Sangue, Suor, Lágrimas e Estilhaços escrita por Blue Blur


Capítulo 7
Piolhentas


Notas iniciais do capítulo

Após 10 anos de treinamento na Torre do Mar Lunar, Amennekht se prepara para a grande cerimônia que o oficializará como um guerreiro Crystal Gem.



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Rose, Garnet, Pérola e Bismuto acompanharam Amennekht até à Arena Celeste, lugar onde o rapaz teve suas primeiras lições com Pérola, Garnet e Rose. Lá estavam várias gems do zigurate, inclusive rostos familiares, como Rubelita, Topázio Imperial e a Comandante Ágata Amarela. Todas estavam sentadas nas arquibancadas, aparentemente aguardando um evento importante que iria acontecer.

(Rose): Muito bem Amennkeht, eis o que vamos fazer: algumas gems irão se voluntariar para testar suas habilidades em combate, e você deve rendê-las antes que elas façam o mesmo com você. Você vai enfrenta-las em igualdade ou desvantagem, mas independentemente do caso, nenhuma dessas gems irá lhe machucar de verdade.

(Garnet): Lembre-se de tudo o que lhe ensinamos durante esses anos e você vencerá.

(Pérola): E não se esqueça, Amennekht: disciplina. Todas aqui são Crystal Gems, assim como você. Serão suas companheiras de armas, então apenas renda elas, cuidado para não machucar nenhuma seriamente.

(Amennekht): Tudo bem.

Pérola e Garnet foram se sentar numa das primeiras arquibancadas, em lugares reservados para elas. Rose ficou com o rapaz, no piso da arena. Ela se virou para suas compatriotas e começou a discursar em alta voz.

(Rose): Durante todo esse tempo, nós guerreamos contra nossa Terra Natal em nome da liberdade desse mundo. Acreditamos que a vida de cada humano nesse mundo tem importância, pois eles são tão sencientes quanto nós. Vocês lutam comigo pela raça humana, mas muitas aqui não conheceram um humano, não tiveram a oportunidade e o privilégio de conhecer um humano de verdade ou de aprender sobre sua cultura... até agora. Muitas aqui já conhecem este humano, ele se chama Amennekht. Por muitos anos, nós olhamos para ele como uma criatura assustada, indefesa, dependente de nossa proteção. Hoje ele será igual a nós, será um Crystal Gem. Hoje, nossas duas raças serão iguais, aqui e no campo de batalha, e quando a guerra acabar, que nossas duas raças prosperem juntas e construam um futuro brilhante!

Todas as gems da arquibancada começaram a erguer suas vozes em saudação pelo novo aliado, além de cantar hinos em seu idioma natal, que Amennekht não entendia, mas sabia serem uma saudação dirigida a ele. Após isso, Rose se virou para Amennekht e começou a conversar com ele, num tom que as outras gems pudessem ouvir.

(Rose): Amennekht, repita o nosso manifesto.

(Amennekht, fazendo o juramento): Lutarei pela vida no Planeta Terra. Defenderei todos os seres humanos, mesmo aqueles que não compreendo. Acredito que o amor está no controle de qualquer um e vou arriscar tudo por isso.

(Rose): Hoje nós o testaremos. Diversas gems com quem você treinou ao longo destes anos irão lutar com você e com base em seu desempenho, julgar se você está apto a marchar ao nosso lado, começando comigo.

Rose sacou sua espada, a lâmina rosada cintilando à luz do sol, ela também fez surgir seu escudo de energia. Amennekht pegou sua khopesh e seu escudo, e agora que usava as manoplas batizadas por Bismuto de “Os Punhos de Hórus”, sentia como se suas armas fossem de papel, sentia até como se pudesse quebra-las com as próprias mãos.

(Amennekht, pensando): É tudo tão leve, meus braços sentem como se pudessem quebrar qualquer coisa.

