Gai finalmente havia chegado. Sasuke suspirou de alívio em seu interior, pois TenTen distraiu-se com a chegada do sensei, todos eles animados para escreverem seus desejos. Depois de vê-lo espiando Sai, a morena começou a encará-lo fixamente, soltando risadinhas, o que o deixou extremamente incomodado. Primeiro porque não queria ter sido pego, segundo pois aquilo significava que ele tinha um interesse, no entanto só estava curioso. Não havia nada de errado com a curiosidade, certo?

O Uchiha foi arrastado pelos companheiros até uma barraca onde Ino estava distribuindo os tanzaku. TenTen, assim como Sakura, pegou de várias coisas, indecisa demais para escolher entre apenas uma coisa. Ela queria encontrar um amor, mas também queria paz, dinheiro e outras coisas. Lee e Gai tinham apenas um desejo: que seu fogo da juventude nunca morresse. Tendo aquilo, em suas mentes, não havia nada mais que eles precisassem. Dessa forma, escreveram em bilhetes verdes, que simbolizava a esperança.

Sasuke gostaria que a amiga não fosse tão malditamente observadora. Ela mirou seus olhos chocolates nele, praticamente o obrigando a escolher alguma cor. Ele ainda não tinha pegado nenhum, visto que achava tudo aquilo uma besteira. No entanto, diante daquele olhos ferozes, ele viu-se compelido a escolher qualquer um apenas para que ela parasse de encará-lo daquela forma. Pensou um pouco e decidiu que o branco era o mais neutro; todos queriam paz, afinal, e sua trajetória levava-o a querer a mesma coisa.

“Não, eu vou lhe dar outra chance. Pegue outro.” TenTen arrancou o bilhete branco de suas mãos, o que o fez suspirar; nem ao menos sabia quantas vezes havia suspirado desde que ela havia encucado com aquela história de que ele precisava de um amor. Até tinha um pouco de curiosidade em saber em que momento ela havia decidido que Sai era a pessoa ideal para aquilo.

“Não quero outro.”

“Sasuke! Você também não colabora!”

“Sou o único que se lembra que você prometeu que não iria se meter? Achei que tínhamos nos acertado!” Envergonhada, ela ficou vermelha por um momento. É claro que se lembrava de quando ele havia falado sobre o Neji e ela seguir em frente, como não poderia? Sentiu-se frustrada. Consigo mesma, com o amigo, com o mundo. Com Neji por ter ido embora e deixado-a sozinha para lidar com aquela situação.

“Tudo bem, não vou me meter no seu desejo.” Ela respondeu, devolvendo seu tanzaku branco. No entanto, se o Uchiha estava achando que ele havia ganhado aquela disputa, ele realmente não conhecia Mitsashi TenTen. - Mas você não pode se meter no meu desejo. E eu desejo que você e o Sai fiquem juntos!

Ela escreveu algo em seu papel vermelho e mostrou a ele. Em letras garrafais, lia-se SASUSAI. A única reação do moreno foi revirar os olhos. Por ele, a kunoichi poderia desejar o que quisesse; não necessariamente deveria significar alguma coisa. Ela poderia fazer o que quisesse, afinal. E ele também.

A noite chegou rápido. Depois de pendurarem seus desejos, o time Gai combinou de voltar em casa para se trocarem; não poderiam chegar ao aniversário do Kiba com aquelas vestimentas tradicionais. Gai, que não havia sido convidado para a festa (nenhum dos senseis havia sido, mais tarde descobriram até que Kiba fizera questão de sua mãe não estar presente, alegando que aquela era uma festa para ele e os amigos), disse que continuaria no Tanabata Matsuri até seu término.

Sasuke, e incrivelmente Lee, chegaram primeiro que TenTen. Supondo que aquela era uma festa entre amigos, eles decidiram entre si que poderiam esperá-la dentro da casa. Tocaram a campainha e não foram surpreendidos ao serem recepcionados por uma pessoa que não era Kiba. O aniversariante estava fora de vista, assim como Akamaru também.

Os dois recém-chegados entraram juntos, avistando Naruto logo de cara; ele estava gritando enquanto contava uma história que supõe-se ser engraçada para Shikamaru que, por motivos óbvios, não parecia interessado. Além dos famosos conhecidos ninjas da vila, o Inuzuka havia convidado alguns civis comuns com quem havia feito amizade. O lugar não estava lotado, entretanto havia mais pessoas do que todos esperavam, inicialmente.

