A Garota de Vestido Azul escrita por Karina A de Souza


Capítulo 2
A Sombra


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas ♥



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—Bem vinda à 1977!-O Doutor exclamou, saindo da TARDIS.

Tinham pousado numa rua comum, com casinhas de madeira, todas muito parecidas. Era uma área rural, e muito amigável.

—É tão diferente. -Joanne murmurou, olhando em volta.

—Por que escolheu esse lugar?

—A casa da minha avó fica no final dessa rua. Quando a conheci, era a única casa daqui. Ela sempre disse que havia mais casas... Nunca consegui imaginar como era.

—Bem... Parece um bom lugar... Pacífico... -Um grito feminino o interrompeu. -Joanne Watson, acho que teremos nossa primeira aventura!-E começou a correr.

Joanne se apressou atrás do Doutor, mal conseguindo acompanhá-lo. Ele era muito rápido.

Encontraram a origem do grito mais à frente. Uma sombra, de forma humana, estava acima de um corpo caído no chão. Quando os viu, a sombra se foi, sumindo rapidamente.

—Essa mulher está...?-Joanne começou. O Doutor se aproximou do corpo.

—Morta. -Suspirou.

—Foi a sombra, não foi? A mãe de Elton foi morta assim. -Algumas pessoas começaram a sair de suas casas, para ver o que tinha acontecido.

—É. Foi a sombra, sim. E pela reação dessas pessoas, não é a primeira vez.

***

—Já morreram cinco pessoas, tirando a mulher que vocês encontraram. -Elise contou ao Doutor e à Joanne, que mal prestava atenção. -Ninguém sabe o que fazer, estão todos com medo. Vocês podem ajudar?

—Podemos. E nós vamos, não vamos, Joanne?

Mas ela não estava mais ouvindo. Toda sua atenção estava presa em dois meninos que brincavam num jardim ali perto.

—Quem são?-O Doutor perguntou, enquanto Elise se afastava até sua casa.

—O menino loiro é Vítor, no futuro, ele será meu pai. E o outro é Matias, será meu tio. -Sorriu. -São tão fofos...

—Ei, meninos, entrem!-Uma moça gritou, aparecendo na janela. Tinha longos cabelos negros e ondulados.

—E essa ali... Eu não sei quem é.

—Parece com os dois garotos. -O Doutor disse. -É provável que seja irmã deles.

—Minhas tias não tem cabelos escuros. Bem, deixa pra lá. O que fazemos agora?

—Elementar, minha cara Watson... Desculpe, estava louco pra dizer isso. -Joanne riu. -Agora nós vamos investigar. Fique por perto.

Eles interrogaram cada morador daquela rua, cada pessoa que cruzou o caminho deles. Até um policial novato que fazia a ronda, e que estava morrendo de medo da sombra. Ninguém sabia muito. Todos estavam assustados. Chamaram um padre, dois dias atrás, para benzer a rua, mas de nada adiantou, a estranha sombra continuava matando.

—Algumas pessoas estão indo embora. -Elise disse, servindo um chá, na pequena e simples cozinha. -Estão apavorados.

—Há quanto tempo a sombra está aterrorizando vocês?-O Doutor perguntou.

—Umas duas semanas. Você pode destruir essa coisa, seja lá o que for?

—É o que vamos descobrir. -Olhou em volta. -Você viu a minha acompanhante?-A mulher negou com a cabeça. O Doutor suspirou. -Não importa de que época ou planeta sejam, eles nunca me obedecem.

***

Era tão estranho ver a Rua das Flores cheia de casas. A avó de Joanne sempre disse como as coisas eram, mas era difícil imaginar, considerando que a garota apenas conheceu o local com a casa da avó e muito mato.

A garota estava quase no fim da rua quando ouviu um som estranho e se virou... Dando de cara com a sombra.

A mente de Joanne não sabia muito bem como similar aquilo, então comparou com a sombra de Peter Pan (em Once Upon a Time). Mas aquela coisa diante dela era real, e matava pessoas. Pessoas. Como ela.

Joanne recuou, sem saber o que fazer. O Doutor não estava por perto. Ela não tinha uma arma... Nem inteligência o suficiente para armar um plano em segundos (como ela sabia que o Doutor faria). Então apenas foi recuando devagar, tremendo de medo.

De repente, a sombra começou a sugá-la, como um Dementador sugando sua vítima. Joanne começou a se sentir leve. Se aquela era sua morte, pelo menos não doeria.

Então, uma forma alta a empurrou e ela caiu com força, desorientada. Ouviu um grito e pouco depois uma garota estava caindo em cima dela. A sombra tinha sumido.

