A Promessa escrita por Morgenstern


Capítulo 31
Terapia, O Que Deseja?




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Meu coração estava apertado e dolorido como se alguém o tivesse nas mãos e apertado com toda força. Já havia passado alguns dias desde a última vez que havia visto os irmãos Maddox. Quatro dias depois do enterro de Dylan, que morreu tão terrivelmente novo, tão cheio de sonhos. Quatro dias de “eu não vou chorar, não vou chorar, não vou chorar” a cada minuto. Quatro dias que eu não ia ao refeitório, quatro dias que eu não ia as aulas, quatro dias que não via ninguém além da minha colega de quarto e Mylena, que por um acaso, não sabia sobre Dylan ser – de todos os efeitos – meu amigo e mesmo assim não perguntou o porque de eu estar escondida em uma poltrona no teatro escuro.

Primeiro ela se assustou, depois ela ameaçou correr mas logo desistiu, provavelmente depois de ver meu estado e então, passávamos o dia todo conversando sobre tudo, menos sobre minha vida, meus problemas e meus sentimentos.

Foi melhor assim.

No final das contas, descobri que ela gostava de um garoto que ela deixou claro que eu conhecia, mas não falou nome ou fraternidade e ainda era um mistério para mim. Ela me contou sobre sua vida antes da faculdade, o curso de teatro que havia feito com os mesmos professores, contou sobre depois que ingressou e teve sérios problemas em fazer parte do grupo de teatro que era formado pelas garotas do Ponto Alfa, que descobri também serem ainda piores que as Gama.

— Você nem imagina o quão terríveis elas são. Não perdoam simplesmente nada. – foi o que Mylena disse.

E ela não estava fingindo, não estava atuando e pelos quatro dias que comecei a conviver com ela, aprendi a ler suas feições, seus olhares e até mesmo o modo como falava.

— Fizemos o curso antes de entrar na faculdade, naquela época não tínhamos grupos, não existia fraternidade e todas eram legais e simpáticas. Mas quando entraram aqui e entraram para a Alfa. Puff. Simplesmente piraram. E como eu não estava em nenhum grupo e estudava enquanto elas se divertiam em festas, pegaram no meu pé quando comecei a me destacar aqui.

— Isso é terrível My. – foi o que falei.

Eu nunca tinha visto um Alfa, nem ao menos sabia se eram mulheres ou homens e mesmo evitando o refeitório, queria vê-los onde sentavam, se eram como as garotas Gama ou os garotos do clube de xadrez. Mylena contou sobre as muitas brigas que tiveram antes das apresentações, contou sobre ser confrontada a lutar para ganhar a posição de melhor aluna.

— Foi mega engraçado – ela dizia limpando os cantos dos olhos, rindo naturalmente, tranquilamente e eu a invejava. Eu sorria, é claro, para manter as aparências. – Lembro que cai no chão. Eu literalmente cai no chão rindo e rindo, chorei de rir na hora. Eu não acreditava que ela havia me chamado para lutar, quero dizer, ela nem ao menos deveria saber o que é um gancho.

— Mas então, como ela desistiu? – perguntei curiosa.

— Ah, a nossa professora chegou a tempo de dizer que era ela quem escolhia. Que dependia da nota do aluno na matéria e não em lutas de rua. Kriss ficou vermelha de raiva e vergonha, enquanto eu não parava de rir.

— Que loucura. Essa garota deve ser...

— É uma vaca. – Mylena completou. – Mas ela meio que me esqueceu e foi ótimo assim.

Era ótimo ficar naquele ambiente, conversar com Mylena mesmo eu não falando quase nada, era ótimo o silêncio e o escuro, mas eu sentia falta das minhas amigas. Sentia falta dos cabelos floridos da Letícia, sentia falta das loucuras da Julia, sentia saudades do casal – mais fofo da faculdade – e principalmente dos Maddox. Eu queria ter coragem o suficiente para ligar ou ir vê-los, queria ter coragem para abraçar cada um e dizer que tudo iria ficar bem. Mas do mesmo modo que eu não poderia vê-los e arriscar chorar, eu não poderia ver minhas amigas e arriscar fracassar em minha luta interna em ser forte. Eu precisava ser forte por mim mesma, precisava manter a cabeça no lugar por mim mesma e seja lá o que viesse pela frente, eu tinha de está pronta. Fazia quatro dias que eu não ouvia um bipe, que Tay não jogava aquele jogo desgraçado.

— Karlla? – a voz, que assustou tanto a mim como Mylena, nos fez se virar rapidamente para a entrada do teatro. – Karlla, é você? – as luzes se acenderam e Maxon estava lá, ao lado do irmão Travis e do amigo magricela, Jem. Jamie. – O que está fazendo aqui? – ele perguntou.

Mylena resmungou algo que não entendi e levantou da poltrona, limpando a garganta para falar.

— Estamos no meio de uma sessão de terapia, o que deseja? – sua voz estava diferente do normal, estava dura, fria e completamente profissional. Seus ombros relaxados mostravam que não havia apreensão e seu olhar era completamente focado.

Meu queixo caiu quando percebi que ela estava falando de mim e me virei para ver a reação de Maxon. Travis e Jem, nem se importavam, mas Maxon, ele sim estava confuso.

