Hecatombe escrita por Bella Burckhardt


Capítulo 2
Lei de Murphy


Notas iniciais do capítulo

Olaaa, mais um capítulo, pessoas!
Não esqueçam de deixar suas opiniões nos comentários :)
Enjoy!



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 Will não esperava por nada daquilo, era para ser apenas uma semana divertida entre amigos, mas em questão de horas tudo desabou para eles.

Ele e Justin Lenkemp eram amigos desde a infância, estavam sempre lá um para o outro nos piores e melhores momentos, e não foi diferente quando Justin anunciou que iria se casar. Assim que soube, Tommy, um amigo de Justin, resolveu organizar uma “despedida de solteiro prolongada” e Will logo se prontificou para ajudar, eles viajariam por uma semana, iriam acampar e depois seguiriam para um conhecido cinco estrelas na Flórida. Quando a data da viagem se aproximou, as notícias sobre uma epidemia com efeitos colaterais bizarros começaram a se espalhar e Maria, a noiva, tentou de toda forma convence-los a ficar, mas os três ignoraram e foram mesmo assim.

 Passaram alguns dias se revezando entre o chalé de férias da família de Tommy e um acampamento improvisado nas margens do rio que corria por lá. Depois de dias isolados do mundo, quando finalmente chegaram ao hotel e ligaram a televisão, viram que a situação da epidemia tinha se agravado absurdamente, os celulares recuperaram o sinal e dúzias de ligações brotaram, Maria, os pais de Tommy e os de Justin, Gwen... Todos tentaram se comunicar com eles.

 Gwen e Will estavam juntos há alguns meses, eles estavam apaixonados, Gwen era atenciosa, mas só algo realmente grave a faria se desesperar daquele jeito. Era noite quando chegaram, mal se acomodaram e já estavam se preparando para partir na manhã do dia seguinte, Will retornou a ligação de Gwen, ligou pelo menos três vezes e já estava começando a se afligir até que ela enfim atendeu.

— Will! – Sua voz soou alta do outro lado, tentando se sobressair em uma mistura de sons, vozes e estouros.

— Gwen, o que houve? Acabamos de chegar no hotel.

— Will, eu estou com medo, não sei o que está havendo, as pessoas, elas... – Ela para um segundo, está chorando, ele percebe – Eu acabei de ver uma menina ser devorada por uma professora, a minha colega de quarto desapareceu, o campus está um inferno, a polícia está aqui, eles não deixam ninguém sair, eu...

 Ela soluça, a gritaria continua lá atrás e Will se assusta com as palavras dela. Gwen estava no último ano da faculdade e vivia no campus, que ficava na cidade vizinha à de Will, na Virgínia.

— Gwen, se acalme, primeiro eu preciso que se acalme – ele pediu, tão perdido quanto ela. – Você precisa sair daí.

— Mas a polícia, eles...

— Que se dane a polícia, Gwen, se não liberaram vocês até agora é porque não vão liberar mais. Pelo que eu estou vendo nos noticiários isso pode ser um vírus ou sei lá, então eles não estão protegendo vocês, estão isolando a área, colocando em quarentena!

  Diz e Gwen apenas deixa escapar um ruído assustado, Will tão angustiado com sua conclusão quanto ela.

— Você precisa dar um jeito, tem que sair daí – disse em tom urgente. – O campus é bem grande, então devem estar cuidando só das saídas principais, ache uma rota alternativa, eu sei que você consegue.

— Tudo bem, mas e depois, para onde eu vou? Meus pais se mudaram para Washington, não tem como chegar lá, ainda mais sem um carro.

— Conhece pessoas na cidade, não conhece? – Pergunta e ela afirma, fala sobre uma amiga que mora perto da universidade – Muito bem, você vai pegar o que precisar, sair daí e vai ir direto para a casa dessa amiga, mas precisa ser cuidadosa, consegue fazer isso?

— Consigo – responde ainda chorando. – Eles... os policiais, eu vi eles abatendo uma daquelas coisas, atiraram várias vezes e nada, ela só caiu quando acertaram a cabeça, e se alguma delas me atacar? Eu não vou conseguir matar uma pessoa.

— Gwen, eu preciso que seja forte, tem que me prometer que vai fazer o que precisar – ele andava de um lado ao outro, o nervosismo o corroía. – E talvez nem precise disso, só tem que tomar cuidado, se cruzar com um infectado tente apenas desviar. Nós vamos sair daqui logo cedo, estarei aí de tarde e vou te buscar.

— Tudo bem – ela concorda e passa o endereço da amiga, Will anota e eles se despedem – Will, eu te amo.

