Conspiração Divina. escrita por Julia Brito


Capítulo 3
II. I Told You So.


Notas iniciais do capítulo

Hey, amores!
Leiam a nota final, por gentileza?
Espero que gostem ♥



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"So don't wait and let her go, cause I don't want to be the one, who has to say, I told you so." ( I Told You So - Kathryn Dean)


A casa dos Campbell nunca esteve tão vazia. O cheiro de Amber ainda estava em todos os lugares, eu a via em todos os lugares.

Dizem que irmãos gêmeos tem uma ligação mais profunda do que os outros tipos de irmãos, mas para ser sincera, eu nunca tinha parado para pensar no assunto antes. Entretanto, ao estar ali, no lugar em que crescemos, onde qualquer objeto me lembrava ela, era como se Amber estivesse parada ao meu lado, com sua mão agarrando firme a minha.

Quando recebi a notícia de seu falecimento, senti que mais do que uma parte de mim tinha partido. Era como se minha alma tivesse ido junto com a dela. Nunca pensei em como seria perder minha irmã, mesmo tendo desejado a morte dela mentalmente durante a maior parte das nossas brigas. Eu preferia morrer a vê-la partir de uma forma tão abrupta.

Retratos estavam espalhados pela sala, alguns eram de nossa infância junto com Daniel, outros eram mais recentes. Amber com os cabelos loiros, recém pintados, fazendo uma cara tediosa enquanto posava para uma fotografia ao lado de Daniel, me fazendo perceber que nunca imaginei que sentiria tanta falta de vê-la reclamando pelos cantos.

Tio John havia me avisado que algumas fotos tinham sido colocadas na sala para receber alguns parentes e amigos que passariam parte do dia conosco, já que não o fizemos antes do enterro e nem depois. Mas ainda assim era terrivelmente difícil encarar as imagens. Olhei para os lados em busca de alguma fotografia que me trouxesse uma lembrança feliz, e não demorei para encontrar.

A foto era das férias que Amber, Daniel e eu havíamos passado em Paris, há pouco menos de cinco anos. Eu me lembrava bem das reclamações de Amber antes de tirarmos a fotografia, lembrava que ela estava ansiosa para me arrastar para os shoppings da cidade, o que deixava Daniel irado. Ele queria fazer um programa mais interessante do que passar a tarde com duas garotas fazendo compras. Eu não tirava sua razão. Preferia passar o dia em algum museu ou até mesmo lendo um livro, mas quando Amber pedia alguma coisa não era tão fácil negar. E creio que nós dois concordávamos que vê-la feliz, fazendo compras, era melhor do que vê-la resmungando de cara feia o dia todo. No fim, Amber concordara em tirar a foto, depois de termos prometido segui-la por todas as lojas.

Ri com a lembrança. Havia um ditado que nunca poderia estar mais correto: só dávamos o devido valor as coisas e as pessoas, quando as perdíamos.

Daniel me tirou de meus pensamentos falando que me ajudaria a levar as coisas para o meu quarto. Concordei sem nem ao menos respondê-lo e o segui escada á cima, caminhando pelo longo corredor de sua casa.

— Alguns amigos da Amber vão vir para cá. - falou baixo. - Você não precisa descer, pode ficar no seu quarto, se preferir.

— Está tudo bem. - garanti, com a voz rouca. - Amber ficaria furiosa se eu não descesse.

— Ficaria. - ele riu baixo, concordando de forma triste e apontou para a porta de meu conhecido quarto. Raspou sua garganta, tão desconfortável com a situação quanto eu. Se não era fácil para mim lidar com aquilo tudo, eu mal podia imaginar como estava sendo para ele. - Então, tome um banho e desça. Acho que não vai demorar muito para a casa estar cheia.

Assenti e empurrei a porta com as duas mãos. Em seguida, peguei minha mochila dos ombros de Daniel e agradeci, entrando no quarto enquanto o via desaparecer pelo corredor.