— O que? – foi o que ele perguntou.

Travis suspirou e começou a descer as escadas, Jem o seguiu, mas Maxon ainda esperava uma resposta. Mylena desviou o olhar para mim e pelos segundos que nos encaramos eu havia notado sua pose profissional, sorri levantando da poltrona.

— Ela está brincando. Só estamos conversando aqui.

— O que vocês estão fazendo aqui? – ela perguntou.

Maxon suspirou ao ouvir minha resposta e começou a descer as escadas, Travis e Jem já estavam no palco, conversando baixo, olhando por todos os lugares. Mylena estava nervosa ao meu lado e eu não entendia se era pela pergunta não respondida ou havia algo que ela não mencionou para mim. Maxon parou na fileira de poltronas em que estávamos e se aproximou sem hesitar, passando os olhos pelo meu rosto – que eu gostaria de um espelho para ver como estava – pelo meu cabelo, meus braços nus e voltar ao meus olhos. Eu já estava tonta por olhar para ele, para Mylena, para os dois no palco, para Travis um pouco mais.

— Está tudo bem? – Maxon perguntou chegando mais e mais perto, parando a poucos passos de nós. – Você está bem?

E eu queria dizer “ok My, você pode desligar as luzes ao sair?”

— Estou. – respondi, desviando o olhar para o palco. Queria perguntar como ele estava, mas tinha medo da resposta.

— Então... – Mylena disse, batendo o pé no chão cruzando os braços no peito. – O que estão fazendo aqui? Não me diga que veio atrás dela, porque eu não acredito.

— Estamos procurando as roupas que vocês usam nas apresentações, pode ajudar? – Travis respondeu, atraindo nossos olhares a ele. Sim, eu queria gritar. Mylena e eu trocamos um olhar e ela deu de ombros, passando por Maxon até o corredor das escadas, caminhando até o palco.

Suspirei e fiz o mesmo, hesitando ao passar por Maxon, vacilando ao sentir uma mão puxar meu braço interrompendo meu caminho e perturbando minha mente. Olhei para baixo, para meu braço e vi a mão dele, ergui o olhar e encontrei o dele, me observando, me analisando, me penetrando.

— Você esteve esse tempo todo aqui? – ele sussurrou inclinando-se para mim.

Pensei na possibilidade de falar, mas não achava minha voz. Queria respondê-lo rápido e sair dali, queria não ter desviado o olhar de seus olhos para seus lábios enquanto ele falava. Queria ser forte contra ele.

Balancei a cabeça concordando.

Olhe-o nos olhos.

Nos olhos.

Apenas nos olhos Karlla.

Maxon suspirou.

— Fiquei preocupado com você. – ele sussurrou cada palavra com tanta ênfase que me fez querer sorrir. – Achei que estivesse fugindo de mim.

De você? Eu queria perguntar e rir histericamente.

— Fugindo de você? – perguntei confusa. – Porque eu fugiria de você? – e sorri de lado, mantendo longe qualquer sentimento.

— Eu também não sei. – respondeu dando de ombros. – Só achei, porque não te vi em nenhum lugar. Nem mesmo no Morgan.

— O que? – deixei escapar surpresa no meu tom de voz, joguei-a fora e limpei a garganta. – Você esteve no Morgan?

— É claro que estive no Morgan. Fui falar com você, mas não te encontrei.

— Falar o que?

Dane-se promessa em ser forte, dane-se meus sentimentos, dane-se minha eterna confusão mental, estava curiosa agora.

Maxon suspirou, desviou o olhar para o palco e rapidamente voltou aos meus olhos.

— Duas coisas, mas me deixe começar pela segunda, ok? – concordei com a cabeça chegando mais perto enquanto ele se inclinava mais baixo. – Queria te pedir desculpas por não ter falado direito com você no dia do enterro e na missa do Dylan. Eu estava um pouco... Como posso dizer? Eu estava angustiado.

— Está tudo bem. Eu sei como você se sentiu. – e não tinha um pingo de mentira, de falsidade nas minhas palavras. Eu realmente sabia bem como era perder alguém próximo a você. – E qual a primeira coisa? – perguntei deixando minha curiosidade a mostra e ele sorriu, se afastando para ver meu rosto.

— A primeira coisa é que eu...

— Ei casal! – Travis gritou do palco. – Parem com esses amassos e venham nos ajudar.

Maxon e eu nos erguemos tão culpados que não entendi o motivo, não estávamos fazendo nada, muito menos dando amassos ali. Revirei os olhos para Travis – que não notou – e ao me virar para Maxon, o vi tenso. Ombros tensos, olhares tensos, mãos tensas, lábios tensos e eu queria perguntar o porque. Ele percebeu meu olhar e sorriu de lado puxando minha mão, entrelaçando nossos dedos e me levando para o grupo no palco.

Esqueci completamente o que era a primeira coisa que ele iria me dizer.

E eu queria gritar “oh mundo, está vendo isso?” e levantar nossas mãos e sorrir porque eu sou uma boba, uma terrível romântica que gosta de palavras bonitas e gestos carinhosos e

homens

como

Maxon. 


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