Joanne se sentou. A moça era a mesma que tinha chamado seu pai e seu tio da janela. Agora ela estava morta, por que a salvou.

—Flora?-Joanne levantou o olhar. O pai, ou melhor, o menino Vítor, estava na frente dela, chorando. -Flora? Ela está... Morta?

—Eu sinto muito. O que ela é sua?

—Minha irmã.

Então Joanne entendeu. Ela nunca soube de Flora, por que ela estava morta.

A garota assistiu, paralisada, enquanto a família de Vítor e os vizinhos saíam e se deparavam com a cena. O Doutor estava entre eles, e ajudou Joanne a ficar de pé.

—Ela morreu pra me salvar. -Sussurrou.

O Doutor apenas abraçou a garota. Em algum momento, nas viagens, ela veria a morte de perto, assim como os outros que o acompanharam. Ele só queria ter avisado antes.

***

—Você está bem?-O Doutor perguntou, sentado ao lado de Joanne na grama.

—Sinceramente? Não. Flora queria me salvar... E acabou morta.

—Eu devia ter dito antes... Isso aqui... Isso que estamos fazendo, não é seguro. É perigoso. Você viu a morte de perto hoje. É assim que são as coisas comigo. -Fez uma pausa. -Vou entender se quiser ir embora.

—Eu estou com medo, mas não quero ir. Você pode ajudar essas pessoas, e eu quero ajudar. Encontrar você me salvou, Doutor. Eu me sentia tão perdida... E agora... Agora eu encontrei algo. Só não sei o que é. -Olhou pra ele, vendo-o sorrir. -Nós podemos vencer aquela coisa, não podemos?

—Não só podemos, como vamos. -Ficou de pé, estendendo a mão. -Vamos trabalhar, Joanne Watson. Temos uma vila pra salvar. -A garota levantou.

Correram até a TARDIS, onde o Doutor começou a revirar algumas caixas cheias de coisas que Joanne nunca viu na vida.

—O que está procurando?

—Uma coisa para prender a Sombra, caso ela não se renda. -Franziu a testa. -Você disse que há só a casa da sua avó nessa rua.

—De onde eu venho, sim.

—Então o que aconteceu com as outras pessoas?-A garota deu de ombros.

—Meu pai disse que uns foram embora, outras morreram... Eu não sei. Talvez seja isso.

—Elise, a mulher com quem conversamos hoje cedo, disse que muitos estão indo embora, por causa da Sombra.

—Então se a destruirmos... As pessoas ficam? Isso não seria alterar o futuro?

—Olhe só pra você, sua segunda viagem e já pegou o jeito da coisa. Sinceramente? Eu não sei o que vai acontecer. E confesso que isso é divertido. -Joanne riu. -Mas primeiro... Preciso encontrar uma coisa aqui...

—Doutor... Por que me escolheu pra viajar com você? Eu não sou corajosa ou inteligente. Não sei como te ajudar.

—Joanne Watson, ninguém tem todas as respostas do Universo, nem mesmo eu. -Se endireitou, olhando a garota nos olhos. -Acredite em mim quando digo que você vai aprender muito nessas viagens. Ah, olha só, achei o que estava procurando. -Tirou um tipo de disco da caixa.

—Parece um mini disco voador. O que isso faz?

—Você logo vai descobrir.

***

Ela podia vê-los pela janela. A família que um dia teria: seu pai, seus tios e tias, sua avó e seu avô. Reunidos, tentando aguentar a dor de perder Flora Watson. Ela queria ir até lá, abraçar cada um deles, tentar confortá-los, mas não podia, eles ainda não a conheciam. Em 1977, Joanne Watson não tinha nascido ainda. O garoto Vítor, que seria seu pai um dia, tinha apenas sete anos. Alana, a garota que seria sua mãe, dois. Era cedo demais. O tempo errado.

Joanne suspirou. Estava tão longe de casa.

De repente, viu algo pelo canto do olho. A Sombra. Estava se aproximando rapidamente, a garota como alvo.

Joanne se virou e começou a correr. A Sombra a perseguiu, parecendo cada vez mais rápida. Ou era a humana que estava ficando mais devagar?

Quando avistou a TARDIS, recuperou suas forças. O Doutor estava ali dentro. Ali ela estava segurava. Abriu a porta e se jogou para dentro. A Sombra se deteve, enquanto o dono da nave azul parava na porta.

—Quem é você?-Exigiu, irritada por perder sua presa.

—Eu sou o Doutor, ordeno que deixe essas pessoas em paz e vá embora.

