A Party When The Funeral Ends escrita por Izzy Aguecheek


Capítulo 1
We all get together when we bury our friends


Notas iniciais do capítulo

Existe gente que gosta da the dream pack nesse fandom brasileiro? Vai saber. Os caras são mencionados nos livros uma vez, e têm o próprio fandom na gringa, então acho que tudo é possível.
Eu comecei a escrever esse negócio no ano passado e terminei aleatoriamente essa semana no meio da madrugada e ficou maior do que eu esperava. Espero que gostem.
(O título do capítulo foi retirado da música Kill All Your Friends, do My Chemical Romance, e significa "nós todos nos juntamos quando enterramos nossos amigos.)



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‘Cause we all wanna party when the funeral ends

And we all get together when we bury our friends

It’s been ten fucking years since I’ve been seeing your face ‘round here

Now you’re walking away

And I will drown in the fear

 

Porque todos nós queremos fazer a festa quando o funeral acaba

E todos nós nos juntamos quando enterramos nossos amigos

Já faz dez malditos anos desde que eu vi seu rosto por aqui

Agora você está indo embora,

E eu vou me afogar no medo.

            My Chemical Romance – Kill All Your Friends

Agora que o alfa deles estava morto, eles deveriam estar uivando. Ao invés disso, nenhum deles conseguia produzir um som sequer.

Eles estavam reunidos no quarto que Swan e Skov dividiam no dormitório da Aglionby, muito embora geralmente passassem a maior parte do tempo evitando aquele lugar. Agora que Kavinsky se fora e Prokopenko estava incapacitado – destruído, danificado, Jiang não conseguia ou não queria pensar na palavra certa –, eles não tinham mais para onde ir.

Skov não suportava o silêncio por muito tempo; assim que Jiang fechara a porta atrás de si, ele havia ligado o som no volume máximo, em algo furioso e destrutivo que nenhum dos outros reconhecia. Agora, ele estava andando de um lado para o outro, parando ocasionalmente para chutar um móvel, enquanto Swan o observava de sua cama.

Jiang, esparramado no carpete entre as duas camas, estendeu a mão para agarrar o tornozelo de Skov quando ele passou.

— Para com isso, porra.

Um som similar a um rosando subiu pela garganta de Skov. Jiang podia ver os dedos dele se retorcendo ao lado do corpo, como se tentassem agarrar o ar. Ninguém tivera coragem ou disposição para retomar as festas desde o quatro de julho, e era óbvio que passar as noites naquele cubículo o estava enlouquecendo.

— Vá se foder – murmurou ele, antes de livrar a perna e retomar sua caminhada.

Jiang e Swan trocaram um olhar consternado. Swan puxou Skov para a cama ao lado dele, pegou o cigarro que tinha acendido e o colocou entre os lábios de Skov, que não protestou, mas também não relaxou. Jiang também tinha um cigarro, mas ele lhe parecia tão desinteressante quanto os exercícios de latim.

Eles tornaram a ficar em silêncio, ou pelo menos foi o que Jiang pensou, até ver os lábios de Swan se movendo. Ele esticou o braço para abaixar o som – merda, você é a porra de um emo, ele havia dito a Skov quando ele colocara a música – a tempo de ouvir as últimas palavras:

— ... Já faz um mês.

Jiang conseguia adivinhar o resto da frase. Eu não acredito que já faz um mês. Seus olhos foram para a cama vazia de Skov, onde Kavinsky e Prokopenko deveriam estar aninhados, a mão de K enrolada no cabelo de Proko enquanto ele ria e zombava de algo que um dos outros havia dito. Não, ele também não acreditava. Ele não conseguia acreditar que nada daquilo havia acontecido, o que era estúpido, porque todos eles haviam visto acontecer. Quando fechava os olhos, o quatro de julho ainda queimava por trás de suas pálpebras – uma procissão de Mitsubishis brancos, Ronan Lynch, Kavinsky caindo de joelhos enquanto chamas explodiam acima deles. Ele estava lá. Ele se lembrava.

Todos eles haviam estado lá no velório, enfiados em ternos que eles sabiam que não eram necessários, e, embora nenhum deles tivesse falado com a mãe de Kavinsky, Jiang se lembrava dela. Ela tinha a mesma compleição pálida e macilenta que o filho, mas parecia mais um cadáver do que ele; seu rosto encovado não tinha expressão, e seu corpo inteiro tremia. Jiang não saberia dizer se ela sequer se dera conta da gravidade da situação.

Eles também haviam estado no quarto de Prokopenko no hospital. Não havia pais para evitar; os três adolescentes haviam sido os únicos a visitá-lo. Os médicos haviam dito que ele estava em coma, provavelmente causado pelo trauma que sofreu ao bater um dos carros de Kavinsky, mas o diagnóstico parecera inventado.

Prokopenko sempre fora um mistério. Anos atrás, ele sofrera um acidente no Golf que havia acabado de ganhar. Swan vira o carro explodir; mais tarde, havia contado aos outros que era impossível alguém sobreviver àquilo. E, mesmo assim, no dia seguinte, lá estava Prokopenko, deitado no chão do porão de Kavinsky, como sempre estivera. Ninguém tivera coragem de pedir uma explicação, e ninguém oferecera uma. De alguma forma, fazia sentido que ele estivesse desacordado agora.

E agora, eles estavam ali, naquele maldito quarto de dormitório, com as janelas abertas para tentar amenizar o cheiro da fumaça dos cigarros que nem um deles queria mais fumar, ouvindo as músicas deprimentes de Skov. Jiang imaginou Kavinsky escancarando a porta, o que ele diria se visse aquela cena. Caralho, vocês tão com cara de quem precisa de um pó. Ou de um pinto.

