Deja Vu escrita por AmanditaTC


Capítulo 2
Again




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Os dias tornaram a passar arrastados, entremeados com novas sessões de terapia do sono. O clarão verde ainda lhe incomodava, mas já não reagia com gritos e crises de pânico. Apenas ansiava por entender do que se tratava aquilo.

 

Só quando conseguiu encarar aquela lembrança com serenidade é que teve permissão para uma nova viagem. Não sabia ao certo para onde iriam, mas tinha esperanças de que desta vez, seu coração se aquietasse.

 

O percurso foi basicamente o mesmo, mas quando deu por si, não estava no hospital onde visitou Harry.

 

Agora estavam em pé diante da janela de uma casa de arquitetura colonial, as paredes pintadas de branco, as janelas decoradas com cortinas coloridas e um jardim extremamente bem cuidado. Olhavam para dentro da casa, observando seus moradores.

 

Sentiu o coração apertar sem saber dizer o porquê de tal sensação. A verdade é que o perfume daquele lugar fazia sua alma doer de saudade.

 

Dentro da casa, uma mulher de cabelos fartos, cacheados e castanhos, descansava numa poltrona de veludo vinho. Segurava um livro aberto, sem dar atenção para o que estava escrito nas páginas.

 

Visivelmente emocionado, pensou na primeira vez em que avistou aqueles cabelos. Emolduravam um rosto de menina na porta do vagão de um trem. Mas o que sentiu por aquela menina, no dia em que a conheceu, não era o mesmo que sentia vendo-a crescida.

 

Não se lembrava do nome dela, assim como não se lembrava do seu próprio nome. Só sabia que ela aparecera do nada, procurando alguma coisa, na cabine que ele dividia com Harry. Achou-a arrogante. Presunçosa, até!

 

Como podia ter saudades de alguém como ela? Virou-se para seu interlocutor e perguntou:

 

- O que fazemos aqui?

 

- Você é quem deveria me dizer. Só o trouxe para onde seu coração mandou.

 

- Impossível! Não é aqui que devíamos estar. Eu preciso encontrar uma pessoa e definitivamente ela não está nesta casa.

 

O acompanhante o olhou compreensivo e apenas assentiu:

 

- Se você tem tanta certeza, podemos ir embora.

 

De volta à casa de recuperação, ele ainda se perguntava o que o teria levado até aquela menina, hoje uma mulher feita, e que havia provocado nele tão antagônicas sensações.

 

Passou alguns dias agitado com a lembrança da menina que o humilhara diante de seu melhor amigo, o grande Harry Potter, dizendo que seu feitiço era ruim.

 

Feitiço, então definitivamente ele era um bruxo. Sorriu para o espelho, penteando os cabelos Afinal, a visita até a casa daquela “chata” não fora de todo inútil, serviu para lembrar-lhe que era um bruxo. Talvez fosse essa a informação que faltava para seguir adiante. No entanto, ela parecia não ter preenchido aquela sensação de vazio que continuava em seu peito.

 

Quando, mais tarde, comentou sua descoberta com seu acompanhante, ele apenas perguntou:

 

- Então, valeu a pena?

 

Sorriu para ele, achando graça da pergunta repetida tantas vezes desde que chegara ali. Fez um gesto afirmativo com a cabeça e saiu satisfeito, para um passeio entre as árvores do enorme jardim.

 

Era sempre primavera naquele lugar. Talvez estivesse vivendo nos trópicos, lembrava-se de alguém lhe dizendo que no meio do mundo todas as terras são quentes e ensolaradas.

 

Deixou-se deitar na relva macia para sentir a brisa suave e observar uma revoada de borboletas coloridas brincarem entre si. E ali adormeceu.

 

Acordou com a noite enfeitada de inúmeras estrelas, que desenhavam as mais diferentes constelações iluminando a imensidão do céu. A visão era encantadora e ele não se apressou em voltar para seus aposentos.

 

Levantou o braço direito e traçou um desenho ligando algumas estrelas.

