Estava sendo complicado chegar em Dostif dessa maneira, os sensores chiavam e apitavam feito loucos, o motor estava superaquecendo, a asa havia perdido os pedaços no caminho e o manche funcionava o mínimo possível. Kayra estava próxima de Dostif agora, já conseguia ver o planeta, mas torcia para que a nave aguentasse até pelo menos um pouco perto do chão.

 Dostif era guardada pela Primeira Ordem, mas ela pensou em como faria para passar pelo sistema sem ser alarmado, graças a quem quer que fosse esse planeta era rico e muitos cargueiros passavam por ali, ela agarrou o TIE em um e entrou sem nenhum problema. O problema mesmo era este aguentar a atmosfera.

— Você não pode caronar na nossa nave, saia já – Chiou o comandante do cargueiro

                Ela havia olhado para fora e viu o número da nave, era mais fácil que eles tivessem medo de serem descobertos, pois praticamente todos os contrabandistas frequentavam Dostif. Não seria difícil encontrar um, mesmo que estivessem camuflados, era fácil saber que estavam carregando cargas não oficiais pois estavam se direcionando a um porto não patrulhado.

— Atenção 8876, vejo que você tem aí uma carga contrabandeada. Que tal se eu não lhe denunciasse e você me deixasse passar junto?

Não sabia se a Primeira Ordem fazia isso, mas tentou. Demorou um tempo até que o comandante respondesse novamente, estavam checando provavelmente se isso era um blefe ou não.

— Ok, em meia rota você sai. Não queremos chamar atenção. – Disse ele rapidamente pelo rádio

— Entendido

O TIE aguentou bem até meia rota, toda pressão que vinha do ar foi primeiro para o cargueiro que nem em boa condição estava, mas depois que se separou da nave, Kayralor teve muitos problemas. O principal deles foi a asa direita pegou fogo e os sensores que já estavam loucos ficaram mais ainda, após forçar o TIE até a floresta oeste de Dostif, o motor parou e os dois começaram a cair.

 Kayralor nem havia esperado muito mais que isso para ser realista, ela iria bater entre as arvores e esperava que o impacto não fosse tão profundo. O TIE já estava batendo nas copas das árvores quando ela fechou os olhos e se concentrou em alguma lembrança boa, esperava que não morresse agora enquanto estava caindo, sentiu o primeiro impacto.

O TIE foi batendo entre as arvores e ela sentiu algumas mentes humanas, mentes humanas? Ali próximo, estavam guardando alguma coisa. E seu tio. Kay abriu os olhos e viu a nave cair e bater com tudo contra o chão, foi um impacto muito forte, o vidro estilhaçou-se e cortou algumas partes de sua mão e testa. Depois de ter escorregado alguns muitos metros, o TIE parou e pegou fogo e com algum esforço ela conseguiu sair pela janela da frente sem problemas.

Sentou-se um pouco e percebeu que havia machucado sua perna, novamente. Estava sangrando, mas conseguiria andar ainda por algum tempo, Kay nunca se viu numa situação tão perigosa, sabia que Kylo Ren viria atrás de si e que a mataria. Levantou-se e foi até onde seu tio estava, ela caminhou cerca de uma hora e meia até situar que estava próximo do local, e depois caminhou mais meia hora.

Kay viu o que seria lanternas da sua casa, mas também viu cerca de outras dez lanternas no perímetro de cinquenta metros daquele local. O que estava acontecendo? Ela se escondeu entre a folhagem e observou por um instante. As lanternas se movimentavam e uma vinha próximo a ela, Kay ficou abaixada e fez o maior silencio possível, quando se aproximou viu que eram stormtroopers.

Stormtroopers, por que eles estavam ali? Esperou a dupla passar e depois correu até a cabana de seu tio, lá o encontrou como sempre estava, era velho e nada parecido com um humano, um tarsunt que já tinha lá suas barbas brancas e pele enrugada. Gnar usava roupas pobres e como tudo na casa, de segunda mão, mas não parecia ligar muito para isso, haviam muitos livros velhos lá dentro. Ela entrou rapidamente e assustou o tarsunt.

— Tio! – Ela disse esperançosa

— Kay! – Ele virou-se e a abraçou – Kay você está machucada, o que fizeram a você?

Além de todos os machucados e o sangue escorrendo, Gnar notou também que a moça estava muito cansada e suja, ele um pouco mais baixo que ela e por ser idoso sua voz falhava em alguns instantes.

— Não tenho tempo de explicar agora tio, ele está vindo – Disse ela alarmada – O que está acontecendo aqui? Eles estão te mantendo refém?

— Refém? Não, não, não, não... – Ele disse rapidamente – Ele quem Kay? Por que você não voltou para casa?

— Tio, ele está seguro?

Ela se referia a algo que ambos guardavam a vários anos, Kay e Gnar escutaram o som de uma nave se aproximando e ela já sabia quem era nesse momento. Tinha poucos minutos até que ele chegasse então foi rápida.

— Tio, me diga logo. Eles estão te machucando? Você o manteve seguro? – Ela falou apressada ainda segurando as mãos do tarsunt

— Não Kay, eles me mantêm seguro. Ele também está seguro!

— Seguro?

Kay hesitou, mas ouviu a comporta do TIE se abrindo, ela deu um beijo rápido na testa do senhor e correu pela porta a fora. O tarsunt ficou extremamente agitado com tudo isso, e gritou pelo nome dela porta a fora, desistiu de correr em alguns metros, ele sabia que era muito velho para ajudá-la e sua missão ali era outra.

