*Anne*

—Como é que fala isso?

—Pddog. - Respondeu Jimin.

—Dog tipo... Cachorro?

—Vamos Anne, você consegue. Fala devagar... Pddog.

O que saiu da minha boca foi algo completamente desumano.

—Ok, eu desisto de você. - Ele disse.

—O que estão fazendo? - Perguntou Jungkook se aproximando de nós.

—Estou tentando ensinar ela a falar Pddog. Mas é impossível!

Jungkook riu da minha cara.

—Você vai falar com ele? - Perguntou.

—Sim, mas qualquer coisa eu só preciso chamá-lo de "produtor do BTS".

—Claro, bem mais simples. - Ele sorriu, depois virou para o Jimin. - Kim Sejin está louco procurando você desde ontem.

—Ah, droga. Eu esqueci de falar com ele!

—O que você precisa falar com Pddog? - Perguntou Jungkook quando Jimin saiu.

—Mike pediu que eu entregasse o roteiro a ele, para ver o que ele acharia.

—Você finalmente terminou a revisão?

—Eu fiquei lendo aquilo até cinco horas da manhã. - Respondi.

—Ah... - Ele disse. - Isso explica sua cara de zumbi.

Torci o nariz, minha cara nem estava tão horrível assim.

—Pddog está em uma reunião. - Ele disse. - Não sei se ele vai demorar ou não, mas enquanto isso você pode ficar comigo, eu tenho que ensaiar melhor a coreografia.

—Parece uma boa ideia.
                            XXX

A parte boa era que os dois dançavam muito bem.

A parte ruim era que um deles era o Hoseok.

Estava difícil não babar ali olhando ele dançar, então eu tentava focar mais no Jungkook. O problema era que J-Hope estava com uma camisa bem solta e qualquer movimento mais brusco fazia ela levantar um pouco e deixar à mostra aquela obra de arte que era o abdômen dele.

Jungkook foi ao banheiro e ficamos apenas eu e J-Hope na sala de ensaio.

—Você dança? - Ele perguntou.

—Não. - Respondi já sorrindo por lembrar dos desastres que aconteciam quando eu tentava dançar. - Nem um pouco.

—Essa coreografia não é difícil, por que não tenta?

—Você não entendeu. Eu sou péssima, de verdade.

—Ninguém pode ser assim tão horrível. - Ele disse me puxando para o centro da sala. - Juro que não vai ser difícil.

J-Hope ligou a música e foi me explicando passo a passo a coreografia. Ele precisou explicar quatro vezes até eu finalmente conseguir prestar atenção nos passos, porque, meu bem, tente aprender a dançar com ele e você vai ver que é IMPOSSÍVEL se concentrar.

Ele não pareceu desanimado quando viu o desastre chamado "Anne Tentando Imitar Coreografia Do BTS". Pois é, nome comprido, não?

—Ok - Ele disse. - Eu retiro o que eu falei antes, existe alguém tão horrível assim.

Dei risada.

—Eu avisei.

—Mas não é nada que algumas aulinhas não resolvam. Eu já sei que você está louca pra isso, então serei seu professor.

—Sinto muito ter que recusar essa oferta, mas eu gosto da minha vida sedentária.

Ele revirou os olhos.

—Só perdoo porque você é muito bonita.

Aquilo me deixou completamente sem jeito e vermelha.

—Mas por que o Jungkook está demorando tanto? - Tentei mudar de assunto.

Hoseok suspirou.

—Ele é um bom garoto. - Foi apenas o que disse.
                             XXX

Eu estava na cozinha, tirando um cochilo com a cabeça encostada na mesa, quando Tae chegou.

—Oh... Anne! Você por aqui? 

—Oi Tae... - Respondi tentando me manter acordada.

—Por que não vai dormir?

—Porque eu não quero dormir agora, se eu dormir, vou passar a noite em claro.

—Ótimo trabalho esse que você está fazendo. - Ele disse erguendo os dois polegares.

Eu estava quase cochilando de novo quando ele voltou a falar.