 Era a primeira vez que ela dizia aquilo, Will para de se mover e fica em silêncio processando a informação. Ele queria dizer o mesmo, mas as palavras travam na garganta e ele se questiona sobre o sentimento.

— Se cuida, por favor. – Diz apenas e desliga passando as mãos pelos cabelos, mas que bela hora para isso, não é? A garota estava assustada, se declarou e esperava ouvir dele o mesmo, procurou conforto em suas palavras e ele não as proferiu.

 Will soca a parede antes de sair da sacada e voltar para perto dos amigos. Eles trocam algumas palavras, apagam as luzes e Will se joga na cama. Nada podia fazer aquilo piorar, até que amanheceu e algo fez.

 Will não sabia em que momento aconteceu, nem como, mas quando desceram para o saguão do hotel, todos os hóspedes que restavam corriam para fora, alguns levando malas, outros só com a roupa do corpo e alguns vindos direto da piscina, crianças choravam, camareiras desciam afobadas e gritando. A recepcionista desistiu de tentar acalmar as pessoas e correu com mais alguns funcionários. Os três avançaram para a porta, mas foram atropelados por um grupo de pessoas e separaram, foram se afastando cada vez mais na confusão e Tommy gritou para se encontrarem no carro, Will seguia para lá mas no caminho viu uma senhora tropeçar e cair, sendo quase pisoteada pelos outros.

 Ela gritou de dor, se machucou em algum lugar e ninguém mais parecia nota-la, Will correu até a mulher e a ajudou a se levantar, seguiu com ela até um canto mais calmo e buscou ao redor algum funcionário que não estivesse em pânico, mas não encontrou. Na confusão de arranjar gelo para o braço da senhora, acalma-la e ainda achar a filha e o genro, Will levou pelo menos quinze minutos, o suficiente para descobrir que a origem da confusão era uma família infectada no segundo andar e outros na mesma situação que invadiram o hotel pela ala da piscina, que era praticamente aberta para a praia.

 Will acompanhou a senhora e a família até o estacionamento, e o problema foi que quinze minutos, além de fazerem desaparecer todas as pessoas do saguão, foram o bastante para desaparecer também com Justin, Tommy e o Carro.

 Will vasculhou o estacionamento – viu uma das criaturas, esta estava ocupada devorando o metre do restaurante e não o notou –, mas não encontrou os amigos. Algo aconteceu, do contrário não o teriam deixado ali, Will se aproxima da vaga em que estavam e vê marcas de sangue, ele respira fundo, se o sangue era deles devem ter ido a algum hospital, mas na melhor das hipóteses não era deles e seguiram para casa, mas ele não podia confiar nisso e abandonar os dois. Olhou em volta, o lugar estava uma bagunça, aparentemente nenhuma regra estava sendo considerada, afinal era uma emergência, ele parou os olhos em uma moto, o dono caído ao lado e cercado de seu próprio sangue, a chave estava em suas mãos. Will sabia como pilotar.

 Num impulso insano ele correu até lá, pegou as chaves do morto e murmurou um pedido de desculpas quando pegou o capacete ao lado do corpo, colocou e subiu na moto, acelerando para longe dali. Ele rodou pela cidade durante horas, parou em todos os hospitais e clínicas que pôde para perguntar sobre os dois. Viu muito mais infectados, se não fosse pela velocidade da moto teria se colocado em maus lençóis várias vezes, vasculhou Jacksonville por horas e nem sinal de Tommy ou Justin, tentou falar de novo com Gwen, mas ela não atendia suas ligações.

 No fim da tarde, ele resolveu considerar a segunda hipótese, de que os dois tinham voltado para casa, pois não conseguia aceitar que algo ruim podia ter acontecido a eles, e resolveu partir ao encontro da namorada. A cabeça cheia fez com que ficasse desatento, no meio da rodovia ele teve que se desviar as pressas de um carro e acabou batendo em um outro, o impacto foi forte, ele quase caiu, deixou um amassado no carro, mas não podia ficar, tinha que achar Gwen e a moto era roubada, então continuou em frente.

 Depois chegou ao engavetamento, quase foi atacado por uma daquelas coisas, estava pronto para pegar um desvio à direita quando viu mais uma vez o carro em que batera, estava bloqueado pelo trailer da frente, os mortos começavam a caminhar em sua direção e com certeza a pessoa não viu o desvio, Will pensou um segundo, já havia agido errado com aquela pessoa lá atrás, não podia ainda deixa-la morrer. Buzinou para chamar sua atenção e cobriu os metros que faltavam até o carro, parou na janela e disse para segui-lo, não reparou muito em quem era, apenas identificou como uma mulher, seguiu para a outra estrada e o carro veio logo atrás, ultrapassando-o após alguns minutos.

