Possuídos escrita por Naiara


Capítulo 1
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem dessa história... Eu já havia postado ela anos atrás, mas a revisei e mudei várias coisas e agora estou postando ela com as alterações...
Grande beijo!!



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Nosso planeta não é mais o mesmo. Os humanos não são mais os governantes da Terra. Não são mais os governantes de seus próprios corpos. Há alguns anos nosso planeta fora invadido por seres desconhecidos, e não era apenas a Terra que estava sendo invadida. Os corpos dos humanos eram a casa dos invasores. No ano de 2015, finalmente alguns humanos começaram a perceber o que estava acontecendo, mas já era tarde demais.

Pai entregando filho, irmão entregando irmão. Em 2016 quase toda a humanidade havia sido possuída por eles. Não havia como identificar um amigo de um inimigo. Mesmo que os humanos tentassem lutar, era uma batalha perdida. Os humanos que sobreviveram, agora vivem escondidos, assustados, com medo…

Sophie estava tentando dormir, fazia horas que não conseguia se deitar e descansar um pouco, mas estava quase impossível fechar os olhos e relaxar em suas atuais condições. Estava sentada no chão de uma casa em ruínas e não havia nada naquele lugar além de poeira e muita umidade. Ela e seu pai acabaram achando a casa enquanto procuravam por comida e decidiram se instalar ali por algumas horas. Quando Sophie finalmente decidiu tirar um cochilo depois de horas vagando atrás de comida e abrigo, seu irmão mais novo tivera a mesma ideia e preferiu fazer as pernas da irmã de travesseiro. Os dois estavam no chão do que um dia fora uma cozinha, imaginou Sophie. Ela estava sentada e encostada em uma parede fria enquanto seu irmão dormia em seu colo. A posição do seu corpo não era o que mais a incomodava, mas sim o som da barriga de seu irmão roncando e o nó em seu próprio estômago vazio. Sophie percebeu que seu pai também não estava conseguindo dormir.

— Tente dormir um pouco pai. – Disse Sophie.

— Você também docinho.

— Não consigo, a barriga do Cris não para de fazer barulho. – Disse Sophie triste. – Ele deve estar com muita fome.

— Todos nós estamos querida.

Sophie queria ajudá-los, ela sabia que conseguiria pegar comida para eles sem ser vista, era bastante rápida, mas seu pai não a deixava fazer nada. Seu único dever era cuidar de seu irmão quando seu pai estivesse fora. Sophie adorava Cris e não se importava de cuidar dele, mas seu pai passava muito tempo do lado de fora e quase não arranjava comida. Ele já estava com cinquenta e seis anos, mas o modo como eles estavam vivendo nos últimos meses fazia com que ele parecesse ainda mais velho. Ele estava cansado.

— Pai, por favor, me deixe sair para procurar comida. - Disse Sophie.

— Não Sophie. – Disse ele ríspido. – Já tivemos essa conversa várias vezes.

— E vamos continuar tendo até você me deixar sair! – Insistiu Sophie.

Seu pai pressionou a têmpora com uma das mãos, parecia muito cansado e discutir com sua filha não estava em seus planos para a noite.

— Sophie, escute. – Seu pai começou a responder. – Aquelas criaturas lá fora pegaram sua mãe, você mesma presenciou a cena.

Ao se lembrar, Sophie levou sua mão esquerda até seu pescoço para tocar o colar que seu pai lhe dera no dia em que sua mãe se fora, o colar era de sua mãe. Ele era apenas uma corrente dourada com um pequeno pingente em formato de cruz, sua mãe sempre dizia que estava protegida quando o usava. Sophie sempre se lembraria do dia que ela se fora. Dois homens que ela jamais vira, invadiram sua casa e levaram sua mãe. Por sorte, ela conseguiu se esconder, seu pai e seu irmão não estavam em casa. Quando os homens estavam indo embora, ela conseguiu ver algo se materializar nas costas deles e percebeu que eram pares de asas escuras e assustadoras. Toda vez que fechava os olhos ela conseguia ouvir os gritos de sua mãe pedindo por ajuda. Perder sua mãe foi algo horrível que aconteceu na vida de Sophie, talvez a pior coisa que aconteceu. Ela não queria que o mesmo acontecesse com ela mesma ou com seu pai, mas não aguentaria mais uma noite acordada se preocupando por seu irmão estar com fome.

— Pai, não tem um dia que eu não pense na mamãe, eu juro, mas eu sou mais rápida que você, eu sei que conseguiria arranjar comida com mais facilidade para você e Cris. Deixe-me ajudar.

— Sophie já chega, ajeite seu irmão no chão e tente dormir. Não quero mais falar nisso. – Ele ficou alguns segundos em silêncio, então soltou um suspiro. – Filha, escute, eu te amo muito, não suportaria perdê-la também.

Sophie ficou em silêncio por longos minutos, retirou Cris de cima de sua perna e esperou seu pai adormecer. Decidiu sair por conta própria. Ela provaria que estava certa, conseguiria comida para todos eles sem ser pega. Já havia esperado tempo demais para tomar essa decisão.

Ela aguardou até ouvir o primeiro ronco de seu pai e se levantou com muito cuidado para não perder o equilíbrio e esbarrar em seu irmão. Quando começou a caminhar nas pontas dos pés para não fazer barulho, viu e ouviu Cris acordar.