Com esse pensamento, Amennekht assumiu a ofensiva. Golpeando velozmente com a lâmina de sua khopesh, o rapaz egípcio avançou com tudo para cima de sua mãe adotiva. Rose nem se mexia, apenas bloqueava tudo com o escudo. Em dado momento, Rose criou a bolha, ao invés de só usar o escudo. Ao golpear a bolha, Amennkeht foi empurrado para trás pelo impacto e ricochete da própria lâmina, e sua momentânea perda de equilíbrio foi a deixa para a guerreira quartzo assumir a postura ofensiva. Rose começou a brandir a espada, acertando a lâmina no escudo de Amennekht com tamanha força e rapidez que ele não tinha como esquivar ou revidar, apenas defender. Quando Amennekht praticamente ficou de joelhos, encurvado sob o peso dos golpes sucessivos, Rose chutou-lhe o escudo, fazendo o egípcio rolar pelo chão e largar sua proteção.

Todas as gems da arquibancada olhavam o duelo com muita atenção, com expressões faciais que variavam do suspense para a preocupação. Já a Rubi J96Y não escondia o deboche de seu rosto.

(Joanete, cochichando consigo mesma): É sério que esse idiota achou que ia conseguir derrotar a Rose Quartz? Logo ela, que já conseguiu vencer 5 jaspes sozinha uma vez?

Uma das rubis que eram suas amigas ouviu o comentário e respondeu, sem entender o sarcasmo.

(Rubi): Mas a Rose não estava sozinha, ela estava com a Pérola.

(Joanete): Ah, dá um tempo. A Pérola foi poofada sem nem perceber o que a atingiu, então não vem ao caso se ela estava lá.

Amennekht estava se colocando em pé novamente, enquanto Rose Quartz andava lentamente em sua direção, novamente, ele começou a golpear com sua khopesh, sucessivas vezes. Rose simplesmente levantou o escudo e ficou parada, esperando que ele se cansasse, já que para ela aqueles golpes não eram tão fortes a ponto de fazê-la recuar. Mas, num dos golpes, Amennekht girou a arma em seu punho e, ao invés de golpear com a lâmina, golpeou com a parte côncava, e o dente que ficava na parte côncava da lâmina prendeu com firmeza na borda do escudo. Amennekht puxou com tamanha violência que Rose, ainda surpresa, nem teve tempo de segurar o escudo, que voou de seu braço. Aproveitando o elemento-surpresa, Amennekht novamente atacou, mirando o a lâmina na barriga de Rose, no lugar onde estava a Pérola.

Amennekht parou o golpe a centímetros da pedra de Rose, então simplesmente deu um toque com a ponta da arma no quartzo rosa de sua mãe adotiva.

(Amennekht, cochichando): Devo exercitar não só a coragem, mas a disciplina também.

Rose deu um sorriso, depois contorceu o rosto em dor. Fingindo estar machucada, ela pôs as mãos sobre a pedra, cambaleou e caiu de costas, criando um baque no chão que todo mundo no local ouviu.

Apesar da força com que bateu no chão, Rose não sentira nada e ainda mantinha o sorriso no rosto. Ela havia combinado com suas companheiras que, no momento em que Amennekht derrotasse cada uma delas em seu batismo de armas, elas deveriam ficar caídas no chão até segunda ordem. Uma típica ação de mamãe coruja para fazer seu filho se sentir autoconfiante em relação à sua própria força.

(Amennekht, erguendo a arma em triunfo): Quem mais deseja contestar minha força?

Dessa vez Garnet se levantou com sua postura estoica e neutra, desafiando Amennekht com sua voz sempre monótona:

— Sem espada nem escudo dessa vez.

Amennekht largou as duas armas no chão e se colocou em posição de boxeador, com uma confiança ainda maior do que a que tinha na luta anterior.

(Amennekht, pensando): Muito bem Bismuto, agora vamos testar sua criação.

Garnet se colocou em posição de boxeadora também, com a diferença que ela era boa tanto em luta de mão quanto de pé, enquanto Amennekht dominava só o estilo da mão, usando os pés para ataques casuais. Porém a gem era justa e decidiu não apelar.

(Garnet): Vamos dançar, humano.

Amennekht novamente quis tomar a iniciativa e começou a “trabalhar” o abdômen de Garnet com uma série de jabs. Surpreendentemente, ele percebeu que a gem estava endurecendo a barriga e no rosto dela havia uma discreta, porém presente, expressão de desconforto.

