Refúgio dos sonhos. escrita por Helen


Capítulo 1
Parte I




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Olhava pra janela. Os prédios sendo trocados por árvores, os postes ficando cada vez mais distantes.... a fiação elétrica corria junto com o carro, parecia que apostava corrida comigo. Não sei o que ela achava de tão divertido. Eu ia pra um sítio, passar o feriado. Meus amigos tinham viajado com suas respectivas famílias, todas formadas de bons cozinheiros e pessoas sorridentes. Eu... ia com macarrões instantâneos embaixo da cabeça, e alguns enlatados sambavam embaixo do banco do motorista. Não quero ir. Não quero ir. Não quero ir! Por que eu preciso ir?

Chegamos no sítio e eu nem percebi. Abriram as portas do carro e me mandaram abrir a porta. Vim pra viagem só pra ser porteiro? Deixei a porta aberta. Sentei no parapeito da varanda do sítio. Só tinha mato ali. Mato. Mato. Mato, nenhum gato, nenhum rato. Todos tinham ido embora quando souberam que a minha família viria.

Eles levaram as coisas pra dentro. Só entrei depois deles. Começaram a abrir as caixas. Eu sabia que iam me mandar esvaziá-las, então saí correndo pela casa. Ela não era tão grande. Tinha acabado de sair da sala, passei por uma cozinha, uns armários, vi os quartos. Nada interessante. Abri umas portas, deixei o ar entrar e espirrei com a poeira. Por que carambolas meus amigos inventaram de viajar? Como puderam me deixar sozinho?!

Percebi, então, uma escada. Era de madeira, madeira bem bonita. Subi sem pensar. Não me importavam aranhas, ou mais poeira. Queria tudo, menos estar na sala esvaziando caixas. Lá em cima estava um breu danado. Eu procurei por uma janela, e logo achei. Girei a trava e logo ela se abriu, dizendo seu “nhéééééé”. A luz solar desabou na sala numa alegria toda. Podendo ver tudo mais claramente, vi que o sótão estaria totalmente vazio, se não houvesse uma boneca de madeira ali, deitada no chão.

Tão bonita, ela. De olhos fechados, dormindo como um anjo. Seu vestido era bem bordado, estampado de bolinhas. Sapatos de bailaria. Rosto pintado de maquiagem suave. Parecia alguém de verdade. Me aproximei pra ver melhor. Talvez ela pudesse tirar meu tédio. Não sou muito de brincar com bonecas, mas isso me importava?

Minha sombra se jogou sobre ela, e seus olhos abriram com uma delicadeza de borboleta. Eu, no entanto, dei um pulo de susto e corri pro outro lado do sótão.

—  Valha meu Deus do céu o que é isso?! — disse, no desespero.

A boneca, sonolenta, levantou seu tronco e se espreguiçou. Eu respirava descontroladamente. Ela, então, se tocou da situação. De repente se encheu de medo e se levantou, tentando se afastar de mim.

— Q-quem é você?! — perguntou ela. — E-eu nunca te vi antes...

— E-e-eu é que pergunto!

Ela passou algum tempo em silêncio. Com algum receio, ela se aproximou de mim e segurou na saia, enquanto se inclinava um pouco. Tinha a minha altura.

— Meu nome é Maria.

— Eu... eu me chamo Antônio.

— Muito prazer!

— M-muito prazer...

— Então, Antônio, o que está fazendo aqui?

— Vim passar o feriado com os meus pais... — disse, logo voltando a estar emburrado.

— Faz tanto tempo que não vejo ninguém... A gente pode brincar!

— É mesmo... — eu estava tão sem expectativas, que a amizade da boneca falante que eu havia acabado de encontrar parecia uma mina de ouro. Sorri.

— Vai ser divertido! — ela sorriu de volta. E eu gostei tanto daquele sorriso.


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