Faz uma semana que eu mandei aquela carta pra Santana e eu realmente não sei como me sentir. Não sei se consegui fazê-la  mudar de ideia ou se agora ela e a Brittany estão em uma maravilhosa lua de mel na Inglaterra, França, Índia ou seja lá onde for. Resolvi seguir minha vida, as coisas mudam, pessoas vão, só que umas são mais difíceis de aceitar do que outras. Santana é uma delas. Sempre vai ser. Minha latina de cabelos escuros, traços marcantes e sorriso forte. Eu só queria ser a única a acordar com o cheiro de canela daquela menina mulher ao meu lado. Santana sempre foi diferente e exatamente por isso ela é aquela coisa que eu quero, mas não consigo. Porque resolvi deixá-la livre, deixá-la feliz, deixá-la ser.

Cheguei ao meu prédio e cumprimento o porteiro, ando pelos corredores e sigo pra pegar as correspondências. Boleto, tarifa, contas, anúncios e canela. Canela? Por que sinto cheiro de canela? Repasso os papéis e vejo aquele que nunca imaginei estar nas minhas mãos. Uma carta de Santana.

Espero que ache minha carta no meio de tantos papéis, fique surpresa e feche a porta marrom da caixa de correspondências que já vai ficando meio envelhecida. Vire a direita e entre no elevador cinza com o espelho com marcas de dedos de crianças na borda. Aperte o botão já desgastado do oitavo andar e suba. Ande pelos corredores com cheiro de lavanda e passe por cada porta imaginando o que acontece dia após dia por trás delas. Eu sei que você faz isso. Eu também faço. E olho fixamente pra uma delas me perguntando se alguém ali dentro tem a vida tão perfeita quanto aquela que uma vez foi nossa. Tão perfeita como você é. Tire a chave do bolso do casaco ou da bolsa e abra a porta com o número 803 pendurado por um prego logo acima. Entre e veja o tapete bege, quase marrom claro, perfeitamente lavado que sustenta uma mesa de vidro pequena. Tire seus sapatos e sua bolsa e a deixa na mesa encostada na parede. A mesma mesa que você na qual você comeu tantas vezes. Se sente no sofá branco repleto de almofadas coloridas que combinam com sua personalidade, porque você não é uma cor só Rachel, e não, juro que não estou tentando fazer analogia à bandeira LGBT, mas você é um infinito de você e eu te amo exatamente por isso. Enfim, deixe a respiração que você tanto segura, sair. Se olhe no espelho retangular pendurado ao lado da televisão e se pergunte o porquê da cor da caneta dessa carta ser tão parecida com a que você deixa no porta lápis. Quer saber como eu sei de tudo isso? Você pode descobrir se você for até seu quarto, mas primeiro saiba que eu amo você e que eu quero reconstruir minhas memórias com você. Te escrevi essa carta pra deixar você saber que agora EU sei. Sei que não existe pássaro sem canto, nem carro sem roda, nem parque de diversões sem carrossel, assim como não existe Santana sem Rachel. Quero te consertar e me consertar porque cansei de fingir que também não falho a mim mesma.

Quero fazer e dizer o amor com você. Hoje e sempre.

Santana Lopez.

Fui lendo a carta enquanto subia pro meu apartamento e realmente tudo que tinha escrito aconteceu e cada detalhe estava lá. Santana sempre foi assim.  Cheia de surpresas. Ela me conhece como ninguém e eu realmente quero descobrir mais das suas surpresas. Levantei do sofá e caminhei até o quarto e lá estava ela. Minha Santana, minha eterna namorada, minha amiga e aquela que eu queria como minha mulher. Cheguei perto dela e a vi se levantar, ela envolveu minha cintura e eu coloquei meus braços no seu pescoço. Sorrimos e ali eu percebi que aquilo era casa, era nosso e era a gente. Nos aproximamos e nosso beijo foi lento, mas apaixonado porque provava tudo o que a gente precisava dizer. Nos amávamos, era isso e recomeçaríamos nossas velhas memórias.