Gatos Guerreiros: Emberfeather's Denial escrita por BloodWyve


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Apenas o Clã da Neve é meu. Os outros três são dos meus amigos e a gente combinou fazer uns planinhos e stuff.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/748588/chapter/1

Os raios de sol passavam pelos espaços entre as folhas das árvores, marcando o chão com sombras. O clima estava um pouco abafado e fazia calor. O sol estava quase no topo do céu e isso anunciava uma nova patrulha no Clã da Neve caminhando por entre as árvores, três gatos que acabaram de sair do Acampamento do clã, atentos ao seu redor. Suas patas roçavam no chão ardente, mas as almofadinhas faziam com que não se queimassem.

Os três gatos eram tão peludos que chegava a dar pena observá-los caminhar nesse calor esgotante. Afinal, os gatos do Clã da Neve estavam preparados para climas frios, não para o clima da Estação das Folhas Verdes.

— Uhmm... Pequeno Desejo? – Um dos gatos, um gato alaranjado com olhos avelã, chamou pelo gato branco, que era o líder da Patrulha. - Vamos patrulhar qual borda hoje?

— Estava pensando em dar uma olhada nas bordas com o Clã do Sonho. Eu achei alguns rastros de presa por lá ultimamente e nós sabemos o quanto aquele clã é o berço de gatos ruins. – Pequeno Desejo comentou, seus olhos amarelados mostrando repugnância.

— Nunca confiei muito naquele Estrela de Árvore. – A terceira membra da patrulha, uma gata creme, que se mantivera calada por toda a Patrulha decidira falar. – Estrela Colorida e Estrela de Argila são de boas, mas Estrela de Árvore não é de confiança.

— Por que você diz isso, Pena de Harpia? – Coração Enferrujado, o guerreiro alaranjado, perguntou.

— Ele não tem umas ideologias lá muito boas. Ele não sabe o limite do que é cruel ou não. Vocês nunca repararam numa assembleia? O jeito que ele fala! Vocês nunca notaram os NOMES novos que ele deu para os gatos do próprio clã? Eu ouvi conversas de alguns gatos de lá na última assembleia. São nomes como "Boca Doente", "Olhos Queimados" e "Pontos Cegos", lembrando-os dos seus pontos fracos. Pra mim, um líder assim não presta. – A gata estava séria, apesar do seu tom de raiva. Seus olhos verde-limão fixos em Coração Enferrujado, deixando o gato um pouco desconfortável.

Pequeno Desejo limpou sua garganta para interromper o clima. – Então, podemos ir?

Pena de Harpia deu um leve sinal de "sim" com a cabeça. Planejava não conversar pelo resto da patrulha a não ser que algo realmente incrível acontecesse. Toda vez que ela abria a boca, alguém se sentia desconfortável, assustado ou alguma coisa negativa. Talvez seu sonho de ser líder não fosse tão realista se ela mal sabe se comunicar de forma apropriada - o que é parte crucial de estar na liderança.

Depois de alguns minutos de conversa sobre a abundância de presas na floresta entre os dois gatos enquanto a gata estava quieta no seu canto, Pena de Harpia levantou as orelhas assim que ouviu um camundongo descascando algo para comer. Não era uma patrulha de caça, mas nada a impedia de caçá-lo. Sem dar nenhum sinal para o restante da Patrulha do que ela planejava fazer, a gata creme se afastou e se agachou, observando o roedor. Ela ficou um pouco preocupada se ele conseguiria sentir o seu cheiro, já que não havia vento para mascará-lo, mas aparentemente ele não havia a sentido.

"Ou ele é só muito lerdo" Pena de Harpia pensou, se esgueirando mais próximo do camundongo em um passo mais rápido que o recomendado para uma caça. Balançou o quadril e pegou impulso para saltar baixo e direto em sua direção, paralisando o roedor de susto. A gata rapidamente o mordeu antes que ele conseguisse guinchar e alertar qualquer outra presa da região.

Olhando para o camundongo, observou que ele estava bem alimentado e sentiu um leve orgulho por tê-lo encontrado.

— Pena de Harpia? – Pequeno Desejo correu em sua direção, estava pronto para perguntar o que ela havia feito, mas viu o camundongo abaixo de suas enormes garras. Ela fitava o gato branco, esperando por suas palavras. Um pouco nervoso, ele a respondeu: – A-Ah. Presas pro clã nunca é demais. Enterre-o e voltaremos para pegá-lo depois.