Os stormtroopers rapidamente se reagruparam, e Kay mal conseguiu passar por duas duplas que estavam à sua frente, eles atiraram contra a jovem, mas logo cessaram fogo. Nenhum tiro a atingiu, mas ela tombou numa folhagem e logo se levantou novamente. Podia sentir Kylo Ren próximo a ela, e ele estava muito, muito irritado.

— Pare agora!

  A voz distorcida ecoou pela mata, mas ela não podia vê-lo, pensou que talvez por isso fosse a roupa preta necessária. Ela correu mais alguns metros à frente, estava escuro ali pois estava de noite e depois curvou-se para direita, estava olhando para todos os lados, mas não o achava. Um sabre de luz vermelho ligou-se, era diferente de tudo que ela havia visto, um sabre em forma de cruz que se aproximava e ela se afastava, de repente viu-se impedida de mexer-se.

  Kayralor estava paralisada, estava tentando se soltar e isso demorou um pouco, pois quanto mais ele se aproximava mais forte ficava o seu poder. Era surpreendente o fato que, Kay era uma usuária que estava constantemente ocultando seu poder, a garota aparentava ser fraca, mas quando Kylo Ren já podia ser visto totalmente, a jovem saiu com alguma dificuldade do domínio dele.

    Ela bateu de costas numa pedra e apenas pode observa-lo vindo contra si, não tinha arma para se defender, ele com certeza a partiria no meio. Aquele sabre fazia um barulho assustador, e agora que estava mais próximo podia sentir o calor daquilo também.

Rapidamente, Kylo Ren retirou seu capacete e o jogou a poucos centímetros da cabeça de Kay, ela fechou os olhos e ouviu o barulho pesado que o objeto fez ao atingir a pedra ao lado do seu ouvido, pode sentir que ficou um pouco surda temporariamente. Ficou muito assustada, mas quando abriu os olhos pode ver pela primeira vez o rosto do homem, era jovem como ela e bonito, uma cicatriz se fazia ali abaixo e um pouco acima do seu olho, estava extremante transtornado.

— QUAL O SEU PROBLEMA?? – Ele a encarava e gritava apenas alguns centímetros longe do rosto dela, havia nivelado sua altura para olhar diretamente em seus olhos – VOCÊ NÃO PENSA NO QUE FAZ? ESTÁ FORA DE SUA MENTE? O QUÃO INCONSEQUENTE VOCÊ AINDA CONSEGUE SER?

                Era aquela voz harmoniosa que havia escutado, só que agora cheia de fúria e ódio. Kay ficou extremamente nervosa quando o sabre de luz dele acertou a pedra em que ela estava, ao lado dando a ela um pequeno espaço para se desviar e bater com seu pé no capacete ao chão. Sua voz mal saia de sua garganta.

— Você queria me matar...

— EU JÁ TERIA FEITO SE QUISESSE! – Gritou

                Houve uma pausa tensa nesse momento, ela olhava para os olhos dele e via o quão verdade aquilo era, agora que podia vê-lo era muito mais fácil lidar com Kylo Ren. Mais uma vez ele acertou a pedra ali que a fez se partir, Kay mais uma vez tremeu um pouco. O homem estava fora de si, ele se afastou dela apenas para andar de um lado para o outro segurando e girando aquele sabre poderoso.

— Você poderia ter morrido várias vezes se eu não estivesse lá – Ele cortou uma arvore ao meio nesse momento – Qual é o seu problema?

— Era você naquele caça? – Ela disse surpresa

— Sim, eu estava lá, eu pedi que os canhões fossem suspensos. Eu pedi que os guardas não atirassem – Ele era enfático no “Eu” – Para que você pudesse viver! – Apontou o dedo furiosamente contra ela ali de onde estava esticando todo o braço 

                Ele andava de um lado para o outro acertando as coisas com seu sabre de luz, e Kay só podia pensar no quanto estava surpresa disso tudo ter acontecido. Kylo Ren fazia alguns barulhos de indignação constante, as coisas haviam fugido de seu controle e agora ele deveria dar explicações aos seus superiores, ele odiava isso. Afinal por que ele precisava tanto dela? Ele estava mantendo Gnar seguro? Por que havia saído para busca-la de volta?

— Você deve se tornar uma guerreira forte e segura... Você é forte na Força... Você não pode simplesmente ir assim! E se alguém tivesse a encontrado? Com todo esse poder...  – Parecia preocupado nesse momento

— MAS VOCÊ ME ENCONTROU... – Ela gritou com seu último folego

                Isso pareceu acalma-lo no momento, sentiu que suas forças estavam esvaindo-se então escorregou pela pedra e sentou-se ao chão, ao lado do capacete negro. Ele notou a falta de energia na moça, guardou seu sabre e se aproximou rapidamente, abaixou-se ao chão para olha-la.

— Está ferida... Preciso leva-la ao Finalizer – Disse com urgência

— Por que precisa de mim? – Ela falou sem muita esperança

— Juntos, somos mais fortes – Foi sério em dizer

— Fortes para o quê? – Não entendia

— Não faz sentido no momento – Foi rápido

— Você está protegendo o meu tio...

                Essas frases quase não saíram da boca dela e Kylo Ren não havia dito nada desde então, ele havia confirmado em não dizer nada. Ela deu um sorriso quase imperceptível e nos olhos dele pode ver o primeiro fio de esperança, talvez o mais intenso que ela já tinha visto em alguém.

— Eu não posso força-la a se juntar a mim, porém o destino chega a você desta vez... Você deve se unir a mim, eu posso treina-la...

— Eu treinarei com você, mas não como mestre... Como igual... – Disse ela

                Era tudo que ele precisava saber, Kylo movimentou sua mão e apagou sua mente. Ele colocou de volta seu capacete e a apanhou do chão, carregando-a de volta para o TIE em seus braços.