 Seus amigos e sua namorada lhe invadiram a mente mais uma vez, tanto que perdeu o tal carro de vista, mas por coincidência acabou por encontrar a mulher novamente, no restaurante em que parou para se informar. A moça loira de olhos azuis e com a feição revezando entre a preocupação e a raiva se chamava Carson Hartley, Will se constrangeu ao encontrá-la, se desculpou, mas também havia salvado a garota e para ele isso soava bom o bastante para saldar sua dívida.

 Eles seguem juntos pela estrada, em duas horas estão próximos de Colúmbia e Will respira mais aliviado, chegaria em sua cidade pouco depois da meia noite e iria até Gwen, não importa se estivesse na casa da amiga ou ainda presa na universidade, ele iria busca-la. Passam por uma cidadezinha que Will viu no mapa, a última antes da capital, ele não queria entrar e ficar preso na confusão da grande cidade, portanto, era ali que se separavam.

 As coisas são muito rápidas, Will vê o atalho que iria pegar, acena para Carson e quando olha para frente os faróis iluminam uma pessoa no meio da estrada. Estava muito próxima para que ele freasse, Will vira a moto, essa derrapa, o leva ao chão e desaba sobre sua perna esquerda, ele bate a cabeça e se desnorteia por alguns minutos.

 Seu corpo dói, ele não consegue se mexer muito bem, a visão não foca e ele sente um cheiro de fumaça dominar o local. Carson, ele pensa. Will move a cabeça e olha para trás, o carro esmagado contra uma árvore, ele bem ouvira o estrondo, a fumaça vinha do que restara do capô.

 Ele tenta se levantar, mas não consegue, sua cabeça girando e então ele escuta um grunhido, olha na outra direção e um homem caminhava para ele, não, não um homem, um infectado. Will arregala os olhos, a adrenalina lhe invade, ele puxa a perna e grita de dor, atiça a criatura que se aproxima ainda mais rápido, Will se ergue um pouco e então o homem se joga sobre ele, que o segura pelo pescoço. Ele olha em volta e não enxerga nada que possa ajuda-lo, então respira fundo e, reunindo suas forças, empurra a criatura para o lado, prensando-a contra a roda do carro e girando sua própria perna sobre a moto para se colocar sentado, a dor é excruciante.

 A criatura continua erguendo os braços para alcança-lo, mas com esforço ele consegue virá-lo de costas, segurando-o agora pela nuca. Will se lembra do que Gwen disse e começa a socar a cabeça do homem contra a lataria, uma, duas, três, várias vezes, até que o sangue espirra e uma pancada mais forte finalmente faz com que o homem pare de se mover.

 Will respira ofegante, teve sorte de a criatura não ser muito corpulenta. Ele solta o infectado e sente o sangue escorrendo por seu rosto assim como escorre pelo carro, ele se deixa cair ao lado do morto, respira fundo e se lembra de Carson, se ela não saiu é porque se machucou também. Ele se senta mais uma vez e com cuidado consegue afastar um pouco a moto, o suficiente para tirar sua perna que por milagre não parecia estar quebrada, mas agora tinha uma lesão feia na coxa, sangue brotava dali e todo o local latejava. Ele se apoia no carro e se levanta colocando o peso sobre a outra perna, pela janela ele vê Carson apagada, caminha até o outro lado do carro e abre a porta do motorista.

 Ela tinha um corte na testa e nenhum outro ferimento aparente, sua cabeça pendia para o lado, Will se apoia no banco e com a outra mão bate de leve em seu rosto.

— Carson, Carson – ele chama. – Carson, acorde!

 Ela continua imóvel.

— Carson! – Will a sacode pelos ombros, chama mais algumas vezes e ela se mexe levemente, pisca e ele suspira aliviado.

 Ela pisca mais algumas vezes, vira o rosto em sua direção e abre os olhos definitivamente.

— O que... o que aconteceu? – Ela parece confusa, se desencosta do banco e leva a mão a testa com uma careta – Minha cabeça!

— Calma, você deve ter batido quando o carro colidiu – ele diz e ela arregala os olhos, se lembrando do ocorrido.

— Meu Deus, o carro, você caiu e eu desviei, tentei sair, mas – Carson solta as palavras sem procurar fazer sentido – o cinto estava preso, você não se mexia, a criatura, ela... ela ia te alcançar! Como...?