O cômodo estava exatamente igual. A cama próxima a janela, minha estante de livros, sem o mínimo vestígio de pó, a cômoda colocada exatamente aonde eu havia posto há quase dez anos atrás. Tudo permanecia igual, bem cuidado e repleto de memórias.

Suspirei, mirando meus olhos para a  porta do banheiro, decidindo seguir o conselho de Daniel e deixar toda a melancolia para depois.

Caminhei até a cama, pousando minha mochila sob a mesma, partindo em direção ao banheiro. Retirei minhas peças de roupa e entrei no box, abrindo o chuveiro para, em seguida, sentir a água quente fizer todo o seu trabalho. A sensação foi indescritível e no final era tudo o que eu precisava - ou pelo menos, tudo o que eu poderia ter.

Pousei minha mão esquerda no registro, fechando-o. Por mais que quisesse ficar ali por um bom tempo, haviam pessoas que precisavam do meu apoio e presença no andar de baixo. Enrolei o tecido fofinho em meu corpo e voltei para o quarto, seguindo diretamente para meu antigo guarda-roupa que ainda continha algumas peças que eu preferi não levar para Londres.

Um vestido negro trabalhado em rendas escuras, estava preso no cabide e acabou sendo minha escolha. Por um instante, quase pude ouvir a voz de Amber murmurar em euforia pelo fato de que eu finalmente usaria seu presente.

Sorri tristemente por um momento, ocupando-me em me desfazer da toalha antes que me encontrasse submersa demais em lembranças. Sequei meu cabelo e logo depois coloquei o vestido, olhando-me no espelho embutido no guarda- roupa.

Eu ainda era a mesma, não havia nada de muito diferente em minha aparência. Ao contrário de minha irmã, que havia desenvolvido um corpo escultural, graças á academia e exercícios diários. Ela era líder de torcida, todos lhe cobravam coisas como: "esteja sempre em forma." ou quem sabe "Que tal pintar seu cabelo de uma cor menos sem graça?". Eu conhecia muito bem aquelas perguntas, quase me deixei levar por elas muitas vezes.

Passei a escova por meu cabelo, um pouco mais curto do que antes, e em seguida o prendi em um coque trabalhado. Passei meu inseparável lápis preto na parte inferior dos olhos e um batom claro em meus lábios. Peguei uma sapatilha perdida no meio de meus sapatos e a calcei.

Estava pronta. Ou pelo menos vestida, na verdade, eu não acreditava que qualquer pessoa estivesse pronta para um momento como aquele.

Me dirigi para a porta, ouvindo os murmúrios da parte de baixo da casa que já devia estar cheia. Respirei fundo antes de começar a andar pelo corredor. Meus passos eram incertos, eu não tinha certeza de que estava realmente preparada para aquilo. Sentia como se meu corpo fosse despencar a qualquer instante, numa forma de evitar o inevitável, cansado demais de tentar agir como se todas as coisas estivessem bem - como se eu aceitasse o que tinha acontecido. Mas ainda assim, havia uma parte desperta o bastante em meu cérebro, uma parte que me lembrava de que eu devia aquilo á Amber. Devia por todos os anos que estive longe dela.

Respirei fundo, aproximando-me da escada com passos leves e ponderados, assumindo uma postura formidável, enquanto preparava-me para descer o primeiro degrau. Antes que meu pé pudesse deixar o ar e alcançar uma superfície firme, um ombro se chocou abruptamente contra o meu, fazendo-me cambalear para o lado direito á procura de algo para me apoiar. A mão fria segurou-me pelo cotovelo firmemente, me ajudando a voltar rapidamente para a posição inicial.

Subi meus olhos para agradecer á meu salvador, que também era o culpado por eu ter me desequilibrado, ao sentir que ele ainda permanecia parado ao meu lado, seu corpo na direção contrária do meu, me possibilitando ouvir sua respiração pesada.

Os olhos escuros que eu encontrei não eram assustados, pelo choque que nossos corpos causaram, ao esbarrarem um no outro. Não havia susto ou surpresa ali, tudo o que pude notar eram duas esferas escuras preenchidas por uma confusão imensurável.

