não precisou pensar duas vezes.

Aproximou-se com passos incertos e não precisou alertar sua presença para o homem a sua frente. No entanto, o Aburame, mesmo ciente do olhar de Sasuke direcionado a si, não levantou a cabeça. O moreno pigarreou; o que deveria dizer naquele momento, para Shino, alguém que nem ao menos conversava direito? Tinha ele o direito de ir exigir alguma explicação ou algo assim? Só queria que TenTen ficasse bem. Então, precisava fazê-lo.

“Hn, oi.” Tentou iniciar o diálogo, pensando que aquela talvez era a pior forma possível. Deveria ir direto ao assunto e esquecer aquela baboseira de enrolação e formalidades?

“O que você quer?” Direto e sem rodeios, o homem dos insetos se dirigiu a ele. Parecia aborrecido. Isso deu ao Uchiha coragem o suficiente para reagir da mesma forma.

“A TenTen saiu chorando, eu não sei onde ela está. O que aconteceu entre vocês dois?” Conseguiu que o homem à sua frente levantasse a cabeça e olhasse para si com uma face incrédula. O motivo de tamanha surpresa passou incompreendido para Sasuke; Shino não sabia que ele e a morena faziam parte do mesmo time e eram, tipo, muito amigos?

Agora que já estava falando mesmo e tinha a completa atenção da pessoa a quem precisava dizer algumas palavras, apenas despejou tudo o que estava com vontade de dizer.

“Olha, Shino, sinceramente, eu não sei nem o que eu estou fazendo aqui falando com você. Mas a TenTen tem sequelas, sabe. Não é desconhecido para você o quanto ela sofreu, e ainda sofre, com a morte do Neji. Mesmo assim, mesmo com todo o medo que ela tinha em relação a isso, ela nos incentivou, a mim e a si mesma, a seguirmos em frente. Eu não sei o que se passou pela sua cabeça, mas ela só estava tentando encontrar seu próprio caminho. Ela ficou sob a sombra do Hyuuga por bastante tempo e acredito que sua atitude tenha feito-a pensar um monte de coisas ruins sobre si mesma.”

Como aquela conversa era difícil! Primeiro, porque Shino o olhava de forma estranha, confuso, mas ao mesmo tempo como se quisesse sair correndo dali. Segundo, porque não tinha moral nenhuma para ficar se intrometendo nos assuntos dos outros, odiava aquilo, porém, daquela vez, simplesmente não podia ficar parado. Quando seus olhos estavam cobertos por confusão, e medo, a Mitsashi tentara fazê-lo enxergar que coisas boas poderiam acontecer com ele também. No mínimo, devia isso a ela.

Suspirou, encontrando palavras para continuar a falar. Sentia-se cansado mentalmente só de imaginar o desenrolar daquela situação. “Eu só quero encontrá-la. Ou que você queira encontrá-la e resolver essa situação. Foi muito doloroso vê-la tão triste. E a TenTen é como uma irmã para mim. Sempre quero vê-la bem. E o que eu vi uns minutos atrás… aquilo foi tudo menos bem.”

Depois que falou tudo o que precisava, recolheu-se em seu silêncio. Agora, Shino era quem precisava resolver-se consigo mesmo. Se superaria o seu medo e correria atrás de uma mulher que estava interessada por ele ou se deixaria os temores tomarem conta de sua mente e atrapalharem o que poderia ter sido um lindo romance.

Cinco longos minutos se passaram antes que o Aburame resolvesse tomar alguma atitude. Sasuke já estava ficando nervoso, enquanto olhava para o homem buscando algum mínimo de emoção ou ação da parte dele. Estava prestes a gritar qualquer coisa para ele e sair correndo atrás da amiga, porém, como acreditava desde o princípio, a decisão cabia somente a ele.

“Irei atrás dela.” Finalmente, pensou o Uchiha, já cansado de tanta indecisão. Apesar de que, como esperado, não poderia nem falar nada, já que ele próprio demorou cerca de semanas até que tomasse a decisão de tentar algum envolvimento com Sai. Agora sabia como TenTen havia ficado nervosa enquanto o incentivava.

