Um conto de destino e morte escrita por magalud


Capítulo 24
Capítulo 24 - Explicações




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Capítulo 24 – Explicações  

A vitória sobre Satanás teve uma enorme repercussão em todo o mundo sobrenatural. Algumas versões garantiam que, com base no veredicto, autoridades celestiais e anjos da guarda receberam novas instruções sobre como orientar os protegidos para derrotar o mal. Outras versões, claramente fantasiosas, davam relatos de muitas tentativas de rebelião no Inferno, prontamente esmagadas pelos demônios encarregados de manter a ordem no submundo.

Entre as principais Encarnações da Imortalidade, havia muito a celebrar. Gaia preparou um excelente almoço em honra tanto de Morte como de Destino. O casal feliz mal podia conter sua alegria com o desenlace de tudo.

— Satanás teve que voltar lá para baixo e de mãos abanando! - riu Chronos. Ele gargalhou excessivamente alto em plena floresta onde Gaia tinha sua casa.

— Foi uma batalha e tanto - admitiu Marte, impressionado. - Meu amigo do Mal vai lamber suas feridas por um bom tempo.

Gaia serviu mais uma rodada de cerveja caseira a todos, indagando:

— Tem certeza de que aquilo não foi planejado com antecedência, Thanatos? Foi maravilhosamente executado.

Severus respondeu:

— Eu não planejei nada daquilo, juro. Jamais imaginei que o sacrifício de minha alma menos que pura pudesse dar resultados tão bons.

— Isso é notável - disse a Mãe Natureza. Ela ergueu o copo, sorrindo. - Vamos brindar a isso!

Todos os demais copiaram o gesto, aos gritos do tradicional tim-tim. Os ânimos estavam ótimos, até mesmo Marte, que todos sabiam ser amigo de Satã.

Depois da comemoração, Severus levou Hermione de volta à Morada do Destino para que ela e as irmãs pudessem fazer sua própria celebração particular, discretamente. Mas não era para ser.

Eles não tinham ainda entrado na Morada quando um homem baixinho de óculos e terno profissional chegou-se até eles.

— Oh, que bom, vocês estão juntos. Estou procurando vocês dois. Posso falar com vocês um segundo, por favor?

Severus indagou:

— Posso indagar quem é você, senhor?

O baixinho mostrou uma valise e disse:

— Meu nome é Montgomery e eu trabalho no Departamento de Justitia. Vocês são as Encarnações da Morte e do Destino?

— Fala sério? - indagou Severus, repentinamente sem paciência. Ele ergueu a foice característica do Ceifador e indagou. - Ainda tem alguma dúvida?

Ele se encolheu:

— Desculpe, mas tenho que seguir protocolo. Estou aqui para levar vocês dois. Vocês têm que assinar alguns papéis relacionados à audiência com a Encarnação da Justiça.

Hermione repetiu:

— Papéis? Que papéis?

O homem deu de ombros:

— Nada de mais, só a burocracia jurídica de sempre. Estão prontos?

Severus indagou:

— Prontos para o quê?

Num piscar de olhos, ele se viu num ambiente totalmente branco, com Hermione a seu lado. Ela ficou tão surpresa por ter sido arrebatada daquele jeito que agarrou o braço de Severus.

A extrema claridade da sala ajudou a que eles se sentissem um pouco desorientados. Mas de alguma maneira Severus tinha certeza que eles não estavam em perigo. Em poucos segundos, seus olhos se acostumaram à luz e ele notou estar em alguma espécie de escritório.

A decoração era sóbria, notou Severus, beirando o minimalismo, apesar de ser bem espaçoso. Havia duas grandes mesas de executivos, uma mesa de reuniões com capacidade para acomodar 12 pessoas, um sofá de almofadas imaculadamente brancas e uns poucos armários de escritório que faziam lembrar a Ikea na mesma proporção que aquele lugar lembrava a Terra. Era moderno, mas ainda assim aconchegante e acolhedor, de extremo bom gosto.

O baixinho burocrata sorriu para eles e gesticulou para o sofá, dizendo:

— Podem sentar, se quiserem. Sua Alteza estará aqui em breve.

E saiu, deixando-os sozinhos antes que eles sequer pensassem em fazer uma pergunta. A sós naquele lindo escritório, Severus e Hermione se entreolharam.

— O que foi isso? - quis saber Hermione. - Onde nós estamos?

Severus tentou afastar as preocupações dela.

— Sei tanto quanto você, mas está tudo certo. Não se preocupe.

— Você não está preocupado? - Hermione estava surpresa. - Você? Um antigo super espião?

Severus não escondeu estar também surpreso consigo mesmo.

— Eu sei, e estou tão chocado quanto você. Mas estou com um bom pressentimento a respeito disso, e não sei por quê.

Uma voz veio de trás deles, comentando:

— Esse ambiente é muito diferente daquele ao qual estão acostumados.

Eles se viraram para ver Metatron, o Príncipe Arcanjo também chamado de "A Voz de Deus", sorrindo para eles. A criatura celestial estava vestida num terno impecavelmente branco, o cabelo louro ondulado e olhos azuis pareciam brilhar. Severus cumprimentou, respeitosamente.