—Uau! Você viu o J-Hope hoje?

—Vi, por quê?

—Ele foi desafiado por um sunbae com uma coreografia super difícil, e ele arrasou.

—Sério?

—Sim! - Tae parecia muito empolgado. - Ele não é incrível?

Senti um leve aperto no peito. Lá estava eu de novo, sofrendo pelo J-Hope. Agora já tava na cara que Tae correspondia aos sentimentos dele.

—Sim, ele é. - Respondi.

—Isso aí garota! - Disse ele levantando a mão para um Hight-Five. - Primeira lição que você aprendeu, hein? J-Hope hyung é incrível. Agora eu já estou indo embora. E não, eu não passei aqui só para dizer isso.

Então ele saiu correndo.

Masoque?
                               XXX

—Alô? - Atendi o celular. Deviam ser umas três horas da manhã.

—Anne?

—Sr. Manoel?

—Sim, querida. - Ele respondeu. - Como está se sentindo? Você viajou?

—Viajei sim, senhor. E me sinto como sempre, as manchas parecem estar começando a subir, algumas já apareceram nas minhas costas. Os hematomas ainda são frequentes e me sinto bem cansada.

—Algo mais que você lembre?

—Desde que eu cheguei só vomitei uma vez. Uma cobra arranhou meu braço, mas estou tomando todos os cuidados necessários para não infeccionar nada.

—Uma cobra?!

—Não se preocupe, não era venenosa.

—Ainda assim Anne, tome muito cuidado.

—Tudo bem.

Ficamos em silêncio por um tempo até que ele disse.

—Tenho uma notícia para você.

Meu coração disparou. Ou era uma notícia muito boa, ou era uma notícia muito ruim.

—Nós encontramos alguém compatível para uma doação.

Fiquei sem ar.

—O... o que o senhor disse?

—Eu disse, Anne, que encontramos alguém compatível que pode doar células tronco hematopoiéticas para você.

Naquele momento me bateu um alívio tão grande, como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas.

—Isso quer dizer que...

—Quer dizer que você tem uma chance, Anne.

Eu não conseguia falar.

—Nós ainda vamos preparar tudo, tem toda a papelada que precisa ser feita e mais alguns exames ainda. Mas é tudo bem promissor.
                             XXX

—Anne? - Yoongi apareceu na varanda.

Minha alegria era tanta que não contive o impulso de quase derrubá-lo no chão com um abraço bem apertado.

—O médico acabou de me ligar... - Falei.

—O que ele disse?

Me afastei dele um pouco. Eu queria dar aquela notícia olhando para ele. Yoongi foi a única pessoa a quem eu contei sobre minha doença, foi o único que esteve comigo por todo o longo processo. Mesmo ele estando longe, foi ele quem me apoiou esse tempo todo.

—Ele encontrou alguém compatível para a doação. Ainda tem algumas coisas para organizar e tudo o mais, mas ele acha realmente que pode dar certo.

—É sério? - Ele perguntou. - Sério mesmo?

—Sim. - Eu não conseguia conter o sorriso enorme se formando no meu rosto. - E dessa vez não é como a quimioterapia, que não adiantou muito. Dessa vez, se eu fizer mesmo o transplante, eu posso ficar saudável de novo.

—Temos que comemorar. - Ele disse quase arrancando meu braço e me puxando para a cozinha. - Vou fazer um chá de framboesa, o que acha?

—Framboesa?

—Bem... - Ele coçou a cabeça. - Framboesa pode ser visto de uma forma diferente. Seus pais eram felizes juntos, então pode ser um chá para momentos alegres, não necessariamente um chá para você tomar com um futuro namorado, ou sei lá.

—Não sei não...

—Falando em namorado... Você ainda está afim do J-Hope?

—Por que a pergunta?

—Nada... - Ele respondeu. - É que o Tae veio me perguntar algo assim...

—Ah... O Tae...

—Anne, você não faz ideia do que está acontecendo aqui, não é? - Ele riu.