(Amennekht, pensando): Não acredito! Garnet nunca deu sinal de estar sentindo meus socos nenhuma das vezes que treinamos! As manoplas funcionam mesmo!

Amennekht preparou um gancho poderoso de direita, mas Garnet o interrompeu com um jab no meio dos olhos, que o deixou zonzo e surpreso. Daí, foi a vez dele de trabalhar o abdômen com uma série de jabs na barriga, que foram subindo até o tórax e o rosto. Um dos socos, que o acertou no queixo, o fez perder o equilíbrio e cair no chão. Pérola, que estava na plateia, começou novamente a ficar preocupada.

(Pérola, cochichando): Levanta Amennekht, levanta, levanta, levanta!

Amennekht estava com a visão turva e mal conseguia ficar de quatro. A voz de Garnet ficou fazendo um eco horrível em sua cabeça.

(Garnet): Um quartzo de Homeworld poderia ter te matado com você ficando aí parado por mais de dois segundos. Vou te dar dez, então, para se levantar, ou vou considerar sua derrota.

Amennekht ficou olhando ao redor, tentando fazer sua visão voltar ao normal. Coincidentemente, ele acabou fixando o olhar justamente em quem? Na Rubelita, que estava sentada logo na segunda fileira, com a Topázio Imperial ao seu lado. A gem rosa-choque tinha uma singela expressão de preocupação pelo bem-estar do amigo humano, já a gem laranjada parecia uma torcedora fanática de luta livre!

(Topázio Imperial): Levanta daí Amennekht! Não se rende! Agarra essa granada de meio quilate pelos cabelos e bate nos olhos dela! Dá um de direita, um de esquerda, um de...

Incomodada com a gritaria, Garnet simplesmente encarou a Topázio Imperial por trás de seu visor, intimidando-a no processo.

(Topázio Imperial, constrangida): É brincadeirinha, Ameni. Não agarre os belos cabelos da Garnet e não fure os olhos brilhantes dela. A Garnet é uma ótima amiga e não se faz isso com amigas.

Amennekht se colocou novamente de pé, determinado a continuar a luta. Ele iniciou novamente uma sessão de jabs, agora mirando no rosto, mas Garnet foi bloqueando os movimentos um a um, até que ela ergueu o braço esquerdo e acionou a manopla, sinalizando que ia dar um soco daqueles.

(Joanete): Caramba, por que ele foi se levantar? A Garnet vai deixar aquela cara feia dele ainda mais feia!

Foi tudo tão rápido que nem Amennekht soube direito o que fez: ele girou o corpo quase todo para a esquerda, enquanto o soco devastador da manopla de Garnet passou zunindo a centímetros do rosto dele, produzindo uma ventania tão forte que ele seria capaz de jurar que sentiu o enfeite em sua cabeça balançar. Depois deu um gancho de esquerda com todas as forças que tinha, arrancando o visor do rosto dela, expondo três olhos arregalados de surpresa com o impacto que tinha recebido. Amennekht recuou e reassumiu posição de guarda, mas Garnet ficou parada no mesmo lugar, como se ainda precisasse absorver tudo o que tinha acontecido.

— Isso foi... surpreendente.

— Por toda a corte Diamante!!! O que raios a Bismuto andou botando nessa manopla?! O Amennekht podia ter rachado minha pedra!!!

— Mas ele nem chegou perto da sua pedra.

— Mas doeu, oras!!! Por que você não me avisou que ele ia bater assim?

— Não sabia que ia ser tão forte.

(Amennekht): Ei, Terra chamando Garnet. Você está aí?

Garnet balançou a cabeça e voltou ao normal, agora com uma cara mais agressiva.

(Garnet): Você só teve sorte, agora vai para o chão!

Garnet sacou as manoplas e começou a dar soco atrás de soco, mas com uma falta de coordenação que não lhe era usual

(Amennekht, rindo): Ei Garnet, calminha aí. Você está parecendo a piolhenta da Joanete.

Garnet ergueu a mão direita para dar um potente soco reto, mas Amennekht “entrou no vácuo” e encheu o rosto dela de jabs, fazendo a gem recuar alguns passos. Novamente, as vozinhas na cabeça de Garnet começaram a debater.