“Ei, Sasuke, Sobrancelhudo. Finalmente vocês chegaram! Onde está a TenTen-chan?” Naruto abriu um sorriso imenso quando percebeu que aqueles poderiam ser seus potenciais alvos para contar piada. Principalmente Lee, que sempre ria das mesmas coisas que ele. Shikamaru, do outro lado, acenou para os outros dois, aproveitando aquele momento para livrar-se do loiro e ir dar uma volta, provavelmente procurar um lugar para tirar um cochilo.

“Ela deve estar vindo. Foi para casa se arrumar depois do festival.” Lee dispôs-se a responder, enquanto Sasuke apenas deu de ombros, sem nada interessante ou adequado o suficiente para falar. Claramente não se sentia muito confortável ali, no geral, no entanto encontrar aqueles rostos conhecidos lhe deixou um pouquinho aliviado. E, também, claro, era importante lembrar que, felizmente, os grupos não estava se misturando, então a possibilidade de as pessoas que conhecia estarem conversando com gente desconhecida para ele era mínima. Ele era introvertido, sempre fora; odiava conversar, principalmente com pessoas que não conhecia.

“Legal, -ttebayo! Estão a fim de pegar umas bebidas? Eu tô sem ninguém pra conversar. O Shikamaru vai pras festas obrigado, eu acho, porque ele nem ao menos fala e só fica bocejando. O Chouji, o Kiba e o Shino estão desaparecidos, até mesmo o Akamaru. A Sakura-chan foi com a Ino e o Sai para algum lugar, estava aqui ao meu lado e de repente, BUM, desapareceram. Nem a Hinata quer ficar perto de mim, eu cheguei perto dela e ela saiu correndo. Estou fedido? Por que as pessoas não querem estar perto de mim hoje?” O Uzumaki fez uma expressão de tristeza e, por mais errado que aquilo fosse, quis rir. Ele não sabia sobre os outros, mas Hinata não ficava perto de Naruto por motivos óbvios; e só o abestalhado não conseguia ver a razão.

“Vamos lá! O fogo da juventude precisa ser saciado com um bom gole de água gelada!” O Uchiha, sem muita escolha, seguiu os dois companheiros que embarcaram em uma conversa animada. Naruto e Lee se entendiam como ninguém. Apesar de toda a rivalidade passada entre eles, pode-se dizer que mesmo aquilo fora uma coisa boa; os dois ninjas haviam considerado suas habilidades consideravelmente só pensando em se tornar melhor que o outro. De certa forma, havia sido como uma inspiração.

Por sorte, a cozinha estava vazia. O loiro, por ter chegado primeiro, já estava ciente onde ficavam as bebidas, então ele apontou aos outros dois. Lee ficou na água, não podia beber. Caso o fizesse, o perigo de destruir a festa e a casa de Kiba era grande, como já fizera outras vezes. Uma mínima gota de álcool em sua boca seria o suficiente para causar um estrago. Sasuke não era muito de beber, porém foi impossível ignorar a voz de provocação do seu eterno inimigo/amigo desafiando-o a tomar uma dose de saquê.

“Duvido você tomar outra!” Foi desafiado novamente pelo baka, mas não era nem um pouco estúpido.

“Está querendo me embebedar, dobe? Vá sonhando que vou ficar bêbado com duas doses! Está me confundindo com você?” Foi inevitável que sua voz saísse carregada de deboche, o que fez o outro rir alto o suficiente para que as pessoas que estavam na sala ouvissem, apesar da música relativamente alta.

“Você me pegou, teme. Outra dose?” Riram, como os velhos melhores amigos que eram algum tempo atrás.

Repentinamente, Sakura apareceu na cozinha como um furacão. Os cabelos da kunoichi estavam bagunçados e colados ao seu rosto, tão suada ela aparentava estar. Parecia estar fazendo algum tipo de exercício, confirmado principalmente quando ela começou a falar, com uma voz ofegante.