Pena de Harpia ainda tinha suas orelhas levantadas e ouviu um miado fraco. Haviam completamente desviado da rota inicial e ela planejava desviar mais. Novamente, sem nenhum aviso prévio, ela continuou a seguir o som.

— Ei! Estamos em uma patrulha! Não podemos ficar brincando de desviar assim toda hora. – Coração Enferrujado miou, alcançando o passo da gata que embrenhava para dentro da floresta. – Quer pelo menos nos falar onde você está indo?

— Shhh... Ouça. – A gata respondeu, ainda tentando se aproximar do ruído.
Os dois gatos pararam por um tempo, tentando ouvir algo, sem nenhum sucesso.

— Ahmm...? Você tem certeza que ouviu alguma coisa? Se for só desculpa pra dar uma voltinh-- – Miou Pequeno Desejo com um tom zombeteiro.

— Meu Clã da Abelha¹, dai-me paciência para aguentar esse gato. Como você salta para conclusões TÃO fácil assim? Deixa que eu mesma acho e resolvo isso. – Pena de Harpia interrompeu olhando para o gato branco com uma mistura de raiva e desgosto. Em seguida, levantou a cabeça e voltou a tentar ouvir o miado novamente, ainda sem paciência alguma.

A gata andava e esperava a resposta para ver se havia se aproximado. Assim que finalmente achou o caminho, ficou ainda mais fácil e até mesmo Coração Enferrujado e Pequeno Desejo que ainda a seguiam, pareciam ter ouvido. Pena de Harpia tinha certeza a esse ponto que se tratava de um filhote por conta do miado fino.

Abrindo espaço entre um amontoado de samambaias, a gata conseguiu ver um pequeno filhote emaranhado entre as folhas. Ele não parecia ter mais de uma lua e seus olhos ainda estavam fechados. Sua aparência era idêntica a de Coração Enferrujado – um pelo alaranjado malhado –, porém o filhote tinha a ponta das orelhas e cauda amarronzados, diferente do guerreiro. Pena de Harpia se aproximou do filhote para cheirá-lo: Era uma fêmea e não tinha cheiro característico de nenhum clã.

Assim que encostou seu focinho no corpo da filhote, notou que ela estava muito quente. Não sabia muito bem se era somente pelo calor, mas ela parecia estar mais quente até para um dia da Estação das Folhas Verdes.
A guerreira creme olhou para trás, Coração Enferrujado parecia admirado, enquanto Pequeno Desejo estava assustado com o fato de terem encontrado um filhote dentro do território.

— Temos que levá-la para o clã, eu acho que ela está com febre! – Ela miou em um tom de urgência, sendo abafado pelos miados agudos da filhote.

— Ehhr... Eu vou correndo na frente levar a notícia para Estrela de Fuligem e avisar Flor do Rio para preparar as ervas para febre. – Coração Enferrujado disse, disparando para dentro da floresta.

Pena de Harpia pegou a gatinha pelo cangote, sendo respondida com um miado de protesto e se pôs a andar em um passo ágil. Pequeno Desejo a seguia na retaguarda e ambos permaneceram em silêncio pelo resto da viagem, para a felicidade da gata.

Antes mesmo de chegar no Acampamento, Flor de Rio já correu em sua direção, observando a filhote alaranjada de cima a baixo.

— Onde você a encontrou? – A curandeira perguntou.

— Perto do Córrego. Bem, você sabe que passam muitos isolados por lá... Talvez tenha sido disso.

— Realmente, realmente. Um pouco mais rápido, eu quero salvar pelo menos essa. – A curandeira falou, um pouco secamente. Ela havia falhado em salvar três filhotes nessas últimas duas luas e isso talvez tenha mexido um pouco com sua cabeça. Isso fez Pena de Harpia apertar um pouco mais o passo, deixando Pequeno Desejo ainda mais para trás.

Assim que chegaram, as duas gatas correram direto para a toca do curandeiro. Pena de Harpia notou que ela já havia separado algumas ervas e arrumado uma das camas de musgo para a filhote. Flor de Rio pediu para que a gata creme colocasse a filhote em cima da cama e se afastasse e a guerreira prontamente atendeu o pedido.