— Argh, você está deixando ele ganhar!

— Não estou não. Amennekht provou ser habilidoso, vamos simplesmente cair no chão e encerrar isso, tem outras gems querendo testá-lo.

— Eu deixaria, SE ELE NÃO FICASSE ME CHAMANDO DE PIOLHENTA!!! ISSO JÁ É QUESTÃO DE HONRA!!!

— Ele não está falando de você, está falando da outra...

— VOCÊ ENTENDEU!!!

(Amennekht, confuso): Garnet, você está bem?

(Garnet): Estou.

(Amennekht): Tem certeza? Você fica demorando para reagir e fica balbuciando umas coisas sem sentido.

(Garnet): Vamos acabar logo com isso.

Amennekht deu um soco direto de esquerda, mas Garnet agarrou sua mão e girou ele no ar. Amennekht conseguiu se equilibrar e cair de pé, então girou o corpo e, num salto, enganchou a fossa cubital (a dobra do braço) no pescoço de Garnet e, juntando o próprio peso com o dela, derrubou a gem violentamente no chão.

(Amennekht, se levantando): Eu venci!

Garnet deu um sorriso e recolocou sua viseira.

(Garnet): Meus parabéns.

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Cerca de 45 a 60 minutos depois, as arquibancadas tinham dado uma grande esvaziada e um grande número de gems estavam caídas pelo chão da arena. Para qualquer um que não soubesse do que se tratava, pensaria que aquele rapaz egípcio tinha derrotado todas aquelas gigantes coloridas sozinho... o que, de certa forma, não deixava de ser verdade: seguindo as ordens de Rose Quartz, sempre que Amennekht passava no teste delas, as gems se jogavam no chão e ficavam lá, caídas, até receber segunda ordem. E caiu um monte de gems lá: Além da Rose e da Garnet, tinham outras guerreiras quartzos, A Pérola, a Topázio Imperial, a Bismuto, a Ágata Doida... a última a cair foi a Rubelita, mas essa Amennekht agarrou antes que batesse com tudo no piso e a deitou cuidadosamente, como se ela fosse uma princesa. Rubelita estava usando seu maiô rosa choque, já que ela testou para ver como ele se saía numa luta de pancrácio. Misturando flerte com gracejo do jeito que só ela sabia fazer, pegou a mão de Amennekht e colocou sobre o próprio busto, para ver como o garoto reagia, porque ela adorava quando ele ruborizava de vergonha. Ele corou, mas também mostrou um sorriso galanteador e mandou um beijo para ela, fazendo-a rir.

Rubelita ficou encarando Amennekht, que estava todo suado, as gotas escorrendo pelo corpo e braços extremamente definidos. Mesmo ela sendo uma gem e ele um humano, aquela imagem começou a mexer com a imaginação dela, e o fato de que eles lutaram pancrácio, um tipo de luta que também envolve bastantes agarrões e imobilizações, certamente deu mais aval para isso.

Amennekht estava bem cansado, mas se sentia mais orgulhoso do que nunca. Começou como um moleque franzino e com medo da própria sombra e agora conseguia enfrentar guerreiras gems em total pé de igualdade.

(Amennekht): Então, *arf, arf* mais alguém?

Ainda havia dezenas de gems na arquibancada, e elas queriam testar o garoto, mas ver todas as vitórias sucessivas dele encheu todas, inclusive as “caídas”, de muito orgulho alheio. Então todas continuaram sentadas, sem contestá-lo, o que lhe garantiria a vitória.

Todas, menos uma.

A rubi J96Y, vulgo Joanete se levantou, junto com suas quatro amigas rubis. Ela foi marchando até o rapaz, com as outras o seguindo, meio inseguras de si.

(Joanete): NÓS vamos te desafiar! Todas nós, e você não vai vencer!

(Amennekht): Faça o seu pior, Joanete.

A rubi ficou irritada, odiava ser chamada pelo apelido que a Comandante Ágata Amarela lhe deu. Suas companheiras de batalha começaram a rodear Amennekht, que ficou parado, imaginando o que elas fariam.

