Um conto de destino e morte escrita por magalud


Capítulo 9
Capítulo 9 – Olá para as armas




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Capítulo 9 – Olá para as armas

Severus não era de prestar muita atenção ao clima, ainda mais depois de se tornar uma das Encarnações da Imortalidade. Mas há muito tempo ele sabia que mágica tinha uma maneira especial de influenciar a meteorologia. E era precisamente aquilo que estava acontecendo em Hogwarts.

Seu relógio tinha enlouquecido, a flecha apontando para todos os lugares ao mesmo, e Mort conseguia se mostrar surpreendentemente nervoso, mesmo em sua forma de limusine. Alguma coisa muito grave estava no ar.

E Severus acabou descobrindo que essa coisa era a Batalha de Hogwarts.

Durante a batalha, a Morte estava tão assoberbada de trabalho que conseguiu resistir à tentação de procurar por Hermione. Havia tamanha perda de vida que seus apetrechos não apontavam somente almas cinzentas. Eles apontavam para todas as almas à sua volta.

Era o calor da batalha, com Death Eaters atacando indistintamente alunos e professores, e toda a dignidade estava perdida. Sendo uma Encarnação da Imortalidade, Morte pôde reconhecer seu colega Marte entre os combatentes, às vezes como um bruxo do mal, às vezes como um bruxo do bem. Como Morte, que colhia tanto almas boas quanto más, Guerra entrava em júbilo na luta, sem se comprometer ou se aliar a nenhum dos lados ou causa. O Grande Guerreiro florescia na batalha, na estética da causa belicosa, na honra do combate. Isto era tão imortal quanto a própria Morte.

Severus imaginou por um momento se Marlene também estaria ali, na sua persona de Atropos, cortando os fios da vida. Era impossível que ela não soubesse que o destino de muitos terminaria naquele cenário. Mas ele não a enxergava em lugar nenhum. Aquela mulher sabia ser discreta.

Mesmo sendo a Morte, Severus não era assassino. Ele não tinha nenhum prazer em ver todos aqueles mortos. Não sentiu a mínima satisfação em colher a alma de Remus Lupin, seu antigo torturador na juventude. O mesmo acontecera a Sirius Black.

Ele também colhera a alma muito cinza de Aurora Sinistra, morta pelo Lord das Trevas em pessoa, pela obsessão de vida eterna. Severus viu que a mulher reconheceu Morte quando ele apareceu para ela em seus momentos finais, quando a vida dela se esvaía, vítima das feridas causadas pela mortífera mordida de Nagini, o bichinho de estimação do Lord das Trevas. Eles se encararam e ela entendeu que sua hora finalmente havia chegado. Aurora Sinistra saudou a Morte como uma velha amiga.

Ele viu seu relógio piscar de novo, a flecha apontando para outro lugar, então Severus se dirigiu ao próximo cliente. E o próximo. E o próximo. E havia tantos mortos...

De repente, uma pausa. Uma trégua. O Lord das Trevas mandou uma mensagem para Harry Potter, para um duelo final entre os dois.

Foi aí que o relógio ficou totalmente biruta. Era quase como se ele não soubesse se tinha ou não um cliente. Aquilo só podia significar uma coisa: estava na hora. A hora da qual Dumbledore falara. A hora de cumprir uma antiga profecia. E ironicamente, quem revelara a profecia tinha sido Severus Snape.

Mesmo parecendo ser maluquice, a flecha guiou Severus para as profundezas da Floresta Proibida. Ele sabia exatamente quem ele iria encontrar, e não ficou surpreso. Harry Potter estava numa clareira, e parecia interagir com pessoas que Severus não conseguia enxergar. Deveriam ser seus familiares já mortos. Mesmo que Severus fosse a Morte, ele não tinha acesso ao outro reino. Ele não podia ver os mortos.

Lily...

Ondas de medo emanavam do rapaz, tão fortes que Severus duvidou se ele seria capaz de cumprir o seu dever. Sua família morta com certeza foi capaz de dar algum tipo de consolo ou alento, porque repentinamente Harry assentiu, ergueu os ombros e a cabeça, deixando cair no chão um pequeno objeto, parecendo uma gema qualquer.

A Pedra da Ressurreição.

Harry Potter virou-se e deu de cara com a Morte em trajes completos. O rapaz parou e ficou olhando para a personificação da Morte, especialmente a foice. Ele não foi capaz de reconhecer Severus devido aos trajes completos da Morte. Só o que ele enxergava era um esqueleto vestido num traje longo com um capuz grande. Após alguns segundos, o adolescente indagou:

— Você veio por mim, não veio?

A Morte respondeu com sinceridade:

— Não necessariamente.