A curandeira pegou um ramo de uma flor que Pena de Harpia conhecia: Lavanda. Ela apenas sabia que servia para esconder o cheiro de morte e isso a fez arrepiar por pensar que a curandeira já estava tão certa assim.
Notando o arrepio, a curandeira prateada falou:

— Eu sei que você associa lavandas somente com morte. Acredite em mim, elas são ótimas para curar febre.

— Jamais duvidaria da curandeiro em quesito de plantas medicinais. – Pena de Harpia respondeu firmemente, observando a gata prateada colocar pelo menos duas ramificações perto do focinho da gatinha, que deu um leve espirro. A guerreira achou aquilo extremamente fofo, mas a curandeira estava tão concentrada e séria que não esboçou nenhuma reação sobre isso.

Depois de um tempo, o clã inteiro sabia da chegada da filhote e, como estavam loucos para vê-la, uma pequena multidão de gatos curiosos foi formada perto da toca dos curandeiros, o que atrapalhava um pouco a concentração da curandeira. Pena de Harpia se perguntou se fora Pequeno Desejo o grande fofoqueiro e isso a fez sentir um pouco mais de raiva do gato branco. Viu Coração Enferrujado e pediu para o gato falar para o resto do clã para se acalmar e para dispersar os gatos o máximo que pudesse. O guerreiro alaranjado prontamente se disponibilizou.

— A temperatura do corpo já diminuiu para o normal.

Pena de Harpia ouviu Flor de Rio dar um suspiro de alívio. – Ela só precisa de se alimentar agora, parece estar morta de fome. Garra de Lince ainda tem leite, já que eu ainda não havia a dado folhas de salsa porque meu estoque estava baixo. Garra de Lince precisava de um filhote e ela – A curandeira apontou para a gatinha alaranjada com o focinho. – precisa de uma mãe. Vai ser uma ajuda mútua. Eu estava preocupada com a saúde mental de Garra de Lince, sendo sincera. Acho que essa pequena vai conseguir, finalmente, animá-la.

Pena de Harpia concordou com a cabeça e pegou a filhote, levando-a para a toca das rainhas tentando chamar o mínimo de atenção possível.

Garra de Lince estava descansando com a cabeça encostada nas suas patas dianteiras. Seu pelo cinza malhado aparentava estar mais escuro que o normal graças às sombras da toca. Ao ouvir um barulho na entrada, ela balançou a cauda levemente e virou-se para observar o visitante.

Ao ver o filhote alaranjado sendo carregado pela guerreira, Garra de Lince deu um salto.

— Filhote de Amanhecer?! – A rainha gritou em susto, se aproximando da guerreira. Isso fez o coração de Pena de Harpia se apertar um pouco, Filhote de Amanhecer era uma das filhotes da rainha que havia morrido há uma lua. Agora que parava para reparar, a filhote isolada realmente lembrava a antiga filhote de Garra de Lince.

— Não, não é a Filhote de Amanhecer. Eu encontrei essa filhote com febre na minha patrulha e depois de Flor de Rio cuidar dela, ela está com muita fome e... bem, você é a única rainha que sobrou e eu queria saber se você poderia...

— Ela... Ela foi abandonada? Quem pode ter abandonado um gatinho assim? – Garra de Lince respondeu, indignada. – Eu nunca negaria um filhote assim, Pena de Harpia. Não depois de tudo o que aconteceu.

A rainha se aproximou e pegou a filhote dos dentes da guerreira creme, levando-a para sua cama de musgo. Deixando a filhote no chão, ela se arrastou até a barriga de Garra de Lince. A rainha não pode controlar o sorriso em seu rosto. Pena de Harpia também notou que seus olhos estavam marejando e virou-se para sair, quando se lembrou.

— Ah, que nome você pretende dar para ela?

Depois de pensar por um breve momento, Garra de Lince olhou para a filhote mais uma vez e respondeu:

— Filhote de Brasas. Por dois motivos: O primeiro é porque ela estava com febre, ou seja, extremamente quente, quando você a encontrou. O segundo porque ela é a brasa que vai clarear a minha vida e derreter meu coração depois de tanta coisa ruim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Clã da Abelha - Equivalente ao Clã das Estrelas na minha história.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Gatos Guerreiros: Emberfeather's Denial" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.