(Joanete): Agora, usem nosso padrão de ataque!

Duas das rubis avançaram em Amennekht e agarraram seus pulsos. O egípcio, agora fortalecido pelas manoplas, conseguiu se soltar, mas não sem antes levar uma cabeçada da Joanete bem na virilha. Amennekht caiu no chão, largando a khopesh e o escudo. Todas as rubis começaram a se juntar, em formação de fusão. Amennekht, reconhecendo o plano, se recuperou numa rapidez impressionante e, mesmo com a virilha dolorida, correu com tudo e atropelou as rubis como se fossem pinos de boliche, interrompendo a fusão.

(Amennekht): Esse truque não vai funcionar.

Duas rubis tentaram avançar contra ele, mas ele agarrou uma terceira pela perna e bateu nas duas com o corpo da mesma. Ammenekht rolou para o lado e agarrou novamente o escudo. As rubis avançaram com tudo e tentaram acertar chutes voadores, mas ele bloqueou todos com o escudo e, girando no chão, acertou um chute de calcanhar em todas, num devastador efeito dominó.

As rubis caíram juntas e se aproveitaram para se fundir. Dessa vez, Amennekht largou a espada e o escudo voluntariamente e partiu para o braço. As rubis, embora fundidas, estavam em conflito umas com as outras: apenas a “Joanete” queria surrar Amennekht. Essa indecisão foi crucial, porque Amennekht avançou sem dó nem pena e encheu a fusão das rubis de murros, impedindo qualquer reação. No fim, com as duas mãos, ele acertou um murro em duas das pedras. Tomou cuidado para não rachar as pedras, mas foi forte o bastante para que elas se desestabilizassem e tombassem, derrotadas.

A Joanete ainda fez menção de se levantar, mas uma das rubis a segurou pela mão.

(Rubi): Chega, ele ganhou. Amennekht é tão valoroso quanto nós.

Mas Joanete não aceitava e, enquanto o rapaz se juntava às outras companheiras, a líder das rubis traiçoeiramente sacou seu coturno, dessa vez com espetos na sola, correu com tudo na direção dele e deu-lhe um chute nas costas. Amennekht estava de armadura, mas ainda assim deu um grito de dor e caiu violentamente no chão.

(Rose, chocada): Amennekht!!!

Normalmente, Amennekht choraria e gritaria pela ajuda de Rose, mas ele deixou de fazer isso no momento que se tornou um guerreiro. Ele se virou, com sangue no olhar e avançou contra sua agressora, erguendo sua khopesh.

(Rubi, erguendo os braços): Pare Amenne...

O clamor de uma das rubis, que tentou salvar a amiga de pedra foi interrompido quando ela foi atingida pela lâmina e desintegrou sua forma física, restando só a pedra. Aquilo teve o mesmo efeito de sangue derramado à vista de um tubarão: sem clemência, ele avançou contra as outras rubis, que pediam piedade, e desferiu golpes incessantes, fazendo-as estourarem em nuvens de fumaça, restando apenas as pedras.

(Rose, chocada): Amennekht, chega! Crystal Gems, detenham ele!

Todas as gems se levantaram em urgência e começaram a correr até ele, para detê-lo. Foram necessárias três guerreiras para segurá-lo, e mesmo assim, ele deu um jeito de escapar soltando as manoplas de seu braço. Menor e bem mais ágil que as guerreiras quartzo de Rose, ele correu e se jogou contra a rubi Joanete, esmurrando-a sem dó nem pena, depois usou suas técnicas de pancrácio para infligir dor a ela e tentar arrancar a pedra de seu pé.

— AMENNEKHT, EU DISSE CHEGA!!!

Duas mãos pesadas caíram sobre seu ombro e começaram a apertá-lo com muita força, obrigando-o a largar a rubi indefesa. Quando Amennekht se virou, viu sua mãe lhe encarando com fúria no olhar.

(Rose, furiosa): Você brandiu sua arma contra suas companheiras Crystal Gems! Demonstrou insubordinação à sua líder! VOCÊ AINDA RESISTIU À NOSSA IMOBILIZAÇÃO E TENTOU DE TODAS AS FORMAS FERIR UMA GEM MAIS FRACA!!!

