Eu gostaria de ficar para sempre assim...

...

Descobri que é fácil perder coisas. 

A hora da escola. O sinal do recreio. A concentração na hora da prova. 

Um papel importante, uma oportunidade de ouro, um número de telefone. 

As memórias mais queridas da infância, o tempo, uma fotografia antiga. 

A conta de quantas vezes penso em você por dia. 

Eu perco as coisas muito fácil. 

Perdi o contato com uma amiga. Perdi a hora de acordar. Perdi a fome. 

Perdi a senha do seu telefone, perdi a vontade de falar com elas, perdi um par de brincos de quando era criança. Perdi o autógrafo do Eduardo Dussek. 

Perdi alguns amigos, perdi outras tantas certezas. 

Perdi o anel que a mamãe me deu. 

Perdi dois gatos que amava muito, duas ou três casas da minha infância, meu tio-avô favorito, dois avós que nunca conheci, um professor. 

Perdi um marca-páginas, quatro ou cinco canetas, duas borrachas, um tubinho de grafite. Perdi algumas ideias, perdi meus primeiros textos, perdi a memória do nosso primeiro encontro. 

Perdi a chance de te conhecer melhor, perdi a oportunidade de seguir em frente, perdi a possibilidade de passar mais tempo contigo. 

Perdi umas provas, perdi umas fotos, perdi um espelhinho de mão e meia dúzia de chaveiros.

Perdi a mim mesmo dentro dos teus olhos. 

...

... encarando o reflexo dos meus olhos nos teus óculos.