Kila era bissexual. Não era hétero, não era homo. Era bi. Qual é que era a mania destas pessoas de lhe perguntarem coisas como: “Mas você beija homens e mulheres, quando é que vai se decidir?” e “Você tem a certeza que não está só confuso?”. Ele quer é que essas pessoas vão se fuder. Qual o problema de ele ser bi? Não era confusão, não era um erro. Ele, juntamente com o seu melhor amigo, era bissexual.

Kila e Soujiro estavam juntos. Melhores amigos no início, namorados acabaram por se tornar. E eles não eram héteros ou homos, eram bis. E não havia problema nenhum nisso. E foi exatamente esse pensamento que ele mostrou enquanto saia da escola com o namorado, os dois de mãos dadas. Uns olhavam com nojo; outros simplesmente ignoravam. Mas uma menina em especial estava rindo deles com as amigas. Estavam rindo do facto de ser bissexual. Kila não se manteve calado, aproximou-se da menina, os cabelos brancos balançando ao vento.

—Pode me dizer do que vocês estão rindo?

“Simpático como sempre”, pensou ironicamente Soujiro.

—Não acha estranho ser bi? Afinal, você gosta tanto de homens quanto de mulheres. Isso não é normal.

— Primeiro de tudo, vá tomar no cu.

No fundo, o ruivo começou a gargalhar alto com a maneira de falar do mais baixo, que apenas mantinha a cara séria. A menina loira, com excesso de maquilhagem e com cara contorcida numa expressão de ira foi logo reconhecida por Kila. A menina era uma suposta religiosa que ia á missa todos os domingos, mas que criticava as outras religiões que não a sua, e que desrespeitava todo mundo que não lhe agradava. Obviamente, o menino não deixou aquilo passar.

—Segundo, não, isso não é estranho. Sim, é verdade que eu e uma boa parte da minha família somos bis, mas isso não devia importar. Não que eu seja muito religioso, mas se você é, então devia saber que Deus disse para amar o próximo como nos amamos a nós mesmos, e não a dar o cu a qualquer homem que vemos.

Novamente ao fundo, Soujiro estava de boca aberta, vendo Kila andar até si, entrelaçando a sua mão na dele. Olhou por cima do ombro, retirando-se do local com umas últimas palavras.

—Á. E não se esqueça de lavar a sua maquilhagem, tem um pouco de cara nela.

E saiu andando de mão dada com o de olhos amarelos, que apenas lhe dava os parabéns, junto a um beijo na bochecha.

“Eu, homo? Hétero? Não, bi!”