*Anne*

Depois de Tae se acalmar voltamos para casa. Ele não me falou o que tinha acontecido e eu também não insisti nisso, quando ele se sentisse à vontade ele falaria.

—Acho que vou deitar um pouco. – Ele disse.

—Quando eu era pequena e perdia as competições de piano, minha mãe sempre fazia um chá especial para que eu me sentisse melhor. Você quer que eu faça para você?

Ele deu um sorriso fraco.

—Isso seria muito bom noona. – Disse. – E obrigado por tudo.

Ele saiu em direção ao quarto e eu segui para a cozinha.

J-Hope estava jogado no sofá assistindo alguma coisa na TV.

Comecei a procurar as coisas no armário e na geladeira. Morangos... mel... uma xícara... ah! Eu preciso de folhas de hortelã.

Eu estava na ponta dos pés tentando pegar a hortelã no armário de cima (eu não sou tão baixa, mas aquele armário tava tirando com a minha cara).

—O que está fazendo? – J-Hope se materializou do meu lado.

Desisti do armário.

—Por que os armários dessa casa são tão altos? – Falei fazendo careta. – Estou tentando fazer um chá, você quer também?

—Não, obrigado. – Ele respondeu. – Mas eu posso ajudar, se você quiser. – Ele disse tirando o saquinho de folhas de hortelã do armário e me entregando.

—Como você...

—Você sabia que costuma resmungar quando está pensando?

Arregalei os olhos. Ah, droga, quanta besteira eu já não falei sem querer?

—Não precisa fazer essa cara. – Ele riu. – Eu estava brincando, mas estava claro já que fazem dois minutos que você está com o braço estendido na direção do saquinho.

Após esse alívio mais do que bem-vindo começamos a fazer o chá.

—Acho que fizemos chá de mais. – Comentei.

Ele concordou com a cabeça.

—Vamos ter que tomar. O cheiro está bom e eu acho que tem um pacote de salgadinho escondido em algum lugar... podemos fazer um lanchinho.

—Ok. – Falei. – Eu só vou levar essa xícara para o Tae, já volto.

Peguei a xícara de chá e coloquei numa bandejinha.

—Posso entrar? – Perguntei na frente da porta do quarto.

Ele respondeu que sim e eu entrei. Tae estava deitado na cama com o cabelo todo bagunçado (como ele conseguiu ficar naquele estado em tão pouco tempo?). Seus olhos estavam inchados e vermelhos.

—O chá está pronto. – Falei e me aproximei.

Deixei a bandeja no criado mudo e sentei na pontinha da cama.

—Você não está doente, está? – Perguntei.

—Minha temperatura está normal... – Ele pegou minha mão e colocou em sua testa. – Não é?

—Parece que sim. – Respondi.

Ele tomou um gole de chá.

—Uau! Isso é bom!

Sorri.

Esperei que ele terminasse de tomar. Então ele voltou a deitar confortavelmente na cama.

Não tinha muito mais que eu pudesse fazer, fui levar as coisas de volta para a cozinha. Mas Tae segurou meu pulso antes que eu saísse.

—Por favor – Ele disse. – Não me deixe sozinho.

Voltei a sentar na cama e depositei delicadamente minha mão no braço dele. Não falamos nada e em dois minutos Tae estava dormindo.

Fiz o máximo de esforço possível para sair do quarto sem acordá-lo.

Cheguei na cozinha e encontrei J-Hope sentado com a cabeça escorada na parede. No colo dele estava uma bacia com salgadinhos.

Eu não sabia dizer se ele estava dormindo ou não, mas ele abriu os olhos quando me aproximei.

—Desculpe, acho que eu demorei um pouco.

Ele ficou me observando por um tempo.

—Você estava com o Tae?

Fiz que sim com a cabeça.

—O que aconteceu com ele? - Perguntamos em uníssono.

J-Hope desviou o olhar com uma cara estranha.

—Eu vi vocês dois antes. - Comentou como quem não queria nada. - Ele parecia bem confortável com você.

Olhei bem para aquela expressão no rosto dele. Não acredito...

Eu já tinha ouvido falar sobre V-Hope mas não sabia que era mesmo real.

—Você está com ciúmes? - Perguntei.

Ele ficou vermelho, o que confirmou todas as minhas suspeitas.

—Vamos ter que esquentar o chá novamente. - Ele disse apenas.

XXX

Fui para o meu quarto e deitei na cama.

Não estava bem.

Era uma sensação angustiante, um aperto no peito que não queria ir embora. Eu estava triste e não sabia o porquê.

Aos poucos comecei a lembrar do meu primeiro dia com os meninos. Jungkook tinha me perguntado quem era o meu bias. Naquela hora esse nome me veio à cabeça e agora explodia dentro de mim.

Não posso... não posso...

Mas era impossível não pensar nele e nem visualizar seu rosto.

Meu coração batia num ritmo acelerado, meus sentimentos faziam a melodia e o nome dele gritava no meu peito. Era a letra daquela canção desesperançada.

Hoseok... Hoseok... Hoseok... Hoseok...

Meus pensamentos foram impedidos por batidas na janela. Levantei e fui ver o que era.

—Precisamos conversar. - Disse Suga do outro lado.

Olhei para baixo, ele estava em pé em uma parte minúscula do prédio e além disso era uma queda de uns sete metros.

Arregalei os olhos. Altura não é o meu ponto forte.

—O que você está fazendo aí seu louco?

—Pare de reclamar e venha aqui.

Olhei mais uma vez para a altura do prédio.

—Nem morta.

Depois de muita discussão ele me obrigou convenceu a pular a janela.

Eu estava grudada na parede, quase chorando e agarrada no braço dele.

Finalmente passamos por aquele aperto e tivemos que passar por uma tábua para chegar no topo do outro prédio.

Dava para ver a cidade dali de cima e a vista era de tirar o fôlego.

—O que aconteceu com você aquele dia? Você ama vestidos e eu sei que aquele era o seu tamanho.

Fiquei quieta.

Ele bufou.

—Qual foi o resultado do exame?

—Eu preciso de um transplante de medula óssea. Estou esperando um doador compatível.

—Quanto tempo você ainda tem? - Ele perguntou.

—Um mês e meio, se eu tiver muita sorte.

Sorte... SE eu tivesse muita sorte... SE eu tivesse muita MESMO... eu conseguiria sobreviver sem um transplante por um mês e meio.

—É por isso que você está aqui? - Suga perguntou.

—Sim - Respondi. - Eu queria muito ver você antes que acontecesse alguma coisa... 

Ele pôs a mão no meu ombro. Aquilo foi o suficiente para me fazer desabar.

—Eu tinha aceitado... - Falei em prantos. - Eu queria somente ver você mais uma vez e então eu poderia morrer.

Eu não sabia explicar que olhar era aquele no rosto de Yoongi. Eu também não sabia como explicar aquilo para ele.

—Mas agora...