Joanne estava atrás dele, tremendo dos pés à cabeça. E se aquela coisa conseguisse pegá-los? Mas o Doutor não parecia estar com medo, parecia determinado.

A Sombra rosnou de irritação e avançou na direção da TARDIS, mas uma luz forte piscou, prendendo-a e sugando-a para o chão, onde havia um pequeno disco.

—Funcionou!-Joanne exclamou, pulando no lugar. -Você conseguiu, Doutor!

—Nós conseguimos. -Pegou o disco. -Fizemos isso juntos. Você foi uma boa isca. -A garota riu.

—Parece que sim, parceiro. -Bateu no ombro dele. -Nós mandamos bem. Estou pronta para a próxima aventura.

—E nós vamos. -Enfiou o disco no bolso do sobretudo. -Mas primeiro... Temos uma visita para fazer. -Começou a andar. Joanne fechou a porta da TARDIS e o seguiu.

—Onde nós vamos?

—Prometi à Elise que iríamos nos despedir dela. É uma mulher muito sozinha, criando os filhos... Seria grosseiro não passar lá para dar adeus.

—Você é um homem gentil, Doutor... Ou melhor, um alienígena gentil... -Começou a rir. -Nunca achei que diria isso pra alguém.

Chegaram à casa de Elise. A mulher ficou feliz em recebê-los, e logo os três estavam reunidos na pequena cozinha, com xícaras de chá.

—São seus filhos?-Joanne perguntou, apontando para uma foto na parede. Elise sorriu.

—São. Meus meninos. Lucas e Igor. Estão dormindo agora. A escola fica longe daqui, precisam acordar cedo para ir até lá. -Colocou um prato com biscoitos na mesa. -É tão bom ter visitas. É uma pena que já estejam indo embora.

—Nós temos muitos lugares pra ir. -O Doutor disse, pegando um biscoito e o analisando de perto. -Lugares para Joanne conhecer.

—De onde vocês são?

—De longe. -Joanne segurou o riso.

—Acredito. Você parece pertencer a lugar nenhum. É um homem que já viu muita coisa. E você... É uma menina... Diferente. Nunca conheci alguém como vocês. É bom não ter pessoas julgadoras por perto.

—Julgadoras?-Joanne perguntou. Elise suspirou.

—Faz anos que não recebo visitas. As outras pessoas... Não gostam de mim. Ser mãe solteira não é bem visto pela sociedade.

—Vou te dar um conselho. Nunca ligue para o que a sociedade pensa. Sempre vão querer dizer o que deve ou não fazer. E te criticar por suas escolhas ou só por você ser mulher. Apenas diga “dane-se”. Sua vida, suas regras. -Elise parecia espantada. Já o Doutor, sorria. -Eu disse algo errado?

—Você definitivamente é uma menina diferente. E sabe de uma coisa? Você está certa. Um pouco radical, mas certa.

***

—Disseminando ideias feministas em 1977... -O Doutor comentou, caminhando até a TARDIS com Joanne. -Eu gosto disso.

—Não consegui me conter. Elise é uma boa pessoa, não merece ser julgada por que o marido a abandonou. Ele é o errado. Ela é sozinha, lutando para criar os filhos. Onde está a empatia?

—Eu não sei, mas há uma boa quantidade em você. -Abriu a porta da TARDIS. -Próxima parada...?

—Hum... Bem... Eu... -O Doutor suspirou.

—Qual é o problema? Isso tudo foi demais, não foi? A Sombra... As mortes...

—Não! Não! Quer dizer... Foi assustador, mas não é isso. Faz meses que não vejo meus pais. Moro sozinha desde que eles se mudaram pra uma dessas vilas de pescadores, aproveitando suas aposentadorias e essas coisas. E agora... Estar aqui... Tão longe de casa, me faz sentir falta deles. Pode me levar até lá? Se não for incomodar, é claro.

—Tudo bem. Vamos visitar seus pais. Allons-y, Joanne Watson!


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Notas finais do capítulo

Sobre o capítulo: como a Jo, eu sempre tive curiosidade de ir ao passado conhecer como era a rua onde meu pai cresceu. Atualmente só há três casas, e infelizmente, nenhuma foto de como era antes. Se o Doutor aparecer, bem que podia me levar lá kkkk
Pra facilitar o entendimento: a família Watson se mudou para o Brasil, eles vieram de Londres. A família da mãe de Jo é toda brasileira. O capítulo de hoje se passou no Brasil.
E então, o que estão achando? Comentem, pessoinhas ♥



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