Bem-vindo à minha angústia de 300 palavras.

Já fizeste isso mais de uma vez.

No momento eu senti raiva, revirei-me aos pensamentos, contorci a boca e gritei um “basta”. Entretanto quando nossos olhos marrons chocaram-se à distância mais uma vez, a agitação degradou-se em cinzas. O arrefecido oco do meu crânio calou sua dor ecoante. Sei que um dia ele voltará a doer e que a mágoa transbordará pelos meus olhos novamente, mas enquanto este dia não chega, decido inconscientemente num lampejo: é melhor mergulhar nesta falsa felicidade do que viver infeliz.

Mas o dia bate a porta mais cedo do que espero.

O conspícuo anúncio de sua chegada faz-me arder em fúria de mim mesma. Apesar disso, culpo todos em volta pelos meus erros, sibilando silenciosamente: “Sou patética”. E, mais um dia, sinto-me sozinha e sou espremida pelos risos alheios imaginários. Juro superfluamente que não cometerei o mesmo erro até que você me sorri.

Quero vomitar todos os meus nós entrelaçados na garganta num choro vulnerável. Quero abrir-me e finalmente soletrar que sou fraca, que sou humana e sofro, e também, acima de tudo, sou uma anátema.

Mas foi esta maldita barreira que coloquei há anos por aqui. Por ela consigo ver e ouvir, mas torna-se uma perfeita proteção acústica, de modo que as palavras não transpassam. Bati, soquei e arranhei ao passo que nada se rompeu. Seu material é resistente e eu, fraca demais. Portanto, fico presa aqui dentro.

Dito isso, por final só te peço: perdoe-me por te culpar. Por chamar-te de insensível e fechar-me para ti. Por vingar-me sutilmente banhando-te de ilusões.Se este único desejo um instante qualquer fosse capaz de concretizar-se, então eu juro que a chama já apagada em meu âmago se acenderia novamente.

Embora eu jamais poderia ou, mesmo, quereria te perdoar.