Parte dele ainda esperava que aquilo acontecesse. Ele disse:

— Mas faz.

Skov produziu um som baixo no fundo da garganta, como um grunhido. Ele finalmente se deixou afundar no colchão, embora a energia nervosa ainda irradiasse dele. Jiang se perguntou se, sem Kavinsky por perto para produzir as misteriosas drogas que o acalmavam e para ajudá-lo a atear fogo nas coisas e não nele mesmo, Skov um dia relaxaria de verdade.

— Merda – disse ele. Jiang achava que isso resumia bem a situação.

— Merda – concordou.

Com a música mais baixa, o quarto ficou quase em silêncio. Como sempre, foi Swan quem falou primeiro:

— Alguém vai ter que continuar a tradição, sabe.

Jiang levantou os olhos pare ele. Swan nunca tivera a ferocidade de Skov ou o descuido de Prokopenko, mas havia uma tensão perigosa nele, como uma barragem prestes a romper. Ele não falava muito sobre o que pensava. Prokopenko costumava dizer a ele para parar de reprimir tanto os sentimentos, argumentando que ele estouraria se não achasse uma válvula de escape, enquanto colocava um coquetel molotov em sua mão.

K costumava ser essa válvula de escape. Agora, nem Skov nem Jiang serviam para o trabalho. O fato era que, sem Kavinsky, eles não sabiam o que fazer uns com os outros.

— Ninguém consegue dar uma festa como o K – retrucou Skov. – Nem em sonho.

Sonhos. Kavinsky aparecia nos sonhos de Jiang, às vezes. Sem pensar, ele disse:

— A gente deveria fazer isso – Ele sentiu os olhares dos outros pesando sobre ele. – Por ele. Uma última vez.

Ele esperou que eles dissessem que não seria a última, e não ficou surpresa quando ninguém o fez. Kavinsky os reunira, e Prokopenko ajudara a mantê-los juntos, mas Jiang não tinha ilusão de que eles conseguiriam ficar assim por muito tempo. Swan e Skov balanceavam um ao outro, e sempre haviam estado juntos, mesmo antes de Kavinsky recrutá-los. Jiang sempre fora um lobo solitário; a intimidade evidente entre os dois fazia seu peito doer. Era aquilo que ele estivera procurando o tempo todo. Em parte, fora o que fizera com que se juntasse a Kavinsky e sua matilha. Intimidade. Pertencimento.

Ele deveria ter previsto que tudo terminaria em fogo e morte. Ele nunca deveria ter se permitido achar que duraria. Não com ele, e certamente não com Kavinsky.

— Eu não posso fazer sozinho – acrescentou ele, em voz baixa. – Eu não vou fazer sozinho.

O silêncio foi tão longo que Jiang considerou a possibilidade de ir embora do dormitório e nunca mais voltar. Skov se levantou e voltou a dar voltas no quarto, e, dessa vez, ninguém tentou impedi-lo.

— É – murmurou ele. – Nós deveríamos.

Ele e Jiang olharam para Swan, que suspirou.

— Já que alguém precisa – Ele parecia relutante, mas, quando Skov abriu um sorriso selvagem para ele, ele sorriu de volta. Claro que sorriu. – Tudo bem. Pelo K.

— Pelo K – repetiu Jiang. Sua garganta estava apertada; as palavras saíram com dificuldade. Alguma coisa se retorceu em seu interior, fazendo com que ele tivesse vontade de explodir alguma coisa.

No fim, para a surpresa de todos, foi Skov quem resumiu o que ele sentia.

— Eu sinto falta dele – disse ele, de repente. Ele havia parado no meio do quarto, e seu olhar era como vidro estilhaçado. Skov não chorava, nunca choraria, mas ele parecia pronto para enfiar a mão através da janela e apreciar o corte do vidro quebrado. – Puta que pariu, como eu sinto falta dele.

Jiang fechou os olhos. Se ele se concentrasse, ainda conseguia ouvir a risada de Prokopenko, a música preenchendo o ar, o som das explosões. A imagem de Kavinsky caindo de joelhos na terra estava gravada no interior de suas pálpebras.

— Eu também – disse ele.

Swan não disse nada, porque era assim que ele era. Jiang não tinha a mínima ideia do que ele estava pensando.

Jiang se sentou, abrindo os olhos. Lá fora, o sol estava começando a se pôr.

— Vamos começar – falou, subitamente ansioso.

Os olhos de Skov brilharam. Ninguém podia dar uma festa como Kavinsky, mas Skov quase parecia um substituto à altura.

Mesmo Swan deu um sorriso de lado, mais vulnerável do que de costume.

— Pelo K – repetiu ele. Jiang assentiu.

— Pelo K.

Eles nunca seriam tão bons quanto ele. Eles não sabiam como viver sem ele. Mas eles não tinham escolha.

Novamente, Jiang imaginou como Kavinsky reagiria se entrasse no quarto e visse aquela cena. Vocês são um bando de sentimentais patéticos, diria ele. Jiang seria obrigado a concordar, mas o aperto em seu peito o impedia de se importar muito com qualquer outra coisa. Não era só sobre Kavinsky; ele precisava de uma festa. Todos eles precisavam.

Kavinsky se fora. E sua matilha teria que encontrar outra válvula de escape.

             


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Notas finais do capítulo

Confesso que meus headcanons sobre esse grupo foram muito influenciados pelo tumblr, mas enfim. Se alguém quiser aparecer pra me mostrar que eu não tô sozinha nesse barco da the dream pack, estamos aí!