— Saudações, senhor.

O sorriso da entidade era contagioso.

— Fico tão feliz que tenham conseguido vir. Lamento pelo subterfúgio. Por favor, sentem-se.

Depois que ambos estavam sentados, Severus sugeriu:

— Então deduzo que não viemos aqui para assinar papéis jurídicos.

— Não, não mesmo - confirmou o ser celestial. - Depois de tudo que transpirou, o Todo-Poderoso sentiu que vocês dois mereciam uma explicação, uma que pudesse fazer vocês entender precisamente o tamanho da realização de seus atos.

Hermione franziu o cenho.

— Não estou entendendo.

O arcanjo sorriu beatificamente.

— Claro que não, criança. Ainda assim, neste exato momento, os céus celebram sua vitória de maneira mais vigorosa do que vocês poderiam saber.

A forma enfática com que ele disse deixou os dois surpresos.

— É mesmo?

De maneira didática, a Voz de Deus explicou:

— Se a memória não me falha, os mortais creem que as almas humanas vão para o céu ou o inferno de acordo com seus atos individuais e a pureza de coração. Aqueles que ajudam seus irmãos e abrandam o sofrimento alheio são candidatos a um lugar no paraíso; os que pensam apenas em si mesmos e prejudicam os outros garantem um lugar na danação eterna. Não é assim?

Hermione ficou curiosa.

— Então não é?

Metatron sutilmente inclinou a cabeça.

— É, sim, até certo ponto. Mas a verdade é, e isso pode surpreender vocês, que as realizações de algumas almas são mais preciosas e significativas do que outras.

Severus ergueu uma sobrancelha.

— Oh?

O anjo poderoso também pareceu surpreso.

— Eu sei; chocante, não é mesmo? Mas veja isso deste ângulo: imaginem um homem nascido num lar confortável, com pais amorosos, educação religiosa e um bom coração. Um homem desses estaria a meio caminho do Paraíso, não? Agora imaginem se esta alma pudesse ser corrompida a ponto de colocar em risco sua vida eterna. Sua queda teria um significado mais profundo do que, digamos, um homem criado num bairro ruim, com pais briguentos, exposto ao mal como uma ocorrência do dia a dia. Conseguem ver como as almas têm significados diferentes no equilíbrio da eternidade?

— Sim - disse Hermione, e ela parecia admirada. - Mas eu nunca pensei nisso.

— Poucos pensam - assentiu a Voz de Deus. - Mas é por isso que às vezes o Todo-Poderoso e o Cramunhão se concentram em algumas almas especiais. Eles prestam mais atenção a estas almas na esperança de que elas vençam sua própria natureza. Quando elas conseguem, é uma vitória e tanto.

Severus deduziu:

— Portanto, a danação da alma de Hermione teria sido uma grande derrota para os mocinhos.

Eles se entreolharam, trocando sorrisos e dando-se as mãos. Severus sentia-se apaixonando-se por ela mais uma vez, sabendo que agora ela estava a salvo das garras de Satanás.

— Oh, não há dúvida sobre isso - confirmou o arcanjo. - A alma de Hermione teria sido um prêmio memorável. Mas tudo isso nunca foi sobre a alma dela, meu filho. Desde o início, foi sempre a respeito da sua alma.

Aquilo foi uma surpresa, e uma que Severus jamais esperou.

— Eu? Não, isso não pode estar certo.

O sorriso beatífico apareceu de novo.

— A batalha por sua alma, Severus, começou logo após seu nascimento. Você tinha o amor de sua mãe e o abuso de seu pai. Então sentiu amor verdadeiro por Lily, e perdeu tudo ao se juntar às fileiras de Lord das Trevas. Você tentou salvá-la e falhou. Quase se matou e então tornou-se uma Encarnação da Imortalidade. Sua alma andou numa fronteira muito precária por tanto tempo. E então veio Hermione. Satã era obcecado por ela por sua causa. Esta era a única motivação dele.

Hermione empalideceu.

— O que isso quer dizer, exatamente?

O príncipe celestial pareceu desconfortável pela primeira vez.

— Temo que Satã não siga as regras. Ele sabia há muito tempo que Hermione tinha a chave para salvar a alma de Severus. Condená-la iria danar Severus irrevogavelmente. Então ele fez diversas tentativas. Ele começou assassinando Ronald Weasley.

Hermione não pode evitar soltar um gemido alto, tamanho foi seu choque. Severus a viu ficar tão pálida que ele temia que ela desmaiasse ali mesmo. Os olhos castanhos se encheram de lágrimas, e ele a encarou com uma pergunta silenciosa. Ela sussurrou:

— Eu estou bem.

Claramente, ela não estava nada bem, pensou Severus. Ele segurou sua mão, tentando confortá-la.

