Monochromatic escrita por Cihh


Capítulo 3
Capítulo 3 - Daddy Issues


Notas iniciais do capítulo

Oi meus lindos! Como estão? Vocês estão curtindo a história? Não se esqueçam de comentar! Boa leitura e beijinhos.



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Vá em frente e chore, garotinha

Ninguém faz isso como você faz

Eu sei o quanto isso importa para você

Eu sei que você tem problemas com seu pai

(Daddy Issues, The Neighbourhood)

 

—Minha irmã vai fazer quinze anos em fevereiro. -Victor disse, após tomar um gole de vinho em uma taça. -Quer ir para a festa? 

—No Rio Grande do Sul? -Miranda perguntou, citando o estado natal de Victor. 

—Sim.  

—Papai não vai deixar. –Ela disse sem hesitar.

—Vou tentar falar com ele. Você pode se hospedar em minha casa. Vou cuidar do seu voo e tudo mais.

Miranda concordou, embora soubesse que o pai nunca iria deixá-la viajar para outro estado sem ele. Ela e Victor estavam sentados na mesa de convidados, e vários outros grupos conversavam ente si no salão. Miranda não conhecia muitos dos presentes naquele jantar. 

—Você pode ser meu par na dança. -Victor disse. Miranda olhou surpresa para ele. 

—Tem certeza? Eu provavelmente não conseguirei ir. 

—Não tem problema. Não há outra garota para eu convidar para ser meu par mesmo. -Ele deu de ombros e olhou ao redor, como se estivesse procurando alguém. 

Victor estava hospedado no hotel com os pais. A irmã mais nova, Ariadne, tinha ficado na cidade natal por causa da escola. Os pais e Victor iriam embora no dia seguinte. Miranda odiava despedidas. -Quando você volta para cá?  

—Não sei. Provavelmente vai demorar. Meus pais estarão muito ocupados preparando a festa de Ari em janeiro. E eu tenho aulas até dezembro. 

Miranda franziu a testa. Aparentemente, ela ficaria vários meses sem vê-lo. -Que pena.  

—Mas não se preocupe. Darei um jeito de entrar em contato. Se você não conseguir ir para a festa de Ari, tentarei vir para o seu aniversário. -O aniversário de Miranda era em março. Iria demorar muito tempo. 

Miranda suspirou e mexeu com o garfo a comida intocada no prato. Victor já havia comigo tudo e o prato dele já havia sido levado. Miranda não estava com fome alguma. Olhou ao redor, procurando por algum rosto conhecido. Viu o pai conversando com os simpáticos pais de Victor e Júlio falando com o pai de Daniel, um homem esguio e de cara fechada. Ela ainda não tinha visto o garoto. A porta do restaurante se abriu e um homem alto entrou com um sorriso no rosto. Cabelos escuros levemente encaracolados, terno perfeitamente alinhado, na casa dos quarenta anos, mas mesmo assim elegante. E sua característica mais marcante: os olhos verde esmeralda. Christopher Parker entrou e todos olharam para ele. Miranda deixou Victor falando sozinho sobre marcas caras de sapato e correu, segurando a barra de babados do vestido rosa, até Christopher. 

—Olá senhorita Miranda. -Ele disse assim que a viu. Fez um floreio e beijou-a na mão. 

—Olá Christopher. -Ela disse animada. -Fez alguma viagem recentemente?  

Ele piscou para ela. –Sim, madame. Fui para Amsterdã e Tóquio mês passado. Tenho fotos. Posso mostrá-las para você com prazer. Ah, fui para o Caribe com meu filho nas férias de julho. 

Miranda, assim como vários outros, sabia que Christopher tinha um filho de outro casamento, mas não tinha ideia de quem era. Nunca tinha visto sequer uma foto do filho de Christopher, apesar de ser bem curiosa a respeito disso. Miranda adorava Christopher. Ele viajava para diversos lugares e falava para Miranda com detalhes das paisagens e das culturas diferentes. 

—Vou cumprimentar os outros. Marissa está no quarto, ela chegará daqui a pouco. Encontro vocês mais tarde, ok?  

Christopher piscou mais uma vez para Miranda e deixou-a para falar com os homens mais velhos. Miranda sorriu e olhou ao redor mais uma vez. Victor estava mexendo no celular enquanto palitava os dentes, parecendo entediado, no mesmo lugar que Miranda havia deixado-o. Praticamente não havia mais ninguém da idade dela no salão. Ela se virou nos calcanhares para sair e respirar ar puro quando sentiu alguém tocar em seu ombro. Daniel, com o gel do cabelo brilhando e os dentes brancos à mostra, sorriu para ela. Ele estava vestindo uma calça social riscada e uma camisa branca, com gravata azul e vermelha. Segurava o paletó acima do ombro.  

