A vida continua. escrita por Hoffnung


Capítulo 4
IV




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Julie ainda estava na casa da Bia, depois do que houve no show achamos melhor ela não voltar pra casa e assim evitar dar explicações ao seu pai. Mas acho que vai ser difícil, afinal o tapa que o cretino acertou deixou uma marca nada discreta no rosto dela. Ainda vou ter uma conversinha com ele, mas agora a única coisa que me preocupo é com o estado de Juliana, nunca tinha visto ela tão nervosa assim, porém não vou mentir, me senti a pessoa mais feliz do mundo quando vi ela se levantando e ignorando todos para me abraçar, mas assim que senti seu corpo mole entrei em pânico. 

Bia chamou o Klaus e ele nos ajudou a socorrê-la, ela acordou não muito tempo depois e a primeira coisa que fez foi me chamar. Sorri bobo naquele momento, agora que o panaca pisou na bola é a minha chance. Ela ficou um pouco na casa do Klaus, passou no hospital para ver se estava tudo bem com a cabeça, pois ela acabou batendo de alguma forma que eu não entendi direito... Como estava tudo certo foi dormir na casa da Bia. Decidi dar privacidade e deixá-la sozinha, afinal ela deve querer conversar com a amiga e decidir o que vai fazer em relação ao seu namorado, ou simplesmente desabafar. 

Mas confesso que está difícil me distrair com qualquer coisa nessa edícula sem saber como ela está. Sei que está com Bia, ou seja, em boas mãos, mas ainda tenho medo que ela precise de mim e eu não possa ajudá-la por não estar por perto. 

— Daniel, relaxa cara, logo a Julie chega aí, não adianta ficar nervoso. - Félix tentava me acalmar. 

— Você viu o jeito que ela estava nervosa ontem? Não tem como ficar calmo. - respondi meio grosseiro. 

— Ela só está na casa da Bia para evitar confusões com o pai por aqui. Ela já está bem. 

— Tem certeza? - Eu sabia que era verdade, mas estava meio duvidoso... Os acontecimentos de ontem ainda passavam como um filme em terceira pessoa na minha cabeça. 

— Claro, ela está com a melhor amiga dela, mas se você está tão preocupado assim vai lá falar com ela. - Não respondi, apenas sai da edícula e fui indo em direção à casa da Bia que, por sorte ficava apenas algumas quadras daqui. 

Assim que me aproximo vejo as duas se despedindo no portão, Beatriz insistia em acompanhar Julie, mas a mesma garantia que estava bem. Bia suspirou derrotada e aceitou, assim que viu a amiga seguindo seu caminho fechou o portão. Julie chegava cada vez mais perto de mim, então decidi ficar visível. 

— Oi. - disse mais aliviado ao ver que ela estava bem. A marca do seu rosto estava tampada com maquiagem, mas se encarasse dava pra ver levemente o formato da mão do cretino. 

— Oi Daniel... - ela disse magoada, abaixou a cabeça, provavelmente com vergonha ao se lembrar de ontem. 

— Como você está? 

— Para com isso... 

— Parar com o quê? – Não estava entendendo seu comportamento. 

— Parar de fingir que se importa comigo. 

Parei bruscamente e a segurei. - De onde tirou isso? 

— Pode falar... - disse chateada. 

— Falar o quê? - confesso que estava confuso, ela estava magoada comigo? 

— Eu sei que está mostrando se importar só pra depois poder dizer: "Eu te avisei". 

— Eu realmente me importo com você... – Sussurrei. 

— Agora já pode dizer. 

— Não. Eu não vou. - Ok, agora eu estava ofendido. 

— Por que? Eu sei que está louco pra fazer isso. - ela insistia. 

— Julie, entenda, você já está mal o suficiente, não quero piorar a situação. E de que adiantaria falar, a merda já está feita, você não quis me escutar e agora não dá pra desfazer o que aconteceu. - vi seus olhos marejados, em seguida ela abaixou a cabeça. Droga. Não ia deixar ela ficar chorando o dia todo, quero conquistar ela, e se conseguir animá-la agora acho que ganho uns pontos. Segurei sua mão e atravessei a rua. 

— Onde estamos indo? 

— Tomar sorvete... 

— Mas você não pode comer. - ela me olhou confusa. 

— Mas você sim... vamos, deixa eu te animar. – Pisquei para Julie. 

Vi um pequeno sorriso surgir no seu rosto. Ela balançou a cabeça em negação, mas já parecia mais animada. 

... 

— Não acredito que roubou o sorvete. - ela comentava surpresa. 

— Eu disse que ia dar um pra você, mas como nós não tínhamos dinheiro foi o jeito... - explicava. 

— Mas isso é errado, eu poderia ficar sem o sorvete. - ela comenta devorando o mesmo. 