“Vou confiar em você.” O mestre dos insetos mal esperou-o terminar de falar para sair correndo aflito a fim de encontrar a kunoichi. Bem, agora não havia muito o que ele pudesse fazer. Apenas esperava que Shino pudesse resolver as coisas da melhor maneira possível e que a amiga ficasse bem. Por enquanto, tinha seu próprio problema para resolver.

Com os olhos, encontrou Sai sentado em um sofá um pouco afastado. Surpreendentemente, ele estava sozinho. Nada de Sakura ou Naruto nem de pessoas aleatórias sentadas próximo. Estranhou, mas, bem, aparentemente os convidados estavam mais interessados em dançar ou beber por aí. No final, aquilo era uma coisa boa, pensava, poderiam conversar de forma tranquila. Ou fazer outras coisas, também.

Nunca deveria ter provado daquela boca. Porque queria mais e, mesmo tendo beijado-o há pouco tempo, parecia não ter sido o suficiente. Dessa forma, aproximou-se dele calmamente, tomando o lugar ao seu lado. Sai estava rindo de alguma coisa a sua frente e ao direcionar o olhar para o motivo das risadas, pôde perceber que era Lee ali na frente, com Sakura e Ino. Bem, Ino estava lá, mas ao mesmo tempo não estava, já que o companheiro cabeça de tigela parecia estar cantando fortemente a mulher de cabelos róseos, deixando a loira um pouco excluída.

Olhou novamente para o moreno ao seu lado. Seu olhar instantaneamente se moveu para seus lábios, que estampavam um sorriso divertido. O outro ainda não o havia percebido, provavelmente pensando que poderia ser alguém aleatório da festa. Talvez o ex membro da Raiz não estava esperando que ele voltasse ou aparecesse por ali? Foi inevitável sorrir. Talvez devesse surpreendê-lo.

Usou sua mão para puxar o rosto dele para si, capturando o momento em que o mestre dos desenhos arfou em espanto. Aproximou os lábios o suficiente para sentir a respiração nervosa daquele a sua frente, que parecia um pouco paralisado pela situação. Quis rir, apesar de saber que aquele não era o momento oportuno. Provocá-lo era extremamente divertido.

“O-o que você es-está fazendo?” Abalado era pouco para o estado de Sai. Depois de sair da cozinha, ele não imaginou que Sasuke pudesse aparecer em qualquer lugar da festa, muito menos ao seu lado e ainda mais querendo puxá-lo para um beijo. Tanto que, por um momento, seu cérebro pareceu ter congelado. Aos poucos, foi voltando e, então, de alguma forma desconhecida, ele conseguiu articular algumas palavras e afastar-se um pouco, mesmo que a mão do moreno ainda continuasse em seu rosto e eles ainda tivessem suficientemente próximos.

Então, tornou-se consciente da música alta e de onde ambos estavam. Aquela era a casa de Kiba, no aniversário dele. Praticamente todos os jovens da vila estavam ali. Haviam acabado de “começar” e já estariam prontos para revelar, assim, para todos? O Uchiha sequer havia pensado naquela situação? Estava ele consciente que não estavam sozinhos no recinto, como havia acontecido na cozinha? Para onde havia ido a prudência dele? E, por fim, o choque: até mesmo Sasuke Uchiha poderia ser imprudente e inconsequente de vez em quando?

“Você se importa?” Questionou o possuidor do Sharingan, se referindo a estarem no meio de todos. Estando eles tão próximos, com o Uchiha sussurrando daquela forma, de um jeito que devia ser proibido de tão sexy, com um tom de voz que parecia dizer que ele estava com muito desejo de beijá-lo, ele realmente se importava de estar no meio de todos? Já sabia a resposta. “Não se preocupe, pra quem olhar de longe vai parecer que só estamos conversando perto um do outro.”