— O que está fazendo Sophie? – Perguntou Cris, sonolento.

Sophie xingou baixinho. Cris tinha que acordar logo agora?

— Nada Cris. – Respondeu Sophie. – Tente dormir mais um pouco, você deve estar cansado.

— Você ia sair, não ia? – Disse Cris, agora um pouco mais alerta. – O papai não vai gostar nada disso.

Sophie caminho até seu irmão, se ajoelhou para ficar na mesma altura que ele e lhe fez um afago na cabeça.

— É eu sei Cris, mas o papai está muito cansado para conseguir comida para todos nós. – Explicou Sophie. – E eu sou mais rápida.

Cris olhou para Sophie e colocou suas mãozinhas em cima da mão de sua irmã.

— Eu consigo ficar mais tempo sem comer Sophie. – Disse Cris, com os olhos começando a ficar marejados de lagrimas.

Sophie começou a sentir uma raiva interna que nunca sentira antes. Sim, ela odiava as criaturas que invadiram a terra, destruíram seu mundo e possuíram algumas pessoas que ela amava, mas nunca os odiou tanto quanto naquele instante. Quando eles levaram sua mãe, Sophie não sentiu raiva, nem ódio, ela ficou triste, ficou despedaçada. Eles levaram a pessoa que ela mais amava e ela só sentiu dor, não havia mais espaço para outro sentimento. Mas ali de frente para seu irmão com os olhos cheios de lágrimas, ela sentiu toda a raiva e todo o ódio que ela sequer sabia que podia sentir.

— Eu vou voltar Cris. – Falou Sophie. – Vou voltar com comida. Confie em mim.

Ele abaixou a cabeça e ficou olhando para baixo, mas concordou com sua irmã. Sophie olhou para o lado para se certificar que seu pai continuava dormindo e ele estava tranquilo em seu sono. Estava muito cansado para acordar.

— Eu amo você Sophie. – Disse Cris baixinho. – É a melhor irmã do mundo.

— Eu amo você também, peste.

Sophie bagunçou os cabelos de Cris, se levantou e começou a caminhar em direção a porta. Saiu da casa e começou a caminhar na direção de algumas luzes de residências que estavam bem distantes. Sophie percebeu que os locais habitados ficavam a quilômetros de distância de onde estavam. Ela se deu conta que nem sabia onde estava, não sabia se quer o nome da cidade, mas sabia que teria uma bela caminhada pela frente.

    Após uma hora caminhando, Sophie já se arrependera da ideia de sair sozinha para procurar suprimentos e todo tipo de pensamento horrendo lhe veio à mente. Pensou em seu pai, ele iria ficar uma fera quando acordasse, pensou em sua mãe, o que ela acharia da decisão que acabara de tomar? E pensou no som da barriga de Cris e decidiu que estava fazendo a coisa certa. Sophie estava tremendo, nunca saía sozinha e estava com medo do que poderia acontecer se fosse pega, mas ela precisava ajudar sua família, pensou. O estômago de Sophie roncou em seguida. Precisava ajudar a si mesma também, lembrou. Estava faminta.

As pernas de Sophie começaram a ficar cansadas e uma forte câimbra em sua panturrilha a fez parar por alguns minutos para descansar. Quando foi se abaixar para massagear a área dolorida da câimbra, Sophie percebeu que seu pé estava em cima de um panfleto velho, onde se lia “Conheça os melhores pontos turísticos de Los Angeles”. Sophie se sentiu melhor ao saber onde estava, mas continuou receosa por não conhecer nada ali. Nunca havia visitado Los Angeles quando as coisas eram normais porque sua mãe não gostava daquela cidade, lembrou-se. Percebeu que só começou a conhecer novos lugares após a morte de sua mãe porque sempre viviam se escondendo e mesmo assim, nunca saíram do estado. Antes disso, nunca havia saído de Sacramento, a cidade onde nascera e crescera.

 Os tremores de Sophie aumentaram, de repente começou a fazer muito frio e Sophie não conseguia enxergar nada, estava muito escuro, mas do nada uma forte luz apareceu e quase a cegou. Sophie conseguiu ver com muita dificuldade uma forma através daquela luz que ofuscava seus olhos, uma forma humana, porém tinha algo nas costas, algo grande. Asas. E estava chegando perto dela. O coração de Sophie parou de bater por um momento, ela fora descoberta. Estava acontecendo.

    Ela sabia o que aquele ser com asas iria fazer com ela, não sabia o que eles eram de verdade, mas sabia o que aquele grupo de seres desconhecidos fizeram com o restante da humanidade, ela tinha que impedir, tinha que levar ele para longe dali, tinha que tentar proteger seu irmão e seu pai, os únicos humanos que ela conhecia que haviam sobrevivido. Sophie correu o mais rápido que pôde, porém o ser já estava quase a alcançando, flutuando rápido e graciosamente atrás dela. Com o pouco tempo que lhe restava, Sophie retirou seu colar do pescoço e o deixou cair na estrada, esperando que seu pai e seu irmão o encontra-se. Era um aviso para eles.

Fui capturada.

    A luz a estava cegando, mas ela conseguiu ver o rosto da criatura. Era belo, tinha olhos azuis quase cinzas, como o mar em um dia chuvoso e foram esses olhos a última coisa que ela viu, quando a criatura a tocou, Sophie não viu nada além de escuridão...


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler até aqui (:



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