Harry assentiu. A Morte acrescentou:

— Você sabe a que me refiro.

— Acho que sim - foi a resposta. - Vai doer?

— Eu duvido.

Como um Gryffindor de verdade, o jovem assentiu.

— Estou pronto.

— Estarei a seu lado.

Surpreso, Harry olhou para ele, vendo apenas a caveira ossuda por baixo do capuz. Mas os olhos verdes de Lily encararam Severus com doçura quando ele agradeceu com sinceridade:

— Obrigado, Morte.

E então Harry Potter saiu para se encontrar com Lord Voldemort. E ser assassinado.

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Severus manteve sua promessa e ficou com Harry Potter até o corpo do rapaz ser levado para Hogwarts como uma conquista de Lord Voldemort e espólio de guerra. Severus sabia que Harry de alguma maneira sobrevivera à Maldição Mortal (pela segunda vez, aliás), e estava esperando a hora certa de derrotar o Lord das Trevas. Os Death Eaters fizeram questão de cantar vitória sobre o Rapaz que Sobreviveu. Exceto por alguns.

Severus observou Lucius Malfoy com muita atenção. Ele ficou quase surpreso em constatar que o amigo louro não estava feliz com a situação. Só naquele momento, no último minuto, Severus viu que seu antigo colega não era tão fanático seguidor de Voldemort, e sim que ele era covarde demais para ser um opositor. Com certeza havia muitos outros seguidores do Lord das Trevas com opiniões similares, ele apostava.

Portanto, não foi surpresa para Severus que, quando Potter revelou não estar tão morto quanto pensavam, muitos Death Eaters desaparataram, aterrorizados. Também sem surpresas, Lucius agarrou Narcisa e Draco, e os três totalmente vazaram do pedaço, como se diz. A Morte apenas deu um risinho ao ver a cena.

O risinho apagou-se imediatamente quando ele finalmente encontrou o rosto que procurava em meio à multidão. Hermione.

Seu rosto estava sujo, suas roupas pareciam ter rasgos, e ela exibia uma grande mancha roxa perto da sobrancelha – por favor não pode ser sangue não sangue por favor. Mas ela estava viva, sem grandes ferimentos. Uma grande onda de alívio lavou Severus em lugares de sua alma que ele nem tinha percebido que existiam.

Os olhos dela acompanhavam freneticamente os movimentos de Harry Potter, pois o Lord das Trevas estava à caça do rapaz. O jovem Weasley pegou a mão dela. Hermione olhou para ele, preocupada, virando-se tão repentinamente que uma mecha de seu cabelo caiu sobre os olhos. Então Weasley gentilmente pegou a mecha do cabelo e a prendeu atrás da delicada orelha da moça. Hermione corou de maneira recatada e sorriu de modo tímido.

Severus sentiu seu coração morto-vivo se partir em milhares de pedacinhos. Hermione e o jovem Weasley tinham finalmente virado um casal. Ela estava apaixonada, dava para ver.

Enquanto isso, os combates tinham recomeçado e isso era uma coisa boa para manter sua mente afastada das desilusões românticas. Ele não recolheu todas as almas. A de Bellatrix Lestrange, por exemplo, era uma alma da qual ele não queria chegar nem perto. Mas havia outros, então ele se atirou ao trabalho, coletando igualmente almas de gente boa e de gente ruim e de gente nem tão boa nem tão ruim.

Porque a Morte de repente estava numa espécie de missão, e até mesmo Guerra e Natureza e Destino e Tempo vieram a Hogwarts para vê-lo em sua hora mais gloriosa. Sua dor profunda tinha sido sentida não só por todas as Encarnações da Imortalidade mas também pelas duas entidades supernaturais maiores: Deus e o Diabo.

Mais tarde, correu a notícia que a Batalha de Hogwarts fora um trabalho soberbo da personificação da morte. Thanatos apresentara um desempenho admirável em seu momento mais sombrio, e transformou-o no seu momento mais admirável.

Harry Potter foi salvo, o Trio de Ouro foi salvo, o mundo foi salvo. Tudo estava bem.

Como sempre, o único que reclamava da paz era Marte. Mas a Encarnação da Guerra sabia que podia sempre contar com Muggles para se engalfinharem em alguma disputa ilógica, então ele ficou satisfeito rapidamente.

Enquanto isso, a Morte sentia as dores de um amor não correspondido. Ele pensava que já estava acostumado a isso, àquela altura, mas não era verdade. Corações despedaçados dificilmente se remendavam sozinhos. Ou eles se endureciam para sempre a fim de se proteger ou sangravam continuamente até encontrar o próximo amor.

Essa parte do “próximo amor” era rara, mas não era totalmente sem precedentes. Não havia como prever para que lado penderia o coração da Morte.


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