 Ela balbucia assustada e confusa.

— Minha perna ficou presa, mas eu consegui segurar o homem, ele... – Will para um instante, havia matado o homem, pondera sobre o que Gwen lhe disse no telefone, será que o que matou ainda era uma pessoa? – Eu me livrei dele. Vamos, vou tentar te soltar.

 Ela aceita a explicação e Will se abaixa para tentar puxar o cinto, mas nada acontece, então estica um pouco mais as tiras até que seja o suficiente para Carson passar entre elas. A mulher sai do carro e só então nota o ferimento na perna do outro.

— Meu Deus, a sua perna!

— Eu sei, dói como o inferno!

 Ele reclama e então algo passa pela cabeça de Carson, deixando-a ainda mais aflita.

— Oh, não! – exclama – Não, não, não! O meu carro já era, você se machucou, eu não sei pilotar e o lugar está deserto, como vamos sair daqui?

— Merda... – ele faz uma pausa – Não podemos ficar aqui esperando, outro daqueles pode aparecer.

— Acho que a solução vai ser irmos andando, Colúmbia está bem perto agora, posso te levar comigo até o meu irmão e de lá você acha um jeito de seguir. Acha que consegue?

 Will pensa um pouco, estava preocupado com Gwen, Justin e até Tommy, queria chegar logo, mas não via nenhuma outra opção.

— É o jeito, não é? – Diz e ela afirma – Vamos de uma vez então.

 Carson pega sua mochila e dá alguns passos para longe do carro, Will faz o mesmo e a mulher o assiste empalidecer pela dor.

— Não vai conseguir desse jeito, venha, se apoie em mim – ela oferece e Will hesita um instante. – Anda logo, não tenho a noite toda!

 Ralha e ele concorda, passa um braço por seus ombros e ela lhe ampara pela cintura, os dois usam os celulares para iluminar um pouco a estrada e começam a caminhar.

 Carson se arrependia de não ter comprado outra daquelas garrafas d’água para a viagem, se sentia cansada, sua cabeça ainda doía, a boca estava seca e o peso de Will parecia ter dobrado depois de meia hora de caminhada. Pouco antes eles haviam parado para olhar o ferimento que não parava de sangrar, havia sido um corte mais profundo do que pensaram e Carson usou a jaqueta de Will para fazer um torniquete em sua perna, não importa quão mal Carson estava, ele conseguia estar pior, mesmo que não falasse.

 Ela se perguntava como fora acabar naquela situação tão de repente. Pela manhã estava em casa, confortável, tomando um café e assistindo televisão, quando saiu seu plano era seguir pelas vias menos movimentadas e em no máximo três horas estar junto de Joe, simples assim, no entanto, agora já faziam quase cinco horas desde que deixou sua casa, enfrentara quilômetros de engarrafamento, quase fora vítima das vítimas de um acidente, assistira a morte de um homem inocente e gentil, pegou o atalho errado e seu carro fora amassado, ofendido e estraçalhado em uma mesma noite e por um mesmo homem que, por acaso, agora ela ajudava a caminhar para a casa de seu irmão. O mundo estava mesmo se tornando um caos.

 Uma hora de caminhada e ao longe eles já enxergavam as luzes de Colúmbia, foi como se retomassem o fôlego imediatamente, apressaram o passo – na medida do possível – e logo entraram na cidade. Aparentemente, eles faziam o caminho contrário de todas as outras pessoas, dezenas de carros passavam por eles deixando a cidade, todos repletos de malas e objetos amarrados ao teto, e a bagunça só fez dificultar que conseguissem um táxi entre os poucos que ainda paravam para passageiros.

 A taxista se esforçou para ir depressa, disse que estava saindo da cidade e só parou porque viu o estado de Will, ela se esgueirava pela cidade, fugindo das ruas principais, e chegaram ao prédio de Joe mais rápido do que Carson esperava. Pagou e agradeceu à mulher, ajudou Will a descer e os dois entraram no edifício, subiram até o oitavo andar e pararam frente ao apartamento, Carson suspirou, tocou a campainha e em um piscar de olhos a porta foi aberta.

— Carson! – Joe se joga para a irmã, envolvendo-a em um abraço de urso – Minha nossa, quer me matar de preocupação?

— Eu estou bem, Joe – tenta tranquiliza-lo e ele se afasta para olha-la. – Desculpe, não queria te assustar.

— Mas assustou! Em um minuto estamos rindo no telefone, no outro escuto uma gritaria e a ligação cai, eu achei que... Deus, não gosto nem de pensar nisso, cheguei em casa agora a pouco e só então pude ouvir seu recado.