Não tive muito tempo para compreender o porquê daquilo e muito menos de lhe dizer uma única palavra. Quando entreabri meus lábios para lhe agradecer, a voz de Daniel abafou a minha, chamando meu nome enquanto pisava pesadamente nos degraus, como se insistisse para que, todos que pudessem estar ali, notassem que ele estava á caminho.

O garoto soltou meu braço, sua expressão como a de alguém que tinha levado um choque, enquanto se afastava alguns centímetros, esperando para ver Daniel chegar ao topo da escada. O que não demorou para acontecer. Os olhos azuis confusos de Daniel, encontraram os meus e depois o do rapaz.

— Está tudo bem aqui, Mel? - assenti, sorrindo levemente. - Então desça, papai me pediu para chamá-la. - continuou, olhando fixamente para o garoto. Porém em sua última frase, seus olhos encararam os meus e ele sorriu docemente para mim. - Acho que ele precisa da sua ajuda.

Assenti novamente, recusando-me a voltar meus olhos para o rapaz parado á uma curta distancia de mim.

No momento em que seus dedos frios tocaram a pele do meu braço e seus olhos encontraram os meus, uma sensação estranha dominou cada pequena molécula do meu corpo e agradecer á ele, significaria ter de olhar em seus olhos mais uma vez e eu não podia me arriscar á isso.

Desmanchei meu sorriso e me apressei em voltar á descer os degraus em passos silenciosos. Entretanto, antes que eu chegasse o fim da escada a voz de Daniel alcançou meus ouvidos, apesar de sua tentativa perceptível em conter o timbre de sua voz, foi incapaz de ser discreto o suficiente para não atrair minha curiosidade.

"Ela não é a Amber, Evan" sua voz soou sombria e distante, ameaçadoramente dirigida ao outro. "Fique longe dela".

Evan.

O garoto misterioso que Amber citava em algumas de suas mensagens, o mesmo que Daniel deixou escapar sobre no caminho para casa, o rapaz que segundo ele estava envolvido no assassinato da minha irmã. Posicionei minha mão esquerda sobre meu peito, apoiando-me com a outra na parede. Não era possível, como John o deixou entrar?

"Ela tinha se desequilibrado" ao contrário de Daniel, a voz de Evan não exalava seriedade alguma. Eu quase podia imaginar um sorriso que se formando em seus lábios, sem nem ao  estar na sua frente. Sua palavras, ditas em um tom descontraído, se igualavam as de garotos problema, que acham que tudo é divertido demais para ser levado á sério. "Só quis ser prestativo".

Os passos de Daniel puderam ser ouvidos por mim por alguns segundos, seguidos por um silêncio quase esmagador.

"Não seja".

Não houve resposta, o que ouvi depois disso foram mais passos, dessa vez em direção á escada, o que fez com que eu me apressasse para chegar a sala antes que pudesse notar que eu estava espiando. Pousei meus pés no final da escada e examinei o lugar, tentando me esquecer dos acontecimentos anteriores.

Algumas pessoas ali presentes não eram conhecidas por mim, provavelmente aqueles eram os amigos de Amber. Os olhos curiosos estavam voltados para mim, como era de se esperar. Todos sabiam que éramos gêmeas idênticas, mas deveria ser perturbador me ver depois do que acontecera.

Respirei fundo e desci o último degrau, sentindo os braços firmes de Daniel rodearem minha cintura.

— Vai ficar tudo bem. - garantiu. Suas palavras expressavam um duplo sentido, mas ainda era cedo demais para decidir ao que elas se referiam de fato. - Isso vai acabar logo.


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Notas finais do capítulo

Postei o prólogo mais esses dois capítulos de uma só vez, por uma razão: não sei quando terei tempo de vir aqui e por isso, deixei programado o próximo capítulo para sair no dia 27, ok?
Comentem sobre a história, isso dá um incentivo muito grande para a gente ♥
Nos vemos em breve!!
Xx. Julia.



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