 

- Constelação de Lira, dedicada a Hermes – disse para si mesmo, sem se espantar com a lembrança.

 

Ainda olhou aquela constelação por muito tempo, antes de retornar para o alojamento, onde tomaria seu banho, faria sua refeição da noite e finalmente se prepararia para a viagem do dia seguinte.

 

Quando o sol tornou a iluminar o céu sempre azul daquele lugar, o jovem ruivo acompanhado de seu cicerone, deixou os portões mais uma vez.

 

- Concentre-se naquilo que seu coração mais quer – indicou-lhe o acompanhante.

 

Estavam novamente diante da janela da casa de arquitetura colonial, as mesmas paredes pintadas de branco, as mesmas janelas decoradas com cortinas coloridas e o jardim extremamente bem cuidado.

 

Sentiu o coração apertar, dividido entre a saudade e a revolta de viver aquela cena novamente.

 

Dentro da casa, a mesma mulher de cabelos fartos, cacheados e castanhos ainda descansava numa poltrona de veludo vinho. Segurava o mesmo livro aberto sem se preocupar em ler. O olhar estava fixo em um ponto qualquer, perdido num tempo que jamais voltaria.

 

- Que brincadeira é essa? O que estamos fazendo aqui de novo?

 

- Infelizmente, não tenho essa resposta para você. Não sou eu quem guia nosso destino, meu rapaz. É o seu coração!

 

- Não é aqui que meu coração quer estar! Já lhe disse isso, eu não tenho nada a ver com essa mulher.

 

- Talvez tenha uma dívida de gratidão com ela.

 

- Dívida? Já paguei minha dívida quando a salvei de um troll no banheiro. Acho que isso basta. Vamos embora, por favor!

 

Mal concluiu a frase, e já estavam diante dos portões dourados novamente. Ele entrou enfezado, jogando-se no primeiro banco de madeira rústica que encontrou pelo caminho. Apertou a têmpora com a mão e esfregou os olhos para tentar colocar os pensamentos em ordem.

 

Seu companheiro de viagem já o havia alcançado e agora descansava a seu lado. Esperou que estivesse menos irritado e comentou:

 

- Você a salvou de um troll? Muito nobre de sua parte. Não creio que seja fácil salvar alguém de quem a gente não goste.

 

- É, foi idéia do Harry. Ele sempre teve uma estranha tendência a salvar o mundo. – respondeu sem se dar conta de que mais uma vez era a tal garota “chata” que fazia suas lembranças aflorarem. – Nós dois discutimos numa aula de feitiços e ela se trancou no banheiro, ofendida. Quando o Troll invadiu o castelo, nós acabamos nos sentindo culpados por ela correr perigo e fomos atrás dela. Um golpe de sorte, literalmente. Conseguimos derrotar a criatura, ganhamos uns pontinhos e ainda acabamos todos amigos.

 

- Então, a viagem valeu a pena?

 

O ruivo se levantou sem responder. Deveria aprender a ignorar aquela pergunta que sempre lhe era feita se não quisesse se irritar.

 

Andou sem rumo até perceber que havia voltado para o mesmo local de onde avistara a Constelação de Lira na noite anterior. Pensou o quanto aquele lugar poderia fazer tudo parecer repetitivo.

 

Entretanto, não se importou com aquilo. Sentou-se novamente sobre a relva e esperou a lua despontar, indicando que a noite começava. Encontrou a Constelação e pensou no que ela poderia representar.

 

Sabia que não era o tipo de pessoa que curtia apreciar as estrelas. Isso era para os românticos e, apesar de não se lembrar de muita coisa de seu passado, podia afirmar que dificilmente o romantismo fez parte de seus dias.

 

Não precisou entender de estrelas para ajudar Harry a encontrar a Câmara Secreta. Os problemas que encontraram foram bem diferentes e nada tinham a ver com a observação do céu. Mas ele se lembrava de ser movido por uma necessidade de cuidar de alguém. De trazer alguém de volta à vida.

 

 

 

 

 

 

 


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