 Contou com os olhos fixos na irmã e ainda sem perceber o homem ao lado dela. Joe era um cara leve e descontraído, mas parecia tenso e preocupado, e Carson o entendia perfeitamente, ela observou o irmão um instante, não eram muito parecidos fisicamente, ele tinha cabelos castanhos, músculos desenvolvidos no treinamento policial e nas diferentes aulas de artes-marciais que começava e nunca terminava, era mais alto que ela, também tinha os olhos azuis, mas escuros como os do pai, enquanto os de Carson eram mais claros como os da mãe.

— Seu cabelo está tão grande! – Diz a ela, eles riem e só então Joe nota Will escorado no corredor – Quem é esse?

— É uma longa história – diz Carson. – Melhor entrarmos ou ele vai acabar desmaiando aqui na porta, te explico depois.

— Ah, claro, entrem – Deu espaço e os três adentraram o apartamento, Joe fechou a porta e apontou para que se sentassem no sofá da sala. – Nossa, o ferimento foi feio, tenho um kit de primeiros socorros lá dentro, vou buscar.

 Joe some pelo corredor e volta em alguns minutos com uma pequena maleta.

— Papai resolveria isso em cinco minutos – Ele diz de maneira nostálgica e coloca a maleta sobre a mesa de centro. – Como disse que se chamava mesmo?

— Eu não disse – Will contorceu o rosto quando Carson desamarrou o torniquete improvisado. – Mas é Will, Will McDermont.

— Sou Joe Hartley – se apresenta e se volta para Carson. – Estou feliz que tenha chegado, mas não acho que vamos poder ficar aqui por muito tempo, temos que arranjar um lugar seguro, irmã.

— Do que está falando?

— É como eu te disse naquela hora, eu soube de algumas coisas e, se tenho certeza de algo, é de que isso não vai parar Carson, não tão cedo.

 O mais velho conta e ela o encara espantada, assim como Will, que começava a limpar a ferida.

— E o que vamos fazer, para onde vamos? – Ela pergunta – E onde está Eleanor? Achei que ela viria para cá.

— Ela vai vir, estava resolvendo algo em casa, mas já está a caminho. Eu estava pensando em seguirmos para o interior, o tio dela tem uma fazenda e podemos ficar lá um tempo, é isolado, tem bem menos riscos de encontrarmos um desses mortos-vivos infernais!

 Assim que termina a frase eles escutam um estrondo vindo dos andares abaixo, os três se assustam e Joe corre para a janela.

— Meu Deus – ele murmura, pasmo com o que vê.

— O que foi? – Carson se levanta e Joe sai da janela.

— A rua, tem vários deles lá embaixo, estão vindo da avenida e só vejo uma viatura tentando contê-los – Joe pega sua pistola, antes jogada sobre a mesa de jantar e se aproxima da porta.

— O que está fazendo? Não vai ir lá embaixo! – Ela se desespera e o irmão a encara sério.

— Carson, eles não podem se aproximar, não podem subir, não faz ideia de quantos casos assim reportaram essa noite – Joe conta. – Não quis te falar nada pelo telefone para não te preocupar, mas está acontecendo, Carson, eles se juntam, vão mordendo gente pelo caminho e de repente são dúzias deles ao seu redor. Foram só três dias desde que isso estourou e eles já estão se aglomerando, já perdemos vários homens, se ninguém fizer nada isso vai virar o apocalipse e Deus que tenha misericórdia dos que sobrarem vivos.

 Joe tira outra arma de uma gaveta, prende uma no coldre em sua cintura e sai depois de um último olhar para a irmã, que ouve tudo perplexa. Tiros e mais tiros começam a soar lá fora, Will parece distante e mil vezes mais preocupado agora, Carson o ajuda a suturar o corte – coisa que aprendeu com o pai – e então vai até a janela.

 Arregala os olhos quando vê que mesmo sendo abatidos, mais e mais mortos apareciam. Seu irmão, outros dois homens e o único policial que restara iam sendo encurralados, caminhavam de volta para o prédio enquanto as criaturas se aglomeravam ao redor.

 Quando não puderam mais detê-los, eles entraram, trancaram as portas e toda a multidão de mortos vivos se jogou contra a portaria, gemendo e grunhindo enlouquecidos. Pelos gritos de horror que ainda soavam pelo quarteirão, a situação não parecia melhor nas outras ruas.

Sim, eles precisavam sair, essa parte estava bem clara, a questão era como fariam isso.


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