Dizendo isso, o ex-nukenin aproximou os rostos novamente, dessa vez colando os lábios sem hesitação. Passado o primeiro contato inicial, aquele que os deixava arrepiados pela surpresa, eles permitiram-se beijar-se com afinco. Não com a afobação presente na cozinha, afinal a situação era diferente, porém era intenso. Sasuke beijava bem pra caralho e aquela mão em seu pescoço ditando o ritmo era mais excitante do que o momento permitia. Sai poderia passar o dia inteiro beijando-o daquela forma. Beijá-lo e não querer ir para um quarto automaticamente com ele era impossível. Como seria se pudessem tocar-se livremente, de preferência com mais privacidade?

Até mesmo se esqueceu das pessoas a sua volta. Mas só por um pequeno instante, pois Kiba fez questão de trazê-lo de volta à sala de estar e lembrá-lo exatamente onde estavam e, principalmente, que não estavam sozinhos, sentando-se ao lado deles no sofá, deixando sua presença bem clara com uma risada estrondosa.

“As coisas estão meio quentes por aqui…” Pôde perceber com clareza a irritação de Sasuke assim que se afastou dele, até mesmo recolhendo a mão que o tocava. Bem, não estava surpreso; era a segunda vez que eram interrompidos. E se fosse a interrupção de algo ruim, tudo bem. Porém estava bom num nível que ele não poderia descrever. Esperava que a chateação do outro fosse porque ele se sentia da mesma forma.

O ninja do time Gai respirou fundo, direcionando seus olhos afiados para Kiba. Estava visivelmente chateado, porém não parecia nenhum pouco surpreso pelo responsável pela ação. “Tudo bem, admitam, você e o Naruto combinaram isso, não foi?”

O Inuzuka expressou a face mais inocente que conseguiu naquela situação, apesar de ainda deixar exposto um grande sorriso animado. “Eu não sei do que você está falando.”

“Esqueça, não vale a pena discutir algo que já está perdido.”

“Você sabe, se pudesse oferecia o meu quarto, mas, bem, eu e a Ino o usaremos mais tarde.”

“Não se preocupe com isso, idiota. No que você está pensando, afinal?” O sorriso malicioso do companheiro de Akamaru disse tudo, o que fez Sai ficar um pouco constrangido. A ideia de estar em um quarto com Sasuke, sozinho, já havia passado por sua mente, porém se sentia um pouco errado por pensar sobre isso. Talvez o Uchiha nem ao menos imaginasse algo assim, então, de certa forma, àquela altura, lhe parecia um pouco errado. Talvez mais pra frente, algum dia, quem sabe? Entretanto, só de imaginar algo assim, já ficava extremamente nervoso, o que o fez fechar sua expressão e verbalizar:

“Kiba, você é um idiota.”

“Desculpe.” O culpado tentou se justificar, mas suas risadas debochadas deixava claro que sua intenção não era das mais sinceras. “Não pude me conter.”

“Acho que é a minha hora de ir.” Sasuke se levantou do sofá, deixando ambos os dois ao lado surpresos. Ambos queriam perguntar o motivo, porém apenas o aniversariante se pronunciou.

“Como assim, hora de ir? Mas já? Você só pode estar de brincadeira! Vamos amanhecer hoje!”

“Só nos seus sonhos, Inuzuka.” Respondeu, rindo de deboche. “Nos vemos depois.”

Sai não esperava que Sasuke lhe desse beijos apaixonados antes de ir ou algo assim, então apenas se despediram com um aceno. Ao passar por Kiba, porém, o moreno fez questão de bater na cabeça do dono da casa, sussurrando algo como “baka”, enquanto seguia seu caminho para fora do recinto. Era o Uchiha, afinal. Deveriam ficar surpresos se ele quisesse amanhecer ali, como o outro havia sugerido.

“Bem, vou voltar para a minha festa. Você vem?”

“Estou bem aqui, não se preocupe. Sinta-se à vontade para ir.” Assim que o ninja saiu, a mente de Sai encheu-se.

Havia sido uma noite que ele nunca havia imaginado que aconteceria, mas tinha sido incrível. Apesar de toda a euforia provocada pelas lembranças dos acontecidos de mais cedo, ele não conseguia deixar de se perguntar como seria dali em diante para ele e Sasuke. Como levariam aquilo, em meio a missões e outras coisas?