Parei de andar. - Ok, então vamos devolver. - estiquei a mão em direção ao doce. 

Ela negou. - Agora que você já se deu ao trabalho não precisa. Além do mais eu já estou comendo - riu. 

— Então não reclama. - respondi brincalhão. 

Nem percebi pra onde estávamos caminhando, só me dei conta que chegamos ao parquinho quando vi os balanços. Suspirei me lembrando daquele dia. Ela continuou andando e se sentou em um deles, me olhava com carinho esperando que eu fizesse o mesmo que ela. Cocei a nuca e meio contrariado me sentei no balanço ao seu lado. Por mais que nós estivéssemos "bem" agora, não gostava muito daqui, me trazia lembranças ruins sobre um certo fora que levei... 

— Isso me lembra alguma coisa... – ela comenta devorando seu picolé. 

— Huh, é mesmo? - respondi um pouco distraído. 

— Eu sei que você se lembra... 

— Estou tentando esquecer isso. 

— Sério? – perguntou surpresa. 

— Sim. Eu não gosto de lembrar dos momentos tristes da minha vida, morte, sei lá. 

— Foi muito triste para você? 

— Oh, não. Imagine, a menina que você gosta te recusa para ficar com um panaca. 

— Nem me lembre... 

— Ah, mas você gostou disso, não minta pra mim. Você o escolheu. 

— Queria que tivesse sido diferente. - ela comenta acabando com o sorvete. 

— É? - me surpreendi. 

— Uhuum. - disse tranquila, parecia sincera. 

— Por que? - ela corou, abaixou a cabeça, mas me olhou. 

— Porque eu estaria com você agora e não sofrendo. 

— Você está comigo. 

— Não nesse sentido... - ela diz se aproximando. Engoli seco. Estou enlouquecendo ou Julie está me dando mole? 

— Em qual sentido? - pergunto nervoso com sua aproximação. 

Ela dá um sorriso tímido, mas se aproxima ainda mais. Não queria que ela pensasse que não é retribuída, então me aproximo em resposta, sinto nossos lábios a poucos milímetros então fecho os olhos. 

— Julie... - digo rouco de desejo. - Não faz ideia do quanto eu quero esse beijo, mas agora não é a hora... Você está carente e quer acabar com esse sentimento ficando comigo... Eu não quero ser segunda opção. - Como estávamos muito perto, a cada palavra que eu dizia sentia seus lábios macios e quente roçando nos meus. Arrumei uma força inexistente para me afastar. Abro meus olhos com cuidado e vejo os seus marejados. 

— V-ocê... Não... Me quer? 

— Quero. Quero muito, mas não agora... não com você assim. - aperto os olhos com força e balanço a cabeça em negação. - Não seria justo me aproveitar de você enquanto está com o emocional abalado. 

— Não! - ela grita me assustando - Daniel, você pode pensar isso, mas.... Eu sei o que quero. - me levanto, ela poderia estar sendo sincera, mas meu orgulho iria se ferir ao pensar que sou segunda opção. 

Ela levanta atrás de mim e segura minha mão com suas duas, como se implorasse para eu não ir. 

— Eu quero você. - disse com a voz fraca e com os olhos cheios de lágrimas. Sorri, foi a melhor coisa que eu já ouvi, mas não ia ceder assim. Eu a amo, amo muito, mas ainda acho que ela está fazendo isso por estar abalada, ou até mesmo com pena de mim. - Por favor... - seus olhos imploravam. A abracei forte, dei um beijo em sua cabeça. 

— Vamos pra casa. - ela abaixou a cabeça e assentiu derrotada. 

Durante o caminho ninguém se atreveu a falar nada, mas assim que chegamos em sua casa ela quebrou o silêncio. 

— Fica comigo? 

— Julie... 

— Por favor, eu... eu não quero fica sozinha. – disse fraca. Suspirei, não ia negar esse pedido à minha garota. Ia responder, mas Seu Raul entrou na sala. 

— Chegou filha, como foi na casa da Bia? – Perguntou se ajeitando no sofá e começando a ler o jornal. 

— Normal. Vou subir... Tchau pai. – Ela me olhou insinuando que eu a seguisse e começou a subir as escadas até que seu pai falou: 

— Daqui a pouco vou no supermercado e levar o Pedro para casa do Patrick, você quer ir? 

— Não pai... eu... e-eu tenho lição. – ela se enrolou na hora de inventar uma desculpa, mas como seu pai não estava prestando atenção nem percebeu. 

— Ok. – Julie terminou de subir os degraus e entrou no seu quarto. Ela esperou eu entrar para fechar a porta, sentei na sua cama, ainda estava pensativo sobre o que aconteceu mais cedo. Fiz certo em rejeitar o beijo? Não vou mentir, eu queria muito, mas, detestaria ser segunda opção. Ainda mais quando a primeira é o panaca. 