“Vocês precisam vir! O Shino tá dançando! Tá todo mundo dançando, vem, vem!” Naruto e Lee, obviamente, nunca perderiam um momento como aquele. A possibilidade de ver o Aburame, sempre tão fechado, se soltando daquela forma era algo que provavelmente nunca mais aconteceria, então precisavam presenciar aquele evento inacreditável. Mas, mesmo que aquele não fosse o caso, a palavra dançar, por si só, já fazia-os ficarem animados.

Enquanto os outros dois seguiram Sakura cômodo afora, Sasuke tomou a decisão de continuar ali na cozinha, sozinho. Havia um pouco de barulho vindo da sala, porém estava mais silencioso onde estava. E não havia pessoas para incomodá-lo. Tirando os quartos, havia lugar melhor para ele do que aquele, naquele momento? Não existia.

No entanto, seu momento de paz e tranquilidade durou pouco. Nem ele mesmo ficou surpreso quando uma pessoa, nada menos que o aniversariante, entrou no recinto. Também, o próprio Kiba não fez nenhuma expressão de incredulidade ao ver o Uchiha ali. Talvez até esperasse por aquilo; era bem a cara dele ser antissocial. Era uma sorte que até estivesse ali; em sua mente, o cenário era pior e ele nem ao menos havia comparecido a festa.

“Ei Sasuke.” O recém-chegado o cumprimentou, recebendo um aceno de cabeça em resposta. O Inuzuka pegou a garrafa de sakê em cima da bancada, a que Naruto havia deixado, e pegou um copo para si. “Então, como anda você e o Sai? Você o viu por aí?”

Sasuke não teve outra reação a não ser bufar; foi até mesmo um movimento involuntário. Até Kiba estava nesse jogo? Não havia ele e Sai. Quando as pessoas começariam a entender?

“Eu não sei o que você entendeu, mas eu não vejo ele dessa forma.” O companheiro de Akamaru assumiu uma expressão desacreditada e suspirou. Prevendo uma longa conversa, e cansativa, ele apoiou os braços na bancada, erguendo-se para sentar-se em cima dela. Estava ciente de que não tinha nada a ver com aquilo e nem estava torcendo fervorosamente pelo casal ou algo assim, mas a forma como Sai havia ficado olhando em volta quando vira algum tempo mais cedo o deixou intrigado; queria entender o que estava acontecendo ali.

Kiba não era nenhum expert em romances. Inclusive, seu primeiro estava sendo naquele exato momento, com Ino, um namoro oficial. Antes disso, ficou com algumas mulheres da vila, no entanto nenhuma das relações durou muito ou tornou-se muito séria. Na maioria das vezes, ele não estava interessado em se prender a alguém e, também, estava em constante processo de aprendizagem e aperfeiçoamento de habilidades, então seu tempo para investir em um romance era escasso. Dessa forma, ele apenas quis expressar o que acreditava.

“Sasuke, perceber o Sai não significa que vocês vão se tornar automaticamente um casal. Você não pode simplesmente dizer que não gosta de algo ou que não dá certo se você não experimentou antes.” O moreno com um super olfato poderia ser um idiota na maioria das vezes, mas, naquele momento, parecia muito mais sensato, e convincente, que Naruto e TenTen jamais tinham sido.

“E se eu não quiser experimentar?”

“Ah, vamos lá, não seja tão inseguro e covarde. Se não gostar, tudo bem, você não é obrigado a nada.” Sasuke tomou um tempo para digerir aquelas palavras. Realmente o que ele dizia fazia sentido. Nunca havia pensado daquela forma, até mesmo porque seu conhecimento com aquele tipo de coisa era limitado, porém existia até uma certa razão no que ouvia. Estava em uma fase em que não estava odiando Sai, até o achava de certa forma agradável de se conviver e passara a apreciá-lo pela ajuda durante a batalha. Poderia tentar um envolvimento amoroso, bem, envolvimento amoroso era uma palavra muito forte. Poderia tentar ficar próximo a ele para saber qual seria a sensação. Se não gostasse, simplesmente poderia se afastar.

Ele era Sasuke Uchiha, afinal. Não era aquilo o que vinha fazendo durante toda a sua vida? Kiba, o maldito Kiba que implantara aquela ideia idiota em sua cabeça… estava realmente considerando aquilo? Quanto havia bebido?