(Amennekht): Era a porcaria de uma rubi imprestável! Você viu o que ela fez comigo?

(Rose, furiosa): CALE-SE AMENNEKHT!!! VOCÊ NÃO TEM RAZÃO NENHUMA!!!

Aquele grito deixou Amennekht com medo. Nunca antes havia visto sua mãe adotiva tão furiosa. Por um momento, ele até temeu pela própria vida.

(Rose, com raiva): Bismuto, leve de volta TODAS as armas e armaduras de Amennekht para a Forja e mantenha lá até segunda ordem!

(Amennekht, furioso): O quê? Você não pode...!

(Rose): Eu posso e vou! Eu sou sua mãe e sou sua líder! Garnet, Pérola, levem o insubordinado para seus aposentos!

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Rose estava muito brava com a conduta de Amennekht, tão brava que ordenou que ninguém, a não ser suas companheiras mais próximas a seguissem de volta para a Torre do Mar Lunar. O grupo voltou para o “quarto” de Amennekht e Pérola e Garnet o forçaram a se sentar, para que Rose fosse lhe passar um senhor sermão.

(Rose): Eu estou muito zangada com você, Amennekht! Por que você fez aquilo?

(Amennekht): Eu ganhei as lutas, todas elas! Aquela maldita rubi piolhenta me golpeou pelas costas e nenhuma de vocês fez nada!

(Rose): Não fale assim das rubis! Elas são Crystal Gems, assim como você é!

(Amennekht): NÃO SÃO NÃO!!! Me recuso a ser comparado àquelas piolhentas! Eu odeio as rubis, odeio com todas as minhas forças! São umas covardes nojentas que só atacam pelas costas! Foi uma rubi que atacou os soldados do meu pai! Foi uma fusão rubi que quase me matou em Mênfis! Desde que eu cheguei aqui essas rubis só me causaram problemas! São gems horríveis, todas elas!

(Rose): Isso não é verdade, Amennekht! Você não conhece todas as rubis que existem, não pode dizer isso delas! Eu tenho uma amiga que...

(Amennekht, furioso): Dane-se sua amiga rubi! Eu não me importo com ela! Para mim essas gems valem menos que os porcos do Egito! Sua amiga não deve ser nada mais que outra piolhenta imprestável, que nem a Joanete!

A discussão foi interrompida com uma manopla gigante agarrando o rosto de Amennekht e o arrastando até uma pilastra, depois bateu as costas dele com tudo lá.

(Pérola): Garnet, não machuca ele!

Quando Amennekht se tocou, ficou tão espantado que nem pôde reagir. Era a Garnet que tinha feito aquilo, e agora ela estava com a manopla direita erguida, pronta para lhe tacar um murro no rosto. O pior era que ela não deu mostras de que estava brincando, 10 anos de convivência deram a Amennekht a capacidade de diferenciar quando Garnet estava tentando ser intimidadora e quando ela estava realmente furiosa.

(Garnet): Eu vou mostrar para você quem é a piolhenta imprestável, seu...

Garnet largou Amennekht e começou a ficar com as mãos tremendo e se contorcendo em ângulos estranhos. A gem começou a gritar consigo mesmo, num monólogo bizarro

(Garnet): Me deixa bater nele, eu não aguento mais ele me chamando de piolhenta! Não, você não pode, ele é só um humano, você pode mata-lo! Eu não quero mata-lo, eu só quero deixar esmurrar um pouco a cara dele! Vai fazer isso na frente da Ros...?

O monólogo foi interrompido quando Garnet literalmente se dividiu em uma luz disforme vermelha e outra luz disforme azul. No lugar da gem enorme, saiu uma rubi, com uma faixa amarrada na testa e uma gem azul de vestido, com os olhos cobertos por uma vasta franja. Amennekht não reconheceu a pedra da gem azulada. O medo de Amennekht se converteu em espanto e, depois, em uma indignação!

(Amennekht): Cadê a Garnet? O que significa isso? De onde saiu essa baixinha e essa piolhenta?

(Rubi): Eu vou te mostrar quem é a piolhenta aqui, seu...!