—Olá. -Ele disse. Miranda franziu a testa. 

—Oi Daniel. -Ela disse. -Não tinha te visto hoje. 

—Acabei de chegar com meu pai. Como está? -O garoto perguntou. Tinha a idade de Victor e mais ou menos o mesmo porte que o outro garoto, mas os cabelos eram mais claros e as roupas, tão caras quanto, mas desleixadas.

—Bem e você? -Miranda respondeu tentando ser simpática. Ela não era muito próxima de Daniel, apesar de ele visitar o hotel frequentemente. 

—Também. -Ele limpou a garganta. -Quer dar uma volta?

Miranda pensou por um instante. Bem, ela queria sair do salão de qualquer jeito. -Claro. Por que não?  

Ele estendeu o braço e Miranda passou o dela. As mangas da camisa dele estavam meio arregaçadas e o resto da roupa, amassada. Mas ele não parecia notar ou se importar com isso. Assim que ele abriu a porta para os dois saírem, Miranda viu Victor olhando para eles com os olhos apertados. Ele fez um sinal de aviso antes de se virar para cumprimentar Christopher, que passava por ali. Miranda fechou a porta e imediatamente sentiu o frio do lado de fora. Ela estava usando um vestido rosa pastel tomara que caia, com camadas de tule branco. Tinha optado por não colocar meias brancas, mas se arrependeu quando saiu. Respirou profundamente uma vez e se sentiu melhor. Daniel olhou ao redor e começou a andar. Miranda foi atrás. 

—Vai ficar até quando? -Ela perguntou.  

—Amanhã à tarde. Tenho aula segunda. 

—Entendi. Por que se atrasaram? Algo com o voo? -Daniel morava no litoral do Rio de Janeiro, e pegava avião até o hotel em Belo Horizonte. 

—Não. Eu estava conversando com o seu pai. -Ele disse e o coração de Miranda acelerou. Será que era sobre o casamento? Miranda instintivamente retirou o braço de perto do dele. 

—Sobre o que? Pode contar?  

—Melhor não. -Ele sorriu. -Ele vai querer dar a notícia pessoalmente. Mas estou ansioso. 

Miranda ofegou de leve. Óbvio que era o casamento. Ela não queria se casar com Daniel. Não queria se casar com ninguém tão cedo. O que o pai estava pensando? O que Daniel estava pensando? Ele tinha 18 anos, era igualmente jovem. Por que ele aceitaria se casar com Miranda? Só por causa do dinheiro?  

—Você está bem? Parece meio branca. -Ele comentou. -Quer se sentar?  

—Não, estou bem. -Ela disse, apesar de se sentir fraca e enjoada. Estaria passando mal?  

—Tem certeza? Quer entrar? Está meio frio aqui fora. –Ele estendeu o paletó amarrotado. –Quer vestir?

—Não, obrigada. Acho melhor entrarmos. -Ela disse e Daniel a levou para dentro. -Vou tomar uma água com açúcar. 

—Tudo bem. Eu te encontro depois. 

Miranda se afastou de Daniel e se aproximou de Victor, que conversava com dois homens mais velhos. Ela puxou a manga do terno dele de leve. 

—Como foi o passeio? -Ele perguntou com um tom de ironia. 

—Não quero me casar. 

Ele a olhou surpreso. -Ele te pediu em casamento?  

—Não, mas estava implícito. Me ajude, por favor.  

Victor falou em voz baixa com os outros dois homens e eles se retiraram. Ele olhou para Miranda, que parecia apavorada com a ideia real de se casar com Daniel. –Sabe que não posso fazer nada.

Miranda entrelaçou os dedos, nervosa, e fechou os olhos. –Me leve embora. –Ela disse baixinho. Os lábios de Victor formaram uma linha reta.

—Miranda. Não posso fazer isso. Mesmo se eu te levasse para outro lugar, meus pais nunca concordariam, e seu pai descobriria. Vou tentar falar com meu pai sobre o seu casamento, ver se ele pode convencer seu pai a adiar, mas não prometo nada.

Miranda queria chorar. Ninguém conseguiria fazer nada a respeito. Se o pai tinha decidido, assim seria. Não adiantaria nem pedir para ele trocar o noivo. –Estou cansada. Vou me retirar.

Ela começou a se afastar de Victor, mas ele a segurou pelo braço. Ela olhou para ele. –O que é?

—Não vamos nos ver em meses. Vou embarcar amanhã de manhã.

—Ah. –Miranda piscou. –Certo. Boa viagem. –Ela disse, sem muita certeza do que dizer. Ela nunca sabia o que dizer nas despedidas.