Julie se aproximou com receio, sorri para ela e alisei seu rosto, a mesma fez uma careta de dor e se afastou, de início não entendi, mas logo percebi que o soco que o Nicolas deu estava dolorido. Hum, preciso resolver isso logo. Alguém vai ganhar uma visita... 

— Ainda dói muito? – quebrei o silêncio. 

Suspirou, a resposta era óbvia. – Espero conseguir esconder isso do meu pai. 

— Ele só vai perceber se ficar te encarando, conseguiu tampar bem. 

— A Bia me ajudou... – andou até sua escrivaninha e ficou mexendo em alguns objetos que estavam lá. Deitei na sua cama e me ajeitei colocando os braços atrás da cabeça. 

— Vai me contar o que aconteceu? – Ela não respondeu de início, apenas suspirou e negou com a cabeça. 

Me levantei e cheguei perto dela. – Deixa eu te ajudar... 

Ela se virou e acabamos ficando muito próximos, sorriu tímida e abaixou a cabeça. – Não é falando sobre isso que vai me ajudar. – falou fraco. A porta do seu quarto se abriu me impedindo de dar a resposta. 

— Filha, estou saindo, vai querer alguma coisa? 

— Não pai, obrigada. 

— Qualquer coisa me liga... 

— Pode deixar. – Ele fechou a porta nos deixando sozinhos de novo. Julie ainda estava de cabeça baixa, segurei seu queixo tentando ser o mais gentil possível fazendo ela me encarar, finalmente seus olhos tristes encontraram os meus. 

— Deixa eu te ajudar... – sussurrei. Ela fechou os olhos e eu sabia o que viria a seguir, mas novamente meu orgulho falou mais alto e eu me afastei. Droga, eu a amava... Mas queria seu amor por inteiro e não só quando seu emocional estava abalado. Me sentei em sua cama e ela continuava com os olhos fechados, imóvel. Quando finalmente os abriu estavam vermelhos e marejados. 

— Por que não fala a verdade? - perguntou com várias lágrimas grossas invadindo seu rosto. 

— Julie...o qu-- 

— Por que não me ama mais? Eu demorei muito? Você desistiu de mim? - ela me interrompeu. Aquilo me deixou com raiva, como poderia duvidar do meu amor? 

Me levantei depressa e segurei seu rosto com as duas mãos, senti minha respiração pesar ao perceber que estávamos a poucos centímetros de distância. Foquei meus olhos nos seus que pareciam perdidos, receoso juntei nossos lábios, fechei os olhos com o toque. Era apenas um selinho, mas aquilo já me despertou muitas emoções, me senti vivo, inteiro, completo. 

Quando meu coração ainda batia, nunca pensei que bateria por alguém, mas agora tudo mudou. Acho que nesse momento, esse é meu maior desejo. Que ele volte a bater, não por mim. Mas por ela. Juliana merece alguém melhor que o cretino, e eu sei que posso amá-la da melhor forma possível. Tomei coragem e decidi aprofundar mais o beijo, na mesma hora ela cedeu e lentamente eu comecei a explorar sua boca, até então desconhecida para mim. 

Julie sorria entre o beijo o que me incentivava a continuar. Não sei explicar o que estava sentindo, era uma mistura de várias coisas. Nem nos meus melhores sonhos eu planejaria sentir isso. Mas ao mesmo tempo uma tristeza me invadiu. Eu não poderia dar a Juliana um futuro, uma casa, casamento ou até mesmo filhos, só poderia dar amor. Apenas o meu amor. E que com o passar do tempo isso não seria o bastante. Com esses pensamentos terminei o beijo, mas assim que ela sentiu eu me afastar juntou nossos lábios novamente. Tentei sair, afastar nossos lábios, mas o sentimento falou mais alto que a razão. 

Agarrei sua cintura e a prensei na parede com certa violência, a cada segundo que passava puxava seu corpo para mais perto do meu, como se isso fosse possível. Estava tomado de desejo, mas precisava me controlar. Vi que ela já estava com certa dificuldade para respirar então finalizei chupando seu lábio inferior enquanto a mesma sorria. Encostei nossas testas enquanto ela regulava a respiração. 

— Nunca. Nunca mais duvide do meu amor Juliana. - falei sério o que a fez abrir o sorriso mais lindo e mostrar suas covinhas que tanto me encantavam. Me afastei antes que caísse na tentação de beijá-la novamente. O sentimento de culpa me invadiu, mas a felicidade que eu sentia naquele momento era maior do que qualquer outro pensamento. Finalmente alguma coisa tinha dado certo pra mim. 

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler.



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