(Pérola, segurando a Rubi): Chega Rubi, você vai acabar piorando as coisas!

(Rose): *suspiro* Eu queria que vocês tivessem se conhecido de uma forma diferente... Amennekht, a Rubi e a Safira são a Garnet.

(Amennekht, desnorteado): Está me dizendo que a Garnet na verdade é uma... rubi?

(Safira): E uma safira.

(Amennekht): Basta, eu não quero mais ouvir nada sobre isso.

(Pérola): Amennekht...

(Amennekht): Não, chega! Cansei disso! Minha vida toda eu sempre falei de mim para vocês. Eu me abria sobre minha família, minha vida no Egito, meus sonhos, meus medos. Eu confiava em vocês, mas vocês não confiam em mim, né? Não o suficiente para contar seus segredinhos!

(Rose): Amennekht, nós confiamos em você, é que...

(Amennekht): Não, não confiam! Você botou a porcaria de uma rubi para me treinar! *apontando o dedo para a Rubi* E você? Ficou me vendo ser surrado pelas outras rubis e nunca fez nada! Era a droga de uma fusão com mais de 2 metros de altura e nunca fez nada!

Um clima extremamente frio se formou no lugar, fazendo Amennekht começar a tremer. Quando ele olhou para o chão, viu um rastro de gelo se arrastando até ele, vindo de Safira. A cachoeira que passava no meio do seu quarto também estava congelada. Na verdade, todo o espaço do “quarto” de Amennekht estava coberto de gelo.

(Safira): Amennekht, basta. Você está sendo injusto agora. Comigo, com Rose, com a Rubi, com todas nós.

(Amennekht, aborrecido): Agora vocês sabem como eu me sinto com tudo isso...

Amennekht se pôs de pé e saiu da presença das gems. Cada uma delas estava com uma reação diferente: Rose estava com o rosto escondido entre as mãos, com Pérola abraçando-a. Rubi estava se tremendo de raiva, com os olhos ficando marejados e, logo em seguida, soltando vapor. Só a Safira ainda mantinha a postura estoica, mas com pedaços e mais pedaços de gelo aparecendo ao seu redor e se espalhando pelo lugar.

QUANDO SE ESTÁ COM RAIVA, TEM-SE O DIREITO DE ESTAR COM RAIVA, MAS NÃO O DIREITO DE SER CRUEL


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo ele tem um pouco de história real nele: quando eu fui para a faculdade pela primeira vez eu conheci uma pessoa... horrível, por assim dizer. Uma pessoa que ficava alfinetando um amigo meu por questão da crença dele, e um dia ele perdeu a paciência e deu um tapa sem mão tão seguro que todo mundo ficou chocado. Enfim, eu não vou entrar em detalhes, mas a verdade é que depois dessa esse meu amigo criou raiva, ranço, ódio de um grupo específico de pessoas por conta disso, que nem o Amennekht criou raiva das rubis, sendo que ele era amigo de uma rubi esse tempo todo sem nem saber. Imaginem como ele reagiu!

Eu também quis aproveitar esse capítulo para desenvolver mais esse lado enérgico da Rose, porque ela é uma guerreira, ela não vai ficar o tempo todo só falando com vozinha suave pro Amennekht, uma hora ela vai der que descer o braço pro moleque se colocar na linha. Só que os fãs têm dificuldade de desenvolver esse lado dela, eu até tentei procurar alguma fanart com a Rose mais... zangada, mas não consegui. Na série mesmo, o mais perto de zangada que ela ficou foi no episódio "Tempestade no Quarto" que o Steven começa a derramar todas as frustrações na versão holográfica dela.

O próximo capítulo vai ser mais emotivo. Vai mostrar o conflito entre uma mãe e o filho adolescente. Talvez também já dê para eu mostrar todos em ação, já lutando numa batalha de verdade. Enfim, espero que vocês gostem do resultado final.

Curiosidade: Os egípcios apelidavam de piolhentas todas as pessoas que fossem menos carecas que eles. Isso porque eles tinham muito cuidado com a higiene nesse aspecto. Essa ideia eu tirei da novela Os 10 Mandamentos.



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