“Qual é, Uchiha, por acaso você não sabe o que fazer?” Questionou o Inuzuka, debochado, ao perceber que o outro estava pensando por tempo demais. Bom, pelo menos ele parecia estar considerando suas ideias, o que já era um bom sinal por si só.

“Claro que sei, não seja idiota.” Quando o outro deu uma risada estrondosa, como era típico dele, Sasuke se perguntou o que estava fazendo ali na cozinha, tendo uma conversa decente, sobre romance, com a pessoa mais improvável possível. Como havia acabado ali?

A conversa foi momentaneamente cortada pela entrada de Sai, que ficou um pouco envergonhado ao ver quem estava no recinto. Kiba estava em cima da bancada, uma garrafa de sakê aberta ao seu lado, enquanto o ex-nukenin permanecia em pé, parado em frente ao primeiro. Ao que parecia, os dois estavam conversando sobre algo.

Não querendo interromper, afinal só havia entrado ali para pegar uma bebida mesmo, ele pigarreou, coçando a garganta para obrigar-se a falar alguma coisa, ao invés de ficar ali parado como um idiota.

“Só vim atrás de algo para beber.”

“Sinta-se à vontade.” Kiba fecha a garrafa de sakê e desce da bancada. “Bem, é o meu aniversário! Acabo de me lembrar que preciso dar atenção aos meus outros convidados. Sasuke vai te ajudar a achar algo para beber. - O possuidor do Sharingan tentou se segurar, porém foi inevitável revirar os olhos. O idiota não estava vendo como estava sendo óbvio? Onde ele estava com a cabeça achando que Kiba teria alguma atitude diferente daquela? Mudado uma ova, ele era o mesmo de sempre. - Vai que é tua. - O ninja ainda teve a ousadia de bater no peito do moreno de olhos de cores diferentes e sair rindo, como se tivesse contado uma piada muito engraçada.

Sasuke sinceramente não poderia crer que aquilo havia acontecido. Que cena mais desnecessária. Mataria o outro quando tivesse a chance. Entretanto, havia algo mais urgente a sua frente.

Inevitavelmente o clima ficou estranho. Sai ficou parado, sem ter o que falar, enquanto via o outro perguntar o que ele queria. Gostaria de agir normal daquela forma, porém ficava muito nervoso e acabava não consegui falar ou se articular adequadamente. Gaguejando um pouco, ele respondeu que queria apenas uma água. Ele chegou mais perto da bancada, para pegar sua bebida, chegando a encostar-se na mesma, mas apenas porque suas pernas tremiam e ele tinha medo de cair.

“Nem vi você chegando.” Comentou o ninja dos desenhos, mesmo que com a voz trêmula. Queria se livrar daquele clima sinistro que havia se instalado no recinto depois que Kiba fora embora. Se perguntou por um momento se seria muito estranho se ele dissesse que ia procurar a Sakura ou alguém assim e simplesmente se virasse para ir embora. Na dúvida entre o que fazer, esperou, pelo menos, que o outro respondesse sua tentativa de puxar assunto.

Se o que ele esperava era uma resposta completa, morreria ali esperando. Sasuke apenas acenou com a cabeça. Não tinha paciência para aquelas conversinhas, nunca tivera. Sempre que Naruto vinha com aquelas coisas para cima dele, mesmo sabendo que ele não gostava de conversar, principalmente pela manhã, o moreno simplesmente meneava a cabeça, nenhum pouco disposto a gastar sua saliva naqueles momentos.

Pensou no que Kiba falou por um momento. Deveria tentar experimentar ou deveria apenas se virar e ir embora como se nada naquela noite tivesse acontecido? Quis rir de si mesmo ao perceber que estava considerando a proposta do baka número 2 de Konoha. Número 2, pois ele acabara de se tornar o número 1, apenas por aquela ideia estúpida estar se passando por sua mente.

Não quis dar a si mesmo tempo suficiente para pensar se sua atitude era certa ou errada, pois se o fizesse, hesitaria. Tomando o controle de suas ações e ignorando qualquer voz em sua mente que dizia que ele não devia fazer aquilo, Sasuke empurrou o corpo magro de Sai contra a bancada, segurando em seu pescoço com sua única mão restante e, antes mesmo que qualquer um dos dois tivesse tempo para processar a informação, os lábios estavam um no outro.