—Vou falar com seu pai sobre sua viagem para a festa. –Ele coçou a nuca.

—Tudo bem. Vou torcer para que ele aceite. –Miranda disse, tentando ter esperanças. Ela deu um abraço rápido em Victor, já que não o veria novamente, e se retirou sem se despedir de mais ninguém no salão, nem de Daniel ou Christopher Parker.

 

Miranda entrou no escritório do pai na tarde seguinte, a pedido do mesmo. Era um cômodo grande, com uma mesa de vidro no centro, uma cadeira de couro preta, estantes com livros e documentos, um quadro da falecida mãe de Miranda com uma moldura luxuosa pendurado em uma parede. Não havia nenhuma foto de Miranda no local. Ela parou na frente da mesa com a postura ereta e as mãos unidas na frente do corpo. Estava vestindo um vestido cinza claro simples, uma cor muito difícil para Miranda usar, pois sentia que seu estado de espírito estava para baixo naquele dia.

—Sim, papai?

O pai de Miranda era um homem grande, alto e forte, de cabelos castanhos e olhos azuis como os dela. Estava sempre usando roupas formais e tinha uma voz grossa e retumbante. Apesar de nunca ter levantado um dedo contra Miranda, ela ainda o temia.

—Victor veio falar comigo hoje de manhã antes de embarcar de volta para o Rio Grande do Sul.

O coração de Miranda acelerou. –E então?

—Ele quer te levar para a festa da irmã. Está sabendo, não é?

—Sim, papai. –Ela respondeu.

—Você não vai.

Miranda odiava criar expectativas quando sabia que elas não se cumpririam. Mesmo assim, doeu como um tapa. –Por favor, reconsidere. –Ela disse, mesmo com medo. Não conseguia segurar as palavras para si mesma, nunca.

—Não há nenhuma possibilidade. –O pai massageou as têmporas, como se falar disso lhe desse dor de cabeça. –Victor ainda é um garoto. Não sabe o que fala ou faz. Pare de falar com ele.

—Ele é meu amigo! –Ela disse. Não podia acreditar que o pai achava essas coisas do filho de um amigo tão próximo dele.

—Falei com o pai dele. Disse que ele está sendo uma má influência para você. Victor não voltará para o hotel por um tempo.

Os olhos de Miranda se encheram de lágrimas. –Ele é meu único amigo, papai.

O pai bateu com força na mesa de vidro e Miranda temeu que a mesa fosse quebrar. –Você não precisa de amigos. Precisa de segurança e educação, e é isso o que eu dou para você aqui dentro. Não é um moleque de dezoito anos que vai mudar isso.

Miranda secou as lágrimas com o antebraço. –Você não entende! Ninguém entende!

Ele suspirou, como se essa conversa de adolescente incompreendida o irritasse. –Por que você só reclama? Devia me agradecer pelo que eu posso te proporcionar. Já te neguei algum vestido? Algum livro? Alguma comida? Te dou tudo, e só o que lhe peço em troca é que você continue aqui dentro, em segurança.

—O que o senhor acha que vai acontecer se eu sair, mesmo que só por dois ou três dias? –Ela perguntou em voz alta. –Não vou ser raptada ou assaltada. Victor vai cuidar da minha segurança, da mesma forma que...

—Não fale mais dele.

—Mas...

—Não temo esse tipo de coisa. Você sabe bem que eu não quero que o que aconteceu com sua mãe aconteça com você.

—Eu não entendo. A saúde de mamãe era debilitada, essa parte eu já sei, mas ela não morreu de doença. Ela morreu por minha causa. –Miranda gritou. O pai odiava falar da morte da esposa. A mãe de Miranda tinha tido uma gravidez de risco, além de possuir a saúde extremamente debilitada. No parto, ela não conseguiu resistir. Miranda sentia que tudo era culpa sua.

—Não foi por sua causa, Miranda. –Ele disse pausadamente. –A saúde de Liz já estava debilitada quando ela deu a luz.

—Eu a matei! É por isso que você me odeia? Por isso eu não posso sair? Não posso ter amigos?

—Não grite. –Ele disse em voz baixa. –Eu não te odeio. Você é minha única filha, como eu poderia te odiar?

—Então...

—Se todo esse drama é sobre a viagem, eu reconsiderarei. Pensarei melhor. Agora volte para o seu quarto.

Miranda se virou e se preparou para sair.

—Ah, Miranda. Recomponha-se e desça. Daniel está indo embora. Vá se despedir dele.

Ela olhou para o chão. –Sim, papai.

Ele não voltou a falar da viagem.


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