Metatron prosseguiu:

— Quando a própria Hermione quase morreu ao implorar pela vida de seu marido, ela ficou perigosamente próxima de perder sua alma eterna. Felizmente, evitou-se o pior. Àquela altura, o antigo aspecto de Clotho começou a se sentir inquieta e desejosa de tentar uma vida mortal novamente. Ela queria muito ser mãe.

Ela se animou.

— Foi quando me tornei Clotho!

— Quando Satã descobriu o que acontecera, ele ficou possesso - disse Metatron. - Perdoem o trocadilho.

— Por que ficou tão irritado?

O anjo contra-indagou:

— O que acha? Satã queria separar vocês dois, ou ele perderia a alma de Severus. Ele tinha tanta certeza de já ter a alma de Severus.

— Então - disse Severus -, ele não estava mesmo interessado em Hermione.

— Não - garantiu Metatron. - Foi um jeito cruel de intimidar Hermione. Primeiro, Satã queria que ela deixasse o posto de Destino. Depois, quando ele percebeu que ela não iria desistir, ele conspirou para evitar que vocês se apaixonassem. Isso também falhou - miseravelmente, aliás.

Severus disse:

— Mas ele não sabia disso. Ele achava que estávamos envolvidos em casos amorosos pelas costas de Chronos.

— Esse plano tão bem elaborado falhou totalmente porque ele não contou com o amor de vocês dois. Aquele homem nunca conseguiu entender amor verdadeiro. Uma vez que Satã não conseguiu evitar que você se tornasse uma Encarnação da Imortalidade, ele tentou todos os seus truques. Ele estava realmente desesperado para evitar a redenção de Severus, mas em seus esquemas e  estratagemas, ele nunca percebeu o quanto Severus a amava. Esse foi seu erro. Foi quase o mesmo erro que levou à queda de seu famoso pupilo, Lord Voldemort.

Severus estava feliz em ouvir aquilo.

— Verdade?

— É verdade - disse Hermione. - O amor que a Professora Sinistra tinha pelo noivo deu força a ela para espionar Voldemort todos aqueles anos e dar a Harry a vantagem para derrotá-lo.

— E eu pensando que ela traíra Dumbledore - disse Severus. - Espero que ela esteja descansando num lugar agradável.

Metatron ergueu as duas sobrancelhas e deu de ombros.

— Talvez ela vá, após um curto período no Purgatório. Vocês dois, é claro, não precisam se preocupar com nada disso. O Altíssimo agradece seus serviços e deseja recompensar.

— Mas ainda podemos cair - lembrou Hermione. - Como Severus disse, não temos imunidade. Certo?

Metatron se encolheu um pouco.

— Bom... Não é imunidade. Mas é que vocês receberam a eternidade, finalmente.

Severus franziu o cenho.

— E o que isso quer dizer?

Metatron sorriu para ele.

— Neste exato momento, a Morte tem outro rosto, meu amigo. - Ele se virou para Hermione e assentiu. - E Clotho também. Não notou a ausência de suas irmãs-aspecto?

Hermione ficou chocada, pois ela não se dera conta de que estava sozinha em sua mente. Ambos se olharam, inseguros.

— Mas então isso significa... - começou Severus.

O arcanjo parecia tão feliz que ele definitivamente brilhava.

— Sim, meus amigos, isso significa exatamente o que imaginam.

Hermione estava abismada.

— Ai, meu Deus!

— Sim, Ele mesmo. - Metatron sorriu e disse: - Ele dá a vocês as boas-vindas ao Céu.

Severus encarou o príncipe do Céu, para ver se ele estava pregando uma peça com eles. Não parecia estar.

Metatron abriu os braços na direção de uma porta extremamente bem iluminada (que definitivamente não estava ali antes, percebeu Severus) e disse solenemente, com um eco fraco:

— Digam olá para a eternidade.

Aquilo era muito importante, e Severus sabia disso. Aquilo era tudo, o objetivo final de todas as vidas: ficar em felicidade eterna, em estado de graça, entre os anjos e outros seres abençoados até o fim dos tempos. Ele devia estar feliz por isso.

Mas ele não estava. Bom, ele estava feliz, mas por outros motivos.

Severus não estava preocupado com a eternidade. Hermione estava a seu lado e era só aquilo que importava para ele. Ela estaria com ele até o fim dos tempos, e isso era a definição de Severus de felicidade eterna - de estado de graça.

Hermione olhou para ele, com um sorriso alegre e olhos brilhando. O coração dele se derreteu diante da visão do rosto adorável, do narizinho de botão, dos olhos lindos e reluzentes. Ela resplandecia, sorrindo para ele, ao oferecer-lhe s mão:

— Vamos, meu amor?

Aquilo era o Céu, percebeu Severus, devolvendo o sorriso.

Desculpe, Altíssimo.

Tudo estava bem, Severus pensou, ao entrar na luz, alegremente seguindo Hermione. Seu coração batia tão forte que ele teve medo que pudesse pular para fora do peito.

Isso é que era. Felicidade. Era o máximo que se podia alcançar.

Severus percebeu como tudo aquilo era novo para ele. E estava tudo bem. Ele podia se acostumar a isso.

Ele teria bastante tempo para se acostumar.

The end


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